segunda-feira, 29 de junho de 2009

A CIA E O IRÃO


O CONTRIBUTO DE PAUL CRAIG ROBERTS

Já aqui abordámos por várias vezes a situação do Irão, tentando compreender o que realmente se passa naquele milenário país. Mas não está fácil. Se, por um lado, há notícias que dão como muito provável, a curto prazo, um compromisso entre as classes dirigentes desavindas - o tal jogo que não seria de resto zero, a que aqui também já aludimos -, ou que até admitem, como possível, uma vitória do chamado sector reformista mediante a substituição do Guia Supremo, outras há que apontam no sentido oposto: uma vitória dos radicais, sem contemplações pelos vencidos. É para este entendimento que aponta a recente acusação de os distúrbios que se seguiram ao acto eleitoral terem sido preparados ou influenciados pela CIA e pelos serviços secretos britânicos que teriam visto na disputa eleitoral para a Presidência da República a criação da situação adequada à destabilização do regime.
Esta tese, defendida pelos “duros” de Teerão, foi logo sufragada por Chávez e por outros políticos que já foram alvo de manobras de destabilização da CIA. Todavia, o que mais espanta é que ela tenha também sido convictamente defendida por Paul Craig Roberts, ex - Secretário de Estado adjunto do Tesouro, na era Reagan.
Ainda é cedo para saber o que se está a passar. Duas coisas são, porém, certas. Primeira: a CIA e os serviços secretos britânicos têm experiência na área: o golpe de 1953, hoje mais compreensível e narrável em seus pormenores, depois da abertura dos arquivos. Segunda: a situação de então era muito diferente da actual.
Em 1953, o golpe, entre muitas outras acções de destabilização do regime, começou a ser preparado pelos ingleses, embora com conhecimento da CIA, que, durante a presidência Truman não teve autorização para actuar, mas acabou por ser posto em prática por aquela agência - operação Ajax-, na presidência seguinte (Eisenhower), sob a responsabilidade directa de Kermit Roosevelt Jr., neto de Theodore Roosevelt. Então, foi necessário corromper muita gente, Ayatollahs inclusive, recorrer a pessoas inqualificáveis e beneficiar de um estilo de actuação muito peculiar de Mossadegh que não se defendeu como devia. Eram a dignidade do Estado e orgulho de um povo que estavam em causa contra a secular rapina britânica. Não foi um golpe fácil, mas fez-se.
Hoje, as condições são muito diferentes. O orgulho nacional mantém-se intacto e o ressentimento contra a perfídia americana, que os iranianos tinham por amigos, Mossadegh incluído, também, mas há notoriamente um certo cansaço das populações mais jovens e das urbanas que querem viver num regime mais aberto, e sobretudo, mais próspero. A liderança de Ahmadinejad trouxe-lhes mais inflação, custo de vida mais alto, desemprego e uma excessiva crispação internacional que está muito longe de ser apoiada por todos, tanto dentro como fora do regime. Por outras palavras, teoricamente as condições são hoje mais favoráveis a uma acção da CIA do que há 56 anos. É muito provável que a CIA, durante a presidência Bush, estivesse preparando, com o apoio dos ingleses, uma acção de destabilização do regime. E também é provável que a presidência seguinte tivesse que decidir sobre “o que fazer”. Já vimos isso noutras ocasiões: com Kennedy, por exemplo, que teve de dar seguimento a uma acção preparada pela “mesma CIA” que planeou e executou o golpe de Teerão (a CIA de Allan Dulles). Mesmo que se dê o benefício da dúvida a Obama – e deve dar-se, de outro modo o discurso do Cairo seria uma ignomínia – nada nos garante que os ingleses não tenham tomado a acção a seu cargo com a colaboração oficiosa da própria CIA.
Mesmo que tudo isto fosse verdade – e tão cedo ninguém o conseguirá provar – não parece, contudo, que os americanos estejam em condições de poder retirar de uma eventual mudança de liderança em Teerão as mesmas vantagens que “colheram” com o golpe de 1953.

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