O QUE SE PERFILA
As últimas sondagens sobre as
presidenciais apesar de integrarem, com excepção de um, putativos candidatos ao
cargo, não devem ter agradado nada a Marcelo e a Costa, embora por razões não coincidentes.
Não agradaram certamente a
Marcelo que vê esfumar-se a hipótese de bater um recorde que para ele era
importante – ter a maior maioria de sempre numa segunda volta
Não agradaram a Costa que vê numa
candidatura de Ana Gomes uma complicação com que não contava: haver alguém que
em nome do PS vai atacar o Presidente nos termos que menos lhe convém – de alguém
que a apresentar-se não deixará de fazer apelo à sua filiação partidária e de buscar
nela apoios visíveis quer para atacar o Presidente quer o próprio Primeiro
Ministro se este se distanciar, como certamente fará, da sua candidatura
Não agradaram também ao Bloco,
como Louçã já deu a entender antes do “tiro de partida”, por uma candidatura
como a de Ana Gomes retirar espaço ao Bloco, ou seja, a Mariza Matias; o que
convinha ao Bloco era que o PS não apresentasse candidato, deixando a Mariza o
terreno livre para penetrar no seu eleitorado.
Finalmente, não agradaram a quem
preza a democracia e as conquistas democráticas, porque com estes candidatos a
campanha reúne todas as condições para ser uma campanha iminentemente
populista, entre populistas
Entre o populismo paternalista de
Marcelo e o populismo exacerbado de idêntica matriz de Ventura e Ana Gomes fica
um espaço muito estreito para poupar a vida política portuguesa, não só nas
presidenciais mas também no futuro subsequente, às consequências de actores
políticos fanatizados na defesa de causas que apelam aos instintos mais básicos
das pessoas.
Neste sentido, Ventura e Ana Gomes pelo
ataque, descrença e desconfiança que lançam sobre as instituições democráticas e pela permanente secundarização dos direitos liberdades e garantias desempenham um
papel semelhante mesmo quando pretendem colocar-se em polos opostos do xadrez político.
Será que haverá em Portugal um
político que esteja disposto neste contexto a ir à luta para combater esta
maré que não pára de crescer?