O QUE PRETENDE SOARES
A direita pela voz dos seu principais comentadores
“independentes”, dos sectores mais reaccionários do CDS e dos militantes do PSD
próximos do Governo não se tem poupado a esforços para atacar Mário Soares pelo
seu papel na realização da conferência “Libertar Portugal da Austeridade” e de
elogiar Seguro pelas distâncias que soube manter relativamente a um evento de
duvidosa credibilidade.
Soares é atacado por ter tentado e de algum modo conseguido
reunir a Esquerda (PS, PCP, BE, centrais sindicais e personalidades
independentes) contra a política de austeridade, mas é acima de tudo atacado
por ter defendido a tese de que o Governo em funções, suportado por uma
maioria parlamentar regularmente eleita, não é legítimo, devendo, por isso, ser
derrubado, sem simultaneamente deixar de responsabilizar o Presidente da
República por tudo o que possa acontecer por omissão de exercício dos poderes
constitucionais que lhe permitem, por uma dupla via, pôr termo a este Governo.
Seguro, pelo contrário, é muito elogiado por não ter estado
presente, bem como os dois outros membros da Troika do PS, por ter sabido
desgraduar a representação do partido, fazendo-o representar por uma personalidade
política pouco conhecida do grande público a quem terá incumbido de proferir um
discurso baço e descomprometido.
Soares é um político muitíssimo experimentado a quem a idade,
em princípio vulnerável aos afectos, e a saúde, debilitante da vontade, não retiraram um pingo de frieza
na acção política, actuando hoje como sempre actuou nos “anos dourados” da
sua intervenção partidária. Soares percebeu, para lá de todas as críticas que possa
fazer a Cavaco, que o grande “responsável” pela manutenção em funções do Governo
de Passos Coelho…é o Partido Socialista.
Se o Partido Socialista se não afirmar como uma verdadeira
alternativa ao Governo em funções, se não apresentar uma proposta credível aos
olhos dos portugueses, se pelas ideias que vai expondo não gerar no seio da sociedade
portuguesa a convicção de que algo substancialmente diferente se vai passar a
seguir, o PS não será agora nem mais tarde um partido em que os portugueses
confiem para suceder ao PSD/CDS. E Soares sabe que numa situação destas dificilmente
se poderá esperar que um Presidente da República como Cavaco, timorato no exercício das funções e muito ligado à direita, demita o Governo se não tiver a certeza de o resultado das eleições lhe trazer uma situação
significativamente diferente da que agora existe.
Ora, parece ser isto o que Mário Soares pensa do seu partido
e da sua liderança, paternal e simpaticamente, qualificada de frouxa e
hesitante. E por também não acreditar que, sem pontes à esquerda, o PS esteja
em condições de liderar uma verdadeira rejeição da austeridade, propõe-se ele
próprio fazer aquilo que antecipadamente sabe não poder ser feito pela direcção
do seu partido.
Mas Soares sabe mais. Sabe que o namoro que a Troika do PS –
Seguro, Assis e Costa - tem feito à direita, nomeadamente ao CDS, seria, em
tempo de crise, fatal para o futuro do partido se se viesse a concretizar.
Para evitar semelhante desfecho, Soares sob a capa de falsos
elogios tem tentado desacreditar Portas, quer pela via da corrupção, quer pela
via da ausência de coragem política, quer ainda evidenciando a duplicidade do político que toma iniciativas condizentes com as medidas mais nocivas do
Governo ou em cuja execução colabora com entusiasmo e simultaneamente tenta
fazer crer que delas discorda para desse modo manter a sua base de apoio eleitoral.
Quererá isto dizer que Soares preconiza uma aliança à
esquerda? O que parece claro é que Soares quer rejeitar a política de austeridade,
não sendo evidente o percurso que pretende seguir para lá chegar e quer a todo
o custo evitar que antecipadamente se crie no eleitorado a convicção de que o
PS pretende governar coligado com a direita.
No bom estilo de Soares, o que vem depois logo se verá. Por
agora o que é preciso é derrubar o Governo, rejeitar a política de austeridade
e criar uma dinâmica que leve o povo a acreditar que isto é possível. Por
outras palavras, o que é preciso é tentar insuflar no PS uma alma que ele
manifestamente não tem.
O PS, a Troika do PS, ao contrário de Soares, o que
verdadeiramente quer é começar por fazer umas “cócegas” à austeridade,
mantendo-a no essencial presente, bem como os instrumentos e as políticas que a
suportam, aguardando que uma mudança na Europa venha a abrir um caminho que por
agora está fechado. E sabem, o PS e a sua Troika, que a este “programa mínimo”
o CDS se não oporá, mantendo-o portanto em reserva para uma eventual aliança,
sem sequer sopesar as consequências da rejeição desta hipótese pelos elementos mais
reaccionários do CDS menos dados a jogos tácticos, como Nuno Melo e outros…
Em resumo: Soares pretende criar uma dinâmica que leve ao
derrube do Governo. Sabe que essa dinâmica tem de assentar no PS, mas sabe
também que essa dinâmica só poderá existir se tiver na Esquerda a sua base
propulsora. Tem ainda por certo que a convergência necessária para a criação
dessa dinâmica é a luta contra a austeridade. Como será a seguir, isso se verá
depois…
5 comentários:
Clarividente , como sempre, com a pelicas os iiiiis no sítio certo.
Abraço.
Ana
"E sabem, o PS e a sua Troika, que a este “programa mínimo” o CDS se não oporá..."
Mas Sócrates vai mais longe e define um leque que "namora" franjas "desencantadas" PSD. O comentário do comentador foi um espanto: conciliatório entre a iniciativa de Soares e as posições de Seguro. Sócrates dá para tudo!
... entretanto...
o país não vai esquecer Soares
nos escaparates da sua Fundação
porque tudo se move
até o pó
Mas afinal o que estava a fazer o PCP na A. Magna ao lados, e a fazer coro, com um dos grandes responsáveis da situação a que o país chegou? Por ventura pensará o PCP que vai tirar algum lucro, ou o país, das iniciativas dessa gente? Todos na A. Magna contra o governo e lá fora o psd a fazer um acordo com o ps para não serem incomodados judicialmente os ministros com eventuais culpas na má administração dos bens do Estado, "swaps" ou lá o que é.Alguma credibilidade que o PCP ainda tinha, que vinha do tempo do Dr. Álvaro Cunhal, vai-a perdendo nestas companhias, ficando-se com a sensação que este partido já deixou de lutar por causas e que qualquer companhia lhe serve, tudo levando a crer que, afinal, a "boyada" atravessa todo o espectro partidário...
O dr Soares quer o derrube do desgoverno
sem eleições antecipadas
Não entendo
ou melhor entendo
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