segunda-feira, 13 de julho de 2009

SOBRE McNAMARA


UM CRIME QUE O TEMPO NÃO APAGA

Deixamos propositadamente passar alguns dias sobre a morte de McNamara para também aqui registarmos o nosso comentário sobre esta ilustre personalidade da guerra-fria. McNamara é uma dos poucos actores da política internacional que, não obstante os crimes cometidos e os sofrimentos infligidos aos seus adversários e ao seu próprio povo, continua a gozar de uma aura que nada justifica, tanto pelo lado dos propósitos com que actuou como dos resultados da sua acção.
É provável que para isso muito tenha contribuído o facto de ter pertencido a uma administração mitificada pelo tempo e pela história, sem prejuízo de contar com alguns elementos realmente ilustres, e de o próprio Kennedy o ter considerado uma das pessoas mais inteligentes que conhecera. A isto acrescerá a falsa mea culpa ensaiada muitos anos mais tarde, quando já estava afastado de todos os cargos executivos importantes.
McNamara, como Secretário de Estado da Defesa, primeiro de Kennedy e depois de Johnson, é o grande responsável pela agressão americana ao Vietname, intensificando-a para níveis de participação inviabilizadores qualquer recuo nos anos mais próximos. Como frequentemente acontece na América sempre que se trata de iniciar uma guerra de agressão, também ele mentiu, falsificou números e estatísticas, fez passar junto das instituições e do povo americano uma versão dos acontecimentos muito diferente daquela que realmente estava a ocorrer. Pior que tudo, para quem ostentava a inteligência como principal atributo, ele não compreendeu a luta do povo vietnamita nem a guerra por ele magistralmente conduzida, um povo que acima de tudo se queria afirmar como nação independente, libertando-se de qualquer tutela colonial directa ou indirecta.
Depois deste fracasso que o tempo se encarregou de confirmar e se traduziu, anos mais tarde, na primeira e vexatória grande derrota dos Estados Unidos da América, McNamara governou o Banco Mundial durante treze anos, sem que esta passagem, que vai dos tempos da “grande sociedade” de Johnson aos primeiros anos o liberalismo incontrolado de Reagan, permita desvendar na história daquela instituição qualquer êxito assinalável dentro daqueles que à época já constituíam os principais fins da instituição: promoção do desenvolvimento e eliminação do subdesenvolvimento, mais tarde redução da pobreza.

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