CAVACO E O CONSENSO
Descontando o que já todos sabemos sobre Cavaco – a sua
incapacidade para compreender a democracia; o seu desapego aos genuínos valores
democráticos; a sua vulgaridade intelectual – o que dele resta como Presidente
da República é a defesa incondicional do Governo em funções e as manobras de propaganda eleitoral, próprias de quem já não se considera capaz de
terminar o mandato presidencial com um governo em exercício de funções
partidariamente diferente do actual.
Com o apelo ao consenso tão veemente quanto cínico o que
Cavaco realmente pretende é colocar o PS em dificuldades e retirar-lhe margem
de manobra eleitoral. Cavaco sabe perfeitamente que a direita do PS, muito
próxima do CDS no plano das “respostas económicas” para a crise, é favorável a
um entendimento com a direita que governa, facto de que não faz qualquer segredo tanto nas
intervenções televisivas dos seus principais representantes como nos diversos
artigos de opinião publicados nos jornais. Mas sabe também que uma parte significativa
do PS, seja por ajuste de contas seja por razões ideológicas, de forma alguma
aceitará qualquer entendimento proposto por Cavaco, hostilizando à partida quem
no PS se incline no sentido da sua aceitação ou sequer da sua análise como
projecto de trabalho.
E Cavaco sabe ainda, porque essas manobras políticas ele conhece-as todas, que o um eventual conflito interno no PS o enfraquece
eleitoralmente, assim como sabe que a coligação no poder, nomeadamente o PSD de
Passos Coelho, não deixará eleitoralmente de brandir junto do eleitorado do
centro a “permanente indisponibilidade do PS para ajudar Portugal a sair da crise com acordos
duradoiros”.
Enfim, Cavaco ataca pelos dois lados, já que o que lhe
interessa é manter o seu bando no poder para poder concluir com êxito a obra a que a meteu mãos. Os portugueses podem esperar, principalmente agora que a
economia – este sujeito aparentemente indeterminado – dá sinais ténues de
recuperação. "Ténue recuperação", na sequência de um processo de ajustamento, significa que o
desequilíbrio causado por este nas relações económicas, políticas e sociais
entre o capital e o trabalho está em vias de se consolidar e de criar uma nova
e durável correlação de forças na sociedade portuguesa.
Na verdade, o “ajustamento” agrava e consolida as
desigualdades, criando as condições para que no domínio das relações laborais a fragilidade do emprego tenda a remeter os trabalhadores
para níveis gradualmente mais baixos de remuneração com o aumento
correspondente da taxa de lucro. Esta a economia que Cavaco quer consolidar com
o seu “consenso”!
Sem comentários:
Enviar um comentário