domingo, 5 de junho de 2011

ELEIÇÕES LEGISLATIVA 2011



MAIS OU MENOS O QUE SE ESPERAVA
José Sócrates demite-se da liderança do PS

A única diferença entre o que está a verificar-se e o que se previa que pudesse verificar-se é a queda acentuada do PS. À parte isso, tudo normal.

No entanto, o grande derrotado destas eleições é o povo: antes de mais o povo que trabalha em condições mais difíceis, o povo que vive do seu exíguo salário ou da sua magra pensão. Mas também o povo que não costuma ser chamado a sacrificar-se em prol dos grandes interesses sai derrotado destas eleições – o povo dos salários médios, o povo da agricultura familiar e o povo das pequenas e média empresas. Por razões não completamente coincidentes também este povo sairá derrotado destas eleições.

Os grandes vencedores são antes de mais os credores estrangeiros, os agiotas do capital financeiro e especulativo, os seus fiéis representantes internos, a começar pela banca, mas também os grandes interesses construídos à custa da espoliação do património público e da isenção de impostos, e, obviamente, as cliques partidárias que se preparam para repartir entre si o que restar do que têm de entregar lá fora.

A democracia representativa dos nossos dias que já é em si uma caricatura de democracia, pelas múltiplas razões que a degeneraram e que não interessa a todo o momento repetir, constitui, principalmente nos momentos de grave crise económica, política e social, a melhor prova de que o povo só faz avançar a história quando é devidamente “iluminado”. Não quer isto dizer as que “trevas” resultem necessariamente de uma falta de escolaridade ou de uma menor capacidade para compreender a complexidade da situação sobre que cada um é chamado a decidir, mas antes do profundo domínio ideológico que envolve, condiciona e constrange a sociedade dos nossos dias.

É certo que esse domínio ideológico sempre existiu em todas as sociedades, mas nunca teve a força que hoje tem, nem nunca foi por si só suficiente para assegurar a estabilidade dos outros poderes – o económico e o político. Frequentemente estes tinham que recorrer à força para impor o seu domínio. Isso hoje, nas sociedades desenvolvidas dos nossos dias, acontece menos e é exactamente por acontecer menos que o status quo é tão forte e por ser aparentemente tão consensual é que se torna difícil derrotá-lo sem uma radical alteração do domínio ideológico.

Hoje, a dificuldade em derrotar a hegemonia da direita no plano ideológico resulta da falta de perspectivas, da ausência de uma ideia força de mudança pela qual valha a pena lutar, como houve em tantas outras épocas históricas. Infelizmente, estamos a viver o tempo resultante de uma grande derrota, cujas consequências ainda estão longe de se terem verificado por inteiro. De facto, não basta ter consciência da irracionalidade da vida económica e financeira dos nossos dias, nem dos múltiplos exemplos que a prodigalizam, como por exemplo o BCE emprestar nos últimos três anos dinheiro aos bancos a 1% e negá-los aos Estados que se endividaram para os financiar ou, quando se predispõe a fazê-lo, emprestá-lo a juros várias vezes superiores. Não basta isso – é também preciso ter interiorizada uma ideia de mudança radical em que se acredite, uma ideia que se propague e pela qual muitos estejam dispostos a lutar quaisquer que sejam as consequências.

Isto hoje não existe e como não existe acaba por ser normal que os partidos da “troika” somem a maioria esmagadora dos votos do eleitorado, embora com a penalização circunstancial dos que governaram em último lugar.


1 comentário:

Anónimo disse...

Falta referir o dominio pela direita (em portugal é claustrofobico) da comunicação social. A campanha ad hominen que foi lançada contra este homem foi ignobil. E aqui contou (como sempre) com os comentadores de esquerda que não inocentemente se encarregaram de fazerem todos os fretes e embarcarem numa baixa aliança com a mais reaccionaria direita que hoje se encontra pendurada na opinião politica. Indesculpavel. Para mim, que já votei BE, foi ignobil ver João Semedo a fazer o papel de pide de serviço ao lado do Branquinho que voou para a Ongoing, numa comissão de inquerito de má memoria. Outros fazem-no em programas televisivos e pendurados em jornais de direita. Sabem perfeitamente porque lhes pagam e agem em conformidade.
Não têm um pingo de dignidade.