segunda-feira, 23 de setembro de 2019

A CAMPANHA ELEITORAL DAS LEGISLATIVAS DE 2019

O QUE SE PODE ESPERAR

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A última sondagem tende a reflectir a posição do eleitorado depois dos debates televisivos. Como era de esperar, Rio sobe, não necessariamente à custa do PS, o que é pena para quem não deseja uma maioria absoluta, mas porventura à custa da abstenção e do voto branco (eleitores do PSD desiludidos), porventura também à custa dos novos eleitores, que se não deixaram seduzir pelas “tontices” fundamentalistas do PAN e ainda alguma coisa à custa do depauperado CDS de Cristas.
A subida do PSD para níveis que o aproximem dos 28% garantirá a continuidade de Rio à frente do partido e deixá-lo-á em excelente posição para se tornar no parceiro privilegiado de Costa na próxima legislatura. Certamente, se não houver maioria absoluta, assistiremos a uma retórica da parte do PS tendente a deixar na opinião pública a ideia (que o PS que conta nestes últimos dois meses já se encarregou de desmentir) de que a solução de 2015 só não se repetirá se os partidos da esquerda a não quiserem. Como porém esta solução é irrepetível, não apenas por ser outro o contexto político, também por terem sido bastante enfatizados os seus resultados negativos, mas acima de tudo por ela só ser viável se se propusesse alcançar conquistas e garantir avanços em áreas claramente de esquerda (direito laboral, serviços públicos, investimento público e outras garantias sociais) que o PS do “tratado orçamental” e do “pacto de estabilidade e crescimento” não está em condições de satisfazer, o mais provável é que para a base principal da governação o PS (sem maioria absoluta) busque o apoio do PSD, calada que esteja a sua facção mais agressivamente neoliberal.   
Da parte do Bloco a não participação indirecta no governo não constituirá uma boa coisa. Toda a sua estratégia, aliada à extraordinária capacidade de Catarina Martins para captar votos, apontavam para uma participação mais activa no governo. Esta estratégia do Bloco colide, porém, frontalmente, como já se viu, com a do PS que vê no BE não apenas o seu mais directo concorrente à esquerda, mas também aquele em cujo eleitorado não “pesca” votos por mais que tente reverter a seu favor os efeitos das medidas que com muita relutância aceitou pôr em prática. O Bloco sabe também, como partido de esquerda e como partido que não dispensa o eleitoralismo, que há limites que não poderá ultrapassar por mais tentadora que continue a ser a sua participação indirecta no governo. Ou seja, o Bloco sabe que não poderá prescindir das bandeiras de esquerda por que sempre se bateu, mesmo aquelas que aparentemente não dão votos (como o fortalecimento dos serviços públicos), embora os tirem a quem governa se não forem devidamente acauteladas, e sabe também que a sua participação só se justificará aos olhos do seu eleitorado se houver avanços significativos no plano da distribuição directa de vantagens, como, por exemplo, a satisfação das reivindicações de certas classes profissionais. Ou seja, tudo matérias a que o PS não pode chegar.
O PCP, por seu turno, sempre com uma visão mais estrutural da política, muito embrenhado nas tais lutas que não dão votos, e sem grande capacidade para tirar partido eleitoral dos avanços conseguidos à custa da sua acção, acaba por ser o partido que mais à vontade se sentirá no tempo pós eleitoral, a menos que o resultado das eleições seja uma verdadeira catástrofe. Embora o PS preze a colaboração do PCP, não apenas pela fidelidade aos compromissos assumidos, mas, principalmente, por ser o partido que eleitoralmente menos prejuízo lhe causa, antes pelo contrário, a verdade é que não estando o PS em condições de responder satisfatoriamente às novas exigências do PCP, o mais natural é que este não encare como prioritária a sua participação na solução governativa, quer o BE venha nela a participar, quer, por maioria de razão, não venha.
Em grandes dificuldades, lutando pela sua sobrevivência política, estão Cristas e o CDS. Como partido apêndice do PSD, perturbado pelas suas oscilações estratégicas, entre um neoliberalismo puro e duro e uma democracia social-liberal, o CDS depois de se ter afastado da herança da sua última experiência governativa, sem contudo se posicionar numa alternativa credível, vive hoje o drama do descrédito a que o eleitorado o votou, como se confirmou, ao contrário do que foi dito, nas autárquicas entendidas na sua totalidade, nas europeias e mais logo nas regionais da Madeira. A perturbação é tanta que Cristas já procura Marcelo como bóia de salvação. Já não pede o voto nela, pede que não votem exageradamente na esquerda para conservar o papel “equilibrador” do Presidente da República. Como se a maioria de dois terços na AR tivesse uma importância decisiva em todos os eventuais vetos presidenciais…
Finalmente, o PAN que conseguiu durante quatro anos deixar transparecer uma ténue imagem da sua verdadeira natureza - a imagem que mais lhe convinha. É difícil antecipar até onde poderá ir. Mas irá certamente bastante além do que seria razoável…

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

BREXIT


O QUE SE NÃO DIZ
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Sobre o BREXIT há duas coisas que me espantam: a primeira tem a ver com o facto de todos os comentadores europeus (do sistema) se desdobrarem em argumentos sobre as consequências negativas do BREXIT para o Reino Unido - consequências de todo o tipo, estratégicas, políticas, económicas, financeiras, sociais, etc., - e nunca abordem o outro lado da questao: as consequências do BREXIT para a UE e seus EM; a segunda, assentando no mesmo pressuposto, tem a ver com o facto de ninguém se interrogar por que razão uma parte considerável do RU - veremos se maioritária ou não - continua a lutar por um BREXIT sem acordo, deixando-se, pelo contrário, implícita a ideia de que somente um bando de loucos poderia estar de acordo com este desfecho ou defender tal posição.
Quanto à primeira questão, parece me evidente que a saída do RU da UE terá consequências políticas para esta muito mais graves do que para o RU, embora algumas delas se não produzam imediatamente. Basta dizer que para os países da Europa Ocidental, com excepção porventura da Espanha e talvez da Itália, a presença do RU na UE constituía uma espécie de garantia implícita contra a hegemonia germânica, como muito brevemente se perceberá quando a Alemanha der por findo o longo período de "luto" que se viu obrigada a fazer depois da derrota na segunda guerra mundial. Além desta consequência politica, haverá danos económicos irreparáveis para um número significativo de economias da UE que têm no RUo seu principal mercado.
E por aqui chegamos à segunda questão: o RU deve pugnar por um BREXIT sem acordo porque essa é a única via que lhe permite negociar um acordo aceitável em condições muito mais vantajosas do que as que agora dispõe. Ou seja, o RU só tem a perder negociando um acordo antes de sair e a UE só teria a ganhar. Daí que esta já tenha passado qualificar o BREXIT sem acordo como uma catástrofe natural de graves proporções.
Conclusão:o RU quer um acordo com a UE, mas não o quer negociar em condições de manifesta desigualdade.