O PIOR ESTÁ PARA VIR
Não constitui novidade para quem esteja minimamente informado o resultado das previsões do BP para este ano e para o ano que vem. O que se poderá dizer, com toda a probabilidade, é que o resultado final ainda será pior, como de resto já vem sendo anunciado pelos mentores e fiscalizadores destas políticas (as agências de rating) …
Uma política económica exclusivamente orientada para a obtenção a qualquer preço de um determinado resultado nas finanças públicas pagará certamente um preço elevadíssimo para o conseguir, se é que alguma vez o conseguirá alcançar. Um governo que despreza por completo a economia e tudo faz para a sufocar com a obsessão de alcançar agora um equilíbrio financeiro, ao mais baixo nível, e que age baseado na convicção de que as profundas alterações económicas e políticas que a obtenção desse equilíbrio necessariamente provoca acabarão por ser compensadas lá mais para a frente, constitui um grave erro mesmo do ponto de vista dos interesses que pretende defender, como a realidade se tem encarregado de demonstrar.
Entendamo-nos: esta política sempre seria catastrófica para os trabalhadores e assalariados em geral, além de deixar também mazelas incuráveis no tecido empresarial de pequena e média dimensão, mesmo que ela estivesse a resultar do ponto de vista dos efeitos esperados por quem ideologicamente a defende. Esses efeitos, de resto, já estão à vista na sociedade portuguesa: perda e limitação de direitos sociais, desregulamentação acentuada das relações laborais, perda e diminuição de vencimentos, desemprego em massa, falências e insolvências como nunca se tinha visto entre nós.
Todavia, do ponto de vista do Governo, ou seja, daquilo que se pretendia garantir como pressuposto para uma nova política, esta política até seria apresentada como um um êxito, tal a fúria ideológica neoliberal com que tem sido posta prática, se ela economicamente estivesse a resultar na estrita perspectiva de quem a gizou e executa. Acontece que a política falhou, não obstante os estragos conscientemente produzidos pelos seus mentores e executores. A prova disso é que a um ano de recessão se seguirá nova recessão ou, na melhor das hipóteses, estagnação com acréscimo do cortejo de misérias que este primeiro ano já provocou.
E é bom sublinhá-lo para que não haja dúvidas: recessão em 2013 significa uma queda do produto superior à do PIB de 2012 relativamente ao de 2011, que já não era nada recomendável! E estagnação significa que tudo continuará como em 2012, ou seja, mais miséria!
Para além desta conclusão global, há muito antecipada, mas que agora está a ser confirmada pelos factos, há asneiras de palmatória mesmo para um fanático neoliberal como Gaspar. Que ele acredite na Virgem ou na Fada da Confiança e tenha por certo que das malvadezas com que fustiga os portugueses no presente resultará uma economia renascida no futuro, é algo que ainda se poderia aceitar como cegueira ideológica. Agora, o que não se percebe é que ele tenha recorrido ao fundo de pensões da banca para apresentar um défice fictício em 2011, ou dizendo as coisas como elas são, para falsificar o resultado do défice e não tenha previsto no orçamento de 2012 as consequências financeiras daquela transferência. Assim como também não previu a queda da receita fiscal, que qualquer aprendiz de finanças públicas antecipadamente sabia que iria acontecer, quanto mais não fosse no primeiro ano das políticas de austeridade. Se quanto aos anos seguintes ainda se poderia desculpar com a Fada da Confiança, no primeiro ano a falência dessa previsão, mais que do que cegueira ideológica, é burrice pura!
Perante este quadro trágico e negro o governo, este Governo, só tem duas hipóteses: ou recuar ou seguir em frente, aprofundando o que está a fazer.
Pela fraca oposição que o povo português lhe está fazendo, muito favorecida pelo estilo manso e aparente ausência de arrogância do PM, bem como discurso anti-emocional de Gaspar de aparência racional, também não é preciso ser bruxo para adivinhar o que vai acontecer: o Governo vai aprofundar o que está a fazer com novas e graves medidas de austeridade, agora todas do lado da despesa!
E já se está preparando o quadro para isso. Uma legião de comentadores, desde a insuportável Cristina Azevedo à Maria João Avilez (que é uma espécie de Eduardo Barroso dos governos de direita), passando pelos habituais, recorrentes ou reconvertidos palradores televisivos, todos eles descobriram agora as excelsas qualidades de Passos Coelho como líder político, ele que, de apagado e impreparado Primeiro Ministro, passou a ser portador das mais variadas virtudes políticas, sempre subliminarmente sublinhadas por contraposição ao seu antecessor, agora em fase de intensa diabolização.
E nesta mesma linha, o PSD, tanto no Congresso como pela voz dos seus principais dirigentes, perante o fracasso evidente das políticas postas em prática, desencadeou uma intensa campanha contra as anteriores governações socialistas, responsabilizando-as por tudo o que está acontecer.
E apresentam como sucesso (!!!?) a ligeira quebra da taxa de juro nos empréstimos a 18 meses, ou seja, uma consequência da política monetária do BCE que, entre Novembro e Janeiro, pôs em circulação um bilião de euros para salvar a Espanha e Itália e também para acudir a um sistema bancário europeu maioritariamente falido! Ou seja, a música vai ser: não fora a herança que o PS nos deixou…
Na continuação da linha que tem sido seguida, o próximo ataque será indubitavelmente às despesas sociais, já que não é ideologicamente condizente com o neoliberalismo esperar um aumento dos impostos.
Para terminar: evidentemente que há no PS e com o PS um grave problema. Porventura o mais grave problema da sua história. Um dia destes, no Público, Francisco Assis esboçou uma análise. Apesar de bem escrita e de ter ido muito além daquilo que é hábito no partido, ela é ainda muito insuficiente. Mas esse assunto fica para outro dia…