sábado, 6 de fevereiro de 2010

O PS TEM UM PROBLEMA DE DIFÍCIL SOLUÇÃO



AS FINANÇAS REGIONAIS SÃO UM PRETEXTO

Desde o 25 de Abril que o PS tem um problema de difícil solução. O PS é no espectro político português um partido de centro. Mas não é um partido de centro como muitos outros existentes por essa Europa fora. Na Europa, os partidos de centro têm normalmente à sua direita e à sua esquerda partidos que disputam entre si a primazia eleitoral. Umas vezes, raras, estes partidos obtêm a maioria absoluta. Na maior parte das vezes alcançam apenas a maioria relativa e para governar precisam de fazer coligações. Os partidos de centro são frequentemente chamados a participar nessas coligações, tanto à esquerda, como à direita.
Em Portugal, o PS disputa desde sempre a primazia eleitoral com um partido à sua direita. E como é claramente um partido de centro, que se faz passar por partido de esquerda, tem uma espécie de impossibilidade congénita em se aliar formalmente a quem quer que seja. Porque se se aliar com um partido à sua direita, perde parte do seu eleitorado de esquerda que se considera traído por essa aliança. Se se aliar à esquerda, perde parte do seu eleitorado de direita que vê nessa aliança uma viragem relativamente a tudo o que tem sido a história do partido.
Esta lógica só foi infirmada por duas vezes, em ambos os casos por Mário Soares, por um curto espaço de tempo, mas, mesmo assim, com péssimos resultados para o partido.
A primeira, numa aliança com o CDS, depois de derrotado no Parlamento o governo minoritário PS, e numa altura em que o sistema político vigente ensaiava os primeiros passos e o Presidente da República se preparava para assumir a responsabilidade pela formação de governos de iniciativa presidencial. Mário Soares, parlamentarista e anti-militarista convicto, não hesitou na aliança com a direita para evitar aquilo que ele temia ser um forte indício de sidonismo.
A segunda, com o PSD, depois do colapso dos governos da Aliança Democrática e da vitória eleitoral do PS por maioria relativa, na constância de uma grave económica e financeira. Desta vez Mário Soares sabia que um relativo sucesso de uma política de ajustamento macro-económica, embora arrasasse o partido, o deixaria a ele em boas condições para uma candidatura com êxito à presidência da república. E por isso não hesitou em fazer a aliança.
Das duas vezes que fez alianças à sua direita o PS foi eleitoralmente arrasado, principalmente da segunda vez, embora Mário Soares lograsse alcançar o objectivo pessoal a que se propusera.
É esta lógica interna do PS, imposta pela sua natureza partidária e pelo imaginário que lhe está associado, que realmente impede entendimentos estáveis com outros partidos. Depois de alcançada a primeira maioria absoluta com Sócrates, a situação agravou-se e o PS já só sonha com a sua repetição. Se já antes tinha imensas dificuldades em concluir acordos estáveis, mais dificuldade tem agora. Por outro lado, a feição autoritária e pouco dialogante do Primeiro-ministro agrava a situação.
O episódio da alteração da lei das finanças regionais é ridículo e mostra até que ponto o PS está disposto a ir. É de facto ridículo que o PS fale em despesismo, em falta de solidariedade, irresponsabilidade e outras coisas mais quando se propõe aprovar um orçamento que continua a apostar em vultosos investimentos, inúteis nos próximos anos, apenas para satisfazer as suas clientelas empresariais. É inacreditável que um governo, que se propõe privatizar empresas lucrativas para o Estado para as entregar em exploração ao capital privado em regime de monopólio, fale de despesismo a propósito da alteração da lei das finanças regionais. É inadmissível que um partido que hipotecou e que continua a hipotecar o país com parcerias público-privadas (o Estado fica com o risco e com os encargos financeiros ou a sua garantia e os particulares com os lucros), transferindo anualmente milhões de euros para o capital privado protegido, venha falar agora de despesismo a propósito da alteração da lei das finanças regionais. Parcerias cujas obras teriam ficado incomparavelmente mais baratas se tivessem sido feitas pelo Estado. É vergonhoso que um governo que vai assumir responsabilidades de milhares de milhões de euros num banco vigarizado pelos seus administradores e negligentemente vigiado pelo supervisor dramatize uma despesa que não ultrapassa 0,035% do PIB!
De facto, o grande problema deste país é o Partido Socialista, agora perigosamente agravado com direcção política de Sócrates.

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