NADA MELHOR DO QUE CONTAR A HISTÓRIA
Para começar talvez não seja exagerado afirmar que as intervenções
de Cavaco, formais ou informais, já estão a ser aguardadas pela esquerda com
uma expectativa semelhante à que acompanhava as famosas declarações de Américo
Tomaz. Com uma diferença, Tomaz era mais modesto. Cavaco, pelo contrário, junta
o ridículo das suas tiradas a uma pesporrência que não se deve deixar passar em
claro.
Hoje, mais uma vez, Cavaco do alto do seu auto-convencimento voltou
a afirmar que os políticos gregos foram inexperientes e cometeram vários erros
que vão custar caro à Grécia e ao povo grego.
Por aqui já ficamos com uma ideia do modo como Cavaco,
enquanto Presidente da República, interpreta a sua obrigação constitucional de
defender a soberania nacional e mais ainda como ele próprio avalia a actuação
dos que na Europa, nesta Europa da União Europeia, se portaram como verdadeiros
bandoleiros. Como saqueadores que não se contentam com o produto do saque, mas
querem muito mais do que isso: querem humilhar os saqueados e deixar um aviso aos
relutantes das consequências retaliatórias que os espera se porventura tiverem
a veleidade de imitar a Grécia ou de seguir um caminho parecido com o trilhado
pelo governo grego.
Se nada disto constitui surpresa quanto ao comportamento
expectável de Cavaco, constituiria sem dúvida uma gratíssima surpresa que
Cavaco nos desse conta do modo como se comportou na CEE durante os dez anos em
que foi Primeiro Ministro.
Cavaco que é tão dado a “Roteiros” prestava um grande serviço
à História se apresentasse documentos comprovativos da sua participação no
Conselho Europeu, então órgão informal, mas nem por isso menos relevante na
discussão e decisão das questão que à época foram importantes na vida da
Comunidade Europeia. Todos gostaríamos muito de conhecer como actuou o experiente e avisado Primeiro Ministro na defesa dos interesses portugueses.
Mas há mais: foi durante os dez anos de Cavaco como PM que
foi negociado, aprovado e depois ratificado o Tratado de Maastricht. Que é nem
mais nem menos o documento mais importante até hoje negociado no seio da que a
partir de então se passou também a chamar União Europeia. É do “ventre” desse tratado
que sai tudo aquilo que a UE hoje é.
Como Cavaco é um homem muito avisado e experiente certamente desde
logo percebeu o enorme alcance desse tratado e o papel que lhe cabia como
modelador da nova Comunidade Económica Europeia. Seria por isso indispensável, quanto
mais não seja para que a História reconhecesse os seus méritos, que os
arquivos fossem desclassificados e que os historiadores pudessem conhecer o
papel desempenhado pelo Primeiro Ministro no aconselhamento e orientação do
texto que em Bruxelas durante larguíssimos meses ia sendo negociado pelos
diplomatas portugueses e outros funcionários públicos. Que intervenções
internamente teve o Primeiro Ministro. Que orientações deu ao Ministério dos
Negócios Estrangeiros. Em suma, como acompanhou interventivamente tão importante negociação.
Ainda estão vivos, felizmente, os diplomatas que em Bruxelas
arcaram com a responsabilidade de negociar o tratado. Seria muito positivo para
uma correcta avaliação do papel de Cavaco na condução dos assuntos europeus que
também eles pudessem dar o seu testemunho sobre a participação de Cavaco nessas
negociações.
Se Cavaco o não fizer, se não trouxer ou deixar trazer à luz
do dia a documentação que atesta a sua experiência e sabedoria na condução dos
assuntos europeus, vai ficar seguramente amputada uma das facetas mais
importantes da personalidade política do grande leader lusitano.
E muitos até vão dizer que Cavaco, em Bruxelas, entrava mudo
e saía calado. E que somente se deu conta de que havia um novo Tratado quando tomou
conhecimento que tinha de o ir assinar a Maastricht.
2 comentários:
Gostemos, concorde-se ou não, Cavaco é um "lider" bem português. Ele não é hoje nem mais nem menos bronco do era quando venceu cinco eleições, quatro "maiorias" absolutas!
Se houvesse genuíno respeito pela vontade da população expressa eleitoralmente e nomeadamente pela via do referendo, a adesão ao T. de Maastricht era uma daquelas decisões em que deveria ter havido uma consulta. Eu teria votado contra, mas não tenho dúvidas de que o resultado teria sido esmagadoramente favorável. O POVO queria era entrar, depois logo se veria, éramos uma coisa muito pequena, os Grandes cobririam sempre qualquer dificuldade ou incumprimento.. Todos sabemos que era isto que ia na cabeça da grande maioria das pessoas. Não foi falta de esclarecimento,não. Houve o referendo na França com resultado inesperadamente tremido e o pessoal, aqui, a por velinhas para que o "sim" ganhasse... . Portanto, Cavaco Silva até terá interpretado e espelhado com bastante fidelidade e nitidez os portugueses.
lg
"Não foi falta de esclarecimento,não"
Esta é daquelas boutades que poderia ser dita e redita num dos discurso do américo cavaco slva thomaz
De
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