sexta-feira, 30 de outubro de 2015

A ENTREVISTA DE JERÓNIMO DE SOUSA A ANA LOURENÇO

O PODER SEM FANTASIAS

Não contava escrever sobre esta entrevista. Tudo me pareceu tão fácil de interpretar …mas afinal não foi. Tenho ouvido e lido as mais díspares interpretações sobre a entrevista. E pior do que isso tenho pressentido estados de alma com que também não contava, que vão desde a indisfarçável depressão à euforia de quem afirma “eu não dizia…”.

Há até quem cite filósofos, um dos mais importantes nomes da filosofia política, para a partir daí concluir que Jerónimo não está à altura das circunstâncias. Uns dizem que lhe falta a Virtu outros a Fortuna que Maquiavel tanto enfatizou.

Como Maquiavel, o primeiro grande nome da modernidade, me é bastante caro por tudo o que lhe devemos na compreensão da política, achei que não deveria manter-me à margem deste debate, apesar, como já disse, de tudo me ter parecido demasiado óbvio e justificável.

O que Jerónimo ontem disse foi o que outros, que nem ao Partido Comunista pertencem, se não têm cansado de dizer. A saber: o que está em discussão com o PS é a negociação de um programa mínimo que incide fundamentalmente sobre os rendimentos.

A negociação e futura aplicação de um programa desta natureza tem consequências macroeconómicas que ninguém pode negar. Mas Jerónimo não acalenta ilusões. Sabe que há constrangimentos que pesam negativamente sobre a economia portuguesa e o futuro do país como Estado soberano. Jerónimo não aceita que esses constrangimentos se traduzam na limitação do Estado social, no corte das pensões nem na diminuição dos rendimentos do trabalho.

O PS também não quer estas consequências. Essa é aliás a essência da sua crítica à governação de Passos Coelho. Esse foi sempre o discurso de António Costa. Logo, algo de novo surgirá…

O que Maquiavel trouxe de novo à política foi o realismo. Encarar o poder como ele realmente é. Sem fantasias nem moralidades. E além disso a crença na vitória do novo sobre o velho.

Só quem não compreendeu a entrevista pode ter ficado decepcionado ou, pior ainda, ter considerado que Jerónimo não esteve à altura do que as circunstâncias exigiam.


Quem esperava foguetes e champagne continua a olhar a política numa perspectiva pré-maquiavélica. 

O que de certa forma não admira porque estamos todos, uns mais outros menos, muito contaminados pela mediocridade do comentário político que por ai se vai fazendo.

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

AFINAL, QUEM RESPONDE PELA DÍVIDA DA TAP?




O QUE GANHOU O ESTADO COM A PRIVATIZAÇÃO?


Como todos certamente nos recordamos, embora convenha relembrar porque há sempre quem se esqueça, a TAP foi “oferecida” a um “comprador” estrangeiro com base em duas razões muito divulgadas, ou, se quisermos, talvez três.

Primeira – o novo dono da TAP iria responsabilizar-se pela dívida da empresa, desonerando dessa responsabilidade o Estado Português;

Segunda – o novo dono da TAP iria recapitalizar a empresa com várias centenas de milhões de euros,

Terceira - o Estado Português à luz do direito comunitário não teria margem de manobra para capitalizar a empresa, a menos que procedesse a uma profunda reestruturação (despedimento em massa de trabalhadores; eliminação de rotas; diminuição radical de meios aéreos) que lhe alteraria por completo a fisionomia; deixaria de ser a TAP para passar a ser, no dizer do PM, uma Tapezinha.

Pois bem, pelo que se conhece, a partir do que a imprensa vai publicando, as dificuldades para concluir o processo de privatização não cessam de aumentar, em consequência exactamente da dívida da empresa.

Convém por isso recapitular alguns factos para tentar compreender o que está em causa.

O primeiro responsável pela dívida da TAP é…a própria TAP. Nem de outro modo poderia ser. Se fosse, isso significaria uma de duas coisas: ou que o Estado tinha assumido integralmente a dívida, pondo a empresa à venda livre de passivo; ou que o comprador a teria assumido como principal devedor. Ambas as hipóteses são inverosímeis, se não mesmo absurdas. Nem o Estado Português tinha condições para pôr à venda a empresa sem a dívida, nem haveria nenhum comprador que estivesse disposto a adquiri-la mediante a assumpção pessoal da sua dívida, independentemente de outras considerações que abaixo serão referidas.

Assim sendo, o que o negócio da privatização, no essencial, consubstanciava era, como acima dissemos, a venda da empresa por um valor meramente simbólico a troco da obrigatoriedade da sua recapitalização e da substituição da responsabilidade do Estado pela do novo comprador.

De facto, a TAP como empresa pública é propriedade da Parpública que, por sua vez, é propriedade do Estado Português. Enquanto a TAP se mantiver no domínio público pelas suas dívidas responderá em primeira linha a empresa, subsidiariamente ou solidariamente, conforme os contratos, a Parpública e pelas responsabilidades desta o Estado Português.

Ora, a privatização pressupunha a transferência desta responsabilidade para o novo comprador. Só que essa transferência não é algo que esteja na exclusiva dependência da vontade do comprador e do vendedor. Não se muda de devedor sem o assentimento do credor. E aqui é que está o problema.

O problema parece estar no facto de os credores da TAP não quererem prescindir da responsabilidade do Estado Português. Aliás, segundo se diz, haverá dívidas que se vencem imediatamente se o Estado Português deixar de ter o controlo da empresa.

Perante este imbróglio, ou seja, perante a intransigência dos credores (bancos) em prescindir da responsabilidade do Estado Português, como elemento determinante da renegociação da dívida, é caso para perguntar, a ser assim, o que ganhou o Estado Português com a privatização?

De facto, sendo a TAP actualmente uma empresa quase sem activos e ficando doravante o seu controlo entregue ao comprador, a posição do Estado Português, se mantiver em última instância a sua responsabilidade pela dívida da empresa à data da privatização, será consideravelmente pior e muito mais vulnerável do que aquela que actualmente tem.


Daí a pergunta: o que ganhou o Estado Português com a privatização da TAP?

CAVACO E O RESTO DA DIREITA

AS DUAS POSIÇÕES DA DIREITA

O resto da direita está dividido quanto ao discurso de Cavaco. Simplificando, pode dizer-se que os apoiantes de Marcelo Rebelo de Sousa afirmam que do discurso se não pode deduzir que Cavaco não dê posse a um governo de António Costa, se houver uma maioria parlamentar que o apoie com base num acordo. Enquanto, a outra parte, mais fiel aos princípios que a regem, entende que o discurso de Cavaco se situou no âmbito dos seus poderes constitucionais, sendo, portanto, igualmente legítimas qualquer das opções que com base nele venha a adoptar.

Os apoiantes de Rebelo de Sousa não querem defrontar-se com a situação de o seu candidato ser obrigado durante a campanha eleitoral a ter de responder sobre o que fará uma vez eleito. Se Cavaco deixasse perpetuar até ao fim do seu mandato o governo rejeitado de Passos Coelho, Rebelo de Sousa não tinha como fugir à pergunta do que fará ele uma vez eleito: dissolve o Parlamento e marca novas eleições ou dá posse a um governo que goze de apoio parlamentar maioritário? Perante esta situação, Marcelo não pode esquivar-se. Vai ter que tomar posição e ambas as respostas o prejudicam, como mais ainda o prejudicaria a ausência de qualquer resposta.

Pelo contrário, os outros, entre os quais se conta Santana Lopes, embora reconheçam que o discurso de Cavaco teve o efeito perverso de ajudar a unir a esquerda, não deixam de sublinhar que as palavras de proferidas pelo Presidente da República aquando da indigitação de Passos Coelho se situaram no âmbito da constitucionalidade e não são assim tão diferentes das que outros presidentes, no passado, igualmente proferiram perante situações semelhantes, devendo atribuir-se a uma campanha orquestrada pela esquerda a ideia de que o discurso de Cavaco se situa fora dos poderes presidenciais.
Quanto à posição de Rebelo de Sousa e dos seus apoiantes, pouco haverá a dizer. Marcelo afirmou durante anos que o candidato presidencial de direita só poderia ganhar a eleição presidencial se tivesse capacidade para cativar cerca de dez por cento do eleitorado que tradicionalmente vota à esquerda ou se o candidato da esquerda fosse muito fraco. É essa a estratégia de Marcelo. Ela passa, primeiro, por dividir a esquerda e depois por tentar seduzir aquela parte do voto da esquerda que se situa mais à direita. Portanto, para Marcelo nada melhor do que Cavaco dar posse a António Costa, se a rejeição de Passos se confirmar. E nada pior do que a manutenção em funções de um governo de direita rejeitado.

Já quanto àquela parte da direita, mais fiel aos seus princípios antidemocráticos, que admite como igualmente válidas e politicamente aceitáveis qualquer das decisões que Cavaco venha a adoptar, no fundo o que essa direita verdadeiramente pretende é que Cavaco não dê posse a António Costa, mantenha Passos em gestão até ao fim do seu mandato e que o novo presidente convoque novas eleições para serem ganhas pela direita. Estes são os três objectivos que a direita tem em vista e todos eles assentam num único pressuposto: a esquerda não tem legitimidade para governar. Pode ter assento no Parlamento, até convém que tenha, mas governar está fora de questão.

Santana Lopes, agora bem mais próximo do Santana Lopes que conhecemos nos fins da década de setenta e durante a década de oitenta do século passado, é o que melhor e com mais clareza exprime este pensamento. Claro que Santana Lopes, como não é tão ignorante como Cavaco e como também conhece os meandros do direito constitucional, procura refugiar-se em pretensos lugares paralelos da história da democracia portuguesa para fundamentar a sua posição. E então invoca duas situações em defesa do seu ponto de vista.

A primeira, ocorrida em 1983 – portanto, já depois da revisão constitucional que altera os poderes do Presidente da República (1982) -, quando o Presidente Eanes, tendo dissolvido o parlamento maioritariamente formado pelos deputados da Aliança Democrática, composta pelo PSD/CDS/PPM, que haviam concorrido coligados e vencido as eleições de 1980, manteve Balsemão em funções por largos meses – até à tomada de posse de Mário Soares à frente do IX Governo Constitucional.
Não há semelhança nenhuma entre as duas situações, nem as coisas se passaram assim. Em primeiro lugar, o Governo Balsemão (VIII Governo Constitucional) caiu por dentro em virtude das desavenças entre Freitas e o Primeiro-ministro. Freitas nunca aceitou ser segundo de Balsemão, de modo que quando Eanes anunciou a decisão de dissolver o parlamento e depois a concretizou em Janeiro de 1983, não só não havia nenhuma outra alternativa política com apoio parlamentar como o próprio governo já tinha pedido a demissão. As eleições foram marcadas para o dia 25 de Abril e o Primeiro-ministro seguinte (Mário Soares) tomou posse quando constitucionalmente tinha que tomar. Não houve, portanto, qualquer prorrogação do governo em funções de mera gestão por o Presidente se negar a dar posse a uma outra solução de governo integrada por partidos diferentes dos que haviam até então governado. Como se vê por este simples exemplo, o passado está cada vez mais difícil de “prever” do que o futuro…

A segunda, ocorrida em 204, refere-se ao XVI Governo Constitucional presidido por Santana Lopes. Diz-se que o Presidente de então, Jorge Sampaio, condicionou a posse do governo à aceitação de uma espécie de “caderno de encargos” por ele imposto. Também não há qualquer semelhança entre a situação então ocorrida e actual, salvo a que decorre de em ambos os casos ficar bem patente que as eleições legislativas são eleições para deputados e não para primeiro-ministro! De facto, Sampaio, depois da demissão de Durão Barroso, para ocupar o lugar de Presidente da Comissão Europeia, hesitou longamente sobre se deveria ou não empossar Santana Lopes, que nem sequer deputado era, como primeiro-ministro. E acabou por concluir que, mantendo-se a coligação pós-eleitoral que apoiava o Governo Barroso e que sendo esta maioritária no Parlamento, deveria empossar como Primeiro Ministro a personalidade por ela indicada. A coligação indicou Santana Lopes e Sampaio deu-lhe posse. É verdade que no discurso de posse – e não antes – Sampaio teceu várias considerações sobre o caminho que o Governo deveria seguir. Considerações que se poderiam justificar se se destinassem a marcar a posição do Presidente relativamente ao Executivo, mas que já seriam descabidas, como foram, se tivessem a pretensão de balizar a acção do Governo. Tratou-se porventura do momento mais infeliz da Presidência Sampaio (sem esquecer a intervenção da NATO na Jugoslávia à margem do Direito Internacional), parecendo que subjacente a essas considerações havia uma espécie de má consciência ditada pela posse, como primeiro-ministro, alguém que nem sequer às legislativas havia concorrido.

De qualquer modo, Sampaio cumpriu a Constituição ao dar posse a Santana Lopes, devendo as ditas considerações sobre a acção do governo, proferidas na posse e não antes, entender-se como reveladores da sua posição perante o Governo e não como uma sujeição do programa do Governo à vontade do Presidente. Essa função, de apreciação do programa de governo e das eventuais consequências dessa apreciação, cabe no ordenamento jurídico-constitucional português inequivocamente ao Parlamento!


Assim, por mais que a direita tente justificar o discurso de Cavaco e a eventual recusa de um Governo de esquerda nenhuma dúvida poderá subsistir de que semelhante comportamento violaria gravemente a Constituição.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

O PEDRO E O ANTÓNIO

LES BEAUX  ESPRITS SE RENCONTRENT

O Pedro e o António ainda não perceberam o que é ganhar as eleições legislativas. O Pedro e o António raciocinam em termos futebolísticos, o que muito admira que António o faça, porque, ao contrário de Pedro, é pouco dado a futebóis. As eleições legislativas não são um campeonato de futebol em que necessariamente ganha a equipa que faz mais pontos. Nas eleições legislativas não é necessariamente assim: nem sempre o partido ou a coligação que tem mais votos (ou deputados) ganha as eleições. Em alguns casos é, noutros não é.

Nas democracias parlamentares as eleições legislativas têm em vista eleger um Parlamento que, entre as múltiplas funções que qualquer Constituição lhe atribui, tem uma que acaba sempre por ser primordial: permitir formar um governo que possa governar apoiado pelos deputados que o suportam.

Este objectivo nem sempre pode ser alcançado pelo partido ou coligação que teve mais votos ou deputados. Se essa maioria for absoluta (metade mais um do número de deputados), o Governo apoiado pelos deputados que o suportam pode iniciar a sua actividade e manter-se em funções pelo período correspondente ao da legislatura, a menos que venha a perder a confiança dos deputados (ou de alguns deles) que o suportam ou não seja capaz de assegurar o regular funcionamento das instituições e o Presidente da República o demita com base nesse fundamento.

Mas se a maioria que o suporta for apenas relativa, esse governo para entrar em funções carece que os restantes deputados o não rejeitem mediante a aprovação de uma moção de rejeição votada pela maioria absoluta dos deputados em exercício de funções. Se essa moção de rejeição não tiver sido votada ou, tendo-o sido, não tiver sido aprovada, esse governo só pode manter-se se contra ele não for votada uma moção de censura aprovada pela maioria absoluta dos deputados em exercício de funções ou se não for aprovada uma moção de confiança.

Portanto, a conclusão inevitável que daqui decorre é que não basta ter mais votos ou mais deputados para se conseguir formar governo; e mesmo quando se consegue formar governo nestas condições nada garante que o governo não caia durante a legislatura.

Conclusão: ter mais votos ou mais deputados e ganhar as eleições não são sinónimos. Tanto o Pedro como o António sabem isto perfeitamente. Quando dão a entender outra coisa estão a tentar enganar-nos!

Mas não é somente nesta questão que o Pedro e António estão muito próximos. Eles também coincidem na apreciação de outras questões. Ninguém se recorda de o Pedro e António terem perguntado ao PSD e ao CDS qual era o conteúdo do acordo que estes dois partidos fizeram para governar coligados depois das eleições legislativas de 2011. Nem o Pedro, nem o António, nem o Presidente da República exigiram que lhes fosse mostrado o acordo então assinado entre os dois partidos. O que o Pedro e o António divertidamente discutiram em público foi quem era quem no Governo. Com que pastas ficava o CDS e quem as ia ocupar. Essa era a única preocupação. Uma preocupação lúdico-política.

O Pedro e António também não exigiram que Portas lhes garantisse que não haveria deputados do CDS a votar contra o acordo.

Agora tudo mudou. E o Pedro e António estão muito mais exigentes. Pedro não está seguro de que não haja deputados do PS com “dores de barriga” na hora da votação. Pedro espera mesmo que isso aconteça ou, no mínimo, admite essa hipótese como muito provável. Já António, relativamente a essa matéria, por decoro, é mais reservado.

Todavia, tanto Pedro como António querem ver o acordo, escrito e assinado, entre os partidos de esquerda, e querem avaliá-lo, querem conhecê-lo ponto por ponto. Não lhes basta que O Secretário geral do PS, a Porta voz do Bloco e o Secretário Geral do PC garantam a existência de um acordo. Querem Vê-lo e aprová-lo! E certamente que não seria suficiente para saciar a curiosidade de ambos um acordo como o assinado entre o CDS e o PSD em 2011 - um acordo que não refere uma única medida concreta, um acordo meramente proclamatório

Mas Pedro quer mesmo mais: quer que tanto o PC como o Bloco declararem publicamente que deixaram de ser quem são. Que digam preto no branco que não são contra a NATO, contra a União Europeia, contra o Euro, contra a renegociação da dívida. António está inclinado a dizer que o Pedro tem razão.

Mas  Pedro não pára nas suas exigências. Quer que o PR volte a apresentar um conjunto de condições que tanto o Bloco como o PC não possam aceitar. António, sempre tão alegre e loquaz, fica sisudo e nada diz.

E agora digam-me lá: Vocês acreditam mesmo que esta direita é democrática?





segunda-feira, 19 de outubro de 2015

A DIREITA QUE IMPORTA TER EM CONTA


O APROFUNDAMENTO DO EURO

Entrando directamente no assunto. Sem grandes considerações nem teorizações, salvo as imprescindíveis.

Não é o Nuno Melo, nem o seu falecido tio-cónego e os seus “combatentes da liberdade”, nem a Cristas ou o Portas, ou o ex-conselheiro de Cavaco para assuntos constitucionais, nem mesmo alguns dos mais assanhados reaccionários do PSD que verdadeiramente nos devem preocupar. Esses contam pouco e só mesmo os iguais a eles neles se podem rever. Além de que essa direita já levou una valentíssima “trepa” no 25 de Abril e tão cedo não voltará a levantar cabeça. E se levantasse acontecia-lhe o mesmo que à cobra da quadra do Zeca Afonso no disco do Sérgio Godinho.

Mais perigosa é a outra direita. Uma direita mais moderna, bem-pensante com lugar assegurado nos “jornais de referência”, nas televisões e que entre inócuas tiradas de esquerda, quase sempre desenterradas de um anti-fascismo mais consensual que imaginar se possa, deixa ficar a mensagem da imperiosa necessidade de um governo de direita com ou sem o PS, mas sempre com o apoio do PS, tal como ela o concebe.

E é a partir deste pressuposto omitido que essa direita adianta uma argumentação alicerçada em pomposas palavras de recorte indefinido destinadas a sugerir o perigo que Portugal correria (convém dizer Portugal, que é uma entidade incorpórea de contornos quase míticos e não portugueses que cheira a povo e a odores pouco recomendáveis) se o PS cometesse o gravíssimo erro de aceitar fazer Governo ou aceitar ser apoiado no Governo por comunistas e bloquistas. Porquê? Porque não se pode confiar que esse Governo constitua uma alternativa minimamente sólida para poder aceitar no plano internacional, entenda-se da União Europeia, não tanto os compromissos já firmados, mas muito mais os aprofundamentos de determinadas matérias como. por exemplo, um aprofundamento do euro.

Primeira nota que interessa sublinhar é esta: este argumento não está desenvolvido nem é expresso com o mesmo primarismo com que qualquer Cavaco, Portas ou mesmo Assis o faria. Todavia, o juízo é exactamente o mesmo, se é que não é pior, e as suas consequências são as mesmas, se é que não são piores.

Em primeiro lugar, neste simples raciocínio está sibilinamente subentendido que é a política externa que dita a política interna. Por maiores que sejam os condicionamentos ou até os constrangimentos na cabeça do governante nunca pode estar outra ideia que não a oposta. Esse princípio basilar está aqui “deitado às urtigas”. E é também sob este aspecto que a nova direita se distingue – e muito - da velha direita. Sob a capa de um cosmopolitismo chique, esta direita está sempre pronta a pôr-se de cócoras perante o estrangeiro – não qualquer estrangeiro, evidentemente, mas daquele estrangeiro à qual ela julga pertencer.

Mas há mais: o aprofundamento do euro. O que é que isto quer dizer? Quer isto dizer que a Europa não é democrática, que em Bruxelas está sediada uma burocracia que os cidadãos não elegeram cuja actividade governativa é pautada pelos interesses do grande capital? Que há em Bruxelas um agrupamento soberano que toma decisões cruciais que influenciam a vida de milhões de pessoas que não está previsto em nenhum tratado nem em nenhuma lei, que funciona sem regras e sem escrutínio democrático de nenhuma espécie? Que esse agrupamento, chamado Eurogrupo, formado pelos ministros das finanças da zona euro se reúne à porta fechada, sem actas e sem nenhuma informação relevante fornecida aos cidadãos, salvo a formada pelas suas ditatoriais decisões? Que esse agrupamento é dominado pela Alemanha, com o apoio dos seus aliados tradicionais e com o tradicional colaboracionismo francês? Aprofundamento do euro quer dizer que o Banco Central Europeu cuja acção é vital para a vida de milhões de pessoas e cuja política é determinante para a economia dos países da zona euro, de economia desigual e assimétrica, tem de ter uma política monetária e de crédito destinada a atenuar as desigualdades existentes? Aprofundamento do euro quer dizer que o BCE tem de ter uma política monetária e de crédito destinada a fomentar o desenvolvimento económico e o emprego como missões prioritárias da sua actividade? Em resumo: aprofundamento do euro quer dizer uma profunda reforma da zona euro que tome na devida conta as assimetrias existentes, conceba a política do BCE como uma política ao serviço de todos os Estados, capaz também ela de contribuir para uma mais equitativa distribuição dos rendimentos entre os cidadãos dos países da zona euro?

Se o “aprofundamento” do euro quer significar reforçar a democracia, reforçar o desenvolvimento económico, combater as assimetrias, fomentar o emprego, criar os pressupostos para uma mais justa distribuição dos rendimentos entre os cidadãos dos Estados da zona euro não esteja esta direita preocupada com as posições do Bloco ou do PC nem tema que o PS possa incorrer no desvario de não apoiar este aprofundamento.

Mas será isto o que verdadeiramente se quer dizer quando se fala no “aprofundamento do Euro”? Ou será que com o “aprofundamento do euro” o que se pretende é entregar a gestão da zona monetária a um ministro das finanças europeu que actue sob a influência dominante das politicas defendidas pela Alemanha, um aprofundamento que aliene por completo a democracia da decisão, que se elimine a soberania nacional na concepção das política monetária e de crédito, que torne a política orçamental nacional menos digna do que a de uma qualquer filial de uma grande multinacional? 

Se for isto o “aprofundamento do euro”, como temos boas razões para supor que é, ninguém poderá de facto contar com o apoio do Bloco nem do PC. Disso qualquer eleitor de esquerda tem a certeza. E quer continuar a tê-la!


quinta-feira, 15 de outubro de 2015

PRESIDENCIAIS

MARCELO, MARIA DE BELÉM E A ESQUERDA

A corrida a Belém não será a que Marcelo imaginou quando há meses atrás decidiu candidatar-se. Marcelo supunha que poderia fazer uma campanha para Presidente da República na base do comentário da sua própria candidatura e da dos demais candidatos. Não vai ser a assim. Pelo rumo que as coisas estão a tomar a eleição será muito mais extremada. Não vai ter tempo nem vai ter ambiente para comentários.

Santana Lopes já ontem lhe demarcou o terreno: ou se apresenta como um dos seus, desde logo na questão que está em cima da mesa (formação do Governo) ou vai ter muito que dar ao pedal sozinho. A seu favor Marcelo tem a desistência de Rui Rio que, reduzido à sua banalidade, logo percebeu que não tinha hipóteses e a candidatura de Maria de Belém que, embora concorra com ele em certas franjas do eleitorado, impede que o assunto fique resolvido a favor da Esquerda numa primeira volta ou até, o que para Marcelo ainda é mais vantajoso, lhe abra uma possibilidade de vitória no primeiro turno.

Não se compreende bem, politicamente, a candidatura de Maria de Belém. De facto, com sua candidatura está inequivocamente a direita do PS que, à falta de outro meio para combater Costa, aproveitou este para fragilizar a candidatura de esquerda e simultaneamente enfraquecer a posição do Secretário Geral e também conhecidos elementos daquela massa mole e algo viscosa genericamente denominada como partidários do Bloco Central (sendo nesta dimensão que a Candidatura de Maria de Belém concorre com a de Marcelo). Todavia, encontram-se também nesta candidatura militantes do PS que, embora sejam tradicionais perdedores, quer nas contendas internas, quer nas disputas nacionais, se apresentam a si próprios como elementos da esquerda do partido e que, inclusive, na presente disputa entre as linhas que se digladiam quanto à estratégia a seguir para a formação do Governo, já se declararam inequivocamente favoráveis a um governo de esquerda (sendo nesta dimensão que a candidatura de Belém divide a esquerda).

Quem está nesta candidatura deve saber que a ex-presidente do PS não reúne condições para juntar todo o voto de esquerda, indispensável à eleição de um candidato da aérea do Partido Socialista. Aliás, ainda ontem, numa questão vital no presente momento político, Maria de Belém recusou-se a assumir uma posição, certamente por táctica para manter a convergência entre os apoiantes da sua candidatura, mas sem evitar que tal ambiguidade fora do seu exíguo espaço político seja interpretada num sentido favorável à direita – ao PAF e aos que no PS com ele se querem coligar!

Desta análise poderá concluir-se que numa segunda volta – se houver segunda volta – uma parte dos votos de Maria de Belém, independentemente do compromisso assumido no interior do PS, irá inevitavelmente para Marcelo ou para abstenção, embora a parte restante não pareça ter grande dificuldade em somar-se à esquerda.

Como as coisas estão muito extremadas na sociedade portuguesa, principalmente por força das campanhas sectárias e antidemocráticas da direita que não tem hesitado em recorrer à parafernália habitual de meios que usa em circunstâncias tais, é seguro, havendo governo de esquerda em funções, que o seu eleitorado se mobilizará a cem por cento para derrotar Marcelo.


A actual situação não é semelhante à que levou à eleição de Soares, nem os dois lados da equação podem hoje configurar-se nos mesmos termos. Todavia, as desvantagens que sob certos aspectos existem são suficientemente compensadas pelas vantagens que acrescem resultantes de um quadro político novo e nunca antes visto.

SURPRESA E ESCÂNDALO



O CARDEAL PATRIARCA DE LISBOA

Nas previsões pré-eleitorais, feitas no post “Breves desenvolvimentos sobre a declaração de voto”, publicado, em 2 de Outubro, aqui no Politeia e no FB, ao abordarmos a hipótese correspondente à situação que hoje temos, tínhamos previsto todo o tipo de pressões que fatalmente se iriam desencadear sobre o PS se o seu secretário-Geral tivesse a ousadia de tentar formar governo.

As pressões de Cavaco e da Coligação, a luta fratricida no interior do PS, o anátema lançado sobre os “usurpadores socialistas” que, tendo perdido as eleições, queriam governar com o apoio de comunistas e bloquistas, o eco de tudo isto na “Europa”, as Merkels, os mercados, os Draghi – o que não tínhamos previsto é que o representante máximo da Igreja Portuguesa – pelo menos, é assim que é visto o Cardeal Patriarca de Lisboa – tivesse a ousadia de proferir as palavras que acabámos de ouvir.

Não adianta – nem o faremos – desconversar, dizendo que as suas palavras só a ele vinculam. Não, as suas palavras são as da Igreja Portuguesa até que sejam formalmente desmentidas e desautorizadas pela hierarquia como foram, sem rodeios, as proferidas pelo Secretário-Geral da UGT.


A Igreja ao entrar directamente na luta política quebrando vergonhosamente o seu estatuto de neutralidade vai sofrer as consequências. Vai ser atacada, vai ser tratada como uma bengala da direita portuguesa, vai ser equiparada à Igreja de Cerejeira, a Igreja fascista, colaboracionista que durante décadas apoiou a ditadura. Vai-lhe ser a todo o momento lembrada a sua intrínseca hipocrisia, tanto nas questões do dinheiro como da moralidade pública - os “Marcinkus” que lhe encheram os cofres actuando como vulgares bandidos em colaboração com a Mafia e outras organizações criminosas, os pedófilos que ela protegeu e albergou. Enfim, se o Cardeal quer guerra vai tê-la!



quarta-feira, 14 de outubro de 2015

NOTAS SOLTAS

SOBRE OS DIAS QUE CORREM



1-   Privatização DA TAP – Vamos todos rir-nos muito. Ah, ah, ah, ah. ANAC autorizou a privatização da TAP. Passos Coelho pede a Passos Coelho autorização para privatizar a TAP….
2-      Maria Belém – Acabei de ouvir agora mesmo (ontem estive muito ocupado com as notícias da formação do Governo) que Maria de Belém não sabe o que faria se hoje fosse Presidente da República quanto à formação do Governo. Não tem informação.
3-      Os democratas – Há uns senhoritos neste país que entendem – que entendem, não - que têm a certeza que o seu voto vale mais do que o dos outros. E então, com ar muito doutoral e profundamente sabedor, dizem-nos o que devemos pensar ou fazer sobre a formação do Governo. Com voz profunda, impulsionada das profundezas do estômago - aquela voz que se usa quando se quer disfarçar uma grande banalidade -, soltam-nos pérolas de sabedoria política, que todos nós, esfaimados, deveremos imediatamente abocanhar: “O país não pode ficar dividido ao meio. Temos de unir, não dividir” (cerca de um minuto para dizer isto). E vai outro, logo a seguir, de voz mais fina, mais equilibrista, que recorre à sabedoria popular. “É muito perigosa esta mudança. Estas coisas com o Bloco e com o PC deveriam ser mais graduais”. E as televisões repetem uma, duas, três, sete vezes. “Percebeste, português estúpido, percebeste o que estes senhores te estão a dizer? Estão-te a dizer que a direita não pode ser afastado do poder. Que o PS tem obrigação de lhe dar uma mãozinha. E olha que estes senhores são muito sábios e além do mais até são apoiantes de uma militante socialista, candidata a Presidente da República! Percebeste, português estúpido?”
4-  A direita entre a golpada e a democracia - Ficou decidido por decreto, aparentemente irrevogável, publicado em 25 de Novembro de 1975, que a Direita é democrática. Que os bombistas, terroristas, aliados da direita, foram “combatentes da liberdade”. Ponto final parágrafo. Nunca mais desde aquela data até hoje a Direita teve necessidade de fazer “prova de vida” da democracia. Nos dias que correm, tem.
O que faria, a partir de hoje, em qualquer país da Europa civilizada – atenção, não confundir com União Europeia – um político estivesse na situação de Passos Coelho? Isto é, um político que tivesse sido encarregado pelo Chefe de Estado (Rei, Rainha ou PR) de formar governo e se deparasse nas suas diligências com a situação com que Passos se deparou? Muito simples: pedir-lhe-ia uma audiência para lhe comunicar que não tinha condições para formar Governo. “Arranje outro, Excelência”. A direita portuguesa não quer fazer isso. Está inclinada para o Golpe. Dentro de dias o saberemos.

    

GOVERNO DE GESTÃO POR TEMPO INDETERMINADO

UMA MANOBRA QUE A DIREITA PODE USAR

Pondo de parte a hipótese de uma cisão no grupo parlamentar do PS a qual, para ser eficaz, pelas minhas (pessimistas) contas, careceria de, pelo menos, de 7 deputados – hipótese em que, apesar de tudo o que tem sido dito, não acredito pela extrema gravidade do acto em si (acho que se ficarão por umas declarações de voto) – pondo de parte esta hipótese, dizíamos, parece óbvio que a direita já está a jogar no governo de gestão por tempo indeterminado.

A crítica de Santana Lopes ao Presidente da República vai nesse sentido, embora, juridicamente, o que Santana Lopes hoje defendeu ainda não seja possível. Como pode o PR indigitar Passos sem os resultados eleitorais estarem apurados e sem ouvir os partidos? Não pode. Vai ter de esperar.

Dentro daquilo que parece ser o cenário provável, o PR da República depois de ouvidos os partidos ficará a saber duas coisas: a primeira é que o Governo de Passos será rejeitado; a segunda, que os partidos que rejeitaram o programa de governo do PAF concluíram entre si um acordo para viabilizar um governo presidido por António Costa.

Neste contexto Cavaco não teria margem político-constitucional para indigitar Passos; poderia fazê-lo, mas estaria a violar grosseiramente os mais elementares princípios de boa-fé e de cooperação institucional que está obrigado a respeitar. Não são deveres de cortesia, nem simples praxes constitucionais - são deveres jurídicos.

Cavaco tem, porém, uma saída – uma saída deselegante, é certo – na qual ele se pode estribar para indigitar Passos. A saída consistiria na incerteza que paira sobre o voto do grupo parlamentar do Partido Socialista. Se Costa lhe não garantir a unanimidade de voto e a presença dos deputados, é muito provável que Cavaco se agarre a esta probabilidade para indigitar Passos.

Qual o interesse do Governo de gestão? A direita tem todas as vantagens em lá continuar. Primeiro porque tem tempo mais do que suficiente para tirar todos os esqueletos do armário; depois, porque continua a governar, limitadamente é certo, mas a governar e a capitalizar politicamente com toda essa matilha de comentadores que tem ao seu serviço; finalmente, porque Cavaco pode enrolar esta questão, deixando-a para o seu sucessor, o qual poderá, a partir de Abril, dissolver o parlamento.


Este é um esquema que a direita pode montar e que a esquerda não pode descartar como hipótese improvável. Por ser um esquema de extrema gravidade, pelo desrespeito que representa pela vontade parlamentar, convém desde já que os partidos de esquerda e todos nós, pelos meios ao nosso alcance, comecemos por denunciar esta manobra junto da opinião pública e insistamos na ideia de que Cavaco tem obrigação de indigitar imediatamente António Costa, depois de rejeitado Passos e ouvidos os partidos com assento parlamentar. 

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

AFINAL QUEM NÃO QUER GOVERNAR?


AFINAL QUEM FICAR A PROTESTAR?

Durante anos ouvimos a conhecida lengalenga de que havia dois partidos que não queriam governar nem assumir responsabilidades governamentais, facto que muito dificultava a acção do PS e da esquerda em geral, pois mesmo quando estavam em maioria na Assembleia da República não havia qualquer possibilidade de entre os seus componentes se fazer um acordo, por mínimo que fosse, enquanto a direita sabia superar as suas divergências sempre que se tratava de exercer o poder, como os vários exemplos de coligações entre o PSD e o CDS amplamente comprovavam.

Já tivemos oportunidade neste blogue de emitir sobre este tema a nossa opinião, tentando fazer a demonstração de que o verdadeiro partido de protesto do xadrez político português é o PS. Um partido de poder e de protesto que carecia como nenhum outro de uma activíssima base de protesto para exercer o poder. Assim foi com Soares, com Guterres e com Sócrates. Todos eles, como primeiros-ministros, tiveram no seio do próprio partido aquela indispensável componente de protesto que lhes permitia fazer uma política próxima da direita sem que o partido perdesse por completo a sua matriz de esquerda.

Agora o jogo acabou. A avaliar pelo que se lê nas redes sociais e principalmente o que se ouve nas antenas abertas das várias estações de radio existe uma fortíssima componente do eleitorado socialista que não compreenderá que na presente conjuntura se entregue o poder à direita, havendo à esquerda quem esteja na disposição de aceitar a formação de um governo PS e esteja preparado para negociar o apoio parlamentar de que esse governo necessita.

Não se trata de uma coligação negativa destinada a derrubar e a derrotar os propósitos de Cavaco, Passos e Portas, trata-se de muito mais do que isso: da formação de um governo que dê tradução política a esse imenso clamor que de norte a sul do país exige o fim das políticas de austeridade.

O Governo PS pode assentar num acordo mínimo, porém indispensável para responder ao voto popular. O PS não deveria seguir a orientação de um sector influente da sua estrutura dirigente ou, mais correctamente, de alguns “notáveis” sem se certificar previamente da vontade do seu eleitorado. 

E ter em conta que a direita, perfidamente, pretende o seu apoio não apenas para poder governar, como é óbvio, mas acima de tudo para o liquidar o PS como partido de Governo. Será sempre mais fácil à direita, pensa ela, ter como principal adversário um Syriza à portuguesa do que um PS que possa resvalar para a esquerda, por pouco que seja, pela muito maior facilidade que terá de esgrimir contra aquele partido ou aquelas forças políticas a legião de todos os seus conhecidos espantalhos.

O PS joga de facto o seu futuro nas consequências destas eleições. Qualquer tentativa de buscar numa situação do passado analogias com a situação presente é irrealista e não corresponde ao verdadeiro significado dos resultados eleitorais no específico contexto em que os mesmos ocorreram.

É claro que o PS para governar terá de pôr de parte algumas das medidas previstas no seu programa, absolutamente inaceitáveis, como o "despedimento conciliatório" (isto é, sem intervenção dos tribunais); a diminuição da contribuição dos trabalhadores para a segurança social e o famigerado congelamento das pensões.

Por seu turno, os partidos que estão disponíveis para viabilizar um governo PS não podem deixar de ter em conta que se está numa situação sob muitos aspectos semelhante à que se vivia antes do 25 de Abril.

Por um lado, a completa ausência de alternativa, que pura e simplesmente é negada a quem pretenda pôr em causa uma nova política e uma nova atitude relativamente à UE. Romper com esta impossibilidade já seria uma grande vitória; depois todos temos de ter presente que somos governados, a começar pelo Presidente da República e a acabar na composição e chefia do Governo, por gente que poderia perfeitamente ter desempenhado as mesmas funções que hoje exerce antes do 25 de Abril. Por outras palavras: estamos numa situação de emergência nacional a que urge responder com um programa mínimo, porém realmente alternativo.

Bem se sabe que o PS tem no activo o tal núcleo influente que entre ir contra as suas concepções ideológicas ou acabar com o partido não hesitará na sua escolha. Mas é contra esta ameaça que António Costa se tem de revelar como um líder político à altura das circunstâncias.

António Costa não tem condições nem tempo para adiar a sua decisão ou esperar que outra oportunidade surja num contexto diferente. Essa oportunidade ele não a terá. A direita, a ser derrubada, tem de sê-lo agora e não mais tarde. Se a deixa governar por pouco tempo que seja, e vai ser sempre por vários meses, ela terá todas as condições para fazer reverter a seu favor o impasse que mais tarde venha a ser criado com vista à convocação de novas eleições.

António Costa, como comentador, deu a partir de determinada altura provas seguras de que havia compreendido e interiorizado todos os constrangimentos que a politica comunitária, nomeadamente a política monetária, cria aos países periféricos, e da necessidade de a alterar. Lutar isoladamente contra essa política conduz como bem se sabe ao insucesso, a menos que se esteja disposto a arcar com todas as consequências de um rompimento. A partir de Janeiro do próximo ano, os países periféricos, a Grécia, Portugal e a Espanha, estarão certamente em condições de conduzir uma luta conjunta, que ficará muito enfraquecida se o nosso Governo estiver nas mãos da direita. Esta situação não se repetirá nos tempos mais próximos.

Por outro lado, parece cada vez mais evidente que a luta pelas presidenciais dificilmente poderá ser ganha. A ausência de um candidato de consenso escolhido com antecedência pelos partidos de esquerda pode ter sido fatal para quem aspirava substituir a direita em Belém. Portanto, o mais provável é que a direita continue em Belém, porventura menos possidónia, mais divertida, mas igualmente perversa e sem hesitações nas escolhas fundamentais. Que ninguém tenha ilusões: com a direita em Belém o Governo do PSD/CDS não será substituído por outro formado no mesmo quadro parlamentar em que este tiver sido constituído. Com a direita em Belém, a Assembleia da República será dissolvida na altura que melhor possa garantir uma vitória da direita.

Deixar criar uma situação que assente na constituição de um governo de direita é deitar tudo a perder e é também pôr em causa o futuro do Partido Socialista. Aos socialistas, a António Costa, cabe decidir.  

PARA OS SOCIALISTAS QUE APOIAM CAVACO


E PARA OS SOCIALISTAS ENVERGONHADOS QUE COM ELE CONCORDAM

Para aqueles socialistas que, nas redes sociais, entendem que Cavaco andou bem quando chamou Passos Coelho para encetar negociações com o PS com vista à formação de um Governo estável, ou que, não tendo andado completamente bem, também não violou a Constituição e ainda para aqueles que, assentando a sua argumentação nestes pressupostos, magnanimamente consideram que não deveria tão explicitamente ter excluído o Bloco e o PCP (porque isso o fariam eles de acordo com o princípio da divisão partidária do trabalho), convém lembrar-lhes o seguinte:

Os resultados eleitorais ainda não estão apurados. Há quatro lugares por distribuir e, embora esses votos tenham inúmeras semelhanças com os da antiga União Nacional, vamos admitir que, desses quatro, dois são para o PS, um para o PSD e o outro para o CDS (hipótese provável; outras menos prováveis mas igualmente legítimas se poderiam formular).

Com o Parlamento com esta composição o PS e o PSD teriam, cada um, 87 deputados. Que norma constitucional permite, neste contexto, ao Presidente da República encarregar o presidente do PSD de encetar negociações com vista à formação do Governo? Nenhuma, absolutamente nenhuma!

Dirão alguns: como PSD concorreu coligado com o CDS é a soma dos mandatos de ambos que deve ser tida em conta. Não é assim de um ponto de vista estritamente jurídico nem sequer de um ponto de vista prático. Com efeito, as coligações pré-eleitorais extinguem-se com a eleição dos deputados e é esse resultado, e não o que poderá acontecer depois, que o Presidente da República tem de ter em conta na aplicação do artigo 187.º da Constituição.

Por outro lado, não é nada seguro que uma coligação pré ou pós eleitoral possa constituir um grupo parlamentar. Se relativamente às coligações pós-eleitorais parece não haver dúvidas, talvez a mesma conclusão se deva tirar relativamente às pré-eleitorais. E nem vale a pena invocar em defesa da tese contrária o artigo 180.º, 1, da Constituição, nem o artigo do Regimento da AR que o reproduz, já que a sua letra sustenta qualquer das duas interpretações.

Tendo porém em conta que a figura do grupo parlamentar visa afastar uma concepção liberal do parlamento, como um conjunto de deputados individualmente considerados, ela acaba por estar intimamente ligada ao papel constitucional dos partidos políticos que detêm como se sabe o monopólio da apresentação das candidaturas às eleições parlamentares ( Canotilho e Vital Moreira, Constituição anotada). Esta porventura a razão por que na vigência da actual Constituição todas as coligações pré-eleitorais tenham depois dado lugar a tantos grupos parlamentares quantos os partidos que as integram.

Do ponto de vista prático, a qualificação da diligência ontem comunicada ao país por Cavaco Silva merece a mesma resposta. Tanto Passos Coelho como António Costa podem, teoricamente, fazer coligações ou negociar apoios parlamentares que lhes garantam a formação do Governo.


Porquê então o convite a Passos Coelho? Porque Cavaco é um chefe partidário, sectário, que apenas está interessado numa solução governativa que garanta ao seu partido a chefia do Governo. E também nenhuma dúvida poderia subsistir, se acaso outra hipótese se vislumbrasse, que Cavaco usaria todos os meios necessários à criação de um clima interno e internacional que na prática a inviabilizasse quaisquer que fossem os prejuízos daí decorrentes. Agitaria como já deixou enunciados os espantalhos da NATO, de Bruxelas, do BCE, da Merkel e do Schäuble, do holandês impronunciável, dos mercados, enfim, de toda aquela tralha que a direita reaccionária lança mão para não perder o poder. O que tem a indiscutível vantagem de também nos não deixar dúvidas sobre como tomar-lhes o poder e os tratar depois…

terça-feira, 6 de outubro de 2015

CAVACO GOLPISTA?


CAVACO VIOLA A CONSTITUIÇÃO

vídeo

A declaração de Cavaco é inadmissível à luz da Constituição portuguesa. Cavaco poderá informalmente ter as conversas que entender com quem ele considera que pode formar Governo, o que Cavaco não pode fazer é uma indigitação do Primeiro Ministro sem formalmente ouvir os partidos.

Podem os comentadores do PSD/CDS (com a mobilização a cem por cento do Observador e C.ª) dizer o que quiserem sobre a missão de que hoje foi encarregado Passos Coelho, mas o conteúdo dessa missão e da mensagem que publicamente lhe foi transmitida – encarregá-lo de criar as condições para a formação de Governo – corresponde formal e materialmente a uma indigitação.

Mas não é apenas por este lado que Cavaco viola a Constituição. Cavaco viola escandalosamente a Constituição quando estabelece um conjunto de condições para a formação do Governo. Cavaco não pode condicionar a formação do Governo. Se um hipotético governo viesse a violar a Constituição, quer por meio de actos normativos, quer por via de actos de outra natureza, o Presidente da República, como supremo garante da Constituição, tem à sua disposição os mecanismos institucionais que a Constituição lhe confere para evitar ou obstar à sua violação – enviando para o Tribunal Constitucional os actos de cuja constitucionalidade duvide ou de cuja inconstitucionalidade não tenha dúvidas; ou, não se tratando de os actos susceptíveis de apreciação pelo Tribunal Constitucional mas igualmente violadores da Constituição, demitir o Governo para assegurar o regular funcionamento das instituições.

O que Cavaco não pode dizer - e foi isso que ele disse – é que nem o Bloco de Esquerda nem o Partido Comunista Português podem fazer parte do Governo e muito menos pode anunciar aos portugueses – e foi isso que ele anunciou – que o futuro Governo do país será constituído pelo PSD/CDS com ou sem a participação do PS (consoante a vontade deste) mas sempre com o apoio parlamentar do Partido Socialista para aprovação dos instrumentos estruturantes da governação.

Este comportamento levanta sérias dúvidas sobre a sua qualificação. Impedindo à partida partidos que constitucionalmente estão nas mesmas condições dos demais de participar na formação do Governo, é caso para perguntar se não se estará perante um golpe de Estado dissimulado. Um golpe de Estado de quem não tem a coragem de o assumir.

Mas há mais: Cavaco é juntamente com o Governo derrotado no domingo passado quem menos legitimidade tem para invocar a violação da Constituição já que foi com a sua conivência que foram promulgados todos os diplomas que o Tribunal Constitucional decidiu inconstitucionais, apesar de avisado e re-avisado da inconstitucionalidade dos actos que estava a promulgar.

O que se está a passar com a actuação de Cavaco, melhor dizendo o que foi a actuação de Cavaco nestes últimos oito anos, principalmente no último mandato, já que por covardia política não actuou exactamente do mesmo modo no primeiro mandato, deve considerar-se exemplo suficientemente elucidativo para levar o PS a reflectir seriamente sobre o que pretende fazer em matéria de presidenciais.

Se quer continuar as guerrilhas internas ou se quer realmente colaborar na escolha de um candidato vencedor que possa ser apoiado pela esquerda. Não será tarefa fácil para quem no PS não esteja apostado na repetição de uma experiência à Cavaco Silva, porque infelizmente o Partido Socialista tem um sector da estrutura dirigente ou da estrutura influente nos destinos do partido, que não se pode considerar de centro-direita, como alguns o qualificam, sendo antes de perguntar – é aqui é que reside a dúvida – se é de direita ou mesmo de extrema-direita!

Um sector ideologicamente tão reaccionário como Passos Coelho que prefere liquidar o partido ou “pasokizá-lo” a ter de ceder na construção de uma solução progressista e democrática ou mesmo - o que seria muito mais saudável – a abandoná-lo.


segunda-feira, 5 de outubro de 2015

O PS NO SEU LABIRINTO


CONTRADIÇÕES DO PS OU DA PEQUENA BURGUESIA PORTUGUESA?


Ninguém melhor do que Fernando Medina, Presidente da Câmara de Lisboa e estrela ascendente do PS, exprimiu com mais clareza as múltiplas contradições em que o PS está encerrado no discurso que hoje fez nas comemorações do 5 de Outubro sobre a (sua) interpretação dos resultados eleitorais.

Diz, em síntese, Medina: os portugueses manifestaram ontem a sua vontade de continuar comprometidos com a Europa e com a moeda única; deixaram numa mensagem clara de que querem uma mudança da política económica e social; finalmente, exigem que os partidos se entendam na busca de uma solução governativa – nenhum partido tem o direito de deixar o país refém da instabilidade.

Antes de mais, não se trata de uma interpretação, mas de uma manipulação interpretativa já que, como qualquer pessoa compreende, não é possível conciliar a vontade do cidadão que quer manter a mesma política económica e social (eleitor do PAF) com a do que a pretende mudar radicalmente (eleitores do Bloco e da CDU), nem tão-pouco a do que entende que o país não pode ficar refém dos constrangimentos europeus (eleitores da esquerda – CDU e BE) com a do que defende que tudo o que se pretenda fazer de diferente tem de ter em conta esses constrangimentos como dado incontornável (PS).

Ou seja, em termos mais populares, não se pode dizer que os portugueses gostam de temperar as batatas com azeite e com vinagre, se quarenta por cento só usa vinagre e os restantes sessenta só tempera com azeite. Fazer uma síntese disto, dizendo que gostam muito de temperar com azeite e com vinagre é uma falsidade, por que de facto ninguém tempera com azeite e com vinagre!

Esta contradição, não tão vincada como no exemplo atrás referido, está presente nos resultados eleitorais e acima de tudo nas posições do Partido Socialista, que é o único partido que parece não ter percebido rigorosamente nada do que se passou com a Grécia.

De facto, as três conclusões tiradas por Medina são de natureza diferente entre si. As duas primeiras são manifestamente contraditórias e a terceira apenas serve para dar viabilidade a uma das duas que tenha sido escolhida. Ou seja, os partidos ou se entendem, tendo esse entendimento como pressuposto inalterável manter o país no euro, para fazer uma política económica e social no quadro dos constrangimentos impostos pelo euro e pela dívida, entendimento esse que pode levar a uma considerável redução das despesas sociais e de uma política económica que continue a privilegiar a redução do custo das empresas à custa do trabalho, da segurança social e dos impostos.

Ou, segunda alternativa, um entendimento que leve de facto a uma diferente política económica e social – entendimento muito difícil de obter ou mesmo impossível – e consequentemente não afaste a necessidade de questionar os constrangimentos hoje existentes.

Qualquer uma destas duas alternativas precisa do PS. Do apoio passivo ou activo do Partido Socialista. Sem o PS nenhuma terá viabilidade.

Acontece que o PS está enredado nas contradições que são comuns à generalidade de uma larguíssima camada da população europeia a que por comodidade de expressão vamos chamar “pequeno-burguesa”. Como ao longo da história tem acontecido a pequena burguesia assenta a sua actuação em ilusões contraditórias insusceptíveis de concretização, acabando quase sempre por se encostar à parte cuja actuação e posicionamento não significa rompimento e simultaneamente garanta alguma estabilidade mesmo que alcançada à custa os seus próprios interesses.

Em Portugal, como na Grécia, como em outros países da Europa, este estrato social quer a moeda única, não apenas pelas desvantagens imediatas associadas à sua substituição por uma moeda nacional, mas também pelas vantagens directamente ligadas à sua existência no domínio das relações externas (não vantagens das empresas, mas das pessoas individualmente consideradas) e simultaneamente quer uma política económica distributiva e uma política social que garanta a saúde, a educação e a segurança social.

Ora isto não é possível. Não é possível não apenas pelo peso incomportável da dívida que manifestamente acaba por onerar as despesas sociais (reduzindo as suas receitas), como também pela inexistência de crescimento económico ou de fraquíssimo crescimento económico (ver o que se passou desde 1999 até hoje) e pelas tentativas que não deixarão de ser feitas de reduzir o custo das empresas (à custa do trabalho e das políticas sociais) para tornar o investimento (em princípio, estrangeiro) mais atractivo e assim fomentar o emprego.

Este é o nosso panorama. Quem disser o contrário está a enganar os portugueses e enganar-se a si próprio se porventura acredita no que diz.

Continuar com o que temos é agravar a situação destes últimos quatro anos permanentemente na busca de um equilíbrio impossível de alcançar. Mudar significa romper com todas as consequências que daí decorrem e com as incertezas necessariamente associadas a qualquer a qualquer processo de ruptura. Mas é a única via. A que acabará por impor-se. Melhor seria, nesta Europa que não vai mudar, que o rompimento se fosse fazendo gradualmente…


sexta-feira, 2 de outubro de 2015

BREVES DESENVOLVIMENTOS SOBRE A DECLARAÇÃO DE VOTO


O QUE INTERESSA TER EM CONTA


Em 13 de Outubro de 2011, cerca de três anos antes de se tornar Secretário Geral do PS, António Costa disse, na Quadratura do Círculo: “Para haver condições de governabilidade em Portugal, acho que existência de Blocos Centrais não são (é) saudáveis (saudável) ”, e acrescenta “o PS e o PSD devem se oferecer condições recíprocas de governabilidade, abstendo-se em instrumentos fundamentais de governação [.…] independentemente do conteúdo dos orçamentos”.

Posteriormente, quando já era Secretário Geral, em plena campanha eleitoral, António Costa garantiu que não votava um Orçamento de Estado apresentado pelo PAF.

Como tenho o Costa por pessoa séria, no sentido de que até hoje disse muito direitinho tudo o que ia fazer, não enganou ninguém, embora houvesse muita gente que se tivesse querido enganar, não vejo razões para não levar à letra aquilo que ele disse, embora haja entre a sua actuação como comentador e como máximo responsável político do PS uma viragem de 180 graus. Mas nem todas as viragens serão más, nomeadamente se corresponderem a uma maneira mais iluminada de ver as coisas.

Por outro lado, também há uma diferença política e jurídica entre rejeitar o governo e votar contra o orçamento. O primeiro voto implica a demissão do governo, enquanto a não aprovação do orçamento, teoricamente, apenas implica a apresentação de um outro que possa ser aprovado.

Dada, porém, a força expressiva da declaração de Costa é legítimo supor que o que ele queria dizer é que a seguir a essa reprovação tomaria as medidas adequadas para pôr fim ao governo (moção de censura ou não aprovação de uma moção de confiança apresentada pelo Governo, embora seja pouco provável que a direita enverede por este procedimento quando está em minoria).

Todavia, mesmo que a vontade de Costa fosse uma “vontade férrea” ela poderia sempre deparar-se com factores incontroláveis por quem fez a proposta – não obediência da disciplina de voto de um certo número de deputados (os suficientes para o governo passar) ou a costumada ausência na hora da votação do tal número de deputados necessário à não rejeição do programa.

O mais provável, porém, é que nada disto aconteça. O mais provável, nomeadamente se o PS tiver menos mandatos do que o PSD, é que Costa não tenha condições para continuar à frente do partido. 

Desencadear-se-á no seio do PS uma luta fratricida entre os que acham que se deve viabilizar o Governo, negociando acordos, quem sabe até fazendo parte dele (para mal dos pecados de Portas) e os outros, os que se opõem a Cavaco, como César, que até terá neste episódio um papel relativamente importante, os que estão com Sócrates e a tal vaga esquerda que nestas ocasiões não conta nada.

Independentemente das consequências futuras (e serão devastadoras) que esta situação trará ao PS, quem conhece minimamente o modo de actuação do Partido Socialista não terá dúvidas acerca o seu desfecho. O PS não inviabilizará o Governo de direita. O que virá depois logo se verá…

A outra hipótese, a de o PS ter mais deputados que o PSD – hipótese cuja probabilidade não estou em condições de avaliar – levará praticamente às mesmas consequências.

Por um lado Cavaco e a coligação farão sobre o PS uma tal pressão que o PS não terá condições para  a suportar. A dinâmica da vitória – falsa vitória, já que a maioria absoluta é contra o PAF -, o anátema lançado sobre os "socialistas usurpadores" que tendo perdido as eleições pretendem governar com o apoio de comunistas e bloquistas, o eco de tudo isto na Europa – as Merkels, os mercados, os Draghi, etc – farão uma tal pressão sobre o PS que seria mais fácil aos meus leitores sair-lhes o euro milhões do que o PS ter condições para resistir a isto.  Mesmo neste cenário, aparentemente melhor que o anterior, Costa teria poucas condições para continuar. De vários lados se levantariam vozes exigindo alguém capaz de "unir o Partido". 

Em conclusão: a probabilidade de Costa formar Governo, perdendo as eleições, é quase nula, apesar de a vontade maioritária dos portugueses ser contra um governo do PAF.

Meus amigos, as coisas são como são. Ou se ganha porque se tem um programa eleitoral sério capaz de convencer as pessoas, ou se tem um programa eleitoral que esquece as pessoas e apenas pretende fazer passar a mensagem de que se é um partido bem comportado, e perde-se!