quarta-feira, 4 de abril de 2012

A TROIKA, O CDS NO GOVERNO E AS MANOBRAS DE DIVERSÃO DE SEGURO





A TROIKA
Peter Weiss, elogiou a consolidação do ano passado, frisando que o ajustamento estrutural que Portugal se propõe realizar este ano é “enorme”.



Um tal Peter Weiss, em representação da Troika,  debitou em Bruxelas um conjunto de apreciações sobre a execução do Memorandum e outras tantas “recomendações” imperativas sobre o que Portugal deve ou não fazer.

Deixando de parte essa questão já rotineira de um qualquer burocrata de Bruxelas se pronunciar sobre os assuntos portugueses com mais autoridade do que as autoridades eleitas pelos portugueses, o que aliás só vem confirmar a tese da profunda crise da democracia representativa, convém sublinhar, de tudo o que foi dito, três questões.

A primeira tem a ver com o desemprego que no mês passado atingiu os 15%. Diz o dito burocrata que ficaram em Bruxelas um pouco surpreendidos com a subida da taxa de desemprego e que ainda têm dificuldade na sua interpretação. Mas quais são as preocupações da Troika? Que as pessoas tenham ficado sem emprego e estejam a passar mal? Isso é coisa que nem lhes passa pela cabeça. A primeira preocupação é perceber o que se passou – saber se aquele aumento foi ou não consequência da alteração das regras de concessão do subsídio de desemprego (que passou, como se sabe, de 38 para 26 meses e que Bruxelas quer fixar nos 18 meses) o que poderia, segundo Bruxelas, ter levado os trabalhadores (!!!?) ou as empresas (!!!?) a antecipar o despedimento)  – e  a segunda preocupação é o peso que esta “subida imprevista” possa ter na execução orçamental deste ano.

Estas as preocupações de Bruxelas: averiguar se a causa da subida do número de desempregados está relacionada com a alteração das regras de atribuição do subsídio para, se for esse o caso, da próxima vez atribuir efeitos retroactivos às alterações que venham a ocorrer e, em segundo lugar, onde se vai buscar o dinheiro para compensar a subida da despesa causada pela atribuição do subsídio de desemprego a um número bem maior de dempregados. Pessoas, gente, seres humanos, é coisa que não é para aqui chamada….

A segunda tem a ver com a mentira descarada sobre a previsível redução da tarifa da electricidade depois da privatização da EDP. Numa altura em que os portugueses estão a braços com uma pesadíssima factura da energia eléctrica – basta consultar os múltiplos ónus (os do feudalismo sobre a terra ao lado destes eram uma brincadeira de criança!) que pesam sobre o consumo propriamente dito da electricidade – e estão a correr o sério risco de a verem substancialmente agravada para fazer face à ”dívida” dos múltiplos subsídios que cevam as contas bancárias dos accionistas, Mexias e quejandos, vir dizer que energia vai ficar mais barata é uma grave ofensa a todos os fazem enormes sacrifícios para no fim do mês a pagarem!

A terceira, que é própria dos fanáticos e da dificuldade que eles têm em mentir sobre o objecto da sua crença, tem a ver com o corte definitivo dos subsídios de férias e de Natal. O homem de Bruxelas admitiu expressamente essa possibilidade e aqui falou verdade. O Governo pensa exactamente o mesmo. Só que ainda não o pode dizer, embora, quando Gaspar fala em “medidas estruturais transitórias”, esteja a dizer exactamente o mesmo. Por uma questão de decência para com o Tribunal Constitucional não podem neste momento ser tão explícitos, por mais que o TC esteja disposto a todos os fretes…Portanto, os desmentidos não valem nada. Aliás, a inconstitucionalidade, nomeadamente a que respeita ao corte das reformas, não depende da sua transitoriedade ou permanência. Resulta da quebra de um compromisso contratual para cuja prestação uma das partes contribuiu ao longo da vida activa com dinheiro e trabalho.



O CDS NO GOVERNO



Enquanto os de Bruxelas iam dizendo o que todos ouvimos, os de cá fizeram questão de não lhes ficar atrás. Ou não fossem eles os “bons alunos do insucesso escolar”.

Neste particular, se o actual PSD se distingue por um inesperado fanatismo ideológico que nem sequer quadra bem com o seu habitual pragmatismo de que foram fiéis intérpretes Dias Loureiro, Duarte Lima, Valentim Loureiro e tantos outros, com alguns discípulos entre os membros deste governo, já o mesmo se não poderá dizer do CDS, que, não tendo nunca nem na sua prática nem na sua composição rejeitado a matriz donde proveio, se caracteriza hoje por uma especial perversidade.

O CDS, não apenas a coberto do preconceito ideológico de que alguns falam, mas principalmente do racismo social, ou talvez mais correctamente da segregação em função do património, tem uma desconfiança visceral relativamente a tudo quanto é pobre ou a todos aqueles que por força dos azares da vida ou da crise se encontram numa situação difícil.

A todos estes o CDS ataca com especial ferocidade: da morte ao subsídio de doença passando pelo rendimento social de inserção nada escapa ao CDS. Todos os tostões são úteis para acrescer ao bolo daqueles para quem, em última instância, são transferidos.

Os pobres, os desempregados, os sem-abrigo são para o CDS malandros, preguiçosos ou aldabrões que não querem trabalhar e só pensam viver à custa da sociedade, enganando-a.

A pretexto do combate à fraude de tostões, o CDS pela mão do justiceiro M. Soares resolveu cortar parte das migalhas com que o Estado deficientemente atendia àquelas situações. Da fraude de milhões não cura o CDS, nem o seu fervor justiceiro. Não vá o diabo tecê-las nos Panduros, nos helicópteros ou nos submarinos ou ainda nos mil e um subsídios sem controlo atribuídos à “lavoura” ou a outros empreendedores.


Para combater a pequena fraude todos os argumentos valem, sendo o mais caricato de todos os “sinais exteriores de riqueza”. Mas nem aqui o CDS tem qualquer originalidade. Tudo isto é velho e já levado à prática noutros locais com a mesma cantilena por encartados reaccionários. Basta recordar os ataques de Reagan à segurança social e o famoso exemplo da “preta do Bronx” que se deslocava de Cadillac à loja da esquina para comprar leite. Só que nem a “preta” nem o “Cadillac” alguma vez foram mostrados…

Entre nós, o alvo privilegiado do CDS são os ciganos e depois todos outros que se encontram em situação de extrema necessidade.

Que dizer desta retaliação em larga escala para obstar a uma ou outra eventual situação ilícita? Onde é que nós já vimos isto?


AS MANOBRAS DE DIVERSÃO DE SEGURO



Enquanto tudo isto se passa, o secretário geral do Partido Socialista anda muito preocupado na demonstração da legitimidade de umas tantas alterações estatutárias que pretende fazer ou já fez e mais ainda na defesa da sua honra, atingida por umas brincadeiras de Rebelo de Sousa.

De facto, é preciso estar completamente fora da realidade…ou, quem sabe, bem de acordo com ela, para andar a perder tempo com o que não interessa e a desprezar o que realmente é importante para os portugueses.

Não vale a pena poupar nas palavras: Seguro tem contra si, enquanto dirigente do PS, a proximidade política a Passos Coelho, de que são tristes exemplos a abstenção na votação do orçamento, a abstenção na votação de um pacote laboral que fez regredir as relações de trabalho para a fase pré-marcelista e a mais que provável aprovação da famigerada “regra de ouro” ou “pacto fiscal” ou lá o que lhe queiram chamar, que acorrentará Portugal à aplicação política de uma doutrina económica. Algo que há muito, muito tempo, se não via na Europa.

Supondo que Seguro tem plena consciência do que está a fazer na liderança do PS só resta concluir pela sua cumplicidade com a tragédia em curso!

2 comentários:

jvcosta disse...

Andamos sempre à compita, com posts em que os bons espíritos se encontram. Desta vez ganhei-te por 5 horas ;-)

Luis Eme disse...

a coisa está de facto a escurecer.

esta direita está mesmo a meter a democracia no bolso, com o silêncio do PS do (in) Seguro.