domingo, 21 de abril de 2019

OTELO NO GOVERNO SOMBRA


A CONVERSA DA DIREITA
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Ontem, já de madrugada, quando ia passando canais, deparei-me com Otelo a dissertar no seu estilo de sempre. Breve percebi que estava como convidado no "Governo sombra", certamente para comemorar os 45 anos do 25 de Abril.

Otelo falou dele e de outros camaradas e como acompanho com extrema benevolência as intervenções de Otelo, não tanto pelo seu valor intrínseco, e menos ainda pela sua carreira política depois da noite gloriosa, mas pelo mérito de, pela primeira vez desde o 28 de Maio, ter montado um plano de operações cem por cento vitorioso, acabei por prestar mais atenção às intervenções dos habituais titulares do painel. do que a ele. 

Ricardo Araújo Pereira falou a sério e não disse nada de especial, apenas alguns lugares comuns sem interesse, o que faz com que a sério não tenha graça nenhuma. José Miguel Tavares disse o que se esperava que dissesse atenuado na forma pela simpatia que Otelo inspira, nomeadamente quando dá rédea solta à sua vertente anti-PCP. O moderador foi levando as coisas para a brincadeira, enquanto Pedro Mexia, de longe o mais elaborado dos quatro, dissertou sobre a tentativa de apropriação do 25 de Abril por sectores do MFA e de certas forças partidárias quando insistem na ideia de que “não se cumpriu Abril” ou de que "não foi para isto que fizemos o 25 de Abril”.

Mexia entende que esta ampla possibilidade de governar com mais ou menos diferenças ou até com marcadas diferenças relativamente ao programa de certos sectores político-sociais é que é a grande riqueza de Abril, ou, dito de outra maneira, "foi para isto que se fez Abril".

O que Mexia desconhece ou faz que desconhece é que o “tal Abril que se fez para isto” não resultou de nenhum alargado consenso pré-existente sobre o derrube da ditadura. Bem pelo contrário, ele foi obra de um punhado de conspiradores que inspirados em ideais que não eram partilhados pela generalidade das pessoas idealizaram a criação de um regime mais igualitário, nas múltiplas vertentes em que a personalidade humana se manifesta, livre e solidário. E quando vêem estes valores adulterados pelos descendentes ideológicos dos que nunca idealizaram Abril, é perfeitamente natural que se sintam defraudados pelo aproveitamento fraudulento daqueles para quem Abril continua a ser um obstáculo e não uma via!


8 comentários:

Rogério G.V. Pereira disse...

Confirma-se
Não vale mesmo a pena ver o tal programa

Otelo juntou-se a Raquel Varela
e tomaram conta das celebrações aqui em Oeiras
Eles estão em todas, menos nesta
https://youtu.be/S-UZuiNIfyw

Jaime Santos disse...

Portugal é uma comunidade política que se caracteriza por ser uma democracia multipartidária (não entro no jogo de um Jerónimo de Sousa que quer discutir o que é uma democracia, sei que quando vejo um regime que o não é, é fácil reconhecê-lo e seguramente a Coreia do Norte ou Cuba não são democracias).

O País tem naturalmente uma dívida de gratidão a todos os que se sacrificaram para que o Fascismo chegasse ao fim, mas não lhes concede a eles (nem a ninguém) um 'droit de regard' sobre o regime político entretanto construído. Fomos sempre governados por executivos apoiados em maiorias parlamentares saídas de eleições livres que ninguém contesta, e isso basta-me.

Para além desse facto, a única alternativa à Esquerda que se soube constituir como solução de governo, o dito Socialismo Real, falhou redondamente, tendo trazido autoritarismo, morte, destruição ambiental e falência económica onde quer que tenha tomado raízes (regimes como o cubano ou o chinês já não se organizam economicamente em moldes socialistas, mas sobra-lhes a vocação totalitária).

É a presente democracia liberal muito imperfeita e por vezes francamente injusta? Com certeza, mas as alternativas são todas bem piores. De cada vez aliás que ouço criticas, normalmente não completamente assumidas, ao regime em que vivemos, lembro-me das palavras de Kennedy, que dizia que, por muito imperfeitos que os regimes políticos ocidentais fossem, não precisavam de construir muros para impedirem os seus cidadãos de emigrarem, se o desejassem...

Anónimo disse...

Jaime Santos não entra no jogo de Jerónimo de Sousa. Sabe reconhecer uma democracia pelo cheiro.
E atira-se contra Cuba que neste momento vive com a espada afiada dos EUA sobre a cabeça

A democracia americana. A pax guerreira, criminosa e sem escrúpulos americana. Jaime Santos assume as suas preferências pelas palavras e pelas omissões

Adivinha-se a proximidade do acto eleitoral JS faz o que pode para o efeito

Anónimo disse...

Jaime Santos também assume a "dívida de gratidão" . Dito assim parece ou não uma paroquial figura, em salão paroquial, a tecer as mesmíssimas palavras ao seu benfeitor igualmente paroquial?

A quem teve a coragem de acabar com o fascismo ( e é essa a principal mensagem de JS) reserva-se o lugar dos "medalhados".

O que aconteceu é que a maioria dos militares de Abril foi prejudicada pelo facto de terem tido a coragem de abrirem novos rumos para o país. Algo que JS se esquece ou esconde

Vê-se que o assunto não lhe interessa muito. Pelo contrário resolve tecer loas aos governos e às maiorias saídas de eleições que ninguém contesta,rasurando rapidamente os episódios sórdidos e rocambolescos da Democracia liberal que tanto enaltece. Apreciou o queijo limiano e a condecoração de Pides por parte de sua Exª o prof Cavaco. Apreciou governações sucessivas do bloco central, com o seu cortejo de cumplicidades entre os governantes e o poder económico. É a "democracia liberal" sonhada pelas elites político-financeiras que governam o país e por quase todos os que fazem parte da quase que oligarquia que os acompanham

Parece que isto basta a JS.

Adivinha-se o seu rancor aos militares de Abril que asumidamente acharam que tal não bastava para cumprir um país e um sonho

Mas JS é como é.

Francisco disse...

A atribuição generalizada do direito de voto a todos os membros de uma mesma comunidade política, constituiu, desde início, um verdadeiro quebra-cabeças para os representantes da burguesia em ascensão, que liderou e controlou as grandes revoluções liberais do séc. XVIII (a Americana, mas sobretudo a Francesa) e que via nesse regime de voto igualitário uma ameaça efectiva à concretização (e perpetuação) do sistema económico e político-ideológico do capitalismo.
Não por acaso, o princípio de "um homem um voto" teve que esperar a passagem purificadora por um purgatório de muitas décadas (bem mais de um século, no caso do direito de voto das mulheres), trânsito esse durante o qual foi sempre intensamente mitigado na sua efectivação quer por barreiras jurídicas (o sistema de voto censitário), quer e sobretudo por barreiras económicas que criavam as condições objectivas que tornavam inviável a existência de uma verdadeira democracia, isto é, de uma democracia não apenas política, mas também cultural, social e económica.
O desenvolvimento da sociedade capitalista com reflexos notórios no chamado Mundo Ocidental, foi acompanhada por um lado pela massificação do consumo nos anos do pós-guerra e pelo desenvolvimento de mecanismos de difusão político-ideológica de massas, que acabaram por tornar inofensiva a titularidade de um direito de voto, cada vez mais circularizado no contexto dos múltiplos "blocos centrais", em que a alternância nada releva para a alternativa e em que a alienação dos sujeitos permite o seu controlo pelo aparelho político-ideológico permanente. Contudo, há nos dias de hoje uma certa ânsia de proclamação democrática e até - pasme-se - se assiste à exportação da democracia por parte da maior potência imperial, que determina onde, quando e segundo que canônes tais beneficiários da expansão democrática devem ser seleccionados. Constituindo uma verdadeira ideologia do individualismo (uma das bases nucleares do liberalismo, que Thatcher recuperou como arma de arremesso contra qualquer veleidade de dar à democracia um conteúdo verdadeiramente substantivo), esta chamada democracia-liberal é a democracia possível no actual contexto da luta de massas. Serve por enquanto os desideratos da classe dominante e por isso é espadeirada com jactância por muito micro-intelectual de pacotilha, acólito de circunstância que julga ter encontrado finalmente o tão ambicionado Santo Graal do fim da história. Pura ilusão, pura ignorância, pura imbecilidade.

Anónimo disse...

Alguns comentários muito bons
Que clarificam o deprimente ( atrever-me-ia a classificá-lo de medíocre) comentário de Jaime Santos.

JM Correia Pinto disse...

Jaime Santos, no seu estilo inconfundível, fala com certa leveza de um problema complexo que tem merecido a atenção de todos os grandes nomes da filosofia política ocidental. Para Jaime Santos, a democracia (representativa, creio) é o melhor sistema do mundo, porque Kennedy, que até foi eleito com batota, disse não sei quê com que ele concorda.
Jaime Santos parece esquecer que a democracia, como qualquer outra forma de governo, é apenas um meio para atingir certos fins. É um meio e não um fim, embora os meios, não predeterminando os fins, estejam longe de ser irrelevantes para a sua consecução.
Durante séculos, como disse, a filosofia política ocidental preocupou-se com as formas de governo pela importância que se lhes atribuía no governo da comunidade. Todas essas formas tinham um problema: corrompiam – se e tendiam a gerar uma situação conflitual com a matriz que as determinava e justificava. E assim se foi andando até que, nos Estados Unidos da América, recém-criado como Estado independente, se julgou ter encontrado o segredo para a resolução desse problema tão velho como a natureza social do homem. A democracia, não a directa, como a clássica, mas a representativa de comunidades muito interventivas na vida política quotidiana que escolhiam, por um curto período de tempo, os seus representantes para em seu nome legislarem.
Este modelo foi adoptado, com múltiplas alterações, em alguns outros países do mundo, a começar pela França, tornando-se em muitos deles desde logo evidentes os problemas que o sistema gerava a ponto de o tornarem pior que outros que até então tinham sido adoptados. Nos próprios Estados Unidos da América, cerca de dois séculos e meio volvidos, basta olhar para o panorama político interno para imediatamente se perceber até que ponto o sistema está corrompido e deturpado, sendo hoje uma triste caricatura do que foi primitivamente idealizado.
Entretanto, Marx, sem desconsiderar a experiência americana, não atribuiu um grande valor à questão das formas de Governo, embora no livro sobre a Comuna de Paris deixe algumas indicações de como o concebia depois de resolvidos problemas de outra ordem sem a solução dos quais toda e qualquer tentativa de encontrar a forma de governo ideal estava votada ao fracasso.
Sem desconsiderar a lição de Marx, diremos nós agora, percebe-se pelas experiências que entretanto tiveram lugar eu se não pode menosprezar a questão das formas de governo.
E é nisto que estamos: hoje a democracia representativa, além de completamente deturpada nos seus fundamentos iniciais, caminha aceleradamente para a pior de todas as corrupções: a formação de grandes e poderosas oligarquias que tendem a esmagar economicamente a maior parte da sociedade condenada à diminuição gradual do seu rendimento, à precarização da sua situação económica, social e política.
Algumas das experiências que estão em curso, umas bem piores que outras, resultam deste problema criado pelas democracias representativas dos grandes países desenvolvidos.
Assim, parece restar a grande lição dos clássicos: o governo de uma comunidade qualquer que ela seja deve ser feito pelos MELHORES, ou seja, todos podem escolher, mas nem todos podem ser escolhidos. Porém, dois graves problemas estão por resolver: como escolher os melhores, ou seja, os que podem ser escolhidos, e como controlar o poder exercido pelos melhores, este menos difícil de resolver do que o anterior, mas ambos extremamente complexos.
Assim, pode Jaime Santos continuar com as suas certezas inabaláveis, ou porque lhe convêm, ou porque com elas dorme descansado. Mas o problema existe. E a preocupação dos que não viram cumprir Abril é uma preocupação legítima e que faz todo o sentido.

vitor disse...

Tal e qual o SNS. Deve custar muito aos verdadeiros pais do SNS ver hoje hipócritas que sempre votaram contra o SNS... Se até a mim me custa.