quarta-feira, 8 de outubro de 2008

OS VOOS DA CIA


NOVAS PROVAS

Na passada segunda-feira o El Pais publicou uma notícia baseada num relatório do Ministério da Defesa de Espanha sobre voos para Guantánamo, com partida ou passagem pelo território espanhol. Todos os voos referidos naquele relatório foram operados pela força aérea dos Estados Unidos e justificados pelas autoridades americanas como voos de apoio logístico.
Esta justificação não pode deixar de causar, em alguns casos, a maior estranheza, pois dificilmente se aceita que, ficando Guantánamo a uns escassos 800 quilómetros do território americano, se justifique um voo de apoio logístico operado a partir de Espanha que fica a cerca de 7000 quilómetros daquela base! Por outro lado, um dos voos que transportou um prisioneiro foi operado por um C-20, exactamente um avião das mesmas características e do mesmo fabricante dos usados pela CIA para transporte de prisioneiros sequestrados e torturados.
Um destes voos, proveniente de Guantánamo com destino ao Cairo, trazia a bordo um prisioneiro, tendo feito escala nos Açores e em Palma de Maiorca, segundo o Ministério da Defesa espanhol.
Desta vez não se trata do relato de uma ONG, mas de um relatório do Governo de Espanha.
Face a esta notícia, o porta-voz do PS não encontrou melhor explicação do que afirmar que a prova daqueles factos só pode ser feita pelas autoridades portuguesas e que nenhuma delas até hoje havia chegado àquela conclusão!
Por seu turno, o Ministro dos Negócios Estrangeiros confrontado com o facto no Parlamento, mais uma vez manifestou a sua profunda irritação por estar a ser questionado sobre um assunto a propósito do qual o “Governo nada tem a esconder”. Igualmente perguntado por que razão não ordenou o Governo português um inquérito semelhante ao do Governo espanhol, Amado respondeu que “a política externa tem sido sustentada por consenso entre os dois principais partidos” e “era feio” e “não seria responsável” apontar o dedo aos anteriores governos do PSD sem nenhum elemento que indicie colaboração activa daqueles com o transporte de prisioneiros pela CIA.
Vamos por partes. Comecemos pela resposta de Vitalino Canas, porta-voz do PS. Que me recorde, a última vez que se manifestou uma tão grande divergência acerca de um facto (não de uma opinião, mas de um facto!) entre a Espanha e Portugal, foi no tempo de Salazar, a propósito do assassinato de Humberto Delgado. Também então as autoridades portuguesas asseguravam peremptoriamente ao mundo e à própria Espanha que os factos que esta afirmava terem-se verificado (presença dos pides no seu território) não correspondia aos registos das autoridades fronteiriças portuguesas.
Quanto às palavras de Amado, sublinhe-se o consenso entre os dois principais partidos em questões de política externa. Em primeiro lugar, os portugueses não sabiam, mas passaram a saber, que havia consenso entre os dois principais partidos em questões de política externa tão importantes como a invasão do Iraque e o sequestro de prisioneiros pela CIA!
A propósito da invasão do Iraque todos ficámos com uma ideia diferente. Provavelmente, Amado pensa de outra maneira, porque à época estagiava em Washington a convite do governo americano ou de instituições ligadas ao governo americano, tal como antes já lá tinham estado nas mesmas condições Durão Barroso e mais tarde Portas, este episodicamente, dada a sua pouca apetência por questões teóricas de fundo…
E também não sabíamos que a propósito de uma questão tão importante como o sequestro e a tortura de prisioneiros o consenso em política externa possa impedir uma investigação séria sobre o assunto. A propósito, o voo acima referido terá ocorrido na vigência deste Governo…
Ainda a propósito: ninguém me tira da ideia que a substituição de Freitas tem a ver com “isto”, com os voos da CIA…

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