A POUCOS DIAS DOS 40
ANOS
Mota Soares – O jovem Ministro do CDS continua
implacável na sua luta contra o Rendimento Social de Inserção – tolerância
zero. Com Mota Soares no Governo todos podemos estar seguros de que não será
com o dinheiro do seu Ministério que os abastados moradores do Bairro das
Fontainhas, da Quinta Grande ou da Boavista irão comprar um palacete na
Lapa.
Paulo Portas – O irrevogável Paulo Portas, homem
de assertivas palavras e de muitas feiras, nos intervalos em que não viaja, está
empenhado numa reforma do Estado cujos contornos só ele conhece. Fora esta
ingente tarefa, vai emulando com a “Múmia das Necessidades” sobre quem sabe
fazer melhor a diplomacia económica, principalmente a que vende combustíveis
refinados em Sines. Despojado de ministério e dos seus afazeres quotidianos,
liberto, enfim, das funções de negociador privilegiado da Troika, Portas pode
finalmente dedicar-se a tempo inteiro às duas grandes tarefas que o fizeram
ouvir o “apelo pátrio” imperativamente sussurrado pelos seus colegas de partido
nas horas críticas da vida do CDS – viajar e negociar o que outros já decidiram.
Emigração – Saiu há dias um livro – A
ditadura de Salazar e a Emigração – de Victor Pereira que deixa muito
mal tratada a Embaixada de Portugal em Paris pelo inexcedível zelo com que um
conhecido Embaixador da década de sessenta do século passado, fiel servidor de
Salazar, se dedicava à colaboração com a PIDE em tudo quanto pudesse dizer respeito
à nefasta influência que sindicatos e partidos pudessem vir a ter sobre o
desgraçado trabalhador português do bidonville. Mais zeloso e empenhado do que
Salazar ou até a própria PIDE, cujas propostas de maior envolvência politica
junto da emigração portuguesa deixara frequentemente cair por não se
justificarem face à situação existente, o Embaixador nos muitos anos em que
esteve em posto em Paris nem por um minuto esqueceu a função repressiva que
considerava intrinsecamente ligada às funções (diplomáticas) que desempenhava.
Importante também conhecer o papel do adido Militar que funcionava
relativamente à PIDE como um verdadeiro oficial de ligação.
Inconseguimento – Chega a ser deprimente o papel a
que se prestam altas figuras do Estado quando resolvem exibir-se na comunicação
social com gestos e expressões corporais condizentes com as atabalhoadas e
descabidas palavras de que se servem para dar conta aos portugueses dos seus pensamentos
mais profundos. Assunção Esteves, Presidente da Assembleia da República, segunda
figura do Estado, é quem mais vezes incorre nesse triste papel quer quando faz
gala de uma cultura possidónia citando a despropósito as reflexões de
pensadores que sofreram a barbárie nazi para registar o desagrado que lhe causa
um pequeno reboliço ocorrido nas galerias, quer quando responde em estilo
varina sem praça ao propósito manifestado pelos Capitães da Abril para usarem
da palavra nas comemorações oficiais dos 40 anos do 25 de Abril.
Durão Barroso – Habituado a servir, Barroso ainda
não tem bem compreendido o perfil que Passos genericamente traçou para afastar
Marcelo da candidatura à Presidência da República apoiada pelo PSD – caberá
nele, não caberá? Nada melhor para nele se ajustar do que promover uma ridícula
sessão de propaganda eleitoral a cargo da Comissão Europeia tendo o PSD e o seu
Governo como alvos privilegiados dos elogios, acolitada por Cavaco, em pose de
Homem de Estado e de “cliente” do BPN nas lucrativas horas mortas, com elogios
a quem vinha elogiar num círculo gravitacional onde todos rodam para intentarem
manter-se unidos na defesa de interesses recíprocos. Aliás, Barroso, nesse afã
de afastar qualquer suspeita ou ligação a nomes grandes do PSD – ainda à solta
– a que ele sempre soube dar o lugar merecido e prestar as honras devidas enquanto
chefe do partido e de Governo, lançou de imediato sobre Constâncio as
responsabilidades pelo acontecido não vá alguém lembrar-se mais tarde de que
foi durante o seu curto mandato de PM que foram cometidas as vigarices mais
gravosas do BPN. Mas não bastava limpar o caminho percorrido no passado, era também
necessário demonstrar relativamente ao futuro igual afã, agora destinado a
agradar os extremismos neoliberais de Passos. E assim logo tratou de elogiar a
excelência do ensino anterior ao 25 de Abril, elitista e acessível apenas a um
pequeno número, abrindo caminho à tarefa que Passos tem pela frente de
destruição e desacreditação do ensino público. É assim a vida de um político português
em plena maturidade…