sexta-feira, 9 de março de 2012

AINDA A PROPÓSITO DO PERDÃO DAS DÍVIDAS NO DEUTERONÓMIO



A QUESTÃO VISTA À LUZ DO VELHO TESTAMENTO



Como no post anterior se dizia, o Deuteronómio, que faz parte do Pentateuco, consagra de facto o ano de perdão das dívidas, o chamado ano sabático. Tal como o Sábado é o tempo de Deus, também o ano sabático, que ocorre de sete em sete anos, é sinal de que “Deus é o único Senhor da natureza e da Terra de Israel”.

Mas é curioso analisar como a questão é abordada nos “Textos Sagrados”. O Senhor ordena que no ano sabático não seja exercida nenhuma violência contra o próximo nem contra o irmão, mas não já contra o estrangeiro a quem as dívidas continuarão a ser exigidas.

O Senhor também defende que não deve haver pobres entre o seu povo (o povo eleito), porque Ele abençoará a terra que “te há-de dar em herança para a possuíres”, desde que todos os preceitos sejam respeitados e cumpridos tal como são ordenados.

E se assim for feito, o “Senhor te abençoará como prometeu: poderás emprestar a muitos povos, mas não terás necessidade de pedir emprestado; dominarás muitos povos, mas eles não te dominarão”.

E, finalmente, neste versículo relativo ao perdão das dívidas, é feito ainda um apelo muito forte para que não deixem de ser ajudados aqueles (irmãos) que necessitem de ajuda. “Empresta-lhe sob penhor, de acordo com a sua necessidade, aquilo que lhe faltar”. E logo o Senhor adverte: “Guarda-te de alimentar no teu coração um pensamento perverso, dizendo: “O sétimo ano, o ano do perdão das dívidas, está próximo”, recusando-te sem piedade a socorrer o teu irmão necessitado”.  

Numa interpretação puramente exegética, mas nunca esquecendo a carga simbólica destes textos, parece, de facto, haver dois regimes: um para o povo eleito, outros para os que a ele não pertencem.

O perdão das dívidas entre o povo de Israel e a ajuda fraterna parecem ser condições indispensáveis para se ser bafejado pela graça divina que oferece como recompensa o domínio sobre os outros povos.

Os que não pertencem ao povo eleito vão, portanto, ter que fazer pela vida e com ou sem a graça divina terão de encontrar forças suficientes para impor a sua própria lei – a lei universal da sobrevivência, amaldiçoando aqueles que, entre os seus, defendem o interesse estranho.

1 comentário:

jvcosta disse...

Este blogue virou humorístico?
Claro que estou a brincar. É que, dizendo coisas sérias, este "post" tem muita graça. Se não me falha o latim a que o meu avô me obrigou, "ridendo castigat mores".