quarta-feira, 29 de maio de 2013

O ACORDO ORTOGRÁFICO



A DIVISÃO DAS ÁGUAS

Fui contra o acordo ortográfico desde o princípio. Mas só a partir do momento em que se tornou praticamente inevitável a sua entrada em vigor, ou seja, depois da publicação do Segundo Protocolo Modificativo é que “fui à luta” no Politeia, há cerca de quatro anos, publicando sobre o assunto três ou quatro textos.

Analisei a questão no plano político, jurídico e da língua, apesar de este último ser aquele em que naturalmente me sentia menos à vontade. Tinha, porém, a meu favor o facto de conhecer razoavelmente o Brasil, a sociedade brasileira, alguma coisa da sua literatura, do seu movimento editorial e acima de tudo o português que lá quotidianamente se fala na rua, na televisão e na rádio, bem como o que diariamente se escreve nos jornais. E por isso me aventurei a falar de um domínio que não era o meu.

Simultaneamente, na direita intelectual mais reaccionária, como é o caso de Graça Moura, ia-se travando uma intensa batalha contra o Acordo Ortográfico, cujo ponto alto me parece ser o livro do autor acima citado – Acordo Ortográfico, A Perspectiva do Desastre. Entretanto, a reacção contra o Acordo foi-se estendendo a outros sectores da sociedade portuguesa, não conotados com a direita, embora à medida que o protesto engrossava fossem escasseando os argumentos que verdadeiramente o justificava, pontificando muito claramente a partir de determinada altura uma perspectiva puramente conservadora que em si não serve para justificar absolutamente nada.

O próprio Graça Moura, que no princípio tanto se esmerou na busca de argumentos para a rejeição do Acordo, inclusive de natureza jurídica, chegou mais tarde a dizer num artigo no DN – creio que já este ano ou no fim do ano passado – que o Acordo era uma traição aos nossos clássicos!

Enfim, como Graça Moura quando fala politicamente frequentemente raia o absurdo, tal o fundamentalismo dos seus argumentos, nem sequer vale a pena responder a esta “brilhante” objecção.

Também me não seduziu o recente texto de outro brilhante intelectual da direita – Pedro Mexia, politicamente muito mais ágil que Graça Moura – e que tão badalado tem sido nas redes sociais e até replicado por muita gente de esquerda. Claro que o texto – O Aleijão - está bem escrito, como todos os textos de Mexia, é aparentemente sedutor, relativamente irónico, mas a mensagem fundamental que dele se extrai é uma mensagem claramente conservadora, embora disfarçada pela tal agilidade política do autor que tem a manifesta preocupação de deixar claro que uma língua muda “espontânea, inevitável e constantemente”, tentando por esta via atenuar o conservadorismo da mensagem, apesar de ele saber muito bem quão difíceis e lentas são essas mudanças nos tempos em que vigora a norma ortográfica. Por outro lado, no texto de Mexia perpassa difusamente um certo sentimento de suserania perdida, apenas denunciado pelas escassas palavras que acabam o por o trair: “E agora ainda passámos pela humilhação de ter o oficioso “Jornal de Angola”a lembrar-nos que o “étimo latino” ajuda a compreender o percurso de uma palavra”.

É um pouco por estas razões, e também pelo facto de em política a direita nunca ser uma boa companhia que sistematicamente me tenho recusado a “juntar a minha voz” à voz dos intelectuais da direita, numa causa dita transversal.

De facto, o Acordo Ortográfico é politicamente uma imbecilidade (as razões aduzidas neste domínio para o justificar são confrangedoramente medíocres), é juridicamente uma aberração (na medida em que viola o princípio segundo o qual os acordos multilaterais restritos só entram em vigor depois de ratificados por todos os que o assinaram) e constitui no plano puramente linguístico um acto inútil, arbitrário e desigual. Realmente, como muito bem sabe quem conhece com alguma profundidade o português do Brasil, se algum ponto de contacto ele tem com o português de Portugal esse ponto é a grafia e depois a fonética. Em tudo o mais diferem radicalmente. Por isso, terá tanto ou tão pouco sentido negociar um acordo para uniformizar a grafia como teria a negociação de um acordo para uniformizar a fonética!

Por último, nesta luta contra o Acordo Ortográfico seria injusto não recordar o primeiro que em Portugal denunciou as suas arbitrariedades e, simbolicamente, o rasgou no Parlamento da primeira vez que o texto lá foi para aprovação – Jorge Lemos, ex-deputado do PCP.

 

 

quarta-feira, 22 de maio de 2013

PORTUGAL É UMA HISTÓRIA DE SUCESSO



OU A HISTÓRIA DE UMA TRAIÇÃO
 

 

Estas palavras foram proferidas esta manhã em Berlim pelo Ministro Alemão da Economia, Wolfgang Schäuble, numa conferência conjunta com Vítor Gaspar, depois de uma reunião a dois na capital alemã.

Deixando, por agora de lado, a vergonha que é a generalidade do jornalismo português, mais uma vez demonstrada numa conferência de imprensa onde não houve um único jornalista que na presença do “patrão” de Gaspar tivesse a coragem de o confrontar com a situação político-económica portuguesa e com as responsabilidades que pessoalmente lhe são assacadas, inclusive em meios próximos do Governo, pela calamitosa situação de Portugal, o que interessa agora sublinhar é que a suspeita muito generalizada entre nós de que Gaspar é o principal defensor da política económica do Governo junto dos credores estrangeiros, na qual só vê virtudes e êxitos, recusando-se a apresentar a real situação do país para poder renegociar objectivos e metas impossíveis de cumprir sem a destruição do que resta da economia nacional e sem a marginalização de mais umas centenas de milhares de portugueses, está agora plenamente confirmada pela declarações de Schäuble.

De facto, seria impensável, salvo num cenário de extrema provocação, que o primeiro responsável pela política económica europeia, tivesse a coragem de declarar na presença do Ministro das Finanças português que o “ajustamento em Portugal é uma história de sucesso” se esse mesmo ministro lhe tivesse traçado um quadro minimamente objectivo da situação económica portuguesa.

Esta conferência de imprensa demonstra mais uma vez que Gaspar não desempenha funções no Governo ao serviço do seu país, nem tão pouco está interessado na defesa dos interesses portugueses.

A posição de Gaspar não é apenas a consequência das suas opções ideológicas fundamentalistas nem do desprezo a que vota os seus concidadãos, nem mesmo da completa ausência de elementares valores humanistas, jamais contemplados na sua folha de Excel, ela é também a expressão de uma traição ao povo português que não pode ficar impune hoje, como nunca ficou outrora na longa e velha história deste país.

terça-feira, 21 de maio de 2013

ESTES TIPOS TÊM DE SER JULGADOS


 
A IMPUNIDADE A TODOS PREJUDICA

Pelas vozes mais insuspeitas surge a confirmação de que os partidos que compõem este Governo provocaram a intervenção da Troika em Portugal como meio adequado para pôr em prática um programa de Governo que noutro contexto não teria qualquer possibilidade de execução.

Depois de negociado o Memorando, que confirma e a estabelece as bases de intervenção da Troika, sabe-se igualmente, sem margem para dúvidas, que o Governo, com o pleno assentimento dos partidos que o compõem, por várias vezes declarou que era preciso ir além da Troika. E assim o fez impondo medidas que não constavam do Memorando e que tiveram um efeito devastador sobre o emprego, as empresas, a economia no seu todo e sobre a vida das pessoas em geral.

Há ainda sérias suspeitas de que algumas das medidas mais gravosas decorrentes da última avaliação foram sugeridas pelo Governo e não impostas pela Troika, apesar da brutalidade dos efeitos que tais medidas necessariamente provocam.

Finalmente, há uma coincidência objectiva entre os interesses dos credores e dos principais mandantes da Troika e o comportamento do Governo português que na sua actuação, em dois anos de governação, jamais demonstrou, antes pelo contrário, a menor preocupação pela defesa dos interesses dos portugueses duramente atingidos pela crise, sistematicamente violentados por medidas cada vez mais gravosas numa espiral agressiva que parece não ter fim. Não interessa para este efeito averiguar se os principais responsáveis do Governo actuam deste modo por convicção ideológica ou até por pura perversidade, o que importa é concluir que aquela coincidência objectiva entre os interesses de terceiros e a actuação do Governo é passível de juízo de censura susceptível de tornar essa actuação subjectivamente culposa.

Desta actuação do Governo resultou um gravíssimo dano para a economia portuguesa no seu conjunto, que vai precisar de muitos anos para se recuperar da devastação de que foi alvo, dano esse traduzido em quebras brutais da produção nacional e na consequente falência e destruição milhares de empresas, no desemprego de quase um milhão de pessoas e na miséria de uma parte já muito apreciável da população residente em Portugal.

Por outro lado, este Governo praticou vários actos contra o Estado de Direito cujos princípios dolosamente viola com frequência e tem também, juntamente com alguns dos seus mais conhecidos apoiantes, levado a cabo uma campanha sistemática destinada à abolição desses mesmos princípios, tentando inclusive pela chantagem e pela pressão ilícita impedir os tribunais de os aplicar regularmente.

O Governo pôs também em prática uma política de destruição sistemática dos direitos laborais para que os trabalhadores participem na relação de trabalho despidos dos mais elementares direitos individuais e colectivos de modo a torná-los presa fácil do arbítrio e da exploração desenfreada.

Finalmente, o Governo e os seus principais apoiantes têm levado a cabo uma acção conjugada, apoiada em manipuladoras campanhas de opinião pública, de destruição do Estado e da administração pública em todos os domínios. Esta acção, traduzida num violento ataque contra os funcionários públicos e os reformados da função pública, vítimas de um tratamento arbitrário consubstanciado numa escalada sem fim de espoliação de direitos e de expropriação de salários e de reformas, embora aponte para os funcionários públicos como alvos prioritários, o que verdadeiramente visa é a destruição do Estado, com particular evidência nos sectores de maior incidência social.

Esta devastadora acção governativa, sadicamente executada nestes últimos dois anos, tem autores morais, executantes materiais, cúmplices, “receptadores” e encobridores. Todos sem excepção têm de ser responsabilizados e julgados pelos actos que praticaram.

As manobras de diversão, tipicamente vigaristas, que alguns responsáveis políticos têm tentado pôr em prática exactamente nos momentos em que há um recrudescimento dos ataques e se prepara uma nova e devastadora acção contra a economia nacional, atingindo qualitativamente níveis ainda há bem pouco tempo impensáveis, não podem nem devem confundir-nos, sendo antes elas próprias um elemento importante da acção dolosa do Governo que procura, pela sua exibição pública, desviar as atenções do essencial e refrear a rejeição popular das medidas que se prepara para adoptar.

Também não ajuda à compreensão do que se está a passar continuar a insistir na viabilidade de uma solução europeia diferente daquela que realmente existe e que todos os dias é politicamente confirmadapelos "patrões" da União Europeia.  Dizer que a política de austeridade já não tem alunos nem professores é uma mistificação que a realidade quotidinamente desmente. O que há na Europa, como ainda ontem se viu, pelas declarações do Governador do Bundesbank, é uma reafirmação dos méritos da política de austeridade em toda a linha, sendo inclusive de esperar que a actual política do BCE, de relativo abaixamento da taxa de juro dos países intervencionados, de facto ou de direito, bem como dos que se debatem com “défices excessivos”, venha a ser alterada por uma política que deixe as taxas de juro flutuar de acordo com a capacidade creditícia de cada país, exactamente para evitar que se crie a falsa ilusão de que há dinheiro barato para quem já está exageradamente endividado! E é muito mais provável que isto aconteça do que o contrário. O contrário só poderia suceder no quadro de uma profunda ruptura europeia que, de acordo com os dados que se conhecem, está muito longe de poder acontecer. Ou dito ainda de outro modo: “por cima” nada de diferente acontecerá nesta Europa neoliberal e hayekiana. Se alguma coisa de novo acontecer, isso virá necessariamente “de baixo”. E nesse caso estarão os que confiam na Europa dispostos a integrar essas consequências no seu futuro programa de governo?

quinta-feira, 16 de maio de 2013

CAVACO E THOMAZ


 

SE CAVACO APENAS ESTIVESSE PASSADO…
 

Depois das invocações da Senhora de Fátima, de “como a minha mulher me chama”, de S. Jorge e dos “cidadões” é normal que nas redes sociais ou, comentadores mais arrojados, nos media institucionais se questione a saúde mental de Cavaco e as consequências que daí poderiam constitucionalmente retirar-se.

Todavia, com o Tribunal Constitucional debaixo de fogo e com uma Procuradora Geral da República escolhida pela Ministra da Justiça pelo “seu amor” ao Ministério Público, não é de que por esse lado se chegue a algum resultado, tanto mais que aquela que pela sua proximidade poderia prestar o testemunho mais convincente é, tanto quanto se sabe, a inspiradora dos últimos grandes pensamentos do Presidente, como ele orgulhosamente tem referido.

 E não adviria grande mal ao mundo se Cavaco apenas estivesse “um pouco passado”. O pior é que ele faz parte daquele grupo de pessoas, e tem nele um papel cada vez mais activo, decididamente empenhado na destruição da economia e da democracia.

E é por isso que a comparação com Thomaz se torna inevitável, mesmo para aqueles que o julgavam inimitável.

De facto, apesar das diferenças – Thomaz não dava calinadas no português típicas de uma quarta classe mal feita, as suas eram quase sempre ligadas ao realce de uma efeméride ou de uma coincidência: “É a primeira vez que cá estou desde a última vez que cá estive”; “O Chefe de Estado pela primeira vez vem pela segunda vez à feira de Santarém”; “Hoje visitei todos os pavilhões, se não contar com os que não visitei”; “Manteigas é uma terra bem interessante, porque estando numa cova, está a mais de 700 metros de altitude”; “Comemora-se em todo o país a promulgação do despacho número Cem, um texto de grande importância para a Marinha Mercante de Portugal, e a que foi dado esse número não por acaso mas porque ele vem na sequência de outros noventa e nove anteriormente promulgados”- há muitas semelhanças.

Para usar uma terminologia do Governo, Cavaco está cada vez mais em linha com Américo Thomaz. A malta mais nova não conviveu com Thomaz, mas a mais velha sabe perfeitamente que quanto mais os portugueses se riam dele e das suas imbecilidades, mais decisiva era a sua influência na condução política do país.

Por isso, o importante é evitar que a História, sempre que tem condições para se repetir, não seja necessariamente uma farsa…

quarta-feira, 15 de maio de 2013

A FINAL DE AMANHÃ


 

ENTRE O BENFICA E O CHELSEA

Por muito que os jornais e as televisões nos tentem convencer que a final de amanhã entre o Benfica e o Chelsea é um jogo muitíssimo importante para qualquer das duas equipas, todos sabemos que a grande final do futebol europeu só terá lugar de amanhã a oito dias.

A final da Liga Europa é muitíssimo importante para equipas sem aspirações na Liga dos Campeões, mas para as equipas grandes, com história naquela grande competição, a vitória na Liga Europa não passa de um prémio de consolação.

E é o que se vai passar amanhã entre as equipas que em Amesterdão se vão defrontar. Consolação para o Chelsea que não vai vencer o campeonato, que foi eliminado da Liga dos Campeões e que não tem ainda garantido o acesso directo à grande prova europeia. Consolação também para o Benfica que foi eliminado da Champions na fase de grupos, apesar de estar integrado num grupo acessível, e consolação ainda por ter praticamente perdido o campeonato.

Portanto, a final de este ano, para além daquilo que ela sempre representa, é também a final dos desiludidos. Evidentemente, nenhum dos dois contendores a quererá perder, mas engana-se quem supuser que a vitória terá o condão de apagar as desilusões da época. Não tem.

 

 

CAVACO IGUAL A SI PRÓPRIO OU EM DECADÊNCIA?



AS PREOCUPAÇÕES DE CAVACO

Muitas pessoas se interrogam sobre se Cavaco estará na plena posse de todas as faculdades. Provavelmente não, mas há outros factores a ter em conta.

Quando reina a maior confusão, seja ela encenada ou verdadeira, sobre aquilo a que o Governo se comprometeu perante a Troika e promete pôr em prática, Cavaco convoca um Conselho de Estado para tratar da situação do país “no pós Troika”. Independentemente do que possam dizer alguns elementos da matilha que logo apareceram a enaltecer a clarividência do Presidente e de a agenda do Conselho de Estado divulgada por Cavaco não corresponder à anunciada pelo porta-voz oficioso do Governo/PR, não deixa de ser inacreditável que, no preciso momento em que a maioria esmagadora dos portugueses está sob fogo cerrado da Troika, das suas organizações de combate ideológico, como a OCDE, e dos que internamente representam os interesses dos credores (Governo, Bancos, EDP, Galp, rendeiros usurários das PPP, comentadores a soldo, etc.) e simultaneamente se aproveitam para potenciarem e maximizarem a exploração e os lucros, o Presidente da República represente aos portugueses como suas preocupações essenciais a "situação pós Troika" e a publicidade sobre as alegadas divergências entre os parceiros da coligação.

Cavaco não está minimamente preocupado com a situação dos portugueses, nem tão pouco sobre o que as alegadas divergências poderiam representar politicamente, mas tão-somente com o facto de elas serem do conhecimento público! É esta atitude ultra reaccionária, anti-moderna, de quem entende a política como algo que deve ser tratado nas costas e no silêncio daqueles a quem ela se dirige que faz de Cavaco o maior problema político dos portugueses no tempo que passa.

Urge por isso aproveitar todas as ocasiões, como as que na próxima semana certamente ocorrerão, para pedir a renúncia de Cavaco. Cavaco é hoje o grande problema político dos portugueses. Sem Cavaco estariam criadas as condições para que as coisas passassem a ter um começo de solução.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

É URGENTE FAZER QUALQUER COISA



QUALQUER COISA MUITO IMPORTANTE
 

Quando tudo já é tão grave tende a perder-se a noção das proporções e o próprio espírito crítico fica inundado por uma avalanche de acontecimentos sem saber bem em quais se fixar.

Ainda Portas não tinha acabado a sua trampolinice e já um tal Hélder Rosalino, interpretando e concretizando as palavras de Passos Coelho, estava a comunicar aos portugueses um corte de dez por cento nos pensionistas da Caixa Geral de Aposentações com efeitos retroactivos. Ainda o Álvaro não tinha deitado para o caixote do lixo o Memorando sobre o Crescimento e o Emprego e já o mesmo Rosalino anunciava o despedimento de mais de trinta mil funcionários públicos.

No meio de tudo isto, Gaspar, em Bruxelas, dizia textualmente: “É muito mais bonito quando se olha para o ajustamento de Portugal” e dias depois concluía que o “regresso aos mercados foi um enorme sucesso”.

Críticas? Para quê? Temos necessariamente que dar um passo em frente e encarar outras formas de actuação. É que não se dá apenas o caso de Portugal estar a ser destruído e as pessoas estarem a ser lançadas na miséria. É mais do que isso o que se passa. Portugal está a ser governado por psicopatas perigosos que não têm qualquer problema em praticar friamente crimes da maior gravidade, deleitando-se com o resultado dos próprios actos que praticam.

É preciso retirar esta gente de cena. De qualquer modo. Para bem de todos.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

8 DE MAIO DE 1945


 

RENDIÇÃO DA ALEMANHA

Não interessa agora evocar a efeméride para sobre ela tecer considerações. Já tudo terá sido dito, quer sobre o 8 de Maio, quer sobre o 7, quer mesmo sobre as bolsas de resistência que se mantiveram aqui e ali por mais algum tempo.

O que interessa mesmo é o “fait divers”. Esse é que ainda hoje pode ser interessante. Vamos então a duas notinhas muito simples.

Já depois de Hitler se ter suicidado e de a guerra estar irremediavelmente perdida, Himmler ainda acreditava que Eisenhower não poderia passar sem ele. A conversa que manteve com Speer quando este vinha da sua última visita ao “bunker” é surreal. Cada um procurava enganar o outro sobre o futuro governo da Alemanha ambos convencidos de que seria um deles a chefiá-lo.

Só mesmo quando foi preso, depois de várias tentativas para chegar à fala com Eisenhower, é que Himmler percebeu que o seu fim tinha chegado e suicidou-se.

Já Speer manteve essa ilusão por muito mais tempo, praticamente até ir para a prisão de Nuremberga. Também ele acreditava que a reconstrução da Alemanha não se faria sem ele. É certo que os ingleses tiveram nisto alguma culpa, mas Speer já acalentava essa esperança muito antes de contactar os ingleses.

E ambos eram muito inteligentes. Speer era mesmo considerado um génio e todavia…

A que propósito vem isto? Numa altura em que por toda a Europa se agravam as medidas de austeridade e em que aos países do sul todos os dias são exigidos mais sacrifícios e mais cortes com tudo o que isso implica há por aí uns pândegos a dizer que a austeridade tem os dias contados e que o bom senso vai acabar por prevalecer em toda a Europa.

Mas se a Alemanha, mesmo derrotada, tem dificuldade em aceitar a realidade como se pode esperar que vitoriosa mude de rumo?

terça-feira, 7 de maio de 2013

A GRANDE MISTIFICAÇÃO


 

A VELHA TÁCTICA

 

Quanto mais brutal é a ofensiva mais necessidade há de a disfarçar através de manobras de diversão variadas, todas elas engendradas com o objectivo claro de distrair as atenções do essencial de modo a evitar uma rejeição espontânea e unânime como a que ocorreu em 15 de Setembro do ano passado com a TSU.

Na passada sexta-feira Passos Coelho anunciou as linhas programáticas, mais ou menos concretizadas, da incidência do brutal corte de despesa pública que o Governo se prepara para pôr em prática, indo mais uma vez muito além do muitíssimo que já era exigido pela Troika.

Para atenuar o efeito psicológico desta verdadeira declaração de guerra aos portugueses, feita em nome e na defesa dos interesses dos credores estrangeiros e daqueles que cá dentro mais têm beneficiado da austeridade – Bancos, EDP, Galp, usurários das PPP, etc. –, o Governo, seguramente assessorado pelos profissionais das agências de manipulação, pôs em prática, antes, simultaneamente e logo a seguir ao anúncio daquelas medidas, três tipos de acções todas elas destinadas ao mesmo objectivo: desviar as atenções do essencial e fazer crer às pessoas que está a chegar um tempo novo, diferente do que elas infelizmente conhecem.

Primeiro, foi o programa de crescimento do Álvaro, encenado com tanto cinismo que até o próprio Álvaro parecia convencido da sua veracidade e viabilidade.

Depois, foram os comentários dos ex-presidentes do PSD, logo seguidos por uma matilha que obedientemente lhes fareja o rasto, tentando fazer crer que a influência maléfica de Gaspar sobre a economia tinha os dias contados. É preciso de facto uma grande "lata" para no preciso momento em que Passos e Gaspar voltam a anunciar mais um brutal ataque contra os portugueses e a economia nacional haver quem diga que a política vai mudar. E o descaramento destes comentadores é tanto mais revoltante quanto é certo eles saberem que não se trata de um ataque pontual, destinado a vigorar este ano ou no ano que vem, mas de um ataque estrutural, para ficar.

Finalmente, a rábula de Portas objectivamente ao serviço da mesma encenação. Não se vai ao ponto de afirmar, como alguns fazem, que se trata de uma manobra combinada com o parceiro de coligação, porque isso significaria dar trunfos a um concorrente eleitoral, posto que situado na mesma área. Mas trata-se indiscutivelmente de uma manobra eleitoralista, cujos efeitos na consistência da coligação e na sua política estão milimetricamente calculados. De facto, Portas concorda com o essencial, em cuja definição política aliás colaborou intensamente, estando apenas disposto, pelas razões indicadas, a limitar alguns dos exageros mais gritantes das propostas da dupla Passos/Gaspar. E mesmo assim vamos ter que esperar para ver até onde vai essa “fronteira” de que ele falou. Uma coisa, porém, é certa, a intervenção de Portas serve, tal como os comentários de Marcelo/Marques Mendes, os objectivos essenciais da política de austeridade e visa, tal como aqueles comentários, diminuir a resistência popular às medidas anunciadas com cuja concretização concorda em mais de 85%! Portas quer tanto ou mais que o PSD que a coligação se mantenha e tudo o que até agora tem feito, sob a capa da pseudo divergência, visa aquele objectivo que ele logra alcançar de uma forma, digamos, mais inteligente.

Perante isto, o PS bem pode continuar a “bater” nas divergências entre o PSD e o CDS e na falta de consenso entre os parceiros de coligação. Eles podem bem com isso, apesar de alguns danos colaterais que este “jogo” lhes causa. Mas que importância tem os danos colaterais face àqueles que de outro modo atingiriam, com as consequências que se conhecem, o próprio Governo na sua essência?

Compreende-se que o PS faça a sua luta na periferia do essencial, já que a sua margem de manobra é muito escassa: por um lado, defende uma política que não depende de si, mas de terceiros, e, por outro, aceitou aprovar um tratado que coloca em pé de igualdade com as ideologias proibidas – fascismo, racismo, etc., - o neokeynesianismo na condução das políticas económicas públicas! É muito…

sábado, 4 de maio de 2013

VAMOS LUTAR PELA RENÚNCIA DE CAVACO



A BEM DE PORTUGAL E DOS PORTUGUESES

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Cavaco é hoje o grande problema com que os portugueses se defrontam. Sem Cavaco não haveria Passos nem Gaspar, o Governo já teria sido demitido e ter-se-ia certamente encetado um esforço sério para inverter o caminho de ruina e de descalabro que tem vindo a caracterizar a vida político-económica portuguesa desde há cerca de dois anos. Contrariamente ao que parece suceder com o país político, partidos de esquerda e PS, que tendem a ver em Cavaco um simples comparsa dos que estão no poder ou, no caso do PS, o grande responsável pelo derrube do último governo socialista, o povo anónimo que se manifesta nas ruas, nas antenas abertas e nas redes sociais tem uma ideia muito mais precisa da responsabilidade de Cavaco na crise portuguesa e do obstáculo que ele representa para a sua superação.
Cavaco Silva é o primeiro Presidente da República eleito por sufrágio universal que tem contra si a esmagadora maioria dos portugueses, além de nunca ter reunido a sua simpatia, mesmo durante o primeiro mandato. Os portugueses não confiam em Cavaco nem acreditam que ele esteja à altura das exigências da função. Os portugueses compreenderam que Cavaco é parcial e que sob a falsa capa de político apolítico coloca permanentemente os interesses partidário-pessoais acima dos interesses nacionais, como aliás sempre fez durante os mandatos em que exerceu as funções de Primeiro Ministro.
Com um passado político de escasso apego aos valores democráticos, Cavaco é também o primeiro Presidente da República saído do 25 de Abril que não pode, como cidadão, exibir no seu curriculum um único gesto ou atitude que o tivesse demarcado da ditadura, facto tanto mais notado quanto é certo ter vivido numa época em que essa era a norma da geração estudantil a que pertenceu.
Essa difícil convivência com os valores genuinamente democráticos teve mais tarde plena confirmação quando, surpreendentemente, desempenhou durante dez anos o cargo de Primeiro Ministro, em cujas funções pautou politicamente a sua conduta por um propositado afastamento dos princípios que regem a vida política em democracia. Cavaco desprezava o Parlamento, de cuja maioria se serviu como simples caixa de ressonância do governo, fazendo-a aprovar acriticamente as medidas que por imposição constitucional não poderiam deixar de ai ser aprovadas, assim como desprezava as oposições e os seus deputados tanto em ostensivas manifestações de ausência como em arrogantes e prepotentes demonstrações de poder sempre que, também por impositivo constitucional, se não podia furtar à presença no Parlamento.
Esta recusa de diálogo com os seus opositores políticos e de indisfarçável desprezo pela função parlamentar são a marca de uma atitude, herdada do salazarismo, que pretende fazer passar a ideia junto do povo apolítico ou insuficientemente politizado de que o verdadeiro chefe tem coisas mais importantes a fazer do que gastar inutilmente o seu tempo a discutir com os deputados da oposição.
Autocrata por convicção, mesquinho por formação e vingativo por temperamento, Cavaco era, a todas as luzes, dos políticos portugueses aquele que menos condições políticas e emocionais reunia para o desempenho do cargo de Presidente da República. 
E se logo no primeiro mandato Cavaco deu provas seguras dessa incapacidade de suportar a crítica e a divergência, absolutamente normais na vida política, transformando pequenos e insignificante episódios em verdadeiros casus belli, foi no segundo mandato, primeiro perante a fragilidade do Governo em funções e depois na convivência com um governo do seu partido, que Cavaco teve e tem tido a oportunidade de se exibir tal qual é.
Depois da triste figura que fez nas comemorações oficiais do 25 de Abril, colando-se aberta e declaradamente a um governo que não dá tréguas na sua obstinada caminhada para a destruição do país, ao serviço e em obediência a interesses estrangeiros, Cavaco prepara-se para aceitar, sem críticas ou com críticas de circunstância de circunstância, mas sempre falsas e despidas de consequências, o demolidor ataque que o Governo hoje à noite anunciou contra Portugal e os portugueses.
Na ausência de entidades que institucionalmente os defendam do descalabro e da ruina e de instituições capazes de assegurar a dignidade nacional, os portugueses, no estado de calamidade pública em que se encontra o país, têm o direito de exigir alterações radicais na superestrutura política com vista à viabilização das políticas que necessariamente se impõem.
Como Cavaco não está à altura das exigências do país, os portugueses devem exigir a sua renúncia com o mesmo empenho e determinação com que exigem a demissão do Governo.
A renúncia do Presidente da República e a demissão do Governo são exigências impostas pela sobrevivência de Portugal como país ao serviço dos portugueses!