AS COMPLEXIDADES DA
POLÍTICA
Não estou muito interessado em entrar no debate sobre a
adesão da Guiné Equatorial à CPLP exactamente por se tratar de um tema que não
me entusiasma, embora haja questões relacionadas com essa adesão que são da
maior actualidade.
Um dos pilares fundamentais do neoconservadorismo é o de que
a situação interna de cada país deixou de ser uma questão exclusivamente interna
desse Estado, coberta pelo princípio da não ingerência (dos outros Estados) –
princípio consolidado no Direito Internacional Público saído da II Guerra
Mundial, como resposta aos desmandos que as intervenções para defesa de um
direito ou baseadas em razões humanitárias haviam causado por toda a parte (basta
recordar as anexações ou conquistas da Alemanha nazi (sudetas) e da Itália fascista
(Etiópia), mas não só , também as intervenções do Império britânico no Império
Otomano, na Rússia bolchevista, etc, etc,) - para se tornar um assunto que diz respeito a todos (leia-se aos mais
fortes).
A ideia é esta: a forma como um Estado se comporta internamente é um
indício seguro do modo como ele se comportará internacionalmente. Logo, se ele
é perigoso para os seus cidadãos também será perigoso para a paz mundial. É
preciso, portanto, combatê-lo e se possível derrubá-lo, inclusive pela força…se
houver força para tanto.
E foi assim que os americanos, sob a capa da NATO, na presidência Clinton, intervieram na
Jugoslávia (ao tempo ainda assim chamada) e mais tarde, com Bush, no Iraque.
Contrariamente ao que muitos supõem esta ideia penetrou
profundamente as hostes de certa esquerda um pouco por todo o lado e não apenas
em Portugal. Basta ouvir falar Ana Gomes, Daniel Oliveira ou Louçã (para citar
apenas os que têm mais protagonismo mediático) para rapidamente se depreender
que eles estão proselitamente (não sei se o advérbio existe…) dispostos a
defender os “direitos humanos” onde quer que eles estejam ameaçados segundo o
seu douto juízo. A Ana Gomes faz apelos directos a intervenções (todas,
obviamente, com fins humanitários, como a da Líbia, por exemplo) enquanto os
outros dois, provavelmente por falta de meios bélicos adequados, se limitam a
votar ao ostracismo os prevaricadores.
Este ponto de vista é perigoso. É sempre perigoso sucumbir
politicamente à hegemonia ideológica do inimigo ou do adversário, quaisquer que
sejam as roupagens que ela enverga. Por detrás dessas roupagens está sempre
presente uma enorme hipocrisia (drones, Israel, fascistas da Ucrânia….).
Por isso, entre combater a NATO por ter assumido sem
disfarces a sua natureza belicista e expansionista ou combatê-la por o seu
principal membro condenar internamente à morte, em cada ano, várias dezenas de cidadãos não
parece que deva haver dúvidas sobre o caminho a seguir.
O Estado, qualquer Estado, deve pautar a sua conduta por
critérios políticos. O modo como faz o equilíbrio entre os critérios de acção
política e os padrões éticos depende da correlação de forças internacional e do
juízo que os seus próprios cidadãos façam desses critérios. E leva tempo até
que os povos realmente se emancipem. As “ajudas” que vêm de fora, nomeadamente
as institucionais, desajudam mais do que auxiliam. E são sempre ditadas pelo
interesse de quem ajuda…
Nota explicativa – Esta ausência de quase dois meses não se deveu a nada de especial.
Apenas uma enorme falta de vontade em grande parte ditada por entender que nada
de novo tinha para dizer…o que, de resto, se confirma. Não obstante, agradeço aos leitores que mantiveram a
consulta do blogue.