A QUADRATURA DO CÍRCULO E O CASINO DE LISBOA
Não sou um espectador assíduo da “Quadratura do Círculo”. Vejo o programa de vez em quando, mais para me inteirar da penumbra da governação através de indícios que os seus intervenientes vão deixando ao abordarem os assuntos sobre que falam do que propriamente para me informar acerca dos temas tratados. Achei, por isso, muito interessante a discussão acerca do Casino de Lisboa, nomeadamente depois de tornada pública a reacção do representante da Solverde e de alguém ligado à inspecção de jogos.
Confesso que, depois de o programa ter estabilizado o seu formato com a actual composição de comentadores, sempre pensei que o Pacheco Pereira, dada a formação político ideológica dos seus oponentes e a teia de interesses a que estão ligados, desempenhava nele o papel de “idiota útil” (com todo o respeito e alguma consideração intelectual). Saído do marxismo historicista de raiz estalinista, habituado a interpretar o mundo no quadro de um sistema, é natural que ao fim de algumas hesitações se tenha deixado encantar pelo modelo liberal que igualmente lhe oferece um conjunto de soluções acabadas para os problemas da humanidade e um caminho seguro para a felicidade individual. Com a vantagem de, por ter uma sólida formação político-filosófica, ao contrário de alguns “liberais de pacotilha” que por aí proliferam, poder aproveitar o programa para fazer passar a sua mensagem com a esperança de que um dia os “letrados” dirigentes do PSD a entendam e apliquem. Demarcando-se permanentemente das razões profundas que ditam a maior parte das intervenções dos seus opositores, estaria assim justificada a sua presença num jogo que não é o seu.
Receio, porém, ter-me enganado. Ontem, ao ouvi-lo dissertar sobra a natureza do papel do Estado “na moderna sociedade portuguesa”, fiquei com dúvidas sobre se entre a sua abordagem elaborada e a linguagem teoricamente “naif” ou “manhosa” dos seus interlocutores não havia apenas uma pequena diferença de grau que nenhum tipo de “acquis” cultural pode impedir de situar no mesmo plano. De facto, que diferença realmente existe entre três posições que, resumidamente, se podem assim enunciar:
· A publicidade da defesa dos interesses empresariais privados junto do Estado, maxime na elaboração das leis, é um assunto melindroso dado o tipo de linguagem e a promiscuidade que entre nós existe entre os dois sectores, por isso deve-se agir com cautela e bom senso nesta matéria;
· O que importa é defender os amigos, independentemente da posição que se tome sobre o assunto em questão, que aliás é um assunto que não pode ser tratado daquela maneira nem apoiado naquele tipo de cartas;
· Hoje temos de aceitar como normal a intervenção dos interesses empresariais privados na formulação dos textos legislativos, mas essa intervenção tem de ser escrutinada.
Pegando apenas nesta última formulação, pergunto: Por quem? Em que termos? Certamente que o Autor deste pensamento se não estava a referir aos meios juridicamente previstos de audição dos interessados na feitura das leis. Então, estava a referir-se a quê? É que eu não quero acreditar que o Pacheco Pereira defenda a alteração ou queira contribuir para a alteração do velho ditado: “A ocasião faz o ladrão” por “Em Portugal, já é o ladrão que faz a ocasião”. Espero, por isso, que se explique melhor…
Não sou um espectador assíduo da “Quadratura do Círculo”. Vejo o programa de vez em quando, mais para me inteirar da penumbra da governação através de indícios que os seus intervenientes vão deixando ao abordarem os assuntos sobre que falam do que propriamente para me informar acerca dos temas tratados. Achei, por isso, muito interessante a discussão acerca do Casino de Lisboa, nomeadamente depois de tornada pública a reacção do representante da Solverde e de alguém ligado à inspecção de jogos.
Confesso que, depois de o programa ter estabilizado o seu formato com a actual composição de comentadores, sempre pensei que o Pacheco Pereira, dada a formação político ideológica dos seus oponentes e a teia de interesses a que estão ligados, desempenhava nele o papel de “idiota útil” (com todo o respeito e alguma consideração intelectual). Saído do marxismo historicista de raiz estalinista, habituado a interpretar o mundo no quadro de um sistema, é natural que ao fim de algumas hesitações se tenha deixado encantar pelo modelo liberal que igualmente lhe oferece um conjunto de soluções acabadas para os problemas da humanidade e um caminho seguro para a felicidade individual. Com a vantagem de, por ter uma sólida formação político-filosófica, ao contrário de alguns “liberais de pacotilha” que por aí proliferam, poder aproveitar o programa para fazer passar a sua mensagem com a esperança de que um dia os “letrados” dirigentes do PSD a entendam e apliquem. Demarcando-se permanentemente das razões profundas que ditam a maior parte das intervenções dos seus opositores, estaria assim justificada a sua presença num jogo que não é o seu.
Receio, porém, ter-me enganado. Ontem, ao ouvi-lo dissertar sobra a natureza do papel do Estado “na moderna sociedade portuguesa”, fiquei com dúvidas sobre se entre a sua abordagem elaborada e a linguagem teoricamente “naif” ou “manhosa” dos seus interlocutores não havia apenas uma pequena diferença de grau que nenhum tipo de “acquis” cultural pode impedir de situar no mesmo plano. De facto, que diferença realmente existe entre três posições que, resumidamente, se podem assim enunciar:
· A publicidade da defesa dos interesses empresariais privados junto do Estado, maxime na elaboração das leis, é um assunto melindroso dado o tipo de linguagem e a promiscuidade que entre nós existe entre os dois sectores, por isso deve-se agir com cautela e bom senso nesta matéria;
· O que importa é defender os amigos, independentemente da posição que se tome sobre o assunto em questão, que aliás é um assunto que não pode ser tratado daquela maneira nem apoiado naquele tipo de cartas;
· Hoje temos de aceitar como normal a intervenção dos interesses empresariais privados na formulação dos textos legislativos, mas essa intervenção tem de ser escrutinada.
Pegando apenas nesta última formulação, pergunto: Por quem? Em que termos? Certamente que o Autor deste pensamento se não estava a referir aos meios juridicamente previstos de audição dos interessados na feitura das leis. Então, estava a referir-se a quê? É que eu não quero acreditar que o Pacheco Pereira defenda a alteração ou queira contribuir para a alteração do velho ditado: “A ocasião faz o ladrão” por “Em Portugal, já é o ladrão que faz a ocasião”. Espero, por isso, que se explique melhor…