sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

QUAL É A PRESSA?


 

SUBSTITUIR-TE, PÁ!

António José Seguro foi ontem surpreendido com um pedido de convocação de um congresso antes das autárquicas, feito por Silva Pereira em nome da oposição interna do PS. É claro que Silva Pereira apresentou a questão de outra maneira como não poderia deixar de ser. Disse que tendo o Secretário Geral reconhecido a grande probabilidade de emergência de uma crise política e simultaneamente assegurado estar o PS à altura de assumir as suas responsabilidades (e até pediu uma maioria absoluta na “coligação” que pretende fazer com os portugueses) seria de todo o interesse que o PS se preparasse com tempo, convocando um congresso antes das autárquicas para pôr à discussão dos militantes as grandes linhas da sua futura governação.

Silva Pereira deixaria a “cauda de fora” qualquer que fosse o seu pedido, mas aquela de ter frisado com tanta insistência o “antes das autárquicas” deixou-a, por assim dizer, à vista de toda a gente.

A probabilidade de o PS ganhar as autárquicas quem quer que seja o seu Secretário Geral é muito alta. E se o Secretário Geral à época ainda for Seguro, é também óbvio para toda a gente que já ninguém mais tem legitimidade para o tirar de lá até às legislativas, ocorram elas no fim da legislatura ou antes. Portanto, como o que Silva Pereira e os seus amigos querem é substituir Seguro, impõe-se que o façam o mais rapidamente possível.

E toda a gente igualmente percebeu que o candidato de Silva Pereira é António Costa o qual, como também é óbvio, deixou a marcação da data do congresso à consideração do Secretário Geral.

Dito isto, impõe-se em primeiro lugar analisar a probabilidade de vitória desta “manobra” e em segundo lugar tentar perceber por que razão o PS quer substituir Seguro.

A probabilidade de vitória da proposta de Silva Pereira é muito escassa mesmo que Seguro aceitasse realizar o Congresso antes das autárquicas (e muito provavelmente não aceitará). Primeiro, porque Seguro tem o aparelho consigo. Aquele aparelho hoje constituído por pessoas que fora do PS ninguém conhece, mas que partidariamente têm muito poder. E em segundo lugar, porque, como se tem visto, tem havido uma renovação acentuada dos dirigentes do PS. As pessoas que hoje aparecem a falar institucionalmente em nome do partido pertencem a uma nova geração que anda entre os 35 e os 45 anos e que, salvo raras excepções, ainda não tinha tido até agora oportunidade de ocupar lugares de relevo. Toda essa gente preferirá ficar com Seguro do que alinhar com um membro de uma geração mais velha (António Costa) onde tudo para eles será mais incerto por a concorrência ser muitíssimo maior.

Apesar de com esta resposta ficar eliminada a necessidade de responder à segunda questão, sempre se dirá a razão fundamental por que existe agora toda esta movimentação no PS para substituir Seguro. Muito simplesmente por não o considerarem suficientemente credível perante o eleitorado. De facto, eles vêem aquilo que toda a gente vê: Seguro esforça-se muito, ultimamente até parece que ameaça…mas não convence. E não convencendo não só corre o risco de perder, como, pior ainda, não concorre para a eclosão de uma crise política que a simples existência de um líder forte à frente do PS poderia potenciar e acelerar.

E não concorrendo para este efeito também não dá à oposição interna do PSD, constituída por notáveis muito influentes junto da opinião pública, a segurança suficiente para, pelo seu lado, acelerar a crise.

Sim, porque ninguém tenha ilusões. Esta manobra que certos sectores do PS estão levando a cabo não tem em vista fazer chegar o Partido Socialista ao governo para governar sozinho nem tão pouco cortar radicalmente com as políticas de ajustamento impostas pela troika. Tem em vista uma coligação com os sectores oposicionistas do PSD e eventualmente com o CDS ou com gente da área do CDS, consoante essa coligação ocorra antes ou depois de eleições. É isto o que se depreende das teorizações dos principais opositores a Seguro - António Costa, Francisco Assis, Silva Pereira, Vieira da Silva, entre outros.

E já agora que dizer disto, desta tentativa? Embora à esquerda toda a gente reconheça sem dificuldade que era preciso muito mais do que isto – era necessário uma mudança radical de política, também todos nós sabemos que isto está tão mau, tão mau e a continuação no poder deste bando de fundamentalistas é capaz de causar tanto sofrimento a tanta gente, de destruir tantas vidas, de afundar o país por muitos e muitos anos que qualquer coisa que venha em sua substituição será sempre melhor do que aquilo que agora existe. Estamos a pensar nas dezenas e dezenas de milhares de funcionários públicos e de trabalhadores das empresas públicas que vão ser mandados para o desemprego; estamos a pensar nas centenas de milhares de reformados que vão passar o resto da vida que lhes resta na angústia de perderem a reforma ou de a verem drasticamente diminuída; estamos a pensar nos milhares de empresas que vão continuar a falir e do cortejo de desempregados que isso acarreta; estamos a pensar nos milhares de jovens preparados que vão deixar o seu país em busca de trabalho no estrangeiro ou que por cá vão ficar na expectativa de arranjar um emprego que os fará mergulhar para sempre na espiral da precariedade, da insegurança e da exploração. Estamos a pensar no sofrimento de milhões de pessoas.

E será que tudo isto vai ser resolvido? E será que esse sofrimento vai desaparecer completamente?Claro que não. Mas se houver uma mudança será impossível continuar tudo na mesma. Alguma coisa necessariamente mudará.

Não se trata de apoiar, nem nada que se assemelhe, esta hipotética coligação. Trata-se apenas e só de ver as diferenças…

2 comentários:

Rogério G.V. Pereira disse...

"Alguma coisa necessariamente mudará."
Certamente, é preciso que alguma coisa mude para que tudo não fique diferente...

Anónimo disse...

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