ELE E O SEU GOVERNO
Nenhuma emoção, absolutamente nenhuma, antecede a comunicação
que dentro de pouco tempo Cavaco Silva vai fazer ao país.
Não há memória nas comunicações de Cavaco de alguma delas ter
a ver com problemas do país. Todas as comunicações que fez até hoje como
Presidente da República têm a ver com ele. Com as suas queixas, com as suas
justificações, com as suas anteriores advertências, enfim, com assuntos que não
interessam nada à generalidade dos portugueses e que têm apenas a estulta
intenção de à distância do presente tentar condicionar a história que no futuro
se fará sobre a sua actuação enquanto responsável político que por mais tempo,
depois de Abril, esteve à frente dos destinos do país.
A de hoje não será diferente. Cavaco vai tentar justificar
por que mantém o Governo em funções, apesar de aos olhos da maioria dos
portugueses se ter tornado evidente que o rearranjo dos protagonistas antes
desavindos não merece qualquer credibilidade, consequência, aliás resultante,
da falta de credibilidade desses mesmos protagonistas.
A Cavaco nem passará pela cabeça explicar aos portugueses as
razões que justificam que um partido minoritário se torne, segundo o novo
arranjo, no principal responsável pela condução dos negócios públicos. Como igualmente
lhe não passará pela cabeça explicar, politicamente, o que é que, segundo ele,
este novo Governo tem de diferente relativamente ao anterior.
Não, isso não são interesses que prendam a atenção de Cavaco.
Cavaco estará mais interessado em afirmar que, gozando o Governo da confiança
da maioria parlamentar, não vai ser ele, como Presidente da República, que irá
contribuir para a desestabilização do país.
Desestabilizar, para Cavaco, significa, permitir que o poder
mude de mãos quando está nas mãos da direita. A desestabilização para Cavaco
nada tem a ver com a políticas que o Governo leva ou tenta levar a cabo contra
a vontade da esmagadora maioria dos portugueses, mas apenas com o facto de Governo
se encontrar aparentemente coeso. Sendo coesão sinónimo de manutenção em funções
quaisquer que sejam as vicissitudes que acompanham essa manutenção e quaisquer
que sejam as políticas que conjunta ou separadamente os parceiros da coligação
ponham em prática ou publicamente defendam.
Além de ser um inimigo declarado da “instabilidade”, Cavaco também
não quer, tal como Passos Coelho ou o CDS, que os sacrifícios
dos portugueses tenham sido feitos em vão. Cavaco quer ter a garantia de que
esses sacrifícios vão continuar e se vão até agravar, passando a atingir áreas
e pessoas que doravante serão muito mais penalizadas do que já foram até aqui.
É isso o que significa realmente evitar que sacrifícios já
feitos tenham sido em vão.
É claro que os portugueses sabem perfeitamente que os
sacrifícios que até agora fizeram, além de se não justificarem por não serem
consequência de factos por eles cometidos, mas antes destinados a salvar os
bancos, a pagar os roubos de pessoas ligadas ao poder ou com ele intimamente
relacionadas, a repor as verbas necessárias para cobrir os negócios ruinosos, ou
mesmo fraudulentos, feitos por governantes no interesse de terceiros, sabem
também que esses sacrifícios em nada contribuíram para regularizar
aquelas situações que lhes diziam serem as causas de todos os males: redução do
défice e da dívida, crescimento económico, etc. Sabem que nada disso se
verificou e que, pelo contrário, tudo se agravou a ponto de tais factos se
terem tornado hoje realidades económicas verdadeiramente insustentáveis.
O que porventura os portugueses não sabem, ou muitos, pelo
menos, não saberão, é que os novos e vultosos sacrifícios que lhes vão ser
exigidos são sacrifícios a somar aos anteriores. Sacrifícios que não têm em
vista permitir-lhes no futuro uma vida melhor, mas, pelo contrário, consolidar a
opção por uma vida pior. Quem hoje estiver reformado e perder uma parte da sua
reforma nunca mais a recuperará; quem hoje for agente ou funcionário público e
for despedido nunca mais arranjará emprego no Estado; quem hoje passar a pagar
mais ou muito mais pelos cuidados de saúde nunca mais vai ver diminuídas as
suas contribuições no sector sempre que precisar de recorrer aos seus serviços;
quem hoje passar a pagar pela educação dos seus filhos o que ontem não pagava não
mais poderá esperar que essas contribuições baixem no futuro ou deixem de
existir; quem hoje perder apoios sociais de protecção ao desemprego, à maternidade,
à velhice, etc., não mais voltará no futuro à situação em que estava antes.
É nisto e apenas nisto que consiste a ameaça permanentemente
feita sob a forma de chantagem destinada a impedir que o poder mude de mãos …para
“se não perderem e não terem sido em vão os sacrifícios dos portugueses”.
A “estabilidade” imposta pelos credores e pelos patrões da Europa
exige que “esses sacrifícios se não percam”. Exigem que se consolidem!
2 comentários:
Vou levar para partilhar, meu amigo! Obrigada!
Um grande abraço :)
Há algo inesperado, Cavaco apoia governo a prazo. E troca governo de gestão de 6 meses, por governo a prazo a mais dum ano. Ena com cantano!!! Estou derreado!, mas os consultores de Cavaco "merecem" o soldo: até até os lideres dos partidos do "arco da governação" fecham-se em copas, falaram os 7ºs escriturários ( e alguns bens nervosos)
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