quinta-feira, 1 de outubro de 2015

DECLARAÇÃO DE VOTO



POR QUE NÃO VOTO PS
Resultado de imagem para o povo unido

Como nas redes sociais encontrei quatro declarações de voto no Partido Socialista de pessoas que muito prezo, mas com as quais não concordo, justificadas com o argumento de que embora discordem em muitos aspectos da prática política e de pontos fundamentais do programa eleitoral do Partido Socialista, mesmo assim vão votar PS por o regime saído do 25 de Abril estar em risco com a continuidade do governo de direita.

Vou deixar de parte considerações de ordem política por uma questão de respeito pelas opções daquelas quatro pessoas e vou fazer incidir a minha argumentação em aspectos puramente aritméticos.

Então vejamos: aquelas 4 pessoas, quatrocentas, quatro mil ou quarenta mil que porventura pensem da mesma maneira não vão retirar um único voto à coligação de direita, porque o voto delas, se não fosse para o PS, iria para um partido de esquerda. Ou seja, a direita manterá rigorosamente os mesmos votos que tinha antes desta opção.

E, então, uma de três coisas pode acontecer, embora duas sejam altamente improváveis.

A primeira situação que poderia verificar-se era o PS em função desta transferência de votos ganhar com maioria absoluta. Hipótese praticamente impossível. De facto para que essa maioria se verificasse seria necessário uma transferência em massa de mais de metade dos votos da CDU e do BE. Isso é impossível, como toda a gente sabe. A única maioria absoluta da história do PS foi ganha indo buscar os votos a outro lado, como todos muito bem sabemos.

A segunda situação que poderia resultar da aplicação prática do raciocínio que levará aquelas quatro pessoas a votar no PS seria uma vitória do PS com maioria relativa. Hipótese igualmente improvável, dada a sitação actual, já que ela significaria uma votação no PS da ordem dos 40, 41%, o que, pelas razões anteriormente expostas, corresponderia uma transferência de votos da CDU e do BE da ordem dos quarenta por cento. Alguém acredita nisto?

Terceira hipótese, a mais provável: a coligação ganhará com uma maioria relativa, mas o PS, a CDU e o BE terão maioria absoluta.

Neste contexto, a hipótese altamente provável é que Cavaco indigite Passos Coelho para formar governo, mesmo sabendo que aquelas três forças políticas vão apresentar uma moção de rejeição ou mesmo que o PS venha a ter mais deputados que o PSD mas menos que a coligação.

Só que este governo será rejeitado e o PR por mais reaccionário que seja não tem outra solução que não seja convidar Costa a formar governo, sob pena, se o não fizer, de desrespeitar gravemente a Constituição e estar mesmo a protagonizar um golpe de Estado.

Este cenário só não ocorrerá se o PS não cumprir a palavra dada ou se meia dúzia de deputados do PS não respeitarem a orientação de voto do partido ou se pura e simplesmente se ausentarem na hora da votação. Interrogações a que somente poderão responder as pessoas que resolveram votar PS. A nós cabe apenas pô-las…

Continuando: convidado Costa a formar Governo, o PS apresentará o seu programa de Governo que passará, porque mesmo que a coligação resolva retaliar e apresentar uma moção de rejeição, ela não seria aprovada (a aprovação é por maioria absoluta dos deputados em efectividade de funções – 116) por seguramente não contar com os votos favoráveis da CDU e do BE, que obviamente se absteriam (alguém duvida?).

Se outras razões não houvesse seria por estas, puramente aritméticas, que não trocaria a minha convicção por um voto no PS, já que o resultado fundamental que eu tinha em vista (manter o 25 de Abril) poderia ser alcançado por uma via que não me obrigaria a violentar, por pouco que fosse, a minha consciência ou, mesmo que não me violentasse, me evitaria as dúvidas hamletianas sobre o que fará o PS com o meu voto.  

6 comentários:

Anónimo disse...

As suas contas estão erradas de vários modos mas vou deter-me apenas num aspecto OBVIO.
Um governo do PS, se este não ganhar as eleições, nunca passará no Parlamento apenas com os votos favoráveis do PS e a abstenção do BE e da CDU, porque a Coligação de Direita terá mais votos contra. Portanto, a "esquerda pura e verdadeira" terá de sujar as manapulas! alguma vez o faria ? Nunca! A "esquerda verdadeira e pura" prefere apoiar governos de Direita do que governos do PS, são amigos !
E já agora ...se o PS perder não será o PS de Costa a votar no Parlamento, será provavelmente o PS do ToZe Inseguro, e esse rivalizará com a "esquerda verdadeira e pura" e conseguirá ser mais amigo da Direita do que a "esquerda verdadeira e pura".
E para acabar de vez com o Regime Democrático ainda vão todos eleger o Prof. Martelo para PR, esse grande amigo e camarada dos Avantes!
Só quem e tolo e que ainda não percebeu quem e que está coligado com quem nos bastidores!

Jorge Carvalheira disse...

Ora aí está, Anónimo!

Anónimo disse...

E o PCP + o Bloco aprovariam um programa de governo PS ou unir-se-iam à direita para derrubar o PS como fizeram em 2011? Vocês PCs têm sempre muita dificuldade em aceitar a vontade dos eleitores. Eu quero que o PS ganhe, mas se a direita ganhar deve governar. Paciência, e para a próxima que PS, PC e Bloco façam melhor!

JM Correia Pinto disse...

O meu leitor anónimo não atendeu ao que diz a Constituição, nem me leu com atenção. Para que o program do governo seja rejeitado é preciso a apresentação de uma moção de rejeição. A aprovação da moção de rejeição carece de maioria absoluta de votos dos deputados em exercício de funções (116) e tem como consequência a demissão do Governo. Se não houver a tal maioria absoluta, o Governo mantém-se.
Quanto à segunda parte do comentário estou de acordo. Costa não terá condições para continuar.
Já quanto à eleição de Marcelo, tudo depende do PS. Se o PS "brincar" com esta questão, ou seja, se não apoiar um candidato que possa ser votado pela esquerda, lá teremos a direita na Presidência da República por não sei quantos anos mais. E então,sim, então é que será o fim de tudo.
Obrigado pelo comentário.

JM Correia Pinto disse...

Deixando os nomes por conta do terceiro anónimo e as qualificações - diga-se, muito parecidas com as que faziam as autoridades fascistas - quem se uniu ao PC e ao BE para derrubar Sócrates foi a direita. A direita com quem o PS desde o I governo Constitucional sempre se entendeu muito bem (ou até se coligou) para aprovar o que achava importante ou para, pura e simplesmente, governar.
Claro, se a direita ganhar governará. O problema não é esse: o problema é se a direita governará com o apoio do PS apesar de não ter a maioria necessária para governar!

João disse...

Os partidos políticos são formações complexas no que toca à sua densidade ético-filosófica, como também no que respeita aos aspectos finalísticos da respectiva acção. Ao contrário de outras forma de agregação humana - um clube de futebol, por exemplo - um partido político deveria corresponder, em tese, à expressão da máxima racionalidade de acordo com a vontade, interesses e aspirações dos seus militantes e simpatizantes. Nos tempos que vivemos e por força da manipulação ideológica de largas camadas da população, a politica tornou-se para muitos um mero espectáculo, a que assistem sem nele participar. O sistema (capitalista) fabrica os seus líderes políticos de acordo com as mesmas técnicas que utiliza para a fabricação de quaisquer ídolos populares (no desporto, na moda, na "vida social") e o povo é levado a encarar os actos plebiscitários como quem encara uma partida de futebol - estes são os meus e aqueles são os teus - desligando-se, as mais das vezes, da proposta ou da acção politica concreta. Deste estado de coisas beneficiaram, durante décadas e em igual proporção todas as forças por detrás do "consenso social-democrata" (entre nós: PS/PSD/CDS) que teve nos Estados de bem-estar e nas políticas expansionistas do pós-guerra o seu momento dourado. Sucede porém, que o agravamento de crise estrutural do capitalismo reduziu o Estado de bem-estar a farrapos e, por conseguinte, os chamados partidos socialistas, mesmo em oposição e em ambientes de profunda adversidade social (em Portugal, em Espanha, na Grécia, na Itália ou mesmo em França) não se posicionam de modo a constituírem-se como força de mobilização popular - o que implicaria profundas rupturas - mas, pelo contrário, prosseguem na mesma lógica consensual, tentando, desesperadamente e acima de tudo, manterem-se como forças do "arco da governação", o que, para franjas importantes da respectivas classe dirigente, é condição não apenas de sobrevivência, mas de boa vivência: veja-se o caso exemplar da camarada Vitor Constâncio, ainda há não muitos anos um forte candidato a secretário-geral do PS. O declínio destes partidos surge por conseguinte como uma inevitabilidade histórica, que levará no imediato a uma derrota do PS, como do PASOK na Grécia ou do PSOE em Espanha, segundo todas as sondagens indicam. Por conseguinte, não olhar para a substancia e ficar apenas pela forma - adorando o ídolo-líder e votando como quem faz apostas em corridas de cavalos, esquecendo a racionalidade subjacente à nossa militância ou simpatia por uma formação, em função da sua acção e programa concretos, imputando depois a outros as razões do nosso insucesso eleitoral, não será apenas ver pouco ou ver mal, mas será antes um reflexo de quem sofre da pior cegueira: a do cego que não quer ver.