segunda-feira, 25 de abril de 2011

GRÂNDOLA



O POVO É QUEM MAIS ORDENA



ZECA AFONSO - OTELO SARAIVA DE CARVALHO - SALGUEIRO MAIA - MFA - 25 DE ABRIL


A antecedê-los a luta dos resistentes anti-fascistas, com destaque especial para o Partido Comunista Português!


sábado, 23 de abril de 2011

E MÁRIO SOARES É BEM INTENCIONADO?




SOARES É AGORA O QUE SEMPRE FOI

As declarações de Soares, que no fundo são a repetição de outras que sobre o mesmo tema tem vindo a fazer, não podem constituir motivo de espanto para ninguém. Não é primeira, nem a segunda vez que Soares actua assim; pelo contrário, é enésima vez que Soares se encosta à direita, como tantas tem feito na sua vida política antes e depois do 25 de Abril.
E também não constituiu novidade que Soares traia os seus quando estes se estão confrontando com terceiros, prática ou teoricamente, à sua direita. Pode fazê-lo por vaidade, por despeito, mas também por convicção política.
As declarações de Soares interpretadas à letra querem dizer o seguinte: é necessário um acordo entre o PS e o PSD. Sócrates constitui um entrave a esse acordo. Então, é preciso substituir Sócrates. Como? Dando a vitória eleitoral a Passos Coelho.
Que ninguém tenha ilusões: Soares não faz isto por perda de clarividência política. Soares sempre foi assim: com trinta ou com oitenta anos. Não mudou nada.
Por que actua Soares deste modo? Alguns, ingenuamente, dirão: está preocupado com o futuro do país e pensa que aquela é a melhor solução. Que ilusão... Soares tinha de se vingar do apoio institucional dado por Sócrates a Alegre. Esta é uma boa ocasião.

PORTUGAL E A UNIÃO EUROPEIA




A FINLÂNDIA COMO EXEMPLO

Já aqui o dissemos vezes conta. O projecto europeu foi construído, na sequência de duas guerras devastadores e do socialismo triunfante em quase dois terços da humanidade na base de duas ideias muito concretas: prevenir novas guerras na Europa e erguer uma barreira sólida contra a progressão do comunismo.
Este conjunto apontava para a gradual construção de um espaço de livre circulação de capitais, bens, serviços e pessoas, e embora quisesse ser mais do que uma simples zona de comércio livre, estava longe de querer transformar-se numa nova espécie de Estado, já que a individualidade política soberana dos elementos do conjunto não deixava de ser veementemente afirmada sempre que alguma voz mais dissonante ousava apontar para objectivos que estavam longe de ser partilhados por todos.
De facto, só há teórica e praticamente duas formas de chegar à construção de uma entidade política diferente e autónoma dos elementos que a compõem: ou pela via do império (universal) ou pela da federação (universal).
O conjunto criado na Europa pelo Tratado de Roma (e antecedentes) não poderia construir uma unidade política pela primeira via, como de resto resultava de várias tentativas passadas, mais ou menos consistentes, mas todas inviabilizadas pela História; nem estava interessada em calcorrear a segunda via, da qual claramente se afastou nas sucessivas construções do seu modelo orgânico-institucional.
A Europa que o ocidente europeu estava a construir era uma formação de Estados soberanos, dominada pelos mais fortes, na qual o cidadão não entrava como sujeito mas apenas como destinatário dos instrumentos jurídicos entretanto, e sucessivamente, criados para assegurar a construção de um mercado interno sem peias, nem entraves onde o capital pudesse expressar sem restrições a sua força e o seu domínio. Simultaneamente, iam-se acrescentando uns pequenos remendos para criar a ilusão de que o cidadão também participava no processo pela via habitual das modernas democracias representativas. Mas não passava de uma ilusão. O cidadão, os povos, viviam à margem da construção europeia, embora, a princípio, tivessem acolhido com agrado algumas das suas principais inovações pela comodidade que elas lhes traziam – ausência de fronteiras alfandegárias, ausência de controlo da circulação de pessoas e, por fim, a criação de uma moeda única.
Com o andar dos tempos, com a alteração radical das circunstâncias que presidiram à sua criação, a construção europeia deparou-se com as dificuldades que são normais num conjunto onde faltam os elementos, materiais e espirituais, agregadores da solidariedade e do interesse comum entre pessoas. Na ausência de um sentimento comum de pertença, sem laços humanos que realmente unam os povos europeus, vivendo num grande desconhecimento recíproco das suas características, da sua história, dos seus costumes, enfim, da sua cultura, tanto maior quanto mais longe se encontram uns dos outros, é natural que nos momentos de crise cada um trate de si e se refugie no nacionalismo, único lugar onde apesar de tudo cada um individualmente e em grupo ainda continua a ter alguma voz.
Por isso, parecem despropositados as críticas e os ressentimentos feitas na base de um juízo moral de censura que não tem nenhuma razão de ser por completa ausência de base ético-política em que se fundamente. No fundo, quem assim procede quer continuar a iludir-se e a iludir os outros fazendo de conta que uma construção feita de cima para baixo sem a participação nem o controlo constante dos cidadãos pode ter a mesma consistência e gerar as mesmas consequências que uma construção feita de baixo para cima na qual os cidadãos tenham desempenhado e continuem a desempenhar uma papel primacial.
A construção europeia confrontada com as múltiplas dificuldades que os tempos de crise potenciam está a esboroar-se por todos os lados, enquanto os mais fortes, na defesa de interesses nacionais ameaçados, reforçam as características que fundo estão na origem da sua progressiva desagregação.
Estão a colher o que semearam. Não têm por que se queixar.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

AINDA SOBRE O CASO ARGENTINO





O QUE INTERESSA TER EM CONTA

A propósito de certas conversas….
Discutir o caso argentino tendo apenas presente o que se passou depois de a Argentina ter rompido as negociações com o FMI não é uma forma séria de abordar o assunto.
Em primeiro lugar, não podem omitir-se os antecedentes: o que se passou na década de 70, contracção excessiva de dívida a juros baixos, e que se passou na década seguinte, pagamento a juros altíssimos da dívida contraída a juros baixos.
Em segundo lugar, não pode tão-pouco omitir-se a política neoliberal posta em prática por Carlos Menen, o “aluno preferido” do FMI na aplicação do “consenso de Washington”.
E também não pode abordar-se seriamente o assunto sem estabelecer, pelo menos no plano conjectural, a diferença entre o que se teria passado, nos próximos dez anos, se a Argentina tivesse seguido o programa que o FMI lhe queria impor para lhe conceder o empréstimo e o que realmente se passou, depois de decidida a cessação de pagamentos e a redução a um terço da dívida privada.
Por outro lado, também não pode dizer-se, sem as explicações complementares necessárias, que a Argentina acabou por pagar tudo o que devia ao FMI e a outros credores institucionais. É verdade que sim, mas com duas precisões. Primeira: o FMI acabou por não declarar a Argentina falida, contrariamente ao que durante as negociações sempre foi ameaçando – se o tivesse feito não teria recebido nada; segunda: o pagamento foi feito nas condições decididas pela Argentina e não pelo FMI (aliás, o crescimento económico da Argentina foi de tal ordem que Kirchner numa de “grande senhor argentino” – à semelhança de Lula – até pagou antecipadamente o que devia para se ver livre do FMI).
Depois, como aqui se disse, a comparação entre Argentina e Portugal não pode fazer-se, não tanto pelas consequências decorrentes da cessação de pagamentos, mas porque a estrutura económica dos dois países é muitíssimo diferente.
Num processo desta natureza, pelo qual passaram a Rússia e a Argentina, e agora também Portugal, para falar apenas das situações mais conhecidas, não há soluções boas. Todas as saídas tem custos e implicam sacrifícios. E os sacrifícios não se atenuam vociferando contra quem criou a situação ou mais contribuiu para ela, até porque, na maior parte das vezes, a crise é uma consequência inevitável do sistema.
O que interessa é escolher a solução que distribua de forma mais equitativa os sacrifícios, sem hipotecar o futuro.
E é isso que não se vê. O que se vê, por quase todo o lado, é aceitação acrítica de programas muito gravosos, injustos na distribuição dos sacrifícios, ou até pedidos de agravamento.
As soluções alternativas esboçadas ou assentam na ilusão de que é possível reformar o capitalismo financeiro, ou apontam para uma ruptura radical com o actual estado de coisas.
A primeira não leva a nada porque parte da ideia de que o capitalismo financeiro que hoje hegemoniza o sistema é reformável. E não é. Alguma vez a Europa plutocrática do euro vai admitir que o BCE financie os Estados? Alguma vez os bancos que dominam completamente o sistema vão aceitar que a dívida seja reestruturada (leia-se, paga apenas em parte) sem que simultaneamente exigissem a ostracização, em todos os planos, desde logo no monetário, do mutuário que enveredasse por tal caminho? Veja-se o que já está a acontecer à Grécia (juros acima dos 20%) só por ter sido posto a correr o rumor de que ia reestruturar a dívida. Alguma vez os bancos, falidos como estão, vão recapitalizar-se sem ser com dinheiro do contribuinte?
O capitalismo não se auto-reforma. Nem o fará agora, como não o fez no passado. Quem conhece a história do capitalismo, desde a “primeira globalização” (de cerca de 1880 até 1914), as fases subsequentes (de 1914 a 1945; e de 1945 a 1989, não obstante a fase actual ter começado por volta de 1980) até hoje, sabe que somente o socialismo, sem adjectivos, o “reformou”. Uma reforma que não chegou a durar meio século, mas cujos efeitos, embora parcialmente, perduram em alguns países apesar de tudo até hoje, e não em todos, em virtude de a dita reforma ter incidido com intensidade variável nos diversos países capitalistas desenvolvidos, não obstante haver um relativo denominador comum fundamentalmente traduzido numa distribuição directa e indirecta de rendimentos que mantinha as extremidades do sistema incomparavelmente mais próximas do que hoje estão.
É por isso enganador fazer hoje aos portugueses um discurso que os leve a acreditar que é possível dentro do sistema tal como ele existe melhorar as coisas. Não é. Os portugueses têm de saber que se quiserem continuar no euro vão ter de sujeitar-se, por muitos anos, às duras medidas de austeridade que os credores lhes vão impor. Não há meio-termo. E vão ter de suportar essas medidas sem qualquer garantia de reversão da situação. Pelo contrário, tudo aponta no sentido oposto: recessão prolongada sem saída.
A segunda alternativa é que aponta para uma ruptura com a situação existente. Mas também não será, não haja qualquer ilusão quanto a isso, uma solução sem sacrifícios. A diferença, a grande diferença, é que ela tem uma saída e aponta um caminho de futuro, que desde logo pressupõe um posicionamento de Portugal no mundo mais consentâneo com o seu passado e a sua história.

AS NEGOCIAÇÕES COM O FMI/BCE/ UE




O GRAVE DA QUESTÃO

Qualquer pessoa minimamente informada sabe que as negociações com o FMI são sempre muito difíceis e na maior parte dos casos vexatórias para os Estados que a elas têm de recorrer. O FMI intervém em situações de crise, principalmente para evitar a cessação de pagamentos, e as suas intervenções têm como objectivo imediato garantir o pagamento integral dos credores através de programas que só retoricamente estão preocupados com o crescimento e o emprego.
Essa não é o objectivo do FMI. É, porém, natural que os seus agentes por deformação ideológica, que eles não identificam como tal, mas antes como “teoria económica”, acreditem que do cumprimento daquele objectivo resultará, mais tarde, como consequência natural, um “crescimento económico saudável” (eles gostavam de dizer: sustentado, mas depois do que se passou com o capital financeiro o adjectivo caiu em desuso) e um aumento do emprego.
Como os factos, historicamente comprovados, desmentem tais consequências, os Estados, desde os mais irrelevantes aos mais importantes na área geográfica em que se inserem, desde os mais novos aos que já têm quase dois séculos de existência, sempre tentaram resistir aos programas impostos pelo FMI, porque sabiam e sabem o que isso representa de privações e de abaixamento do nível de vida (mesmo quando já era muito baixo) para as respectivas populações.
Dificilmente alcançam os seus objectivos ou alguns deles, tal a rigidez de quem negoceia implacavelmente em nome dos credores. Mas fica-lhes a esperança de que a passagem do tempo acabe mais cedo do que tarde por dar-lhes razão e que por essa via fique demonstrada a inviabilidade, pelo menos parte, do que foi acordado, já que são muito poucos os que têm a coragem de devolver o FMI a Washington, assumindo eles próprios, com os seus recursos, a resolução da crise.
Quem acompanhou (no sentido de estar a ser informado) o que nas décadas de 80 e de 90 se ia passando com as negociações entre o FMI e os países em desenvolvimento, da África e de outros continentes, sabe que, pelo menos, os governantes desses países lutavam nos diversos fora internacionais, e em reuniões informais, contra a prepotência e natureza obsessivamente ideológica desses programas. Programas que, como se disse, eles tinham que aceitar, já que sem o aval do FMI nenhuma outra “ajuda” poderia ter lugar.
A intervenção do FMI na Europa da zona euro, que não na Europa comunitária, onde continuou a estar presente, é uma novidade dos tempos que correm. E uma péssima novidade, já que ela só acontece em virtude de a “Europa credora” ter uma posição sobre as situações de crise ocorridas no seu seio ainda mais drástica do que aquela que o FMI perfilhava quando actuava na África, na Ásia e na América Latina como uma espécie de apóstolo do neoliberalismo.
Portanto, mais se justificaria que quem tem que negociar ou ser ouvido pela Troika (na verdade não é Troika nenhuma, mas antes FMI mais BCE, como cabeça de turco do capital financeiro alemão e francês, eventualmente inglês, no caso da Irlanda), representativa do capital financeiro, lutasse, antes de mais, pela dignidade do povo e do país a que pertence, e depois que tivesse a coragem de não aceitar, nos prazos e nos termos propostos, o programa que o FMI/BCE traz na pasta.
Mas não. Em Portugal passa-se exactamente o contrário. Há quem proponha programas ainda mais austeros do que aqueles que os representantes do capital financeiro estavam para apresentar. Há quem esteja de tal forma ideológica e materialmente identificado com os interesses do grande capital, quem seja de tal forma indiferente ao sofrimento do povo, que não tem qualquer escrúpulo em aproveitar estas negociações, realizadas para defender interesses alheios, como uma boa oportunidade para fazer aprovar um conjunto de medidas por que há muito ansiavam: salários baratos, completa desregulação do trabalho assalariado, isenção de impostos para os ricos, eliminação das despesas sociais, fim da solidariedade intergeracional, privatização de tudo o que possa dar lucro, recapitalização da bancos à custa do trabalho do povo, enfim, a constituição de uma sociedade dual, com uma percentagem ínfima no topo, devidamente acompanhada pelos lacaios e acólitos, e resto do vulgo na base, numa espécie de escravatura moderna.
E não admira que as coisas se passem assim. Pois ainda há bem pouco tempo todos ouvimos o Presidente da República e o governador do Banco de Portugal elogiarem o funcionamento dos “mercados” e a subida das taxas de juro como consequência natural e normal do mau comportamento dos mutuários! Para estes senhores é normal que o BCE esteja agora a emprestar aos bancos a uma taxa de juro de 1,25% e que a Grécia, se precisa de dinheiro a dois anos, o vá buscar aos “mercados” acima dos 20%!
Estes comportamentos, de confederações patronais, de políticos, enfim, de todos aqueles que formal ou informalmente se encontram com os representantes da troika para lhes solicitarem medidas ainda mais drásticas não podem ficar impunes.
Estes comportamentos anti-patrióticos, que atentam contra a dignidade do povo português, contra a sua auto-estima, contra os seus legítimos interesses, têm de ser denunciados como comportamentos traidores, infames e relativamente aos quais, mais tarde ou mais cedo, vai ter de se ajustar contas com eles!

quarta-feira, 20 de abril de 2011

ARGENTINA - UMA SOLUÇÃO DIFERENTE - II



VALE A PENA CONHECER O CASO ARGENTINO

Como estávamos dizendo no último post, a Argentina, depois de um processo muito complexo de negociações com o FMI, que originou uma profunda crise social e política, rompeu as negociações, nas condições que adiante se descreverão, cessou os pagamentos e comunicou aos credores a sua disponibilidade para negociar directamente com eles o pagamento de uma parte da dívida
Os credores, desfalcados do apoio do FMI, colocados perante a opção de receberem alguma coisa ou não receberem nada, optaram por negociar. Decorridos cerca de três anos de negociações, 76% dos credores deram quitação à Argentina na base de 34 cêntimos por cada dólar emprestado. Ou seja, a Argentina libertou-se da dívida pagando cerca de um terço do seu valor nominal.
Como é que isto aconteceu? Aconteceu antes de mais porque os governantes argentinos que tiveram a coragem de romper as negociações com o FMI e aceitar, como consequência, a cessação de pagamentos estavam imbuídos de um profundo patriotismo e recusavam, sem hesitações, sacrificar por largos anos o bem-estar do seu povo às exigências do capital financeiro internacional. Depois, porque nas negociações directas com os credores deram igualmente provas de uma grande tenacidade e de uma extraordinária habilidade que levaram os credores a claudicar perante a sua determinação.
Mas vale a pena contar como tudo se passou.
Nos anos 70 do século passado, a Argentina, como outros países latino-americanos, foi fortemente pressionada pelo capital financeiro a contrair empréstimos para os mais diversos fins, que não apenas de investimento propriamente dito. O dinheiro era então muito barato, com taxas de juro baixas, por vezes até com uma taxa real negativa (a taxa real corresponde à diferença entre a taxa nominal e a taxa de inflação), e sabe-se como é muito difícil, para não dizer quase impossível, resistir ao dinheiro barato.
Mas aconteceu que, nos inícios dos anos 80, os Estados Unidos, para controlar a inflação que não cessava de crescer, adoptaram algumas medidas radicais, entre as quais a subida da taxa de juro para cerca de 20%.
Perante esta situação e impossibilitada de fazer face a um serviço da dívida que subira exponencialmente para níveis incomportáveis, a Argentina, como outros países latino-americanos, entre os quais o Brasil, viu-se na necessidade de acordar com os credores o reescalonamento da sua dívida por um período mais dilatado, sem, obviamente, qualquer tipo de perdão.
Durante dez anos, o dinheiro que aparentemente afluíra de norte para sul a preços de saldo regressava agora ao norte com compensações brutais. Foi uma década de estagnação para os países em desenvolvimento e de rendimento intermédio da África e da América Latina, uma década a que os países desenvolvidos do norte chamaram cinicamente a “década perdida”.
Durante dez anos a Argentina pagou a dívida. No começo dos anos noventa, a Argentina liberta do fardo da dívida recomeçou a crescer e muito. Simultaneamente, as doutrinas neoliberais, impulsionadas pelo “Consenso de Washington”, de Novembro de 1989, iam fazendo o seu curso.
Como a Argentina estava “próspera” o dinheiro voltou a afluir em grande quantidade ao país das pampas, inclusive – em montantes não despiciendos – para financiar o consumo. Ao mesmo tempo, em execução de um “corajoso” (como então lhe chamavam) programa de privatizações, a Argentina ia vendendo os seus activos, principalmente a estrangeiros, enquanto simultaneamente se endividava cada vez mais para consumir.
Entretanto, o Plano Cavallo, no começo dos anos 90, ligou o peso ao dólar americano, dando início ao que por uma década se chamou a dolarização da economia argentina.
O FMI rejubilava, elogiando a política seguida por Buenos Aires, e encorajava os estrangeiros a emprestar à Argentina.
A Argentina era o "bom aluno" da América Latina, com baixas taxas de inflação e com um programa de privatizações que enchia de orgulho o Tesouro americano e as Instituições de Bretton Woods. Menen, que mais tarde foi condenado por corrupção, chegou mesmo a ser, em 1999, o convidado de honra da Assembleia Geral do FMI, em Washington.
Só que em 1999 as coisas já estavam a mudar. A crise asiática de 1997 transformou-se em crise financeira no ano seguinte e foi atingindo a maior parte dos países da Ásia, a Rússia e depois os da América Latina. A taxa de juro para os países emergentes subiu em flecha e esta subida voltou a ter consequências dramáticas para a Argentina, que viu o serviço da dívida, entre 1996 e 2000, mais que duplicar.
Com uma moeda muito forte, pela sua ligação ao dólar, a Argentina aumentou consideravelmente as suas importações, diminuiu as exportações, facto agravado por o Brasil, entretanto - depois de várias hesitações de FHC - ter também desvalorizado o real, e começou a entrar numa situação insustentável, muito parecida com a que hoje se vive nalguns países da zona euro.
Com as taxas de juro a subir, com a balança de pagamentos altamente deficitária, com as importações em alta e as exportações a descer, a Argentina viu aumentar dramaticamente a sua dívida e o seu défice orçamental.
É aqui que reentra o FMI, agora já não como “professor embevecido”, mas como “médico”. E as suas receitas, ontem como hoje são conhecidas: aumento de impostos, diminuição das despesas, baixa de salários, subida da taxa de juro interna. Enfim, recessão…
Aos factores referidos acresciam as diversas medidas que o FMI tinha encorajado a Argentina a adoptar e que agora se revelavam altamente prejudiciais: privatização da caixa de pensões, privatização de quase todos os serviços públicos, como a água, a electricidade, com as tarifas indexadas às dos Estados Unidos! Ou seja, se as tarifas aumentassem nos EUA – e estavam a aumentar – aumentariam também na Argentina.
A Argentina entrou em recessão e aquilo que já era praticamente insuportável tornou-se absolutamente insustentável.
O país estava falido, incapaz de cumprir os compromissos assumidos e de manter a dolarização do peso. Sucederam-se os governos e os presidentes num curto espaço de tempo, até que chega Kirchner para ficar e alterar o parecia ser uma fatalidade para a Argentina: sucumbir às exigências do FMI. Mas antes disso já o peso tinha abandonado a sua ligação ao dólar, a taxa de câmbio tinha passado a flutuar, o peso perdera cerca de um terço do seu valor, o PIB caira 12% e o desemprego subira para mais de 20%.
Acontece que o FMI era por esta data um grande credor da Argentina. Simultaneamente, os credores privados da Argentina exigiam ser reembolsados. A Argentina tentou que o FMI retardasse a cobrança dos seus créditos, mas sem êxito. O FMI não só continuou a reclamar o reembolso integral do seu crédito, como, para conceder uma moratória, passou a exigir a adopção de medidas ainda mais drásticas do que aquelas que tinham levado à crise.
Nas negociações secretas (como sempre) que se seguiram, a Argentina não cedeu e ainda passou defender os seus pontos de vista com mais convicção depois de ter percebido que o dinheiro que estava a tentar obter emprestado do FMI não passaria por Buenos Aires. Ficaria em Washington para ser entregue ao próprio FMI e a outros credores. Aliás, à época, o FMI gabava-se de ter aplicado essa mesma “receita” a Yeltsin, que a aceitou (por isso ele era tão amado….).
A Argentina sabia, portanto, que se cedesse às exigências do FMI só iria agravar a sua recessão. E percebeu também que o FMI e demais credores tinham mais a perder com a ruptura das negociações do que ela com a renegociação dos empréstimos.
Portanto, a decisão foi não pagar aos credores privados. Quanto aos institucionais deixou habilmente a questão nas mãos do FMI. Se o Fundo não aceitasse a renegociação do empréstimo nas condições por ela propostas pela e a declarasse falida, quem ficaria doravante em situação difícil seria o próprio FMI, já que o vultoso empréstimo que tinha concedido ficaria incobrável e as suas contas a negativo.
Nesta guerra de vontades a Argentina acabou por levar a melhor. Não aceitou as condições impostas pelo FMI e foi este, tal como os outros credores, que acabou por aceitar, como bom, apenas o pagamento de uma parte da dívida.
A lição que se retira, aliás confessada mais tarde por alguns responsáveis do FMI, entretanto na reserva ou reformados, é que o Fundo e os credores jogam com o pânico dos Estados quanto à cessação de pagamentos. Eles sabem que um Estado soberano não pode hoje ser “penhorado”, os seus bens não podem ser executados, nem as suas receitas consignadas ao pagamento das dívidas, portanto, tudo o que lhes resta é o medo. Infundir um medo irracional generalizado. E, em regra, os Estados não resistem. Entre um futuro que sabem terrível e outro que admitem ser ainda pior, acabam por optar pelo primeiro, hipotecando o seu futuro durante mais de uma década ao interesse dos credores. E assim ficam completamente presos, sujeitos (o tal nexis do direito romano) aos interesses dos credores.
Liberta do FMI e dos credores, a Argentina começou a crescer. A crescer mais que o dobro do Brasil. Controlou o défice orçamental e chegou mesmo a suprimi-lo. Se tivesse continuado a mandar dinheiro para Washington como fez durante dez anos na década de 80 a sua situação seria incomparavelmente pior.
Politicamente a Argentina actuou com muita sabedoria: nunca disse abertamente que não queria pagar, nem disse que não aceitaria os planos do FMI. O que fez foi contestar a natureza inaceitável dos planos que o FMI lhe queria impor. O país não podia sacrificar o seu futuro às exigências do FMI (entenda-se dos Bancos ocidentais). Portanto, não era a Argentina, mas a irredutibilidade das posições do FMI, que a impediam de cumprir.
A Argentina pôde resistir antes de mais porque era governada por patriotas, para quem o bem-estar do seu povo era o objectivo supremo; depois, era ajudada por um forte mercado interno e, finalmente, por ser detentora de matérias-primas, principalmente agrícolas, de grande importância estratégica
Mas quantos países terão a coragem da Argentina? Isso fica para outro post.
Antes de terminar: a imprensa portuguesa, dominada ideologicamente pelo inimigo, ou identificada com os seus interesses, ou por pura ignorância, está dando muita relevância às supostas ou verdadeiras divergências entre o FMI e o FEEF. Só que essa questão, no contexto do que está em jogo, não passa da velha diferença entre o “pide bom” e o “pide mau”.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

ARGENTINA - UMA SOLUÇÃO DIFERENTE - I


VALE A PENA CONHECER O CASO ARGENTINO


Não vale a pena aqui insistir sobre como foi crescendo a dívida portuguesa, a pública e privada, desde 1992, e, principalmente, neste século depois da adesão de Portugal ao euro, embora mais intensamente nos últimos quatro anos. Esse assunto já foi tratado várias vezes. Hoje a questão que se põe é saber como deve agir e o que pode fazer um país sobreendividado.

Nos países desenvolvidos, ou lá próximo, depois da Segunda Guerra Mundial, durante muitas décadas, pouco ou quase nada se ouviu falar de dívida pública e muito menos de crise da dívida. É verdade que os países beligerantes, tanto vencedores como vencidos, saíram daquele conflito muito endividados, mas a era de grande prosperidade que então, por décadas, se seguiu - – verdadeiramente até ao primeiro choque petrolífero -, e a gradual desvalorização do dólar, rapidamente esbateram em termos relativos, e nalguns casos até absolutos, a relação entre a dívida e o PIB, tornando-a perfeitamente comportável, face aos níveis de crescimento registados. Na Europa só se voltou a falar de dívida a sério depois da desagregação da União Soviética e da reconversão das respectivas economias ao capitalismo selvagem que então tomou conta, por todo o lado, da política económica dos países do leste europeu e das repúblicas soviéticas, entretanto independentes.

No entanto, coincidentemente com os períodos de grande prosperidade da América do Norte e da Europa Ocidental, a crise da dívida era uma constante da vida política noutros continentes - Ásia, América Latina e África.

Apesar de em tempos mais recuados haver exemplos sem conta de endividamentos excessivos, principalmente na época a que os historiadores económicos chamam a primeira globalização (de cerca 1880 à Grande Guerra), a ponto de alguns países se terem mesmo declarado falidos, e, consequentemente, cessado os pagamentos, a verdade é que nunca a crise da dívida havia atingido nesses tempos as proporções que passou a ter depois da liberalização da circulação de capitais, ocorrida na sequência da imposição a quase todo o mundo das doutrinas neoliberais, saídas da vitória da “Guerra Fria”.

As novas vítimas eram os chamados países em desenvolvimento e os de rendimento intermédio todos eles situados nos continentes acima referidos e também, a partir de 1991, no leste europeu. Da Argentina à Rússia, passando pela Moldávia, da África à Indonésia a crise a todos tocou com grande intensidade e a todos atingiu impiedosamente.

Colocados perante este grave problema, a reacção dos Estados é, por todo o lado, quase sempre a mesma: evitar a todo o custo a cessação de pagamentos. E sacrificam tudo o que de mais importante tinham adquirido: a saúde, a educação, o crescimento económico, enfim, os direitos mais elementares dos seus concidadãos. É muito forte a convicção de que a cessação de pagamentos os colocará numa situação muito pior do que aquela em que vão ficar “pedindo ajuda”.

E é por esta porta que entra o FMI. O FMI entra para fazer empréstimos destinados a pagar as dívidas contraídas. O dinheiro que o FMI empresta, a taxas bem compensatórias, nem sequer entra nos cofres do mutuário. Vai directamente para os credores deste, em regra bancos.

A primeira questão levantada pelo sobreendividamento, que não pode nem deve ser iludida, é a quem cabe a responsabilidade por esta situação. Dando ouvidos ao que dizem a maior parte dos políticos portugueses, a começar pelo Presidente da República, e a generalidade dos economistas, ideologicamente dominados pelo capital financeiro e pelas doutrinas neoliberais, e de outros grandes responsáveis financeiros, como o Governador do Banco de Portugal, a responsabilidade é exclusivamente de quem pede emprestado. Quem pede emprestado é que tem saber até onde pode ir e os riscos que deve assumir, mesmo quando se trata de “riscos” que só na aparência o são, já que eles não dependem de factores aleatórios mas resultam antes, directa ou indirectamente, da acção desse próprio capital financeiro e especulativo.

Há, porém, quem pense de outra maneira. Quem entenda que as responsabilidades estão repartidas, devendo ser imputadas em maior grau ao detentor do dinheiro, porque sabe, ou tem obrigação de saber, melhor do que ninguém, até onde podem ir as “forças do devedor”. Faz parte do negócio de quem lida com dinheiro, como objecto, saber até que ponto vai a solvabilidade do devedor.

Por outro lado, no que respeita aos riscos, quem ouve por cá Cavaco, Carlos Costa, Cantigas, Duques, Leites e outros, fica a saber, sem a menor dúvida, de que todos os riscos ligados ao endividamento devem recair sobre o devedor. Riscos que vão desde as flutuações das taxas de câmbio (problema que para Portugal não se põe), até á subida, por vezes exponencial, das taxas de juro, passando por fenómenos de outra natureza, uns resultantes directamente da acção humana, outros sem qualquer interferência da acção humana , mas que podem, tanto uns como outros, ter um efeito muito negativo sobre o endividamento.

Sendo assim, por que razão devem tais riscos ser suportados apenas pelo devedor? São as leis do mercado, dizem aqueles sujeitos acima citados, ideologicamente identificados com o capital financeiro especulativo, mesmo quando estão em jogo os interesses do seu próprio povo.

“Leis”? Mas então por que não chamar o mesmo nome aos comportamentos impostos pelo gang do Al Capone em Chicago ou aos do “Tony Soprano” em New Jersey?

Bem, mas então como se cobram as dívidas, quando os devedores não estão em condições de fazer face aos seus compromissos?

Historicamente, os credores intervinham manu militari para cobrar as suas dívidas, um pouco à semelhança do que acontecia em Roma, antes da Lex Poetelia Papiria de Nexis, onde se reduzia à escravidão o devedor inadimplente.

Um dos casos mais conhecidos, embora haja outros, de cobrança manu militari, aconteceu no início do século passado na Venezuela, quando a Inglaterra, a Alemanha e a Itália, com o consentimento explícito dos Estados Unidos, armaram uma grande expedição naval que bloqueou e bombardeou os portos venezuelanos, para obrigarem o país a pagar as suas dívidas. Valeu à Venezuela a solidariedade latino-americana, nomeadamente do MNE argentino, Luís Maria Drago, que se insurgiu, principalmente nos EUA, contra este tipo de agressões a um Estrado, que não pode perder as suas prerrogativas soberanas, e muito menos ser ocupado ou anexado por outro país, em virtude das suas dívidas – a isto se chama até hoje, no Direito Internacional, a “doutrina Drago”.

E o que acontece hoje, quando um país não pode reembolsar os credores? Apenas três soluções são possíveis:

A primeira é o perdão da dívida;

A segunda é a reestruturação ou o reescalonamento; a dívida mantém-se mas alteram-se os prazos de vencimento, na esperança de que no futuro melhores dias virão;

A terceira é a cessação de pagamentos, pura e simplesmente.

A Argentina escolheu a última solução (cont.).

SOBRE O FMI


SOARES E CADILHE


Vencida a guerra fria, a América governada pelo “imperador” Clinton, a Rússia arrastando-se penosamente sob a batuta etílica de Yeltsin, com o resto do mundo ainda a recompor-se das grandes transformações “tectónicas” da geopolítica internacional, o FMI teve então a sua época dourada, principalmente em África, mas também na Ásia e na América Latina, na aplicação implacável das novas (velhas) receitas neoliberais, convertidas em pensamento único, nunca igualado na sua ortodoxia desde os tempos da contra-reforma.

Além de terem ficado célebres algumas das maiores barbaridades de política económica, ficou igualmente muito conhecida a máxima seguida pelos países em desenvolvimentos submetidos ao incontornável jugo económico-financeiro do FMI. Dizia-se então: eles assinam todos os compromissos que lhes põem na frente para os próximos quatro anos e depois da equipa do FMI levantar voo passam esses mesmos quatro anos a demonstrar-lhe que os não podem cumprir.

O FMI não é nenhum papão, diz Mário Soares. Mário Soares tem uma grande virtude: é sempre igual a si próprio. Não há princípio que o seu pragmatismo considere inviolável; não há comportamento que o seu oportunismo político não acolha.

Ainda há não muito tempo quando Bush governava os Estados Unidos atacava o “pensamento único”, criticava a actuação do FMI em África e na América Latina e até citava Stiglitz para fundamentar as suas opiniões. Pois bem, agora, em vez de erguer a sua voz em defesa dos interesses nacionais contra a prepotência dos grandes agentes do capital financeiro, dá a entender que as receitas do FMI serão razoavelmente aceitáveis, criando psicologicamente as condições para a rendição aos diktats do capital financeiro.


Mário Soares sempre foi assim e assim vai continuar até ao fim.

É também interessante escutar Cadilhe, cuja cabeça está completamente formatada pelas máximas ideológicas desse mesmo capital financeiro, mesmo quando, como banqueiro frustrado embora pessoalmente muito endinheirado, está no lugar de pedinte. Diz Cadilhe que há duas saídas: a honrosa e a desonrosa. A primeira consiste em pagar tudo o que se deve, recorrendo-se numa primeira fase a um imposto transversal e universal, de natureza excepcional, na base de uma taxa igual para todos, sobre os activos líquidos, coisa que não se percebe bem o que seja, embora se depreenda que é um conceito destinado a permitir muitas excepções. A segunda consiste em mendigar uma reestruturação, com perdão parcial, enfim, uma vergonha.

Não adianta discutir com Cadilhe que vive num outro mundo, completamente diferente daquele que os estudiosos da dívida conhecem. Mas talvez valha a pena apontar dois ou três pressupostos de que parte Cadilhe para o compreender.

Além das eternas contas a ajustar com Cavaco, que indirectamente vêm uma vez mais à baila, Cadilhe parte do princípio de que a dívida, qualquer dívida, resulta de um erro de conduta do devedor; em segundo lugar, que num contrato de mútuo somente o mutuário tem responsabilidades e, por último, que toda a dívida têm de ser paga nos exactos termos em que foi contraída por mais leonino que sejam os contratos que a suportam. E, mais, Cadilhe além de estar convencido de que a dívida privada resulta (politicamente) da pública – aqui não há nada a fazer com Cadilhe, só mesmo substituindo-lhe os chips -, acha perfeitamente normal a oscilação da taxa de juro por mais especulativa, onerosa e imoral que ela seja, tanto assim que todas as suas “energias” estão viradas apenas e só para a redução da despesa pública primária, ou seja, a que exclui os juros da dívida (estes, no pensamento de Cadilhe, terão de ser sempre aqueles que os financiadores quiserem).

De facto, de que o país menos precisa nos tempos que correm, é dos conselhos de Soares e da “coragem” e da “honra” de Cadilhe.

Mas como o assunto é mesmo muito sério, vale a pena aprofundá-lo um pouco mais, num post separado, tomando como referência o que se passou com a Argentina, a propósito da dívida, das suas relações com o FMI e da coragem!

sábado, 16 de abril de 2011

ENTRE ROBERT FISHMAN E DUQUES, CANTIGAS, CUNHAS E LEITES, QUEM ESCOLHER?


SALUS POPULI SUPREMA LEX

A guerra trava-se em várias frentes. Todas são importantes. O grande objectivo é garantir a salus populi, suprema lex em tempos de crise. Em que o individual deve ceder sem reticências ao colectivo. Não interessa desprezar certas frentes de luta apenas porque na aparência ou realmente elas podem assegurar alguma vantagem a quem politicamente se contesta, se essas mesmas frentes forem vantajosas para alcançar o objectivo supremo que é o de garantir a sobrevivência da comunidade com dignidade e auto-estima.

É por essa razão que não é assim tão importante sublinhar algumas imprecisões que o artigo de Fishman no NYT possa conter. Numa altura em que Portugal está sendo alvo de um ataque concertado do grande capital financeiro especulativo é muito mais importante defender Fichman e outros artigos entretanto publicados no jornal acima citado do que contestá-los em nome de uma pretensa falta de rigor analítico, deixando via aberta para as teses terroristas daqueles que cá dentro fazem o jogo do inimigo.

Não se trata de defender o Governo, do qual daqui a uns meses ou um ano já ninguém se lembrará, trata-se de fazer a nossa própria defesa, a defesa do povo que vai ter de pagar com o desemprego, com a miséria, com a redução dos rendimentos, com o desinvestimento na educação, na saúde e na segurança social a actuação prepotente e anti-democrática das instituições financeiras internacionais, a soldo do grande capital financeiro e especulativo.

Trata-se de fazer a defesa dos nossos interesses, das pessoas individualmente consideradas, das que vão pagar a crise, contra a acção criminosa das agências de rating, cuja actuação os lacaios do capital financeiro tanto têm enaltecido e subservientemente apoiado, mesmo quando colocados nos mais altos postos da política e da administração pública portuguesa.

É disso que se trata. De lutar contra os duques, cantigas, cunhas, leites, pinas, “adiantados mentais”, “reencarnações do padre malagrida” e outros que agora não ocorrem que diariamente nas TV e nos jornais massacram o povo com as suas profecias apocalípticas e preparam o caminho para a investida do inimigo estrangeiro.

Em poucos países se assistiria impunemente a este espectáculo. Não somente pelo que isso representa de ataque à própria sobrevivência da Pátria, mas também porque a canalha que assim diariamente se exprime beneficia de todas as regalias e mordomias que o sistema é capaz de proporcionar: reformas milionárias; múltiplas reformas por trabalho que não prestaram e por descontos que não fizeram; reformas de dez e quinze salários mínimos por quatro anos de trabalho; aulas a tempo inteiro com lugares nos conselhos de administração de empresas públicas ou que vivem à custa do Estado ou das mais-valias que o próprio Estado num processo de expropriação ou confisco do património público para elas transferiu.

Em qualquer Estado, como a recente crise económica eloquentemente demonstrou, o primeiro valor que se defende em tempo de grave crise não é o indivíduo; é a salus populi suprema lex; é a pátria, qualquer que seja o modo por que o conceito se exprime.

E há quem entre nós reiteradamente atente contra a salus populi, o mesmo é dizer, contra o destino de milhões de portugueses pobres ou remediados que de uma maneira ou de outra vão ter de pagar o resgate imposto nas piores condições possíveis com a colaboração da acção deletéria, traidora e criminosa dos que cá dentro fazem o jogo do inimigo.

De facto, melhor seria que Otelo, em vez do desabafo que proferiu e que tanta celeuma provocou por quem o quis levar à letra, tivesse antes lamentado não ter à agora à mão um bom conjunto de meios de que há trinta e tal anos teve ao seu dispor e nem sempre soube usar com a eficácia devida.

Estado de direito? Democracia? O estado de direito e a democracia estão agonizantes, em fase terminal, num qualquer gabinete do Ministério das Finanças onde, dias a fio, gente que ninguém conhece, com poderes que ninguém legitimamente lhe outorgou, decide, segundo as convicções ideológicas dos interesses que servem, o destino do povo português. Esse o estado actual do estado do estado de direito e da democracia. Melhor: ali jazem o estado de direito e a democracia!

sexta-feira, 15 de abril de 2011

PEC IV - AFINAL O QUE SE PASSOU?


FUNDADAS SUSPEITAS


Embora com PEC IV ou sem PEC IV a situação económico-financeira do país seja grave, muito grave, e nenhuma das soluções até agora encaradas permita olhar o futuro com um mínimo de optimismo, pode ter interesse, quanto mais não seja para desfazer certos mitos, tentar perceber o que se passou em Portugal nas 48 horas que antecederam a apresentação daquele programa em Bruxelas.

A convicção que inicialmente se generalizou com base nos factos que então vieram a lume e outros que tinham ocorrido nas semanas que antecederam o anúncio daquele PEC foi a de que técnicos da Comissão Europeia, eventualmente acompanhados por gente do FMI e do BCE, tinham estado em Lisboa, no Ministério das Finanças, a preparar com o Ministro um novo programa de austeridade, chamado de estabilidade e crescimento, semelhante ao apresentado pela Espanha uns meses antes, numa derradeira tentativa de, por via da sua aceitação em Bruxelas, se convencerem os “mercados” de que Portugal poderia passar sem o pedido de resgate.

Gizado o programa nas suas linhas essenciais, o Primeiro Ministro foi a Berlim apresentá-lo a Merkel e solicitar o seu “agrément”para a aprovação do dito no Conselho Europeu. Embora sem grande entusiasmo, parece que Merkel acedeu em aconselhar a sua aprovação, não sem antes ter obtido de Sócrates a garantia de que se o programa não obtivesse os efeitos esperados Portugal se obrigaria a pedir o resgate.

De regresso a Portugal, Sócrates deu conta a Passos Coelho, na véspera do Conselho Europeu, do programa que nele iria apresentar.

De acordo com o que então veio a público, ficou a saber-se que Sócrates teria feito telefonicamente esta diligência junto de Passos Coelho. Nada então se disse sobre se Coelho havia dado o seu acordo de princípio ao dito programa, ou se Sócrates lhe havia relatado os antecedentes da sua elaboração.

Sabe-se apenas, e este é um dado certo, que Cavaco fora mantido à margem do que se estava a passar e do que se iria passar. E toda a gente percebeu porquê: depois do discurso investidura que Cavaco fizera no Parlamento uns dias antes, ele deixara de ser um parceiro fiável para o Governo. Daí a sua marginalização.

Todavia, com o andar dos dias, e depois de tudo o que entretanto se passou – reprovação do PEC na AR, reunião do Conselho de Estado, dissolução do parlamento, pedido de resgate – ficou a saber-se que afinal Passos Coelho esteve em São Bento a falar com Sócrates sobre o assunto. Houve, portanto, um contacto pessoal e não telefónico.

E ontem soube-se mais: soube-se que todos os deputados do PSD receberam um SMS intimando-os a não falar sobre o PEC que estava a ser apresentado em Bruxelas…para não prejudicar as negociações.

Logo a seguir, de um momento para o outro tudo mudou. Passos Coelho comunicou ao país, a partir da São Caetano, que não o PSD não aprovaria o programa. E a partir daí, foi o que se conhece…

O que determinou este súbito volte-face? Aparentemente, a pressão das “bases” (entendendo-se por bases os que estão no topo) do partido, há muito ansiosas por “ir ao pote”. Daí o dilema perante o qual Passos Coelho terá sido colocado: ou há eleições no país, ou no PSD.

Só que esta tese por muita força emocional que possa ter não convence. Os dirigentes do PSD sabiam que ainda não estava criada no país uma onda que irresistivelmente os lançasse para uma maioria absoluta e simultaneamente empurrasse Sócrates para uma derrota histórica. Por isso, haviam combinado entre si, que o momento em princípio escolhido para derrubar o Governo seria lá mais para o fim do ano aquando da apresentação do orçamento. Ou seja, acreditavam que com a passagem do tempo as sucessivas medidas de austeridade do Governo acabariam por produzir no eleitorado o efeito que tão ansiosamente esperavam.

Há, portanto, todas as razões para supor que as pressões sofridas por Passos Coelho vieram de outro lado. E factos posteriores importantes apontam nesse sentido.

Primeiro facto – É sintomático que o discurso de fundo do PSD na sessão do “chumbo” do PEC tenha sido feito por Manuela Ferreira Leite, que nutre um significativo desdém por Passos Coelho, de que a todo o momento dá provas, como ainda recentemente, ao recusar encabeçar a lista do partido por Lisboa;

Segundo facto – O Presidente da República manteve o mais completo silêncio enquanto a crise se desencadeava, nada tendo feito, absolutamente nada, para a tentar evitar; falou depois da reunião do Conselho de Estado para anunciar a dissolução do Parlamento e mais tarde para apresentar uma rematada asneira quando propôs a concessão de um empréstimo intercalar pela UE…exactamente para que a negociação do resgate fosse feita, mais tarde, pelo novo governo saído das eleições;

Terceiro facto – Passos Coelho nas conversas que entretanto está tendo com o Governo sobre “esqueletos no armário” e “gato com rabo de fora”, na base de questionários mais completos do que os exigidos pelos serviços de emigração dos EUA, está sendo assessorado por próximos, muito próximos, de Cavaco Silva.

Em conclusão: Cavaco calado? Já lá dizia Kant ao considerar como fórmula transcendental dos poderes públicos o princípio segundo o qual: “Todas as acções relativas ao direito de outros homens cuja máxima não é conciliável com a publicidade são injustas”.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

CAVACO E AS ACÇÕES DA SLN

NÃO SE PASSA NADA
Não se passa absolutamente nada cerca de quarenta e oito horas depois de um inspector de finanças, perito no crime financeiro, colaborador da PJ na investigação do "caso SLN,” ter declarado em tribunal que Oliveira e Costa havia comprado 250 mil acções daquela empresa a uma sociedade off shore, Merfield, por 2,1 euros cada, que em seguida as revendeu a Cavaco e à filha por 1 euro, os quais, dois anos mais tarde, as venderam à própria SLN por 2,4 euros! Tudo normal. Absolutamente normal. O silêncio é de ouro.

NOTAS SOLTAS



COMENTANDO AO DE LEVE


1 – Carrilho diz que o congresso do PS só serviu para bajular o líder. Carrilho é, sem dúvida, um dos exemplares mais detestáveis da cena política portuguesa. Vaidoso, incompetente, vingativo, oportunista.

2- Vital Moreira diz que o silêncio de Cavaco é incompreensível. Santa ingenuidade! Cavaco está na luta. Cavaco é parte. Cavaco não está silencioso. Pelo contrário, está a agir. Basta ler e ver os jornais.

3- O Ministro das Finanças da Alemanha diz que Portugal tem de poupar mais. Os submarinos e os bancos alemães têm de ser pagos!

4- Os grandes amigos de Portugal na Europa, Alemanha, Finlândia, Holanda e certamente outros, manifestam-se contra o chamado resgate, fazem subir para níveis estratosféricos as taxas de juros e acham que não têm de emprestar dinheiro a preguiçosos. A Europa connosco.

5 – BCE continua a subir a taxa de juros, favorecendo a Alemanha e prejudicando os periféricos. Viva a Europa connosco!

6- FMI democraticamente legitimado, por eleição indirecta, do PS/PSD/CDS, já tem programa de governo para Portugal.

7- Toda a gente manda neste país, menos os portugueses. Mandam os bancos, mandam os especuladores, mandam as agências de rating, manda o BCE, manda a Merkel, manda o FMI, limitando-se os políticos a actuar como simples agentes subalternos de execução de ordens alheia. Esta "democracia" está deslegitimada, além de estar completamente desprestigiada. Tem de ser regenerada e refundada.

8 – Neste contexto, Portugal não precisa que Cavaco aja, directa ou indirectamente. Cavaco é igual ou pior do que os outros. O que Portugal precisa é de um levantamento popular, democrático e patriótico que restabeleça a dignidade da Pátria, corra com toda esta gente, os de dentro e os de fora, e que sem medo e com coragem assuma nas suas mãos o destino deste país. De algum lado tem de vir o exemplo.


9 -Abaixo a humilhação! Abaixo a chantagem! Viva Portugal!

quarta-feira, 13 de abril de 2011

CAVACO E AS ACÇÕES DA SLN


COMPLICA-SE A VIDA PARA O PRESIDENTE DA REPÚBLICA


Tem de haver uma certa compreensão para com o desabafo de Otelo: “Se eu soubesse que era para isto, não teria feito o 25 de Abril”.

O negócio de compra e venda de acções da SLN, por Cavaco Silva, nunca foi devidamente explicado.

Cavaco crispou-se, ofendeu-se por terem posto em causa a sua honestidade, mas que tem razões de queixa somos nós. Nós, os que vamos ter de pagar uma dívida que não contraímos. Nós, os que vamos ter que pagar o défice de um orçamento que não gerimos. Nós, os que vamos ter de pagar os prejuízos do BPN resultantes de incompetências de que não somos responsáveis e de falcatruas de que não beneficiámos. Sim, nós é que temos razões para estar revoltados. Não é Cavaco Silva, que comprou por um euro acções que tinham custado ao vendedor 2,1! E que um pouco mais tarde as vendeu por 2,2 euros.

Quem o diz não é uma pessoa qualquer, é um inspector de finanças que colaborou com a Judiciária na investigação.

Depois disto o que resta a Cavaco Silva? Muito provavelmente esperar que o tempo passe e o caso volte a esquecer. É assim com todos, por que não haveria de ser com Cavaco?

Este episódio, todavia, marca impressivamente o actual momento político. O clima de degradação moral em que estão mergulhados os políticos do sistema. Qualquer que seja o lado para que a gente se vire é tudo igual!

Por isso, é que isto já não vai lá com paliativos. O remédio tem de ser muito mais radical…

CAVACO - O GRANDE EQUÍVOCO


CAVACO SÓ PODE FAZER O QUE SABE FAZER

De todo o lado chovem críticas ao comportamento de Cavaco, como Presidente da República, na gestão da presente crise.

Uns dizem que ele deve intervir mais, outros que fala de menos e que não sabe usar a palavra. Alguns criticam a interpretação muito literal que ele faz da Constituição. Houve até quem dissesse, perante tanto silêncio, que seria conveniente passar lá por casa, não tivesse acontecido qualquer coisa…

A verdade é que com estas críticas está-se a pedir a Cavaco o que ele não é capaz de fazer. Quem incita Cavaco a agir, ou, pelo menos, uma grande parte dos que incitam Cavaco a agir, quer que ele desempenhe um papel moderador na política portuguesa, entre os dois principais partidos, ajudando-os a encontrar entendimentos, tanto mais que ambos estão de acordo quanto ao essencial.

E que seja na sociedade portuguesa um pacificador e um portador de esperança.

Pedir isto a Cavaco é pedir-lhe o impossível. É claro que Cavaco quer agir. Está ansioso por agir, só que acção que ele tem em mente situa-se nos antípodas da que lhe é pedida.

Cavaco não quer compor. Quer impor. Cavaco não tem condições para pacificar. Pelo contrário, como político, sempre apostou no afrontamento.

Cavaco não acredita naqueles que não reverenciam o seu saber ou que ousam desafiá-lo. Ele tem soluções. Ele sabe o que fazer, por intermédio da sua gente.

Como pedir-lhe então que ajude a compor ou a moderar as posições daqueles em cuja capacidade não acredita, ou porque não sabem…ou porque neles não confia pessoalmente?

Cavaco também tem contas a ajustar. Como se viu pelas três principais intervenções que fez depois da eleição. A campanha e outros episódios passados deixaram-lhe marcas que ele mantém bem vivas. Ele também está em luta…

Quem se recorda – e só não se recorda quem não quiser - do tipo de relações que Cavaco estabeleceu com a Assembleia da República e com os partidos da oposição, durante os dez anos em que foi Primeiro Ministro, logo compreenderá o silêncio de Cavaco.

Não lhe peçam o que ele não pode fazer!

terça-feira, 12 de abril de 2011

AS PROPOSTAS DE LOUÇÃ


A UTOPIA DO CAPITALISMO FINANCEIRO REFORMADO


Louçã acredita no euro. Crê que o euro tem futuro e nós, com ele.

Não é muito de admirar que Louçã pense assim. Infelizmente, a maior parte dos economistas ou tem uma visão puramente ideológica da realidade, para os quais a economia não passa de uma doutrina – atenção: não confundir com uma teoria: esta é construída de baixo para cima e depois aplicada de cima para baixo interagindo permanentemente com a realidade (há até grandes economistas que afirmam a inexistência de uma teoria económica, o mesmo é dizer, a natureza não científica da economia como saber), ao passo que a doutrina não passa de uma elaboração superestrutural aplicada de cima para baixo com vista à obtenção dos resultados desejados – ou, então, não lida com factos, mas com suposições. Nestes, entre a realidade palpável do evento e a expectativa, tende a prevalecer a conjectura em detrimento da realidade.


Evidentemente, há excepções. De todas a mais notável é Paul Krugman. Nasceu pobre, numa zona deserdada de Nova York, e por isso conhece a vida como ela é. Luta pela mudança, mas não engana aqueles por cuja causa se empenha. Seja na América ou na Europa.


Diz ele a propósito do euro, livremente interpretado nas palavras, que não nas ideias: a moeda comum europeia é uma permanente fonte de opressão para as economias periféricas menos desenvolvidas, com défice de competitividade relativamente às economias mais poderosas. A atenuação das consequências que daqui resultam poderia alcançar-se por via de uma reestruturação da zona euro que levasse à criação de uma união monetária semelhante à que existe na América. Tal, porém, não é possível. Em primeiro lugar, porque a UE não tem uma estrutura política equiparável à dos EUA – aqui há uma federação, na Europa uma construção complexa, democraticamente deficitária, com a participação decisiva de elementos federativos em tudo quanto favoreça o interesse dos mais fortes e a persistência de fortes elementos nacionalistas alheios e avessos a qualquer ideia de solidariedade, antes se movendo pela busca obstinada do interesse nacional; em segundo lugar, porque todas as medidas recentemente tomadas para assegurar o “governo económico” da União apontam para um agravamento doloroso da situação dos mais fracos.


Assim sendo, a subsistência da zona euro, pelo menos enquanto os credores não estiverem pagos, vai assentar na permanente deflação dos salários, na eliminação gradual das conquistas sociais ligadas ao trabalho e no aumento do desemprego. E é isso o que vai acontecer a todos aqueles que persistam em continuar no euro no contexto em que ele foi criado e se desenvolveu.


Louçã - disse-o ontem - acredita no euro e na Europa. Não nesta, que falhou, mas na que não pode continuar a falhar.

Depreende-se das palavras de Louçã que a Europa que não falha é a que resolve os problemas de liquidez dos “Estados à rasca”, mediante a concessão de empréstimos de urgência, pelo BCE, a bancos nacionalizados daqueles Estados que depois os repassariam ao respectivo Estado; e o resto resolver-se-ia cobrando impostos aos bancos e obrigando-os a recapitalizarem-se, além da exigência de uma auditoria às contas da dívida pública para se ficar a saber o que não deve ser pago.

É claro que isto como proposta de futuro para Portugal é pouco. Depois, é preciso saber distinguir entre aqueles cartazes com piadas que se exibem nas manifs ou os ditos politicamente brejeiros para apoucar o adversário e as propostas para governar o país. Louçã parece que ainda não se consciencializou da necessidade da distinção.

E também é preciso perceber que a guerrilha como manobra de diversão não tem qualquer sentido. A guerrilha só é eficaz se servir um objectivo estratégico que é o de ganhar a guerra. Para entretenimento lúdico há coisas mais interessantes.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

NOBRE, O GRANDE ARTISTA


SEMEOU E DEPOIS COLHEU, COMO SEMPRE TEM FEITO


Nobre é um grande artista. Nunca foi outra coisa.

Como grande artista que é, desde a Causa Monárquica ao Bloco, passando por Cavaco da década de oitenta até à recente “candidatura independente”, Nobre já se exibiu um pouco por todo lado, com o contorcionismo exigido pela delicadeza dos “números” que em cada momento tem de executar.

Na campanha para as presidenciais, o grande objectivo de Nobre era assegurar a vitória de Cavaco, fazendo de conta que concorria contra ele, retirando espaço e fulgor à candidatura de Alegre. Conseguiu. Com um discurso construído à volta do conceito de homem independente, distante do establishment e do sistema, insinuando a necessidade de um espaço para a intervenção de quem “não suja as mãos”, Nobre obteve um relativo êxito junto do eleitorado politicamente pouco experimentado.

Acontece que Nobre é um homem do sistema, não apenas por agora ter cedido tão sofregamente ao primeiro canto de sereia, mas por nele se situar na pior modalidade que hoje existe que é a de assegurar todas as vantagens que o sistema pode proporcionar através de uma elaborada retórica que hipocritamente o nega. Nobre está naquele grupo de pessoas a que igualmente pertencem empresários, consultores, proprietários de ONG e até comentadores de TV e de jornais que passam o dia a “diabolizar” o Estado e a exigir que se retire para eles próprios poderem actuar com os meios que esse mesmo Estado lhes faculta.

Como aqui se disse a propósito da candidatura de Nobre a Presidente da República: “Nobre tem um percurso volátil orientado de acordo com os apoios de que necessita. Engana-se quem supuser que Nobre se contenta com o simples reconhecimento expresso por umas palmadinhas nas costas como recompensa pelo seu “percurso”. Nobre é muito mais exigente nos apoios que solicita, que têm de ser traduzíveis em actos palpáveis de grande significado prático. Daí as oscilações… Que não se iludam os democratas e socialistas que de boa-fé o apoiam. Nobre está nesta campanha por Cavaco!”.

E agora digam lá se é ou não é um grande artista?

domingo, 10 de abril de 2011

A EUROPA CONNOSCO!



E COMPROMISSO COM PORTUGAL, NÃO HÁ?


Não há dúvida a Europa está connosco. Já vejo Mário Soares a pedir à sua Fundação que inunde as ruas de Lisboa com cartazes e outdoors exprimindo ao eleitor incrédulo os laços fortes e inquebrantáveis que em quase nove séculos de história sempre ligaram portugueses aos finlandeses que desde Afonso Henriques veraneiam nas praias do Mindelo, mas já com time-sharing comprados no Algarve para, no século seguinte, terem um pouquinho mais de sol; aos intrépidos letões que passaram tantos séculos sem saber quem eram, mas que finalmente encontraram o bilhete de identidade há cerca vinte e poucos anos; aos corajosos belgas do plat pays… avec les cathédrales por uniques montagnes; para não falar dos Cavaleiros Teutónicos e da sua inigualável arte para se livrarem de inimigos incómodos e da fidelíssima França que, desde Clovis e o seu baptismo, passando por Napoléon, até ao sapientíssimo Sarkozy, sempre tentou, infelizmente sem êxito, ajudar Portugal a libertar-se do peso dos seus territórios - todos, mas todos sem excepção, estão hoje conjugados numa espécie de “banco alimentar” contra a especulação a fazer o seu melhor para que Portugal obtenha as melhores condições possíveis para lhes pagar o dinheiro que generosamente lhe emprestaram para comprar produtos que só por grande favor lhe venderam ou para obterem a devolução dos seus capitais excedentários cuja colocação financeira em Portugal foi decidida em prejuízo de múltiplas outras operações semelhantes que, por todo o lado, com rendimentos incomparavelmente maiores, poderiam ter sido obtidos como o subprime americano ou as acções do Lehman Brothers.

Citando apenas alguns grandes amigos:

Anders Borg, ministro das Finanças da Suécia: “A opção de atrasar o pedido foi muito irresponsável. Não haverá tratamento especial para Portugal”;

Christine Lagarde, ministra das Finanças de França: “Pedimos a Portugal reformas estruturais que não têm sido muito visíveis e agora é o momento de serem apresentadas”;

Jyrki Katainen, Ministro das Finanças da Finlândia. “Portugal terá de apresentar um pacote de medidas muito estrito ou não tem qualquer sentido garantir empréstimos. Terá de ser mais duro e mais abrangente do que o rejeitado pelo Parlamento. Se fizermos o nosso trabalho como deve ser com Portugal, o risco de contágio contra a Espanha tornar-se-á menor”;

Didier Reynders, Ministro das Finanças da Bélgica: “Estou bastante contente que se possa, a partir de agora, fazer a distinção (entre os três países mais frágeis e os outros);

Klaus Regling, director do FEEF: “A visão predominante do mercado é que este passo delimita as três economias mais fracas da zona euro e isso ajuda a evitar o contágio”;

Olli Renn, comissário europeu para os Assuntos Económicos: “ (Portugal precisará de) um programa multianual, que provavelmente se estenderá por três anos (…) E que deverá incluir um ambicioso programa de privatizações que ajudará a aliviar o fardo da dívida”.

Perante provas tão fecundas de solidariedade e de cortesia europeia, perante tanta acrimónia na forma de lidar com assuntos alheios, é natural que os portugueses, ou, no mínimo, muitos portugueses, sintam uma imensa vergonha por, pelo menos, aqueles que já exerceram funções de Presidente da República não tenham até hoje tido a coragem de assumir “Um compromisso com Portugal” reagindo com indignação e firmeza contra esta imensa humilhação de que o país está sendo vitima, contra essas infames declarações do c….. do Ministro das finanças da Finlândia, da p…da Ministra das Finanças Francesa, do s….do Comissário europeu dos Assuntos Económicos, e tenham antes optado por juntar a sua voz a um apelo para uma dócil, resignada e subserviente execução do Programa do FMI/FEEF!


TU QUOQUE, EANES?

sábado, 9 de abril de 2011

APELO À EXECUÇÃO DO "COMPROMISSO PORTUGAL"


O NEOLIBERALISMO GANHA APOIOS EXPLÍCITOS


O Manifesto que o Expresso hoje publicou assinado por 47 personalidades mais não é do que um apelo à execução do “Compromisso Portugal”, há anos defendido apenas pelos neoliberais declarados.

Mas como não há política neoliberal sem a cumplicidade dos neoliberais ocultos, dissimulados, escondidos, aí estão eles hoje na sua verdadeira pele, fazendo um apelo ao apoio conformado e dócil das políticas do FMI, aplicadas com a mesma rigidez ideológica, o mesmo sectarismo político, a mais completa insensibilidade social, com que, principalmente, a partir do início da década de 90 do século passado, foram aplicadas aos pobres países subdesenvolvidos com as consequências funestas que se conhecem.

Com uma agravante de peso: as mesmas receitas, sem desvalorização cambial.

De nada serviram os muitos milhares de páginas com que Stiglitz (entre tantos outros) descreveu e criticou violentamente as intervenções da execrável instituição. Desse esforço de lucidez em prol dos vindouros resta para alguns dos que por cá então o apoiaram a hipocrisia desse aplauso, imediatamente lançado para trás das costas, quando o problema se passou a pôr no seu próprio país.

O Manifesto é uma vergonha não para a direita neoliberal que o promoveu, nem tão-pouco para os que pela total ausência de carácter já passaram pelos mais diversos quadrantes políticos, desde o salazarismo ao socratismo, nem mesmo para os idiotas úteis que os há em todas as épocas históricas e que medram como ervas daninhas nas conjunturas favoráveis, mas principalmente, muito principalmente, para os que já exerceram altas funções com votos de esquerda e sempre, pelo menos na retórica, se tinham mantido à margem da defesa de tais políticas.

Para estes, a assinatura do apelo à execução concertada e conformada do “Compromisso Portugal”, na versão radical FMI/FEEF, ilegitimamente ditado e imposto pela via anti-democrática e anti-nacional, ficará como uma marca indelével da sua personalidade política, doravante marcada pela duplicidade nas horas difíceis, pela falta de coragem e pela completa ausência de lucidez política sobre as consequências práticas das políticas que defendem.

Hoje, mais do que nunca, é preciso substituir de alto a baixo a classe política que governou Portugal desde a democracia constitucional de 1976!

sexta-feira, 8 de abril de 2011

CONVERGÊNCIA E ALTERNATIVA


ESTÁ NA HORA


Está na hora de a Esquerda se unir e propor um caminho diferente para Portugal.

Nem a União da Esquerda, nem o novo caminho para Portugal são fáceis de alcançar e de trilhar. Mas não há alternativa. Os caminhos que foram seguidos pela democracia constitucional posterior a Abril estão esgotados. É preciso encetar outros.

A recente conjuntura portuguesa marcada pela chamada crise da dívida – um epifenómeno de males muito mais profundos – proporciona essa possibilidade.

O encontro que hoje teve lugar na Assembleia da República entre o PCP e o BE tem que constituir o primeiro passo para uma política de convergência nacional em torno de objectivos comuns, exequíveis e compreensíveis pela generalidade do povo português, que deveriam ter a sua expressão prática numa aliança pré-eleitoral potenciadora do eleitorado de esquerda.

Nessa Convergência, além das forças orgânicas, PCP, BE e PEV, tem igualmente que participar a múltipla Esquerda Independente que, não se revendo completamente naqueles partidos ou não aceitando filiações partidárias, converge com eles na busca de um caminho alternativo alicerçado em políticas e desígnios radicalmente diferentes dos que Portugal tem seguido nestas últimas três décadas.

Começando pela superfície das coisas: os “programas de ajuda e resgate” proporcionados pela União Europeia, com a colaboração do FMI, não têm a menor possibilidade, por maior que seja a austeridade imposta a Portugal, e por mais drástico que seja o ajuste orçamental proposto, de relançar o país na senda do crescimento e do progresso. Não há crescimento com políticas recessivas, nem há nesses programas nenhuma saída para a espiral de endividamento que os seus pressupostos necessariamente impõem.

O que se está passando com a crise da dívida dos países periféricos, mais não é, no fundo, do que o reflexo da grande crise europeia originada pela forte participação na vida económica mundial dos países emergentes. A Estratégia de Lisboa, que visava tornar a União Europeia no espaço económico mais competitivo à escala mundial, não passa hoje de uma miragem, de uma ilusão, que os factos se encarregaram de evidenciar e desmentir.

Posta perante a concorrência dos grandes países emergentes, que passa por salários mais baixos do que os europeus, por menos protecção social e ambiental, mas também pelo conhecimento e, nalguns casos, pelos extraordinários recursos naturais de que são dotados, a Europa, antes de mais nada por imposição do seu próprio capital deslocado em busca de margens de lucros muito mais altas e também por força das doutrinas monetaristas que exigem uma taxa de inflação permanentemente baixa, abriu-se, como inevitavelmente teria de acontecer, aos produtos daqueles países.

As economias mais fortes, mais competitivas e que continuam a dominar as grandes franjas do comércio mundial, resistiram parcialmente ao embate e “empurraram” a parte restante das perdas para os países periféricos, compensando, assim, com o aumento das suas exportações para estes, em mercadorias e capitais, os prejuízos sofridos pela emergência dos novos grandes países na economia internacional. Se é certo que tais perdas podem ser conjunturalmente atenuadas pela excessiva valorização da moeda nalguns desses países, como acontece actualmente com o real, a verdade é que não vai ser por essa via, aleatória e, em larga medida, incontrolável, que o capital procurará resistir ao impacto dos novos tempos. Não vai ser, nem está a ser.

O que o capital está fazendo em cada país europeu é “empurrar” a crise para o trabalho, ou seja, tornando mais competitivo o produto final, a partir de reduções progressivas, mas permanentes, dos custos laborais em todas as suas componentes: salários, saúde, educação, habitação, segurança social e demais conquistas sociais das últimas seis décadas, nomeadamente pela via da extrema flexibilização e precariedade da relação laboral.

E estes efeitos que existem por todo a Europa fazem-se sentir tanto mais fortemente quanto mais fraco é economicamente o país em questão, que é vítima da acção conjugada de dois factores que, embora tendo o mesmo denominador comum, o atingem dramaticamente ao mesmo tempo: os efeitos da periferia já acima referidos, em que o capital dos mais fortes “empurra” a crise para os mais fracos, e a voragem do capital na busca incessante de lucros à custa do embaratecimento do trabalho genericamente considerado.

Perante este quadro, poderia supor-se que, uma certa convergência e acção concertada entre países periféricos, constituiria um primeiro passo para a criação de uma diferente correlação de forças capaz, senão de alterar, pelo menos, de atenuar o rumo das coisas.

Neste blogue, fez-se de certa forma a defesa desta alternativa, mal a crise grega se desencadeou.

Entretanto, o tempo, factores idiossincráticos, a própria lógica de funcionamento do capital, o sistema de dependência hegemónica em que estão inseridos demonstraram que tal hipótese não tem qualquer viabilidade e corria ainda o risco de se transformar ela própria numa simples manobra de diversão que apenas atrasaria a busca de uma verdadeira alternativa.

Por outro lado, a maior proximidade com a Espanha que, em tempos de crise, alguns sempre têm defendido, é desmentida pela história e pela radical separação entre os dois países ibéricos, por muito que outra seja, em certas épocas, a retórica dominante. E há razões para isso: como dizem os bascos, e com razão, não há nada mais parecido com um espanhol de direita do que um espanhol de esquerda.

Os espanhóis e os seus governantes, chamem-se eles González, Aznar ou Zapatero, para citar apenas os mais recentes, continuam a ter na “cabeça” o Carlos V e o Filipe II, que ainda hoje são a matriz da sua política externa na Europa e na América Latina.

Não há identidade possível a partir daqueles pressupostos, agora, como nunca houve no passado.

Acreditar que a Europa pode mudar também não é uma boa ideia. A Europa é a que existe, não há outra Europa. A única diferença relativamente à Europa doutrora, imperial, dominadora e colonialista, é a de a actual estar a viver o estertor da sua própria grandeza. Mas isso não lhe altera a natureza, pelo contrário, agrava-lhe os defeitos.

É, porém, óbvio que Portugal está na Europa. A Europa é a nossa incontornável fatalidade geográfica. E Portugal sempre soube viver com isso. Mas nunca se hipotecou como hoje a uma visão quase exclusivamente europeísta da sua existência. Buscou e alcançou outros equilíbrios. A sul e no mar. E é isso que Portugal tem de fazer hoje: tem de quebrar esta sua relação desequilibrada com a Europa, que arruína a sua existência, põe em causa a sua dignidade e constitui, pela perda permanente da sua auto-estima, pela vulgarização da subserviência, o caminho mais curto para o seu desaparecimento como nação milenária.

Há outras vias e a Esquerda deve buscá-las!


ADITAMENTO

Desta vez até vou usar a primeira pessoa do singular, coisa raríssima neste blogue. Mas como não me sentir honrado se a análise que aqui foi feita da crise na sua relação entre o centro e a periferia é completamente confirmada por este brilhante texto de Paul Krugman?

Mas é claro que esta análise político-económica da crise serve apenas para confirmar a tese de que a Europa não é via, a não ser para os devotos da via-sacra.

Será que não percebem? Será que há um tempo político de percepção dos fenómenos político-sociais muito diferente do tempo normal de intelecção da realidade circundante?

quinta-feira, 7 de abril de 2011

A SITUAÇÃO A QUE SE CHEGOU


AS FALSAS SOLUÇÕES


Enquanto o PS e PSD continuam entretidos numa conversa que seria ridícula se não fosse trágica sobre qual dos dois tem mais capacidade para continuar a afundar o país na busca de falsas soluções, os portugueses assistem atónitos, mas ainda sem perceberem completamente o que se vai passar, a um pedido de “ajuda externa” à União Europeia.

De facto, a conversa com que os dois maiores partidos parlamentares têm alimentado a cena política portuguesa desde que as dificuldades resultantes de opções antigas se tornaram evidentes é muito difícil de ser acompanhada por quem vê nela uma forma de escamotear uma realidade que, nem um nem outro partido, querem encarar com frontalidade.

Como está sobejamente provado não será com as medidas que têm sido preconizadas e adoptadas por um e por outro que o problema se resolve, nem tão-pouco com o alheamento propositado ou não das verdadeiras causas da crise que se encontrará o caminho para a gradual solução das nossas dificuldades.

Nem sempre há certeza das causas de uma crise, nem sobre as medidas que poderiam ser tomadas para a combater e tentar abreviar. Todavia, no actual caso português, a situação é diferente. Sabe-se quais são as suas causas, bem como o que poderia ter sido feito para evitar chegar a esta situação. No entanto, enganar-se-á redondamente quem supuser que as causas são relativamente recentes e que muitas das medidas que por aí se apregoam poderiam ter evitado o que se está a passar e, principalmente, o que se vai passar.

Não adianta reflectir sobre as consequências recentes de certas políticas sem tentar compreender primeiro o incontornável ambiente económico-financeiro que as gerou. Só que para chegar aqui, para chegar a conclusões racionalmente aceitáveis e sustentáveis em juízos de ciência, seria necessário que os principais intervenientes na vida política, aqueles que realmente têm conduzido o país na era da democracia constitucional pós 25 de Abril, abandonassem os seus dogmas, as suas crenças irracionais, conhecessem a fundo a história deste país, e se prontificassem a fazer uma análise séria do “que levou a isto”.

Mas já se percebeu que isso não vai acontecer tão cedo, embora as provações extremas por vezes tragam surpresas e permitam em pouco tempo chegar a conclusões que em condições relativamente menos desfavoráveis levariam muito tempo a ser alcançadas.


Independentemente das medidas de curto prazo impostas pela situação, é politicamente inaceitável continuar a embarcar em aventuras sem futuro que mergulhem o país em longos períodos de estagnação e até de recessão, como agora está acontecendo, sem que deles resulte, como já está provado à saciedade, qualquer hipótese de uma via diferente.

Para compreender o que se está a passar é preciso remontar, pelo menos, a 1992, já que os seis anos que antecederam aquela data são de pura ilusão, fruto de um contexto político -económico único e irrepetível, que nada deve aos “méritos” de quem governava, mas antes consequência de uma conjugação de factores que não voltam a repetir-se e que, em qualquer caso, teriam sempre um efeito efémero.

Enquanto os portugueses não quiserem olhar de frente a situação criada, em consequência da adesão do escudo ao Sistema Monetário Europeu (SME) e, sete anos mais tarde, ao euro, nas condições em que este foi criado e que subsistem inalteradas até hoje, vão permanentemente andar à volta do problema, cada vez mais penosamente, com mais sacrifícios, sem nunca o resolverem.

Verdadeiramente, no plano estrutural só há duas hipóteses: ou a zona euro muda radicalmente as suas regras aproximando-as das vigentes nas grandes zonas económica de moeda única ou Portugal tem de preparar-se para sair do euro (da melhor maneira possível) e, consequentemente, da União Europeia.

Infelizmente, não há terceira via…

terça-feira, 5 de abril de 2011

A ENTREVISTA DE SÓCRATES

A LIÇÃO QUE O PS NÃO QUER TIRAR

Ouvir o Primeiro Ministro não seria certamente um entretenimento excitante. O Primeiro Ministro iria dizer aquilo que se esperava que ele dissesse. É normal e já se sabe como é que as coisas se passam com Sócrates quando insiste numa mensagem. Fá-lo normalmente melhor do que os demais.

A curiosidade estava em saber quem é que a RTP iria pôr a entrevistá-lo, depois da saída da Dama de Sintra e do Carvalho para a TVI. Foi com surpresa que se viu a condução da entrevista pelo representante da RTP em Washington e por uma senhora de que muita gente nunca tinha ouvido falar nem sabe quem é.

Vítor Gonçalves é conhecido, escreveu a Agenda de Cavaco Silva, está em Washington há meia dúzia de anos (ainda lá vai continuar por mais trinta) e ficou muito conhecido no Haiti pela forma corajosa como abordou uma réplica do sismo.

A dita senhora, desconhecida para o grande público, revelou-se muitíssimo delicada na condução da entrevista, actuou como admiradora confessa de José Sócrates e deu a todo o país um grande exemplo de profissionalismo…principalmente quando revelou um segredo que somente lhe poderia ter sido confiado por Belém.

O PS colhe o que semeia. Colocou por todo o lado gente da direita, do mais reaccionário que há, uma vezes (muitas vezes) por iniciativa própria – é preciso nos media quem ataque a esquerda; outras para fazer o frete à direita.

Queixa-se de quê?