quinta-feira, 10 de outubro de 2019

O LIVRE E A SUA DEPUTADA


OS LIMITES DO POLITICAMENTE CORRECTO
Resultado de imagem para A DEPUTADA DO LIVRE E RUI TAVARES


Vivemos um tempo de profunda hipocrisia. Um tempo em que o que todos vemos é exactamernte o contrário do que nos pretendem mostrar. Um tempo em que o esbatimento das diferenças imposto pelo “politicamente correcto”, leva nos casos extremos às maiores crueldades, sempre justificadas, mesmo quando não são reconhecidas, apesar da sua evidência, por o comportamento que as dita se julgar alicerçado numa superioridade moral, social e política, e se considerar completamente indiferente às suas consequências tanto para aqueles cujas diferenças pretendem esbater como para a sociedade em geral destinatária involuntária desses comportamentos.  

Vem isto a propósito de Joacine Katar Moreira, eleita pelo círculo de Lisboa, pelo Livre, como deputada à Assembleia da República nas últimas eleições legislativas.

Se há uma actividade onde a palavra vale ouro, essa actividade é a política, tal como hoje se faz. Dada a indiscutível predominância dos meios de comunicação na política, os políticos esforçam-se por tornar a sua voz sedutora, desde a tonalidade, à colocação, passando pelo timbre e por uma dicção muito cuidada, de modo a torná-la mais agradável, cativante, cientes de que a forma como se exprimem é tão, ou mais importante, do que o conteúdo do que se exprime. E se há na política um lugar onde isso é mais importante do que qualquer outro, um lugar onde os grandes dotes oratórios valem ouro, esse lugar é o Parlamento.

Ora, o Livre e o Rui Tavares, como todos os sacerdotes do “politicamente correcto” – a suprema hipocrisia da política – querem-nos convencer que aquelas faculdades não têm nenhuma importância. E de facto nada haveria a dizer se um partido abdica de fazer passar persuasivamente a sua mensagem por ter escolhido uma pessoa com outras qualidades para ele tão ou mais importantes do que aquelas.

Acontece, porém, que não é isso que se passa com Joacine Katar Moreira. Nem jamais aqui se faria qualquer crítica por o Livre ao tê-la escolhido haver prescindido do modo mais comum de fazer passar a sua mensagem. Pôr as coisas nesses termos, seria, no caso concreto, juntar o utilitarismo à hipocrisia. O que se passa é algo muito diferente. A deputada do Livre é portadora de uma enorme deficiência da fala que praticamente a impede de se exprimir, tanto mais quanto mais desesperadamente porfia fazê-lo.

É penoso, extremamente penoso, ver alguém cuja missão é transmitir uma mensagem, permanentemente incapacitado de o fazer por força de uma deficiência que parece insuperável por maior que seja a vontade e o esforço, já não dizemos para a superar, mas para a atenuar.

A exibição pública permanente daquela enorme deficiência não constitui da parte dos que a encarregam de falar em público, nem dos que a escutam, um acto de humanidade que passa meritoriamente sobre a diferença como se ela não existisse. Bem pelo contrário,  parece-me de profunda desumanidade aquela permanente exibição de um inglório esforço físico e psíquico para tentar superar o insuperável, como acontece com todos os comportamentos que vulgarizam o sacrifício humano, auto ou hetero- infligido, qualquer que ele seja.

O que pretende o Livre quando expõe assim impiedosa e permanentemente uma pessoa cuja deficiência inspira a mais nobre compaixão? Não seria possível atribuir outras tarefas partidárias igualmente nobres a Joacine que a poupassem a este sacrifício permanente e para quem a escuta com a melhor boa vontade? Parece-me um comportamento cruel imposto pelo politicamente correcto numa conjugação de factores aparentemente ideais para sublinhar a tal pretensa superioridade acima referida.

Por mais que o Livre nos queira convencer da justeza do seu comportamento e por mais que eu me esforce por o tentar compreender, não posso deixar de me lembrar, por mais que me queira esquecer, dos que, nos meus tempos de criança, exibiam nas feiras e romarias populares os aleijões e as mais terríveis deficiências de seres humanos num cortejo de desgraças e de miséria onde à compaixão se aliava uma profunda repulsa de quem se tornava espectador involuntário daquele penoso espectáculo.   


2 comentários:

João Martins disse...

Tem toda a razão. E, ou me engano muito ou teremos o Rui Tavares muito em breve no parlamento, como acho que era o objectivo desde sempre! É uma tristeza.

Rogério G.V. Pereira disse...

Texto certeiro
Foto apropriada
Nesta
Rui Tavares, radiante
ostenta ar de feirante

quem não percebe decisão tão torpe?
Quem?