E O SEU PERCURSO
Há quase trinta anos, Carlos Queiroz foi bicampeão mundial de juniores por
Portugal. No auge da euforia cavaquista, ele foi considerado, pelos maoístas
extraviados, acantonados no PSD, como o exemplo do “Homem novo” português. O
Homem das novas geração para quem a vitória moral deixara de fazer sentido.
Apesar de idolatrado pela imprensa desportiva e por todos os que viam na formação o futuro do futebol português, Queiroz nunca veio a alcançar nas categorias seniores êxitos idênticos ou sequer aproximados aos que conseguiu com os “miúdos”.
A sua primeira passagem pela selecção foi pouco menos que decepcionante, não tanto relativamente ao que até então era costume fazer-se, como às expectativas que o seu nome deixava acalentar. Como sempre acontece na hora da frustração, não faltou quem imediatamente vaticinasse a sua escassa aptidão para lidar com jogadores já feitos, circunscrevendo a sua competência, como alguns logo disseram, a um mero treinador de “putos”.
Depois seguiu-se a passagem pelo Sporting de Sousa Cintra e a perda de um campeonato nacional, que parecia bem encaminhado para o lado dos “leões”, num dos mais vibrantes derbies da história do futebol português terminado com a vitória do Benfica, em Alvalade, por 6-3, tendo o seu nome ficado indissociavelmente ligado, na memória selectiva e parcial dos sportinguistas, a uma substituição falhada (de Paulo Torres por Pacheco), que nela viram a causa da catástrofe, numa típica manifestação autista de quem se recusava a reconhecer o mérito de uma exibição memorável de João Pinto, Isaías & C.ª.
Com esta derrota num jogo decisivo, tal como mais tarde viria a acontecer ao seu futuro adjunto Peseiro, ficou-lhe definitivamente encerrada a porta de acesso aos grandes do futebol português.
A seguir a um percurso algo errático pela periferia do futebol internacional – Japão, Médio Oriente, África -, Queiroz regressou à ribalta do grande futebol mundial como adjunto do famoso Alex Ferguson, no não menos famoso Manchester United. Daí ao sonho do grande estrelato no Real Madrid dos “galácticos” foi um passo que uma vez mais a fortuna lhe negou. Depois de um começo auspicioso na Liga dos Campeões e no campeonato espanhol, o fatídico mês de Março deixou-o afastado dos títulos, tendo inclusive perdido o mais saboroso de todos para um improvável FC Porto, treinado pelo não menos inesperado José Mourinho, seu antigo discípulo na Cruz Quebrada.
“Amortalhado“, regressou a Manchester onde continuou com Ferguson durante mais algum tempo. Foi aí que encontrou Ronaldo, ainda ”criança”, recém-chegado do Sporting.
Sem esperanças de substituir Ferguson no comando do Manchester United e esgotado o ciclo de Scolari à frente da selecção portuguesa, Queiroz aceitou regressar a Portugal de onde anos antes tinha saído frustrado e desavindo. Madaíl viu nele o sucessor ideal para dar continuidade aos cinco anos de “quase” sucesso do treinador brasileiro. E mais uma vez voltou a correr mal esta passagem de Queiroz pelo futebol português. Apurada para o Mundial da África do Sul, a equipa portuguesa, claramente mais fraca que as de Scolari, foi eliminada nos oitavos de final pela Espanha, que viria a sagrar-se campeã. Com Deco em fim de carreira sem o admitir, funcionando a “gasóleo”, como então disse J Jesus, com outros jogadores no limite do “prazo de validade” e com Ronaldo sedento de afirmação internacional, mas sem capacidade para transportar a equipa “às costas”, as relações deterioraram-se entre os jogadores e entre alguns jogadores e o treinador com públicas manifestações de desagrado de alguns deles que, sem a menor capacidade de autocrítica, tentaram imputar ao seleccionador o inêxito da selecção.
A Federação não vendo viável a continuidade de Queiroz, que também já não gozava de grande apoio na imprensa, decidiu substitui-lo por Paulo Bento mediante um procedimento pouco claro, sem frontalidade, que, somado ao que se passou com alguns dos mais influentes jogadores, acabou por deixar marcas profundas no relacionamento futuro de Queiroz com o futebol português. Um sentimento de ingratidão, despeito e vingança nunca mais o desacompanhou. Faltava apenas que a oportunidade chegasse para que Queiroz pudesse finalmente ajustar contas antigas.
Quis o destino que os caprichos do sorteio para o Mundial da Rússia 2018 tivesse posto no mesmo grupo de apuramento, frente a frente, as selecções de Portugal e do Irão, treinada por Carlos Queiroz, que há um bom par de anos vem fazendo em condições difíceis um meritório trabalho, a ponto de ter guindado a equipa nacional iraniana a um dos lugares cimeiros do futebol asiático.
Assim, no jogo que há dias se disputou estava em causa muito mais do que um simples resultado de futebol. Em consequência dos resultados das duas jornadas anteriores, o jogo do Irão contra Portugal proporcionaria a Queiroz, em caso de vitória e consequente eliminação selecção portuguesa, a desforra por que há tanto tempo ansiava. E Queiroz esteve a milímetros de a ter podido alcançar. Perto do fim do jogo o Irão empatou, a equipa portuguesa tremeu e os iranianos só por muito azar não ganharam nos derradeiros segundos da partida. Era a vingança de uma vida. Queiroz sentiu a frustração tanto ou mais que os iranianos por esta ter sido muito provavelmente a sua última oportunidade para ajustar contas antigas. Daí o azedume das suas declarações. Compreensível. Era a vingança de uma vida que irreversivelmente se esfumava…
Apesar de idolatrado pela imprensa desportiva e por todos os que viam na formação o futuro do futebol português, Queiroz nunca veio a alcançar nas categorias seniores êxitos idênticos ou sequer aproximados aos que conseguiu com os “miúdos”.
A sua primeira passagem pela selecção foi pouco menos que decepcionante, não tanto relativamente ao que até então era costume fazer-se, como às expectativas que o seu nome deixava acalentar. Como sempre acontece na hora da frustração, não faltou quem imediatamente vaticinasse a sua escassa aptidão para lidar com jogadores já feitos, circunscrevendo a sua competência, como alguns logo disseram, a um mero treinador de “putos”.
Depois seguiu-se a passagem pelo Sporting de Sousa Cintra e a perda de um campeonato nacional, que parecia bem encaminhado para o lado dos “leões”, num dos mais vibrantes derbies da história do futebol português terminado com a vitória do Benfica, em Alvalade, por 6-3, tendo o seu nome ficado indissociavelmente ligado, na memória selectiva e parcial dos sportinguistas, a uma substituição falhada (de Paulo Torres por Pacheco), que nela viram a causa da catástrofe, numa típica manifestação autista de quem se recusava a reconhecer o mérito de uma exibição memorável de João Pinto, Isaías & C.ª.
Com esta derrota num jogo decisivo, tal como mais tarde viria a acontecer ao seu futuro adjunto Peseiro, ficou-lhe definitivamente encerrada a porta de acesso aos grandes do futebol português.
A seguir a um percurso algo errático pela periferia do futebol internacional – Japão, Médio Oriente, África -, Queiroz regressou à ribalta do grande futebol mundial como adjunto do famoso Alex Ferguson, no não menos famoso Manchester United. Daí ao sonho do grande estrelato no Real Madrid dos “galácticos” foi um passo que uma vez mais a fortuna lhe negou. Depois de um começo auspicioso na Liga dos Campeões e no campeonato espanhol, o fatídico mês de Março deixou-o afastado dos títulos, tendo inclusive perdido o mais saboroso de todos para um improvável FC Porto, treinado pelo não menos inesperado José Mourinho, seu antigo discípulo na Cruz Quebrada.
“Amortalhado“, regressou a Manchester onde continuou com Ferguson durante mais algum tempo. Foi aí que encontrou Ronaldo, ainda ”criança”, recém-chegado do Sporting.
Sem esperanças de substituir Ferguson no comando do Manchester United e esgotado o ciclo de Scolari à frente da selecção portuguesa, Queiroz aceitou regressar a Portugal de onde anos antes tinha saído frustrado e desavindo. Madaíl viu nele o sucessor ideal para dar continuidade aos cinco anos de “quase” sucesso do treinador brasileiro. E mais uma vez voltou a correr mal esta passagem de Queiroz pelo futebol português. Apurada para o Mundial da África do Sul, a equipa portuguesa, claramente mais fraca que as de Scolari, foi eliminada nos oitavos de final pela Espanha, que viria a sagrar-se campeã. Com Deco em fim de carreira sem o admitir, funcionando a “gasóleo”, como então disse J Jesus, com outros jogadores no limite do “prazo de validade” e com Ronaldo sedento de afirmação internacional, mas sem capacidade para transportar a equipa “às costas”, as relações deterioraram-se entre os jogadores e entre alguns jogadores e o treinador com públicas manifestações de desagrado de alguns deles que, sem a menor capacidade de autocrítica, tentaram imputar ao seleccionador o inêxito da selecção.
A Federação não vendo viável a continuidade de Queiroz, que também já não gozava de grande apoio na imprensa, decidiu substitui-lo por Paulo Bento mediante um procedimento pouco claro, sem frontalidade, que, somado ao que se passou com alguns dos mais influentes jogadores, acabou por deixar marcas profundas no relacionamento futuro de Queiroz com o futebol português. Um sentimento de ingratidão, despeito e vingança nunca mais o desacompanhou. Faltava apenas que a oportunidade chegasse para que Queiroz pudesse finalmente ajustar contas antigas.
Quis o destino que os caprichos do sorteio para o Mundial da Rússia 2018 tivesse posto no mesmo grupo de apuramento, frente a frente, as selecções de Portugal e do Irão, treinada por Carlos Queiroz, que há um bom par de anos vem fazendo em condições difíceis um meritório trabalho, a ponto de ter guindado a equipa nacional iraniana a um dos lugares cimeiros do futebol asiático.
Assim, no jogo que há dias se disputou estava em causa muito mais do que um simples resultado de futebol. Em consequência dos resultados das duas jornadas anteriores, o jogo do Irão contra Portugal proporcionaria a Queiroz, em caso de vitória e consequente eliminação selecção portuguesa, a desforra por que há tanto tempo ansiava. E Queiroz esteve a milímetros de a ter podido alcançar. Perto do fim do jogo o Irão empatou, a equipa portuguesa tremeu e os iranianos só por muito azar não ganharam nos derradeiros segundos da partida. Era a vingança de uma vida. Queiroz sentiu a frustração tanto ou mais que os iranianos por esta ter sido muito provavelmente a sua última oportunidade para ajustar contas antigas. Daí o azedume das suas declarações. Compreensível. Era a vingança de uma vida que irreversivelmente se esfumava…
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