É AGORA OU DEPOIS SERÁ
TARDE
No primeiro ano do seu mandato o governo de Passos Coelho
aplicou com alguma tranquilidade o programa negociado com a Troika pelo seu partido
e pelo PS com a aquiescência do CDS. Manda a verdade que se diga que o governo
de José Sócrates recusou enquanto pôde o pedido de “resgate” mas não conseguiu evitá-lo
em virtude da pressão exercida dentro do governo por Teixeira dos Santos e fora
pelo Presidente da República, pelos banqueiros, pelo PSD, nomeadamente pelos
meios intimamente relacionados com o grande capital que viam no pedido de
resgate e na tutela da Troika uma excelente oportunidade para, finalmente,
poderem aplicar o programa de governo por que tanto ansiavam. Todos certamente
se recordam daqueles (os negociadores do PSD) que exigiam “ir além da Troika”,
algo que à época foi tido como perfeitamente normal, não obstante tal
comportamento noutras paragens, desde logo aqui na vizinha Espanha, para não ir
mais longe, fosse politicamente impensável pelo anátema que fatalmente recairia
sobre quem tivesse proferido semelhante barbaridade, bem como sobre o partido
que a tivesse apoiado.
Em Portugal, mercê de uma campanha sabiamente orquestrada e
tirando partido dos múltiplos anti-corpos gerados pelos governos Sócrates, foi
possível convencer o povo que o “resgate” era inevitável, salvífico e
regenerador. Finalmente, ia pôr-se termo ao regabofe da despesa pública, ao
compadrio, ao nepotismo, à promiscuidade entre o Estado e os negócios por força
da presença de um “tutor” externo que estava aqui para nos ajudar a combater os
nossos graves defeitos.
Com este pano de fundo o governo, servido por ministros formados
na ideologia liberal mais radical, a começar pelas duas peças chave – o Primeiro
Ministro e o Ministro das Finanças -, pôs em prática um rigoroso programa de
austeridade que ia bem além daquilo que inicialmente tinha sido exigido pela
Troika.
Os objectivos desse programa são fáceis de enunciar: o
governo prometia em três anos reduzir o défice e a dívida (pública) para os
níveis fixados no “Memorando de entendimento”, restaurar a competitividade da
economia e corrigir o défice da balança comercial, contribuindo, assim, para a
diminuição do peso da dívida privada.
A política da redução do défice resultaria da limitação da
despesa pública (consumo e investimento) e do aumento da receita fiscal. A
restauração da competitividade seria assegurada pela baixa generalizada dos
salários e pela eliminação ou forte limitação dos direitos laborais e sociais.
O défice da balança comercial seria garantido por um aumento das exportações e
pela limitação das importações, em consequência da quebra da procura.
O que realmente se passou é conhecido. A política altamente
recessiva posta em prática pelo governo gerou desemprego e falências em massa,
como não há memória nos anais da economia portuguesa e traduziu-se numa quebra
brutal da procura interna.
Em consequência desta política o défice aumentou em vez de
diminuir não obstante as medidas de confisco de dois meses de salário dos
funcionários públicos e de dois meses das pensões de reforma dos pensionistas e as receitas extraordinárias.
Ou seja, a despesa manteve-se mais ou menos igual e a receita fiscal, não
obstante os múltiplos agravamentos de impostos, diminuiu drasticamente. A
dívida cresceu consideravelmente, situando-se neste momento em cerca de 120% do
PIB, quase o dobro da existente em 2008. As exportações não aumentaram conforme
o previsto e o ténue aumento verificado foi conseguido à custa do
empobrecimento dos portugueses (empobrecimento dos trabalhadores que viram o
seu salário baixar, empobrecimento das pequenas e médias empresas que laboram,
muitas delas, a custos superiores aos preços de venda (descapitalizando-se) e
empobrecimento da economia em geral por parte considerável desse aumento das
exportações ter sido alcançado à custa da venda de ouro). Finalmente, em resultado
da fortíssima quebra da procura interna as importações diminuíram, como não
poderia deixar de ser. Essa diminuição, porém, não atesta qualquer progresso da
economia portuguesa, antes pelo contrário, é exclusivamente fruto da recessão,
já que nada foi feito para substituir as importações naqueles domínios que
poderiam ser cobertos pela produção nacional.
A execução do programa do Governo moldado nos mesmos ideais
das “receitas” da Troika traduziu-se aos olhos dos portugueses (não aos olhos
dos credores, nem dos oligopólios ou monopólios nacionais) num rotundo e
completo fracasso. Confrontados com esta situação o Governo e a Troika vêem no agravamento
das políticas fracassadas o remédio para os problemas portugueses. Mais
austeridade, portanto. Ou seja, mais impostos e mais cortes na despesa. Logo,
mais recessão, mais desemprego, mais falências.
As primeiras medidas que o Governo achou por bem anunciar
dentro da linha acima referida foi como se sabe a transferência para o trabalho
das comparticipações da segurança social que pertencem ao capital, mediante a entrega
directa de uma parte considerável (7%) do salário dos trabalhadores às empresas.
Passou-se o que se sabe. Um verdadeiro levantamento popular
obrigou o Governo a recuar naquela medida, mas não nos seus propósitos de
agravar a austeridade à custa dos salários. Mas passou-se ainda outra coisa bem
mais importante: os portugueses perceberam finalmente sem margem para dúvidas
qual a verdadeira natureza e finalidade do programa de austeridade que lhes
está a ser aplicado. Que interesses serve e quem serve. Enfim, nada que se não
soubesse, já que o exemplo da Grécia aí estava na sua crueza a demonstrar o que
necessariamente se iria passar em Portugal.
Mas como há coisas que somente se aprendem quando se passam connosco,
os portugueses acordaram ainda a tempo de impedir que a catástrofe se consume.
Os portugueses perceberam que o slogan “Nós
não somos a Grécia” fazia parte dessa gigantesca lavagem ao cérebro com que
se pretendia enganá-los, fazendo-lhes crer que os “falhanços” da Grécia nada tinham
a ver a natureza intrínseca do programa mas antes com factores idiossincráticos
do povo grego, a verdeira origem de todos os males.
Portugal encontra-se agora num momento decisivo: ou continua
a austeridade com mais ou menos protestos e o país entra numa via da qual não
tem qualquer possibilidade de sair ou rejeita pura e simplesmente o programa da
Troika e só aceita trilhar uma via conforme
aos seus reais interesses.
A Troika, o Governo, os altos interesses tudo farão para que
o povo continue submisso e aceite “por ausência de alternativa” o caminho por
eles traçado. Uma chantagem sem precedentes está sendo posta em prática desde o
início deste processo com vista a desencorajar os portugueses de escolherem um
caminho alternativo. De facto, mesmo muitos daqueles que se opõem ao resultado
destas políticas quando são confrontados com a escolha de um outro caminho
mantêm-se no essencial fiéis às imposições da Troika, parecendo acreditar que
uma espécie de milagre lhes venha resolver o problema com que se defrontam –
umas vezes acreditam que vai ser o BCE, outras esperam pela vitória eleitoral
de um qualquer partido social democrata num país grande, enfim, não têm
realmente alternativas. Mas isso não os impede de “sarfar” a onda de
descontentamento embora com muitas contradições e demagogia à mistura. O mais grave,
porém, é que o país já chegou a um ponto em que não se pode dar ao luxo de
falsas novas experiências que mais não são do que variações sobre o mesmo tema.
É preciso derrubar o Governo e seguir outro rumo. O Governo
está “morto”, mas ainda mexe. E vai agora recorrer a toda a demagogia possível
para fazer passar a mensagem que os “sacrifícios são equitativos”. Os
portugueses, além de saberem que isso é impossível com este governo, sabem
também que esta política destrói o futuro de Portugal e dos portugueses.
3 comentários:
A guerra tem que vir!!! Mas so nos fins das eleicoes da America! Novos padroes, novas contituicoes, novas leias e criar um Homem novo.
MERDA, MAIS UM A RECLAMAR "UM HOMEM NOVO".
QUAL HOMEM NOVO? O PITAGÓRICO? PLATÓNICO? HUXLEYANO? ORWELLIANO? MARXIANO? HITLERIANO? POLPOTIANO? CAVAQUIANO?
Ó ANÓNIMO, PORQUE NÃO TE CONTENTAS EM PEDIR AOS HOMENS QUE SEJAM APENAS HOMENS MELHORES?
Sr. Jose Neves, persumo que, pelo seu comentario O Sr.
e um dos Homens Novos que eu estou a pedir...E que nao sera necessario para si fazer a Guerra, mas entenda
para ja so o temos o Sr.Serao precisos muitos homens como o Sr.E, ser fore assim...estaremos libertos do capital e libertos desta "praga"! Reclamo um Homem com pensamento de: Homen pelo Homem ! Ou entao,a Guerra pela Paz, Pela Ordem ,pela Justica,pela igualdade,pela solariedade e pela compreencao,que e coisa, parece a mim, em que o Sr e igual....a tantos outros vindo deste moderno " Inferno". O melhor sera ler os classicos mais uma vez.
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