quarta-feira, 15 de setembro de 2021

A VACINA RUSSA

TEXTO PUBLICADO NO FB

Li no "Le Monde" um artigo sobre a vacina russa- Sputnik-V, que posso resumir nos seguintes termos: Tudo o que não for feito segundo a nossa (Ocidental) metodologia não merece confiança.
Isto é o que eu retiro do que li, mas estou certo de que se tivesse lido sobre o mesmo assunto em jornais de outras nacionalidades (inglesa, alemã, americana) a minha conclusão seria idêntica. Neste tipo de casos a sintonia é sempre perfeita.
As centrais de informação "ordenam" que assim se pense e a esmagadora maioria das pessoas pensará em conformidade. Tudo bem. Mas depois não nos venham falar da Coreia do Norte...
Os mais velhos (ou os que estudam estes assuntos) lembrar-se-ão que nos inícios da Guerra Fria a superioridade estratégica dos Estados Unidos era uma evidência indiscutível. Havia a bomba atómica e havia meios indetectaveis, ou com um tempo mínimo de reacção, de a transportar enquanto os soviéticos estavam muito atrasados e a sua grande força, exercitavel na Europa, era o seu numeroso exército de terra e a relativa facilidade com que poderia chegar a Paris. A Nova York, nem pensar, até que numa bela tarde Outono de 1957 (4 de Outubro) foi lançado com êxito o Sputnik... e tudo mudou. E lá se foi a inabalável superioridade estratégica facilmente varrida por um sopro de vento leste antes depreciado. E outros exemplos se poderiam dar, embora este seja de longe o mais significativo.
Por isso a prudência aconselha a esperar para ver e tirar as devidas conclusões. Logo se saberá se estamos perante uma nova "kalashnikov" no combate à pandemia, se estamos perante uma arma igual à qualquer outra ou se a vacina russa não passa de uma FBP mal concebida.
30/11/2020

2 comentários:

Jaime Santos disse...

A vacina russa, pelo menos a Sputnik-V, parece ser bastante eficaz e baseia-se no mesmo princípio da vacina da Astra-Zeneca, se não estou em erro.

Os russos têm sido parcimoniosos na informação que fornecem à EMA depois do pedido de licenciamento, se é a isso que se refere. Não me parece que se deva agora mudar a metodologia só para lhes fazer a vontade.

E, note-se, já agora, que a população russa não parece ela própria confiar assim tanto na vacina providenciada pelo seu governo. A 12 de Setembro, menos de 30% da população tinha a vacinação completa. Nós já atingimos os 80%, sobretudo com a vacina da Pfizer.

Parafraseando aquele filme delicioso com o James Cagney, do tempo em que os americanos sabiam rir de si próprios, 'Mísseis russos, Vénus, Mísseis americanos, pff, pff, pff, Miami Beach!'. ele agora é mais 'Mísseis germano-americanos, Marte, Mísseis russos, Novosibirsk!'

Aliás, a trajetória é similar à da corrida espacial. Os russos começaram melhor mas quem ganhou a corrida (chegou à Lua) foram os EUA, se bem que o programa Apollo eclipsou os Lunokhod, um feito técnico extraordinário...

A competência técnica e científica dos russos não está em causa. Trabalho com alguns e posso testemunhá-lo.

Agora, lembro-lhe que no que diz respeito a disparates científicos (ou mesmo desastres) promovidos pelo Governo, eles fartam-se de meter o pé na argola. Vale pois bem ter cuidado. A Ciência feita ao ritmo da Ideologia não é de confiar...

O exemplo mais famoso é porventura o de Trofim Lysenko, que acreditava na teoria do Lamarck dos caracteres adquiridos e queria fazer crescer trigo no gelo, acabou apoiado por Estaline com resultados que não foram brilhantes para a ciência genética na URSS...

JM Correia Pinto disse...

Já estava à espera do Lysenko.
A ideoloia só a têm aqueles que pensam diferente de nós. Já o grande sábio Cavaco Silva dizia que havia a ideologia e a realidade.
Eu pergunto: há hoje no mundo alguma ideologia mais forte, mais "entranhada", mais constante e permanente que a do mundo ocidental? Alguma outra dispõe ao seu serviço de grandes centrais de "intoxicação" da opinião pública encarregadas de formatar a cabeça das pessoas? Hoje, basta pronumciar certas palavras, nem sequer é preciso onstruir uma frase e muito menos elaborar um arumento, para que a essa palavra se junte imediatamente numa reaccão pavloviana um conjunto de pressupostos, de subentendidos e de conclusões construídos sem o menor rigor crítico! O poder ideológico, é dos três poderes, o mais importante, sem o qual o consenso para governare dominar é impossível.