sexta-feira, 25 de julho de 2014

GUINÉ EQUATORIAL – CPLP


 

 
 
AS COMPLEXIDADES DA POLÍTICA
 
Não estou muito interessado em entrar no debate sobre a adesão da Guiné Equatorial à CPLP exactamente por se tratar de um tema que não me entusiasma, embora haja questões relacionadas com essa adesão que são da maior actualidade.
Um dos pilares fundamentais do neoconservadorismo é o de que a situação interna de cada país deixou de ser uma questão exclusivamente interna desse Estado, coberta pelo princípio da não ingerência (dos outros Estados) – princípio consolidado no Direito Internacional Público saído da II Guerra Mundial, como resposta aos desmandos que as intervenções para defesa de um direito ou baseadas em razões humanitárias haviam causado por toda a parte (basta recordar as anexações ou conquistas da Alemanha nazi (sudetas) e da Itália fascista (Etiópia), mas não só , também as intervenções do Império britânico no Império Otomano, na Rússia bolchevista, etc, etc,) - para se tornar um assunto  que diz respeito a todos (leia-se aos mais fortes).
 
A ideia é esta: a forma como um Estado se comporta internamente é um indício seguro do modo como ele se comportará internacionalmente. Logo, se ele é perigoso para os seus cidadãos também será perigoso para a paz mundial. É preciso, portanto, combatê-lo e se possível derrubá-lo, inclusive pela força…se houver força para tanto.
E foi assim que os americanos, sob a capa da NATO, na presidência Clinton, intervieram na Jugoslávia (ao tempo ainda assim chamada) e mais tarde, com Bush, no Iraque.
Contrariamente ao que muitos supõem esta ideia penetrou profundamente as hostes de certa esquerda um pouco por todo o lado e não apenas em Portugal. Basta ouvir falar Ana Gomes, Daniel Oliveira ou Louçã (para citar apenas os que têm mais protagonismo mediático) para rapidamente se depreender que eles estão proselitamente (não sei se o advérbio existe…) dispostos a defender os “direitos humanos” onde quer que eles estejam ameaçados segundo o seu douto juízo. A Ana Gomes faz apelos directos a intervenções (todas, obviamente, com fins humanitários, como a da Líbia, por exemplo) enquanto os outros dois, provavelmente por falta de meios bélicos adequados, se limitam a votar ao ostracismo os prevaricadores.
Este ponto de vista é perigoso. É sempre perigoso sucumbir politicamente à hegemonia ideológica do inimigo ou do adversário, quaisquer que sejam as roupagens que ela enverga. Por detrás dessas roupagens está sempre presente uma enorme hipocrisia (drones, Israel, fascistas da Ucrânia….).
Por isso, entre combater a NATO por ter assumido sem disfarces a sua natureza belicista e expansionista ou combatê-la por o seu principal membro condenar internamente à morte, em cada ano, várias dezenas de cidadãos não parece que deva haver dúvidas sobre o caminho a seguir.
O Estado, qualquer Estado, deve pautar a sua conduta por critérios políticos. O modo como faz o equilíbrio entre os critérios de acção política e os padrões éticos depende da correlação de forças internacional e do juízo que os seus próprios cidadãos façam desses critérios. E leva tempo até que os povos realmente se emancipem. As “ajudas” que vêm de fora, nomeadamente as institucionais, desajudam mais do que auxiliam. E são sempre ditadas pelo interesse de quem ajuda…
 
Nota explicativaEsta ausência de quase dois meses não se deveu a nada de especial. Apenas uma enorme falta de vontade em grande parte ditada por entender que nada de novo tinha para dizer…o que, de resto, se confirma. Não obstante, agradeço aos leitores que mantiveram a consulta do blogue.


8 comentários:

Unknown disse...

Apesar de falta de novidades nunca deixei de fazer uma visita quase diariamente.


Voltou. Ainda bem, agora mãos à obra, porque ao contrário daquilo que defende há muito trabalho para fazer.

E começou muito bem.

E será que não está interessado em "animar o arraial" com a situação no Médio Oriente ?

Na Ucrânia?

No inferno Libio ?

Cumprimentos

Carlos Carapeto

Ana Paula disse...

Também eu continuo a vir aqui quase diariamente.

KA NOJO disse...

A actuação de Portugal em todo este processo constitui uma nova e reluzente pérola do nosso longo cadastro em termos de Politica Externa.
Felizmente a Guiné Equatorial já ultrapassou o período aúreo do Imperador Macias, amigo íntimo do seu vizinho Bokassa.
Há alturas em que sinto vergonha....

José Ferreira Marques disse...

Bom regresso!

Anónimo disse...

A Guiné Equatorial só entrou na CPLP, porque ao Luis Amado interessam, e muito , os Cem Milhões de Euros, que o Ditador vai meter no BANIF.

Só que não percebi, afinal concorda ou não concorda, com a entrada na CPLP,da Guiné Equatorial, país onde ninguém fala português , nem virá a falar.

Se me disser que a CPLP , é um nado morto, em que Portugal só faz figura de corpo presente, até se entende o que escreveu.

Mas se a CPLP é mais do que isso, um espaço da lusofonia, com toda a sua diversidade, então é totalmente incompreensível o que escreveu.

Mas já nada me admira, o PCP absteve-se no voto contra a adesão da Guiné Equatorial, afinal parece que até na Esquerda, essa coisa de ditaduras, não interessa nada.

Se calhar os amigos Angolanos, têm mais peso em certos partidos, do que aquilo que se julgava possível.

Anónimo disse...

Um excelente regresso que é saudado por todos aqueles que, concordando ou não com tudo o que escreve JM Correia Pinto, reconhecem a inteligência, a frescura, a originalidade e a honestidade intelectual que contaminam os seus textos.

Fazem falta vozes assim

(Quanto ao que diz o anónimo das 20 e 19....talvez uma segunda ou terceira leitura ajudem ao "esclarecimento" das "ignorâncias confessadas" do dito anónimo).

De

Rogério G.V. Pereira disse...

"As “ajudas” que vêm de fora, nomeadamente as institucionais, desajudam mais do que auxiliam."

Isso, nem mais!

Anónimo disse...

Artigo muito bem escrito e pertinente. Parabéns.Quanto ao que alguns comentários dizem sobre os da Guiné Equatorial não falarem Português, mas que Português se fala no Parlamento ou se escreve no D. da R.?Tudo leva a crer que se aprenda melhor Português com os da G. E. do que com aqueles cuja ortografia é apátrida ou de nacionalidade desconhecida...