quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

OS ESTADOS DA UNIÃO EUROPEIA "SALVARÃO" A GRÉCIA




OS ESPECULADORES AO ATAQUE

A situação financeira da Grécia não é certamente recomendável, mas ela não seria nada do que realmente é se o país não estivesse a ser vítima de um ataque especulativo, no qual intervêm como parceiros privilegiados do capital financeiro as agências de rating e os órgãos de comunicação social intimamente ligados ao capital financeiro, encarregados de criar diariamente, ao menor sinal da existência de dificuldades, um clima propício à subida continuada dos juros (em Portugal, e provavelmente na Grécia também, além destes, actuaram agentes locais do capital financeiro lançando diariamente o pânico nas televisões sobre a solvabilidade do país).
Neste ataque especulativo em larga escala não pode deixar de referir-se o facto de grande parte da dívida grega estar nas mãos de bancos europeus, ou seja, daqueles mesmos bancos que durante largos meses se financiaram junto do BCE à taxa de 1% e que agora estão a comprar a comprar títulos da dívida pública dos países periféricos do sul com rendimentos entre os 4% e os 6%.
A situação da Grécia levantava um problema complicado aos países da zona euro: ou nada faziam, como aparentemente os tratados comunitários impõem, e deixavam que fosse a Grécia a resolver os seus próprios problemas mediante recurso (inevitável) ao FMI; ou encontravam dentro dos Estados da zona euro, em colaboração com o BCE e a Comissão, embora sem a sua participação directa, uma solução que pudesse dispensar aquela intervenção.
A primeira solução, advogada pelo Reino Unido e pela Suécia, tinha para os países economicamente mais fortes da zona euro o grave inconveniente de descredibilizar o euro e animar os especuladores a um ataque concertado contra Portugal e a Espanha, o que não deixaria de ter consequências na própria solidez da moeda única.
Por isso, a Alemanha e a França já se terão entendido no sentido de encontrar para a Grécia uma solução que substitua a intervenção do FMI. Amanhã se verá em que termos.
A solução a encontrar não deverá, contudo, fazer esquecer que a crise que se abateu sobre as economias dos países periféricos é uma crise estrutural da qual dificilmente sairão enquanto prevalecer o actual modelo monetário comunitário. Como muitos economistas vêm desde há tempos advertindo uma moeda única sem que no respectivo espaço económico dessa moeda haja um orçamento digno desse nome, uma fiscalidade unificada e uma dívida pública europeia, numa palavra, sem que haja laços de solidariedade política, vai sempre trazer problemas de difícil solução para as economias periféricas menos competitivas.
A impossibilidade de recorrer á desvalorização da moeda levará esses países inevitavelmente (como já se está a ver) a recorrer a um abaixamento dos salários reais para não verem degradadas as margens de competitividade dos seus produtos. Quando ouvimos os nossos economistas do sistema, como João Salgueiro, Vítor Bento, Vítor Constâncio, etc, falar no crescimento económico do país pela via das exportações é disto que estão a falar – da degradação dos salários reais.

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