terça-feira, 2 de dezembro de 2008

OS VÔOS PARA GUANTÁNAMO E O "PÚBLICO"



“EL PAÍS DIZ QUE GOVERNO DURÃO BARROSO SABIA DOS VOOS ILEGAIS”

É assim que O Público de 2ªfeira na última página titula uma notícia que desenvolve na página 11. Acontece que nem nesta página, nem o El País de ontem dizem o que se afirma na última página do Público. De facto, o que o El País diz é o que se transcreve na página 11 do Público e que neste blogue foi resumido neste post, ou seja que “ Esta diligência está sendo realizada em vários países que se encontram ao longo da rota que devem seguir os aviões em questão”, países que o El País, e não a nota do MRE, entende serem, pelo menos, a Turquia, a Itália e Portugal.
Não sei se o Governo de Durão Barroso sabia ou não dos voos da CIA de transportes de prisioneiros. Agora o que sei é que, se as informações prestadas pelo conselheiro militar da embaixada americana em Madrid estavam correctas e se o Director Geral para a América do Norte e para a Segurança e Desarmamento, Miguel Aguirre de Cárcer, do MRE de Espanha, transcreveu correctamente o que lhe foi solicitado, quem recebeu em Portugal o pedido de sobrevoo e de escala foi o II Governo Guterres. Resta saber que resposta terá dado esse Governo, então já em gestão. Terá permitido? Terá devolvido a resposta para o próximo governo, empossado cerca de 90 dias depois? Terá contactado o leader do partido mais votado para “consensualizar” (para utilizar um verbo cujo sentido, em política externa, é tão do agrado do nosso actual MNE) a resposta?
Uma quarta hipótese é possível: não terem os americanos pedido qualquer autorização. Era perfeitamente provável que o tivessem feito, por muito que essa desconsideração custe aos nossos atlantistas, se esse comportamento não fosse para eles um comportamento de risco. Fazendo clandestinamente escalas, a Administração Bush corria o risco de ser denunciada por um observador indiscreto. Ela queria a cumplicidade e a conivência das autoridades dos países em rota para o caso de ser necessário fazer neles uma escala, fosse para abastecimento ou outra razão de ordem técnica, fosse para mudança de avião. Por isso, é quase certo que o tenham feito. E se seguiram um procedimento idêntico ao de Espanha, é fácil saber quem terá sido contactado em Portugal.
Esta questão está a tornar-se muito mais interessante do que alguns (talvez, algumas) supunham. Porque pode dar-se o caso de as entidades inicialmente envolvidas não serem as que se contava que fossem, mas outras… Ou seja, agora é que só vai mesmo saber-se o que se passou connosco, quando os americanos abrirem os arquivos, porque em Portugal não há “gargantas fundas”, nem os papéis deixam rasto…

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