O QUE SE PODE ESPERAR
A última sondagem tende a
reflectir a posição do eleitorado depois dos debates televisivos. Como era de
esperar, Rio sobe, não necessariamente à custa do PS, o que é pena para quem
não deseja uma maioria absoluta, mas porventura à custa da abstenção e do voto
branco (eleitores do PSD desiludidos), porventura também à custa dos novos
eleitores, que se não deixaram seduzir pelas “tontices” fundamentalistas do PAN
e ainda alguma coisa à custa do depauperado CDS de Cristas.
A subida do PSD para níveis que o
aproximem dos 28% garantirá a continuidade de Rio à frente do partido e
deixá-lo-á em excelente posição para se tornar no parceiro privilegiado de
Costa na próxima legislatura. Certamente, se não houver maioria absoluta, assistiremos
a uma retórica da parte do PS tendente a deixar na opinião pública a ideia (que
o PS que conta nestes últimos dois meses já se encarregou de desmentir) de que
a solução de 2015 só não se repetirá se os partidos da esquerda a não quiserem.
Como porém esta solução é irrepetível, não apenas por ser outro o contexto
político, também por terem sido bastante enfatizados os seus resultados
negativos, mas acima de tudo por ela só ser viável se se propusesse alcançar
conquistas e garantir avanços em áreas claramente de esquerda (direito laboral,
serviços públicos, investimento público e outras garantias sociais) que o PS do
“tratado orçamental” e do “pacto de estabilidade e crescimento” não está em
condições de satisfazer, o mais provável é que para a base principal da
governação o PS (sem maioria absoluta) busque o apoio do PSD, calada que esteja
a sua facção mais agressivamente neoliberal.
Da parte do Bloco a não
participação indirecta no governo não constituirá uma boa coisa. Toda a sua
estratégia, aliada à extraordinária capacidade de Catarina Martins para captar
votos, apontavam para uma participação mais activa no governo. Esta estratégia
do Bloco colide, porém, frontalmente, como já se viu, com a do PS que vê no BE
não apenas o seu mais directo concorrente à esquerda, mas também aquele em cujo
eleitorado não “pesca” votos por mais que tente reverter a seu favor os efeitos
das medidas que com muita relutância aceitou pôr em prática. O Bloco sabe
também, como partido de esquerda e como partido que não dispensa o
eleitoralismo, que há limites que não poderá ultrapassar por mais tentadora que
continue a ser a sua participação indirecta no governo. Ou seja, o Bloco sabe
que não poderá prescindir das bandeiras de esquerda por que sempre se bateu, mesmo
aquelas que aparentemente não dão votos (como o fortalecimento dos serviços
públicos), embora os tirem a quem governa se não forem devidamente acauteladas,
e sabe também que a sua participação só se justificará aos olhos do seu
eleitorado se houver avanços significativos no plano da distribuição directa de
vantagens, como, por exemplo, a satisfação das reivindicações de certas classes
profissionais. Ou seja, tudo matérias a que o PS não pode chegar.
O PCP, por seu turno, sempre com
uma visão mais estrutural da política, muito embrenhado nas tais lutas que não
dão votos, e sem grande capacidade para tirar partido eleitoral dos avanços
conseguidos à custa da sua acção, acaba por ser o partido que mais à vontade se
sentirá no tempo pós eleitoral, a menos que o resultado das eleições seja uma verdadeira
catástrofe. Embora o PS preze a colaboração do PCP, não apenas pela fidelidade
aos compromissos assumidos, mas, principalmente, por ser o partido que
eleitoralmente menos prejuízo lhe causa, antes pelo contrário, a verdade é que
não estando o PS em condições de responder satisfatoriamente às novas
exigências do PCP, o mais natural é que este não encare como prioritária a sua
participação na solução governativa, quer o BE venha nela a participar, quer,
por maioria de razão, não venha.
Em grandes dificuldades, lutando
pela sua sobrevivência política, estão Cristas e o CDS. Como partido apêndice
do PSD, perturbado pelas suas oscilações estratégicas, entre um neoliberalismo
puro e duro e uma democracia social-liberal, o CDS depois de se ter afastado da
herança da sua última experiência governativa, sem contudo se posicionar numa
alternativa credível, vive hoje o drama do descrédito a que o eleitorado o
votou, como se confirmou, ao contrário do que foi dito, nas autárquicas
entendidas na sua totalidade, nas europeias e mais logo nas regionais da
Madeira. A perturbação é tanta que Cristas já procura Marcelo como bóia de
salvação. Já não pede o voto nela, pede que não votem exageradamente na
esquerda para conservar o papel “equilibrador” do Presidente da República. Como
se a maioria de dois terços na AR tivesse uma importância decisiva em todos os
eventuais vetos presidenciais…
Finalmente, o PAN que conseguiu
durante quatro anos deixar transparecer uma ténue imagem da sua verdadeira natureza
- a imagem que mais lhe convinha. É difícil antecipar até onde poderá ir. Mas
irá certamente bastante além do que seria razoável…