sexta-feira, 17 de junho de 2011

CONTINUANDO NOS COMENTÁRIOS SOLTOS



SOBRE A ACTUALIDADE



1 - O que fará Mário Soares, que tão inimigo do neoliberalismo se dizia, manifestar uma tão grande compreensão e apreço por Passos Coelho e simultaneamente prodigalizar múltiplos conselhos ao PS todos do interesse do PSD? Por que será?

2 - Agora que o governo mudou ou vai mudar dentro de dias houve quem acreditasse que a RTP iria substituir o Ricardo Jorge Pinto, além do mais um grande “soda”, por alguém próximo do PS para compensar os anos em que o teve como comentador matinal do PSD. Mas não, ele lá continua matinalmente a tentar explicar-nos por que é muito importante ter um Ministro das Finanças “independente”.

3 - Aquela de o Medeiros Ferreira ter dito que o Nobre é uma espécie de “bem não transacionável” tem mesmo muita piada…

4 – Há manhas da direita que são verdadeiramente insuportáveis como aquela de as segundas linhas da coligação - os “relvas” de um e de outro lado - tentarem fazer crer à malta que essa coisa da composição e da orgânica do Governo é um assunto de Estado que nada tem a ver com os partidos.

5 – Os protestos da “geração à rasca” são muito interessantes se forem assim uma espécie de Luna Park, com divertimentos para todos os gostos. Se forem protestos de desespero, dirigidos contra aqueles que os puseram na situação em que estão, então a coisa já muda de figura e a simpatia dá lugar ao insulto. A doer sim, desde que os que sofram sejam sempre os mesmos.

6 – Há algumas semelhanças entre o que se passa hoje e o que se passou há um século, mas  as  diferenças são muito mais relevantes. Então, estava em vias de terminar a primeira globalização iniciada na segunda metade do século dezanove; hoje, a segunda globalização aparentemente reforça-se, apesar da crise; há um século, a globalização levou à bancarrota de vários países; hoje, acontece quase o mesmo; há cem anos, o padrão-ouro imposto pela potência dominante acabou por ser fatal para os menos competitivos; hoje, o euro tem exactamente o mesmo efeito; há um século, o desemprego nos países europeus decorrente do desenvolvimento industrial e dos progressos tecnológicos originou um movimento migratório nunca antes visto para os novos territórios, principalmente da América do Norte e do Sul; hoje, o desemprego europeu, salvo o muito qualificado, não é absorvível em nenhuma outra parte do mundo; há um século, havia um forte movimento operário, internacionalmente ligado, com um projecto político de tomada de poder; hoje, o movimento operário, como tal, tem uma força meramente residual, ancorada nos sindicatos que restam, e não tem qualquer projecto de tomada de poder; por outro lado, a força laboral dos demais sectores, com predominância dos serviços, não se encara como classe social e partilha em larga medida os mesmos valores do capital, apesar de impiedosamente fustigada pela crise; há cem anos, havia a convicção da existência de uma forte solidariedade internacionalista que três anos mais tarde se revelou não existir; hoje, há quem utopicamente sonhe com essa solidariedade para dar a volta a crise, sem que tal “sonho” seja alicerçável em qualquer tipo de base; há cem anos, havia um projecto de mudança radical que parecia inatingível, mas que acabou por se concretizar não tanto pelas “condições objectivas”que o proporcionaram, mas porque na cabeça de quem lutava e, principalmente de quem dirigia a luta, havia uma ideia muito clara do que se pretendia alcançar; hoje, o descontentamento resulta do que se perdeu ou do que não se conseguiu alcançar e dá lugar a um sentimento difuso mais dirigido a um regresso ao passado do que propriamente à construção de um novo futuro. Por outras palavras,  ainda vai ter de acontecer muita coisa antes que uma nova mentalidade surja.


3 comentários:

Anónimo disse...

O Ford confurtou os operarios dando lhes a possibilidade de ter um automovel..."Estes" a possibilade de comer mal! "Vamos ver se os conformamos!"A penuria vai comecar de baixo para cima para chegar so a meio.
Parabens e obrigado estou sempre a aprender consigo Dr.Correia Pinto. O seu post vale A+ .H

jvcosta disse...

Explica lá o ponto 1. Deixas os leitores a salivar...

Jorge Almeida disse...

Para quem tenha paciência para ler as 6 páginas do acordo Passos / Portas, aqui vai a ligação:

http://www.jn.pt/infos/Acordo2011.pdf