domingo, 24 de outubro de 2010

QUE POLÍTICOS TEMOS NÓS?



DE QUE TRATAM, O QUE DISCUTEM?

Quando uma pessoa pára para pensar e tenta perceber que tipo de políticos temos nós não pode deixar de chegar a conclusões decepcionantes. Já não estou a pensar nas parcerias público-privadas e na roubalheira que elas representam (tema a que voltarei), nem mesmo neste folclore entre o PS e o PSD sobre o orçamento visando saber qual dos dois é capaz de fazer recair mais sacrifícios sobre quem nada tem a ver com a situação por eles criada. Estou antes a pensar em questões fundamentais da política económica europeia, ou mesmo da política mundial, que alguém discute e decide por nós sem nos dar cavaco.
Salvo o erro no próximo fim-de-semana, o Conselho Europeu vai discutir e decidir sobre o chamado “governo económico da União” com base num acordo franco-alemão, melhor dizendo, com base nas imposições alemãs aceites pelo hiperactivo e inconsequente Presidente francês.
A Senhora de Além-Reno quer inclusive que os mais altos representantes dos Estados assumam o compromisso de rever, em tempo record, o Tratado de Lisboa para que nele passem a figurar as imposições que o Presidente francês já aceitou – sanções de toda ordem: multas, perda de direitos políticos e mais uma quantidade de coisas.
Que sabem os portugueses disto? Os portugueses apenas sabem que o seu Ministro dos Negócios Estrangeiros era favorável à constitucionalização dos limites do défice e da dívida, conselho quase imperativo que os alemães puseram a circular na UE. O que se passou nas negociações que estão precedendo aquele Conselho? O que é que os Ministros das Finanças e dos Negócios Estrangeiros já aceitaram em nome de Portugal? O que vai lá dizer e que posição vai defender Sócrates no próximo fim-de-semana?
Os portugueses não sabem, mas sabem que Portugal não tem feito nada, absolutamente nada, para tentar alterar o estado de coisas reinantes na União Europeia.
Não temos força”, dirão. Isso é o que sempre diz quem, por falta de coragem ou covardia, desiste de lutar. Há vários países na mesma situação que nós. Da mesma forma que a “Patroa” da Alemanha se reúne com Sarkozy para fazer passar com mais facilidade as suas imposições, por que é que os países por elas afectados se não reúnem igualmente para tentarem concertar uma estratégia comum?
Estes políticos que nós temos ainda não perceberam que eles (os que impõem as suas decisões) estão em guerra connosco, procurando tirar partido da nossa fragilidade para “engordarem” ainda mais os detentores do capital financeiro e especulativo. E não perceberam, porque fazem recair sobre o povo, o povo que vive do seu trabalho (e não da exploração do trabalho alheio), o ónus daquelas políticas.
Mas há mais. O G20 está discutindo em Gyeongju (Coreia do Sul), ainda ao nível dos Ministros da Economia e das Finanças, assuntos que são do máximo interesse para nós, como a questão da desvalorização competitiva das moedas e a regulação do desequilíbrio das contas correntes. Percebe-se por aquela linguagem de trapos que eles utilizam para simular que houve acordo que não chegaram a nenhum consenso, salvo porventura o respeitante à reforma da participação dos países emergentes no FMI. Mas a verdade é que a única voz que do lado da Europa se fez ouvir foi a da Alemanha. É certo que Portugal, por razões óbvias, não participa neste forum (antidemocrático e ilegítimo), mas a União Europeia está lá representada. O que diz ela? Por que é que os países da UE a quem estas questões interessam num sentido divergente ao da Alemanha e de outros não discutem estes assuntos em Bruxelas ou entre si?
A resposta é sempre a mesma: não podemos dar um passo maior do que a perna. Pois é, mas o Vietname derrotou os Estados Unidos…
Estas são algumas, apenas algumas, das nossas “fatalidades”. Fatalidades nas quais colaboram aqueles que nos governam. Mas, a esses mesmos, se por acaso lhes forem pedir para fazer um frete político aos americanos, aí põe-se logo na primeira fila, julgam-se grandes e dissertam sobre a “relação transatlântica” como se estivessem no Pentágono.
Esta nossa “imensa pequenez” de que falava o O’Neill cada vez é maior!

2 comentários:

JP Santos disse...

Mais importante que o acordo franco-alemão (que se baseia numa alteração do Tratado de Lisboa que me parece francamente inverosímil e relativamente ao qual apesar de tudo existe uma considerável oposição) é o próprio conteúdo das propostas de alteração ao pacto de estabilidade e crescimento as quais são muito polémicas e infelizmente muito pouco discutidas.

Ana Paula Fitas disse...

Faço link, caro amigo :)
Obrigado.
Um grande abraço.