sábado, 1 de agosto de 2009

UMA NOTA SOBRE O PROGRAMA ELEITORAL DO PS

AS PALAVRAS E OS ACTOS

Se é cada vez mais evidente a preocupação do PSD em não se comprometer com o que quer que seja e notório o silêncio que guarda sobre matérias melindrosas, em que claramente se esforça por nunca as abordar, não apenas para não afugentar potenciais eleitores, mas também para não ser amanhã acusado de mentir aos portugueses, no quadro de um entendimento muito generalizado que vê na mentira apenas a afirmação contrária à verdade com a intenção de induzir em erro, já o mesmo se não poderá dizer do programa do Partido Socialista. Admitindo, que ele não tem por objectivo enganar os eleitores, todas as propostas que o PS pretende pôr em prática, se continuar a ser governo, estão lá.
Por esse lado o programa não pode ser atacado. Há clareza no prometido. E até há algumas medidas interessantes, impensáveis no programa do PSD. O problema que este programa levanta é o que lá não está e se contava que estivesse. Quem ouviu Sócrates no Parlamento, em fins do ano passado, no pico mais alto da crise financeira, perorar contra o neoliberalismo e a redução do papel do Estado, esperaria encontrar algum eco dessas palavras no programa eleitoral para a próxima legislatura. Em vão o procurará. Nenhuma nova política é proposta neste importante domínio. Tudo continuará, portanto, na mesma.
Se o PS supõe que reforça o poder do Estado na economia, adjudicando por ajuste directo ou até por concurso grandes obras públicas, fornecimentos ou serviços em modalidades de financiamento altamente vantajosas para o grande capital e ruinosas para o futuro dos portugueses, está redondamente enganado. Ou se mantém intacto o seu programa de nacionalizações ou de continuação das famosas parcerias publico-privadas, na saúde, nas obras públicas ou noutros domínios da economia, o que na realidade estará propondo é a continuação das velhas políticas, fazendo tábua rasa das lições do passado.
É até caso para perguntar se entre esta forma de “intervenção” do Estado na economia e a não intervenção de Bush, desregulando sem acrimónia e isentando os ricos do pagamento dos impostos que deveriam recair sobre as suas actividades, esta segunda não é mais transparente e mais “equitativa” do que a primeira.

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