sexta-feira, 29 de outubro de 2010

A NEGOCIAÇÃO DO ORÇAMENTO E OS SEUS CONTORNOS



O QUE ESTÁ EM JOGO

Continua a não ser muito fácil falar sobre o que se está passando a propósito da aprovação do orçamento.
Há dois dias os negociadores trocaram palavras duras e acusações. Parecia que o rompimento era definitivo.
Entretanto, Cavaco, que nestes últimos trinta anos se tem dedicado intensamente à vida política, mas ainda com tempo para ir fazendo outras coisas e acumular as correspondentes reformas, insinua que não é político, deixando a pairar no espírito dos portugueses a ideia de que é com imenso sacrifício e em cumprimento de deveres superiores que resolveu recandidatar-se à Presidência da República.
Simultaneamente, cobre-se de auto-elogios, fundados em substantivos abstractos cuja densificação ele subjectivamente concretiza convencido de que a partir daí se torna verdade objectiva universal, e adianta que se as coisas não estão muito pior a ele se deve, bem podendo estar muito melhor se os seus conselhos e recomendações tivessem sido seguidos. Dito de outra maneira. Tudo estaria melhor se tivesse sido ele a governar.
E depois acrescenta, para se perceber bem o que quer dizer, que no próximo mandato vai exercer uma “magistratura activa”.
Logo a seguir, quase em simultâneo com o anunciado rompimento das negociações, Cavaco convoca o Conselho de Estado sendo de esperar que os seus conselhos se dividam entre os apelos ao entendimento e a uma mais efectiva intervenção do Presidente da República.
Um dia depois, os responsáveis máximos do PS e do PSD coincidem em Bruxelas, a propósito da realização do Conselho Europeu, e apresentam-se com uma linguagem diferente da utilizada na véspera pelos negociadores de ambas as partes.
Algo, entretanto, se passou. Pressões em Bruxelas, dizem uns. Certamente que sim. Mas será tudo? A verdade é que se eles se entenderem Cavaco fica sem grande margem de manobra. Pelo menos, durante meio ano. Se não se entenderem, Cavaco pode começar desde já a exercer a tal “magistratura activa”.
Uma análise fria, racional, aponta para este entendimento das coisas. Parece ser isto o que está em jogo para os grandes intervenientes em todo este processo e simultaneamente os grandes responsáveis pelo estado a que isto chegou.

2 comentários:

jvcosta disse...

Boa análise, muito bem visto. Goste-se ou não, Cavaco é hoje, de entre os políticos no ativo, provavelmente o mais experiente e hábil. Sabe jogar, arrisca, aposta forte. Às vezes perde, como agora e como no caso das escutas, mas acabou por sair por cima, servindo-se do CE para dar maior impacto ao seu novo posicionamento forte de "padrinho" da aprovação do OE.

Anónimo disse...

Estou em completo desacordo com o JVC. Acho que o PR foi um VAZIO.Um zero absoluto: Um cobarde! Hábil?.. Experiente?.. Aposta forte???.. Saiu por cima?...Nem por cima nem por baixo.Não saiu!
Não tenho candidato e é isso o que mais me irrita! Absester-me ou ter que votar em branco foi coisa que nunca pensei ser possível.
Mas este é o país que temos e que Deus nos dê a sua benção.