terça-feira, 8 de junho de 2010

O QUE FICOU POR DIZER



OCUPAÇÕES INADIÁVEIS

Ocupações inadiáveis – os famigerados prazos – impediram-me de comentar um conjunto de acontecimentos que marcaram o fim-de-semana e o início da dita.
Desde logo, o apelo de Cavaco – Façam férias cá dentro! – e sua posterior reacção. Até cheguei a idealizar um texto que começava com uma citação do artigo de Daniel Sampaio na Pública de domingo sobre o que ele não gosta de ver num Presidente.
Cavaco está em campanha eleitoral, mas não quer que se saiba, porque se soubesse iam acusá-lo de estar a fazer política. Ora isso é coisa que ele não faz, porque não é político. Quando alguém, por outras palavras, lhe diz: “Olhe que essa das férias cá dentro é demagogia”, aí Cavaco irrita-se e fala como professor para confirmar que não é político. Só que a explicação, para professor, é muito fraca. O professor deve sempre ter muita cautela com o que diz para não fazer incorrer os alunos em erro. Por isso é que se exige ao professor que quando ele se exprime perante os alunos sobre temas da actualidade encare as questões tratadas em toda a sua complexidade, sob pena de os alunos mais cedo do que se pensa ficarem com má impressão do professor.
Também teria tido interesse analisar a entrevista de Jacinto Nunes, no Público, sobre o actual momento económico. Jacinto Nunes funciona dentro dos limites do sistema, ou seja, não lhe ocorre questionar o modelo político-económico monetário dentro do qual o euro foi criado e parece condenado a viver, nem tão-pouco lhe ocorre questionar as causas profundas da actual crise económica com o objectivo de introduzir mudanças radicais no sistema. E não lhe ocorre, porque isso seria “fazer política” e essa também não é a sua função.
Aparte este “pormenor”, Jacinto Nunes raciocina com lucidez dentro do sistema, não apenas porque as suas análises, no seu entendimento, não são políticas, mas também porque a relativa imparcialidade com que observa o que se passa, aliada a uma sólida cultura económica, lhe permite ver o que outros manifestamente não conseguem.
Também teria sido interessante comentar a passagem de testemunho no Banco de Portugal. Relativamente ao essencial, a posição do governador cessante e do recém-empossado são sensivelmente iguais. O salário dos mais numerosos – e os mais numerosos são os que ganham menos (onde quer que este menos se situe) – é que irá pagar durante vários anos a crise financeira. Se divergências houver, elas situar-se-ão no plano da supervisão. Mas é ainda muito cedo para fazer prognósticos nesta matéria, tanto mais que o novo governador vem da defesa durante longos anos, no estrangeiro, das práticas neoliberais iniciadas na Europa no começo da década de 90.
Constâncio, em virtude da escassez de elogios, esqueceu-se do velho ditado – elogio em causa própria é vitupério! – e deu como prova da sua extraordinária “prestação” à frente do Banco de Portugal ter sido escolhido para fazer parte da mais que previsível reaccionária e conservadora equipa do Banco Central Europeu. Seguramente, se se confirmar a eleição do presidente indigitado, a mais conservadora desde a sua fundação.

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