segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

AINDA SOBRE O COMBATE À CRISE



A PERSPECTIVA DA DIREITA


Nos muitos posts aqui publicados sobre a crise económico-financeira tenho insistido na ideia de que a esquerda e a direita, lato sensu consideradas, defendem posições diferentes sobre a melhor forma de a combater. E tenho ainda dito que as específicas razões das posições defendidas pela direita portuguesa, nomeadamente o PSD, mas não só, são difíceis de compreender, a ponto de a escassez das propostas apresentadas e a crítica permanente às que vão ser postas em prática parecerem induzir a ideia de que a direita pretende que as consequências da crise se produzam em pleno, como algo de salutarmente depurador para a própria economia, tal como politicamente a entendem.
Que esses efeitos possam igualmente ser úteis no puro plano político, quer porque são eleitoralmente desastrosos para quem governa quer porque acabam por favorecer a defesa de posições autoritárias, são ilações que não podem ser escamoteadas. A verdade, porém, é que há ainda razões verdadeiramente ideológicas que fazem com que esquerda e direita encarem as crises de forma muito diferente.
Como Paul Krugman muito bem recorda, a escola monetarista ainda há bem pouco tempo considerava que as grandes crises económicas, as depressões, eram coisa do passado porque a economia dispunha agora de mecanismos adequados para as evitar. Milton Friedman, exactamente para contrariar as teses keynesianas, convenceu muitos economistas de que a Reserva Federal americana poderia ter evitado a grande depressão se tivesse proporcionado aos bancos mais liquidez. Ora, o que Keynes trouxe de novo – e que, pelos vistos, continua ser esquecido – foi a análise segundo a qual, em situações de depressão, a política monetária é ineficaz e que se torna necessário uma política orçamental deficitária - despesa pública em grande escala – para lutar contra a crise.
Depois há uma outra razão, igualmente de natureza ideológica no verdadeiro sentido do conceito, que leva a que a defesa de uma política de mais despesa pública, por tudo o que nos últimos vinte, trinta anos se dito e escrito sobre despesa pública, seja algo que careça de demonstração para poder ser aceite: aos políticos defensores de mais despesa pública para superar a crise exige-se a demonstração de que as vantagens dessa política justificam os seus custos, enquanto aos que defendem uma baixa generalizada e indiscriminada dos impostos nunca se exige qualquer demonstração.
Esta questão, como Krugman muito bem recorda, era bem conhecida de Keynes. Dar dinheiro sempre levantou menos objecções do que defender planos de investimento público, quanto mais não seja porque a sua aprovação e resultados têm sempre de julgar-se segundo estritos princípios empresariais.
Finalmente, a direita ao defender as posições tipicamente monetaristas revela-se pouco ou nada sensível à questão do emprego. Basta ouvi-la, principalmente aqueles que, por não terem responsabilidades políticas directas, podem exprimir o seu ponto de vista com mais liberdade e menos inibições vocabulares.
O governo português, no puro plano dos princípios, ao ser tão contestado pela direita está, de certo modo, a colher os frutos da sua própria sementeira…

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