O AFUNDAMENTO GRADUAL
DE PORTUGAL NO MUNDO
Não sei o que ditou a expulsão dos juristas portugueses em
Timor Leste nem o que terá levado este país a dispensar apressadamente os
magistrados portugueses que lá prestavam serviço.
Machete, pelos vistos, também não sabe já que continua à
espera de explicações do governo timorense.
Também nunca fui minimamente permeável àquela onde passional
que na segunda metade da década de 90 do século passado emocionou Portugal como
se de um problema do mais estreito círculo familiar se tratasse. Por isso também não me sinto traído por ingratidão. O meu problema é outro.
A independência das pessoas e dos países é uma dura luta,
constante, persistente e penosa que não se compadece com essa compaixão falsa
ou verdadeira com que hoje se pretende substituir o sacrifício pela dádiva.
Portugal era até há bem pouco tempo um exemplo de quão difícil é num quadro
completamente adverso manter a independência. Um objectivo que exige muita luta
e sacrifícios de toda a ordem apenas compensados pelo prazer de caminhar de
cabeça erguida sem subserviências nem servilismos.
Pois bem. Os exemplos que hoje diariamente nos chegam da
posição de Portugal no mundo infirmam por completo este trajecto durante
séculos calcorreado com tantos sacrifícios.
A ligação de Portugal à Europa, primeiro como panaceia para
todos os nossos males, e depois à Europa do euro, com o servilismo que desde há
cerca de 5 anos se começou a evidenciar aos olhos de todos, constituem a razão
profunda da situação de decadência em que nos encontramos.
Um Estado que saiba garantir na cena internacional um mínimo
de dignidade não é tratada com o desprezo e arrogância com que Timor Leste
tratou os representantes de Portugal.
Esta ligação à Europa que nos sufoca e nos destrói como povo
e como Estado não pode continuar. Portugal é hoje um país muito mais fraco e
vulnerável do que era antes de se ter enleado nesta teia de normas e
comportamentos impostos de fora que nos retiram espaço para uma política
autónoma e digna.
Que é que isto tem a ver com Timor? Tem tudo a ver. Portugal,
por força da situação em que se encontra na Europa, como simples protectorado do
capital financeiro e especulativo, é hoje um Estado desprestigiado e sem
qualquer peso que ninguém desde o Brasil a Timor Leste, passando por África,
verdadeiramente respeita.
7 comentários:
Sem contestar nada do que escreveu, tenho um pensamento muito meu: juízes portugueses a fazerem julgamentos em tribunais timorenses é tanto de tolerar como aceitar que a Angela Merkel venha ao TC decidir das medidas que nos vai impondo. Ou ela, ou qualquer juiz alemão...
Parece que há uma disposição constitucional que permite isso. Mad não creio que isso seja o que está em causa. Essa possibilidadede juízes estrangeiros julgarem em Timor já existia antes deste episódio. O que está em causa é o modo como tudo se passou. Que Timor entenda que não quer mais julgamentos feitos ao abrigo da sua soberania por nacionais de outro país, nada a opor. Só que essa mudança não se processa assim. Com ultimato e ordem de expulsão em horas. Isso só acontece porque Portugal não conta. Nem sequer o fizeram por inimizade para connosco, mas por simples desprezo.
Ainda a propósito da Merkel e do objecto deste post: Ela na prática já se comporta como um verdadeiro presidente federal. Emite ordens e recomendações vinculativas aos Estados membros mais "frágeis" com mais à vontade do que o faz relativamente à Baviera. Ainda agora acabou de opinar (vinculativamente....) sobre a nossa política de ensino e a sua relação com o emprego. Isto tem de acabar independentemente de estar certo (ser o nosso interesse) ou errado (ser do interesse dela) o que ela diz.
Passional? Emocional, vá? Este poste, em minha opinião. E um pouco, se me permite, feicebuquiano (não é elogio, nem deles precisa, mas...).
Primeiro, os juristas em causa são, a meu ver, cooperantes portugueses, não são 'representantes de Portugal'. Faz toda a diferença...
Segundo, pôr juristas estrangeiros a exercer a função soberana de julgar não lembraria ao... careca (na minha terra dizia-se ao diabo, mas acho que este está de baixa). Lembrou a Timor, pelos vistos, e às autoridades portuguesas. O resultado está aí, à vista...
Terceiro, pelo feicebuquiano e comentando já o comentário que precede: a Frau Merkel não disse bem o que os jornais dizem que ela disse...
Conclusão, para mim mesmo: é preciso, é prudente, dar desconto aos meios. E ao tempo (no sentido de deixar assentar a poeira)...
Não será?
Quem disse que os cooperantes não são representantes de Portugal? Os cooperantes têm um estatuto a que devem obediência. Não estão lá por conta própria. Não são uma espécie de ONG individual.
A questão de a justiça ser aplicada por estrangeiros está, ao que me dizem, prevista na Constituição. Aliás, mesmo em países tão ciosos da sua independência, obtida a duras penas, como Moçambique, havia no princípio portugueses, como cooperantes, a exercê-la.
De qualquer modo o problema não está em Timor chamar a si a aplicação da justiça. Isso é inquestionável, qualquer que seja o sentido dessa decisão. Um sentido sobre o qual não temos que emitir juízos de valor, mesmo conhecendo as verdadeiras razões da decisão. A questão para mim está no modo como as coisas se passaram. Não seria normal entre países com alguma proximidade. Acontecendo, há que compreender as causas. Só isso.
Para finalizar, foi obviamente passional o que se passou em Portugal com Timor. Consequência do mito do Império perdido que a direita conseguiu repor na ordem do dia ao voltar a discutir a descolonização completamente fora do contexto em que ocorreu, como algo que desresponsabilizava o colonizador e culpava o descolonizador. Quando o descolonizador, o verdadeiro, descolonizador foi o que lutou de armas na mão contra o colonizador, derrotando-o: "Não se pergunta a um escravo que pegou em armas para se libertar, se quer ser livre", disse Samora Machel aos enviados de Spínola que ensaiaram "vender" em Moçambique a tese do referendo...
E quanto a Merkel, sim, Merkel apenas está preocupada com as finanças e com a economia da Alemanha. Tudo o que nos “países problemáticos” puder pôr em causa a estabilidade financeira e económica da Alemanha fá-la intervir onde não deve, directa ou indirectamente.
Não concordo!
Não vejo que estreita ligação possa haver entre a pertença à UEM e as atitudes de achincalhamento a que algumas ex-colónias se permitem. O que estes quase proto-estados vêm em Portugal é a ausência de têta por um lado e por outro a pueril ambição de constituir uma comunidade de qq coisa que lhe sirva de compensação, uma espécie de "interland", ao complexo de pequenez instilado no tempo do "Estado Novo" (quem não se lembra de "Portugal não é apenas o pequeno rectângulo ...."?). Passou-se agora com Timor, já se passou com a Guiné, noutros termos com Angola etc etc. Nestas coisas os portugueses balançam entre o paternalismo e a subserviência, e dá nisto. Finalmente parece que estão entender a conta em que os brasileiros têm a sua fraterna relação com Portugal.
As "liberdades" que a srª Merkel se permite são bem mais civilizadas e, afinal, sempre é ela que tem a chave do cofre!
lg
Um comentário de Ig a tresandar a colonialismo bacoco e sem peias.
Achincalhamento?
Ou direito soberano dum país decidir o seu destino, como o molda e como o processa?
Proto-estado?
Ou complexo colonial mal digerido e embrutecido pelo facto de novos países quererem singrar como países novos, sem a submissão devida ao império colonial?
Tudo isto rematado pela defesa da "civilidade" duma merkel, a exemplificar o carácter pusilâmine, grosseiro, submisso e invertebrado de alguns perante aquela coisa que governa a europa em nome dos grandes interesses que serve.
Com a "justificação" que é ela que tem a chave do cofre.
Cheira a prostituição barata ou a proxenetismo militante.Este último da parte de merkel ,claro
Nota : ler por favor o último post do autor deste blog, também sobre Timor. Exemplar.
De
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