sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS AMERICANAS

HILLARY AFUNDA-SE E OBAMA SOMA E SEGUE

Sintoma de que tudo já mudou, na corrida pela nomeação do candidato democrático às próximas eleições presidenciais americanas, foi o facto de na última terça-feira os canais de televisão terem interrompido o discurso da noite eleitoral de Hillary Clinton, para se ligarem a Houston (Texas), onde Barack Obama começava a falar. Nada pior para um candidato do que o juízo de irrelevância que os media, os poderosos media americanos, possam fazer ou sugerir da sua candidatura. Juízo em que aliás foram secundados pelo já quase certo candidato republicano, John McCain, que, ao dirigir-se aos seus apoiantes, depois de uma jornada onde angariou mais três vitórias, se referiu exclusivamente a Obama como potencial rival, dizendo: “Estou certo que meus compatriotas não vão seguir uma simples voz de mudança, eloquente porém vazia, que nada mais promete do que dar umas férias à história”.
Hillary Clinton vive agora uma realidade que nem no seu mais sombrio pesadelo julgou algum dia ter de encarar. Depois de dez derrotas consecutivas, depois de ver Obama ultrapassá-la em número de delegados eleitos e de assistir à “fuga” cada dia mais notada de super delegados que tinha por seus apoiantes seguros, vê também Obama penetrar irresistivelmente naquele que até à última terça-feira tinha sido o seu eleitorado mais seguro: os operários, as mulheres com menos de 60 anos e os demais eleitores democráticos menos instruídos. De facto, Obama ao ganhar no Wisconsin, pela significativa margem de 58% contra 41%, reforçou consideravelmente a sua candidatura, não tanto pelo número de delegados ganhos, mas principalmente pelas características do Estado em que venceu. O Wisconsin é, juntamente com outros onde Obama já venceu, aquilo a que os americanos chamam um “swing state”. Um “estado flutuante” é um estado que não assegura fidelidades eleitorais, de eleição para eleição, e que além disso costuma ser um indício do sentido em que o eleitorado se move. O Ohio que, juntamente com o Texas, vai a votos no próximo dia 4 de Março, é outro desses estados. Nada mais desmoralizador para um candidato já em queda do que perder num “swing state”.
Indício igualmente seguro da previsível vitória de Obama é também a sua capacidade de penetração no eleitorado independente, do qual, em Wisconsin, arrecadou mais de 60% do voto. É, de facto, com o voto do chamado eleitorado independente que se ganham as eleições presidenciais em estados tão decisivos como a Florida, o Missouri e Wisconsin, circunstância que não vai deixar de ser ponderada pela Convenção, se, até lá, como parece cada vez mais evidente, nenhum dos candidatos conseguir os 2025 delegados de que precisa para ser nomeado. Todavia, para ser nomeado, Obama terá de ganhar pelo menos um dos três grandes estados que ainda vão a votos – Texas (193 delegados), Ohio (141) e Pensilvânia (158) – e não perder por muitos nos outros dois. De momento, as sondagens não lhe são favoráveis no Texas nem no Ohio, embora no Texas esteja cada vez mais próximo de Clinton. O debate de hoje à noite poderá ser decisivo.
JMCP

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