A VENEZUELA CANCELA LICENÇA DA TAP PARA VOAR PARA CARACAS
Diz Marcelo que "a nossa diplomacia é muito boa
nisso".
A Venezuela vive os dias que correm sob a ameaça de
uma intervenção dos Estados Unidos, que já deslocaram para o Mar das Caraíbas o
seu maior porta-aviões e um sem número de meios aéreos e navais. O pretexto
usado desta vez para a iminente intervenção americana não consiste na
existência de “meios de destruição maciça”, em solo venezuelano - além do mais ficava-lhes
mal que esses meios tivessem sido transferidos sem o seu conhecimento – mas por
a Venezuela ser a sede de um perigoso cartel do tráfico de droga actuando sob o
comando de Maduro; cartel, diga-se, de que os Estados Unidos seriam o seu
principal cliente. Como medidas preliminares intimidatórias, os meios navais e
aéreos dos Estados Unidos já atacaram várias embarcações que navegavam naquelas
águas, acerca das quais apenas se sabe que levaram à morte dos seus tripulantes
e trabalhadores.
Demarcando a zona como de intervenção militar, com a
mesma descontracção de quem demarca em solo pátrio uma parte do seu território
para manobras militares, os Estados Unidos deixaram vários avisos à aviação
civil que navega no espaço internacional, obviamente destinados a impedir ou
limitar o tráfego para a Venezuela.
A TAP, presume-se com a anuência ou por orientação do
Governo, foi das primeiras companhias aéreas a suspender unilateralmente as
suas carreiras para Caracas, a que se juntaram depois mais cinco companhias aéreas
(Ibéria, Avianca, Latam Colombia, Turkish Airlines e Gol).
Evidentemente, que à Venezuela convinha que essas
carreiras se mantivessem em actividade, na medida em que poderiam, indirectamente,
contribuir para tornar mais difícil a agressão americana, embora, como o bombardeamento
da Jugoslávia e outros demonstrem, os americanos (e também a NATO) não sejam muito
sensíveis a esses pormenores.
A Venezuela retaliou cancelando as licenças de voo
dessas companhias para a Venezuela.
Esta retaliação, relativamente a Portugal, não tem
nada de inocente, depois das múltiplas e graves ingerências de Portugal nos assuntos
internos venezuelanos.
A existência de uma vastíssima comunidade portuguesa
na Venezuela, a maior comunidade estrangeira do país, e das dezenas de milhares
residentes luso-descendentes, aconselharia, se outras razões não houvesse, que Portugal
se mantivesse à margem das disputas políticas internas e se limitasse a cuidar
da segurança e bem-estar dos portugueses lá residentes. E deveria, em
conversações diplomáticas normais, explicar ao governo venezuelano que, estando
sendo a situação no Mar das Caraíbas perigosa para o tráfico aéreo, iria suspender
temporariamente as carreiras aéreas até se encontrar outra via de chegar a
Caracas sem perigo.
Mas não foi nada disso que Portugal fez e tem feito.
Portugal tem interferido sistematicamente nos assuntos internos da Venezuela,
ao serviço de interesses estranhos, que prejudicam os nossos próprios interesses.
No actual contexto, o nosso maior interesse é tentar proteger os portugueses e nada
fazer que possa fazer perigar a situação dos portugueses lá residentes.
Todos nós nos lembramos do vergonhoso reconhecimento
de um tal Guaidó, como presidente da república, na sequência de um acto eleitoral
que perdeu por larga margem, tendo, perante um acto internacionalmente
reconhecido como válido, deslocado para a Venezuela um repórter da televisão
pública, RTP, que durante cerca de um mês fez diariamente sessões de propaganda
contra o regime, actuando como um verdadeiro enviado da oposição ao regime. E
tudo isso a Venezuela suportou, sem sequer lhe ter dado ordem de expulsão.
Mais tarde, ou seja, há pouco tempo, Portugal voltou a
apoiar a candidatura de um torcionário da CIA, que hoje está asilado em
Espanha, e uma fulana de extrema-direita – Corina Madura, a quem foi atribuído
um prémio Nobel da Paz que nem na Noruega foi reconhecido pelo “Conselho
Norueguês da Paz”.
Apesar de ter uma numerosa comunidade portuguesa na
Venezuela, a maior comunidade estrangeira do país, e dezenas de milhares de luso-descendentes,
Portugal, em vez de se manter à margem das disputas políticas venezuelanas e
cuidar apenas da segurança e bem-estar dos portugueses lá residentes, tomou
partido e interferiu vergonhosa e ridiculamente nelas.
Esta política externa portuguesa só se compreende por
Portugal ter perdido a sua independência e também a sua dignidade como Estado
soberano, agindo prioritariamente na defesa de interesses alheios, mesmo quando
conflituam com os interesses portugueses. Hoje, quando vemos ou ouvimos um
político português a falar sobre problemas ou questões internacionais, nos
quais também estão em jogo os nossos próprios interesses, nem sequer vale a pena
perguntar de que lado estamos ou o que vamos dizer sobre o assunto. Já toda a
gente sabe a resposta: se for um assunto em que os Estados Unidos estejam
metidos, é desse lado que nós estamos; se for um assunto sobre o qual a UE já
tomou posição, mesmo sem ter nenhuma legitimidade para o fazer, será desse lado
que vamos ficar, porventura ainda com mais afinco para que não haja dúvidas de
que somos obedientes e cumpridores. A triste sensação que nos fica é a de que somos
cidadãos de um Estado derrotado que actua como um simples vassalo do vencedor.
"A nossa diplomacia é muito boa
nisso"...diz Marcelo, referindo-se ao diferendo com a Venezuela.
Em tempo: Dizem-me que o actual Ministro dos Negócios Estrangeiros fez parte, como deputado europeu, daquela daquela comitiva de apoio a Guaidó, candidato derrotado, à qual foi recusada a entrada na Venezuela. Certamente que este acto insensato, de tentar reconhecer como presidente um candidato derrotado, pesou muito provavelmente na decisão agora tomada por Maduro. Na hora da retaliação tudo é chamado à colação...