terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

GASPAR CONFESSA-SE


TENDO EM CONTA OS RESUMOS DA IMPRENSA

O livro de Vítor Gaspar é escrito pela jornalista Maria João Avillez


Embora pudesse ser interessante conhecer o que pensa o principal responsável pela política económico-financeira deste país, tenho de reconhecer que o facto de esse responsável ser Vítor Gaspar e o livro ter sido escrito por Maria João Avilez constituiria uma dose dupla muito difícil de suportar por um cidadão indefeso, fustigado por sucessivos “cortes” salariais. Por isso me contento com os resumos de imprensa.

E é tendo em conta esses resumos que agora acho oportuno dizer aquilo que sempre me pareceu óbvio, mas que nunca disse para não destoar da “maioria da esquerda” e não abrir brechas numa interpretação que, curiosamente, também nunca foi refutada pela direita.

Depois de publicada a célebre carta de Gaspar, a Esquerda viu nela a confissão de um fracasso, uma auto-crítica à política que até então tinha sido prosseguida no país sob a direcção incontestada e incontestável do Ministro das Finanças.

Li e reli a carta e nunca vi nela o mais pequeno arrependimento pela política seguida, nem nunca sequer vi nela a confissão tácita ou implícita de um fracasso, salvo aqui ou ali uma pequena surpresa pelo crescimento excessivo de certos indicadores económicos, como era o caso do desemprego. Mas mesmo essa surpresa, que o FMI igualmente partilhava, era pelas piores razões. Tanto Gaspar como o FMI supunham que a criação de uma reserva estrutural de desempregados faria a curto prazo baixar o custo do trabalho e estancar o desemprego, em virtude de os novos desempregados passarem a partir de determinada altura a  ser compensados pelos novos empregados contratados a custo mais baixo. 

Aparte isso, as duas únicas críticas, aliás muito contundentes, que eu vi na carta foram dirigidas, uma, ao funcionamento da coligação, isto é, uma crítica a Paulo Portas, e outra à liderança de Passos Coelho que não tinha – até então – tido a força suficiente para se opor aos ziguezagues de Portas. Tanto assim, que a carta, no estilo proclamatório que em muitas partes a caracteriza, termina com um apelo. Um apelo a que o PM exerça uma forte liderança que permita levar a bom porto as políticas a que ele, Gaspar, meteu ombros.

E hoje Gaspar pode dar-se por satisfeito. Portas foi metido na ordem e reduzido à sua insignificância política (não apenas por mérito de Passos Coelho, mas também por carreirismo do CDS que não aceitou ver fugir-lhe das mãos aquele pedaço de poder que detinha por algo que, no entender do partido, não passava de um simples capricho de Portas). E pode dar-se acima de tudo por satisfeito por a sua política estar agora a ser conduzida sem sobressaltos por Maria Luiz Albuquerque com o completo apoio de Passos Coelho, que, entretanto, tendo-se apercebido da fragilidade do CDS, lidera a coligação com total autoridade.

Por último, a direita nunca contrariou a interpretação que a esquerda fez da carta de Gaspar, porque essa era a via mais adequada para a continuar a aplicar a mesma receita…


1 comentário:

Francisco Seixas da Costa disse...

Estou 100% de acordo com a interpretação que faz: em todos os seus aspetos. Dito isto, estou com alguma curiosidade em ler o livro.