O PSOE SEM SAÍDA
Dificilmente haverá em Espanha uma solução governativa idêntica
à portuguesa. A grande vítima dessa ausência de solução à esquerda será o PSOE.
A vítima e simultaneamente o grande responsável pelo bloqueamento desta solução
governativa. Responsável porque o PSOE, apesar do grande peso eleitoral que durante
décadas teve na Catalunha e até no país basco, não prescinde de uma linha
política que admita, sequer teoricamente, pôr em causa o princípio da unidade de
Espanha. A grande vítima porque, contrariamente ao que se supõe, há cada
vez mais espanhóis que pretendem uma política verdadeiramente democrática
(coisa que Espanha não tem) e de esquerda, nem que para isso tenham de aceitar o
princípio do “direito a decidir”.
O Podemos, embora defendendo a continuidade da Catalunha em Espanha,
aceita que os catalães tenham o direito de decidir se querem ou não ser
independentes. Esta posição, juntamente com outras relativamente bem conhecidas
entre nós – e que têm a ver com a rejeição das políticas de austeridade, a
contestação das imposições de Bruxelas, etc, etc -, granjeou-lhe enorme
popularidade na Catalunha, no País basco e na Galiza (as três nacionalidades
históricas), e assegurou-lhe uma votação muito significativa no resto de Espanha,
inclusive nas tradicionais “praças-fortes” do PP e do PSOE.
O PSOE não aceitando, por imposição dos seus “barões”
regionais, dialogar com Podemos, se este não abandonar o princípio do “direito
a decidir”, vai seguramente cair numa de duas situações: ou se junta a outros
votos de rejeição para impedir, à segunda e à terceira votação, a investidura
de Mariano Rajoy por maioria simples, com vista à realização de novas eleições
(imposição constitucional); ou, por inviabilização de qualquer tipo de aliança
positiva à esquerda, acaba, por via das suas exigências, por deixar passar o
governo do PP.
Tanto num caso como noutro as consequências eleitorais para o
PSOE serão demolidoras. Se em 20 de Dezembro passado teve o pior resultado da sua
história (pós transição), em novas eleições, a realizar em Março ou Abril
próximos, terá seguramente uma derrota ainda maior, além de agravar a crise da
Catalunha que, sem “os fundamentalismos espanhóis”, já estaria há muito
resolvida.