quarta-feira, 15 de setembro de 2021

TEXTO PUBLICADO NO FACEBOOK EM NOVEMBRO

 ANDRÉ VENTURA

Nunca tinha ouvido ou lido André Ventura, apenas lhe tinha ouvido frases bombásticas, provocatórias, num ou noutro comentário passado pelas televisões, às vezes quase sob a forma de interjeição.
Hoje, na TVI, vi a entrevista que lhe fizeram e acho que o percebi.
Ventura tem o chamado fogo de vista, que é o que prende as atenções do auditório (castração, prisão perpétua, ciganos, eliminação de "subsídios a preguiçosos", redução do número e do vencimento dos deputados e dos políticos em geral) e tem depois o seu verdadeiro programa que é o que interessa a muitos sectores que o vão contestando quando ele põe na praça o tal foguetório, mas que se calam, disfarçando assim o seu apoio silencioso, quando ele deixa antever claramente ao que vem.
Ora, o que ele realmente quer atacar é o Estado social, na saúde, na educação, na segurança social e em todos os demais domínios. Quando fala na eliminação de impostos (IMI, por exemplo) ou na sua redução drástica (como o IRS, pondo a pagar quem está isento e quase isentando quem agora paga mais) ou na eliminação de múltiplas taxas, estaduais e municipais, é óbvio que representando isto uma redução brutal da receita, que somente poderia ser levada a cabo com com uma idêntica redução da despesa, o que ele realmente quer é acabar com a relativa justiça social que o Estado social ainda vai fazendo, mediante o rendimento indirecto que proporciona a quem tem menos bem como a quem mais desfavorecido está na distribuição do rendimento directo.
Ora, isto não é novo. É velho. Andam nessa luta há mais de 40 anos. Até o exemplo do "Mercedes do cigano" é igualzinho ao do "Cadillac da preta" que vivia à custa da segurança social que o Reagan usou à saciedade para eliminar os subsídios a pobres e indigentes.
O que é novo é ele utilizar, como disfarce, um certo populismo vulgar para escamotear o seu objectivo principal. E assim também fica explicado por que é que o Rio o apoia - é que o Rio além de ser parecido com ele na defesa que também faz de certas medidas populistas, embora com menos estardalhaço, também defende o ataque ao Estado social não para o eliminar completamente, mas para o descaracterizar irremediavelmente.
Daí que eu ache um erro que as críticas e os ataques a Ventura continuem a incidir sobre o folclore, esquecendo o que realmente é essencial.
16/11/2020

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