Para um simples observador, sem formação económica específica, a crise grega (e as suas imediatas repercussões em Portugal, na Espanha e na Irlanda) teve o condão de trazer à luz do dia as fragilidades do euro como moeda comum de dezassseis Estados membros da União Europeia.
Todavia, estas fragilidades não constituiram qualquer surpresa para meia dúzia de economistas nacionais e mais uns tantos europeus que desde há muito tempo vinham alertando para as deficiências da construção da unidade monetária dentro de um vasto espaço económico, muito assimétrico, regulado por instrumentos sem paralelo em qualquer outra união monetária.
A primeira reacção daqueles que nunca foram capazes de antecipar a crise por que estão a passar certos países da zona euro, e por reflexo o próprio euro, é a típica reacção policial: é preciso mais vigilância, mais controlo sobre as políticas orçamentais e sobre o endividamento dos Estados que fazem parte da união monetaria, estando subentendido que essa vigilância deve fundamentalmente exercer-se sobre os que já “prevaricaram” e levantam sérias suspeitas de reincidência.
Outros, um pouquinho mais ousados, já adiantam que o Pacto de Estabilidade e Crescimento, para evitar situações como as que se estão a viver, deveria atender a outros indicadores além do défice orçamental e da dívida. E por ai se ficam.
Todavia, estas fragilidades não constituiram qualquer surpresa para meia dúzia de economistas nacionais e mais uns tantos europeus que desde há muito tempo vinham alertando para as deficiências da construção da unidade monetária dentro de um vasto espaço económico, muito assimétrico, regulado por instrumentos sem paralelo em qualquer outra união monetária.
A primeira reacção daqueles que nunca foram capazes de antecipar a crise por que estão a passar certos países da zona euro, e por reflexo o próprio euro, é a típica reacção policial: é preciso mais vigilância, mais controlo sobre as políticas orçamentais e sobre o endividamento dos Estados que fazem parte da união monetaria, estando subentendido que essa vigilância deve fundamentalmente exercer-se sobre os que já “prevaricaram” e levantam sérias suspeitas de reincidência.
Outros, um pouquinho mais ousados, já adiantam que o Pacto de Estabilidade e Crescimento, para evitar situações como as que se estão a viver, deveria atender a outros indicadores além do défice orçamental e da dívida. E por ai se ficam.
Mas já são muito mais raros aqueles que insistem na persistente existência de um desiquilíbrio estrutural entre os países da eurozona e que reconhecem a impossibilidade de tal desiquilíbrio se manter por tempo indeterminado, e, consequentemente, advertem para a impossibilidade de o problema se resolver apenas através de uma política orçamental fortemente restritiva, com drásticas restrições ao endividamento e sucessivas reestruturações da dívida.
Se há países da zona euro que, desde a sua fundação, crescem regularmente, salvo em períodos de crise generalizada, têm superavits comerciais, aumento de salários reais e não registam perdas de competitividade, enquanto outros não crescem ou têm um crescimento muito baixo, sempre inferior aos encargos que vão assumindo, perdem competitividade, não registam aumento dos salários reais e se vão endividando cada vez mais, algo está errado numa união monetária que ao fim de onze anos não conseguiu eliminar ou atenuar estes desiquilíbrios, antes os agravou, como agora se está ver, analisando a situação da generalidade dos países periféricos.
Como alguns economistas, poucos, vêm insistindo, a Europa, contrariamente ao que acontece nos EUA, não conta com um mecanismo suficientemente forte para redistribuir recursos, nem com uma política fiscal e laboral comum e nem sequer conta com uma mobilidade laboral suficiente para atenuar os desiquilíbrios. Não havendo, por outro lado, qualquer possibilidade de assegurar ganhos de competitividade mediante a desvalorização da moeda, alterando a taxa de câmbio, parece evidente que somente uma política alicerçada numa efectiva solidariedade política e económica poderá garantir a moeda única.
Entre nós, ninguém do establishment sequer levanta estas questões. Para os economistas do sistema, que estão bem na vida e que nutrem pelos seus compatriotas assalariados um desprezo tipicamente colonial, o problema só se resolve ”cortando” nos salários e nas reformas (baixos e médios), despedindo funcionários públicos e colocando o trabalho na completa dependência do capital. Não será por isso de admirar que tais economistas, apoiados pelo capital financeiro, de que são fiéis serventuários, continuem a ser chamados para altos cargos nacionais e internacionais. De estranhar seria que não fossem....
Mais grave, no plano da cidadania, é a posição daqueles intelectuais que, tendo abandonado o espírito critico e soçobrado às benesses e mordomias proporcionadas pelo regime, são hoje incapazes, tanto no ensino, como no plano da intervenção cívica, de questionar algo que possa suscitar dúvidas sobre o regular funcionamento do sistema. Pelo contrário, continuam a tecer loas ao Tratado de Lisboa e a enaltecer os méritos da União Monetária dando a entender, ou dizendo-o mesmo expressamente, que aqueles que criticam abertamente os instrumentos constitutivos da União Europeia e da União Monetária não passam de um bando de esquerdistas irresponsáveis ou de nacionalistas serôdios, incapazes de acertar o passo com as luzes do progresso proporcionado pela integração economica e monetária.
Se há países da zona euro que, desde a sua fundação, crescem regularmente, salvo em períodos de crise generalizada, têm superavits comerciais, aumento de salários reais e não registam perdas de competitividade, enquanto outros não crescem ou têm um crescimento muito baixo, sempre inferior aos encargos que vão assumindo, perdem competitividade, não registam aumento dos salários reais e se vão endividando cada vez mais, algo está errado numa união monetária que ao fim de onze anos não conseguiu eliminar ou atenuar estes desiquilíbrios, antes os agravou, como agora se está ver, analisando a situação da generalidade dos países periféricos.
Como alguns economistas, poucos, vêm insistindo, a Europa, contrariamente ao que acontece nos EUA, não conta com um mecanismo suficientemente forte para redistribuir recursos, nem com uma política fiscal e laboral comum e nem sequer conta com uma mobilidade laboral suficiente para atenuar os desiquilíbrios. Não havendo, por outro lado, qualquer possibilidade de assegurar ganhos de competitividade mediante a desvalorização da moeda, alterando a taxa de câmbio, parece evidente que somente uma política alicerçada numa efectiva solidariedade política e económica poderá garantir a moeda única.
Entre nós, ninguém do establishment sequer levanta estas questões. Para os economistas do sistema, que estão bem na vida e que nutrem pelos seus compatriotas assalariados um desprezo tipicamente colonial, o problema só se resolve ”cortando” nos salários e nas reformas (baixos e médios), despedindo funcionários públicos e colocando o trabalho na completa dependência do capital. Não será por isso de admirar que tais economistas, apoiados pelo capital financeiro, de que são fiéis serventuários, continuem a ser chamados para altos cargos nacionais e internacionais. De estranhar seria que não fossem....
Mais grave, no plano da cidadania, é a posição daqueles intelectuais que, tendo abandonado o espírito critico e soçobrado às benesses e mordomias proporcionadas pelo regime, são hoje incapazes, tanto no ensino, como no plano da intervenção cívica, de questionar algo que possa suscitar dúvidas sobre o regular funcionamento do sistema. Pelo contrário, continuam a tecer loas ao Tratado de Lisboa e a enaltecer os méritos da União Monetária dando a entender, ou dizendo-o mesmo expressamente, que aqueles que criticam abertamente os instrumentos constitutivos da União Europeia e da União Monetária não passam de um bando de esquerdistas irresponsáveis ou de nacionalistas serôdios, incapazes de acertar o passo com as luzes do progresso proporcionado pela integração economica e monetária.
A Europa, a única Europa possível, é a deles...
5 comentários:
O Sr. diz:"economistas do sistema, que estão bem na vida e que nutrem pelos seus compatriotas assalariados um desprezo tipicamente colonial, o problema só se resolve ”cortando” nos salários e nas reformas (baixos e médios), despedindo funcionários públicos..." É verdade o que diz. Lembro-me das prédicas de C.Cunha, V. Contâncio etc etc a pregar a moralidade da contenção aos outros e, eles, fomos sabendo como se amanharam. Agora há outro argumento no seu "post" muito reorrente entre nós que me parece dizer que se houvesse possibilidade de mexer na tx de câmbio o problema estava resolvido! Ora isso nós provámos , e bem, nos anos oitenta. Que diferença faziam essas medidas da redução nominal dos salários? Quando começãvamos o ano a ganhar 100 e acabávamos a ganhar 70 (sim, tivemos txs desta ordem!) Haverá diferenças porque a desvalorização atingiria todos os detentores de direitos em escudos, por aqui seria menos selectiva, mas para os assalariados há em qualquer caso redução de rendimento. A desvalorização na nossa economia, em que as importações incluem a generalidade dos bens de primeira necessidade, implicou nesses tempos, sempre, imediata redução do poder de compra, por isso não tenho saudades embora compreenda que os desempregados a quem é apresentada essa solução, agora impossível, comecem a pensar que os tempos de Hernâni Lopes até nem eram maus de todo. Mas não se pode esquecer que, as desvalorizações também provocavam maciças transferências internas de riqueza.
Quando se começou a desenhar a união monetária houve quem dissesse que o país iria ter problemas. Por motivos ou com motivações diferentes:
Do PCP normalmente referiam, entre outras coisas, a impossibilidade de uma economia fraca viver com uma moeda forte, outros, os problemas das assimetrias (Ferreira do Amaral). Houve internacionalmente quem vaticinasse para o Euro uma vida efémera, poucos meses, dizia um conceituado economista americano. A maioria dos portugueses ficou inebriada com o dispor de uma moeda de primeiríssimo plano. Várias foram as consequências e bem visíveis: os portugueses passaram a frequentar os roteiros turísticos, o parque automóvel é o que é, as cidades cresceram mais em 25 anos do que em vários séculos anteriores, a rede viária, etc. etc..(o pessoal até esquece o que era isto e o que é) O problema é que alguns pressupostos importantes para o êxito da integração desapareceram, primeiro com a queda do muro e depois com a dita globalização. Mantém-se o défice comercial, logo o endividamento e o ORÇAMENTO comunitário mantém-se à volta de 1%! Assim, parece ser, como alguém dizia, impossível continuar no euro e impossível sair. A saída do euro, segundo alguns, representaria na prática a saída da UE. Será que os grandes poderes na Europa têm esta questão equacionada? Se sim, que soluções terão em mente?
lg
Sobre isto, parece-me muito oportuno o último artigo de Paul Kugman no I. SEgundo ele, comparando os doisn grandes espaços diversificados de moeda única, UE e EUA, hán uma grande diferença: a caqpacidade de intervenção central a compensar a falta de instrumentos de correcção das situaçõs pontuiais, nomeadamente a utilização da taxa de câmbio. A intervenção central é possível nos nEUA, um estado federado. E na UE, como? Não só os povos europeus sãoopostos à federação como ainda poir cima são nacional-egoistas. A sua tese, que deiz ser partilhada por muitos economistas americanos, é de que a criação do euro foi umerro ncrasso.
Isto é uma "tanga" completa. Um dia, pela manhã, os economistas lamentam o excessivo poder do euro e os danos que tal causa à força exportadora, à tarde já se queixam do deslize do euro nas cotações da manhã porque tal é devido às fragilidades das economias de vários países da moeda única agora epitetados de "pigs".Quem entende estes sábios?
Srs onde estão os políticos incompetentes que provocaram esta crise ? Aposto que estão montados em cima de milhões de euros nas suas grandes casas e carros, e o povo a pagar.Nuno Santos
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