segunda-feira, 5 de outubro de 2015

O PS NO SEU LABIRINTO


CONTRADIÇÕES DO PS OU DA PEQUENA BURGUESIA PORTUGUESA?


Ninguém melhor do que Fernando Medina, Presidente da Câmara de Lisboa e estrela ascendente do PS, exprimiu com mais clareza as múltiplas contradições em que o PS está encerrado no discurso que hoje fez nas comemorações do 5 de Outubro sobre a (sua) interpretação dos resultados eleitorais.

Diz, em síntese, Medina: os portugueses manifestaram ontem a sua vontade de continuar comprometidos com a Europa e com a moeda única; deixaram numa mensagem clara de que querem uma mudança da política económica e social; finalmente, exigem que os partidos se entendam na busca de uma solução governativa – nenhum partido tem o direito de deixar o país refém da instabilidade.

Antes de mais, não se trata de uma interpretação, mas de uma manipulação interpretativa já que, como qualquer pessoa compreende, não é possível conciliar a vontade do cidadão que quer manter a mesma política económica e social (eleitor do PAF) com a do que a pretende mudar radicalmente (eleitores do Bloco e da CDU), nem tão-pouco a do que entende que o país não pode ficar refém dos constrangimentos europeus (eleitores da esquerda – CDU e BE) com a do que defende que tudo o que se pretenda fazer de diferente tem de ter em conta esses constrangimentos como dado incontornável (PS).

Ou seja, em termos mais populares, não se pode dizer que os portugueses gostam de temperar as batatas com azeite e com vinagre, se quarenta por cento só usa vinagre e os restantes sessenta só tempera com azeite. Fazer uma síntese disto, dizendo que gostam muito de temperar com azeite e com vinagre é uma falsidade, por que de facto ninguém tempera com azeite e com vinagre!

Esta contradição, não tão vincada como no exemplo atrás referido, está presente nos resultados eleitorais e acima de tudo nas posições do Partido Socialista, que é o único partido que parece não ter percebido rigorosamente nada do que se passou com a Grécia.

De facto, as três conclusões tiradas por Medina são de natureza diferente entre si. As duas primeiras são manifestamente contraditórias e a terceira apenas serve para dar viabilidade a uma das duas que tenha sido escolhida. Ou seja, os partidos ou se entendem, tendo esse entendimento como pressuposto inalterável manter o país no euro, para fazer uma política económica e social no quadro dos constrangimentos impostos pelo euro e pela dívida, entendimento esse que pode levar a uma considerável redução das despesas sociais e de uma política económica que continue a privilegiar a redução do custo das empresas à custa do trabalho, da segurança social e dos impostos.

Ou, segunda alternativa, um entendimento que leve de facto a uma diferente política económica e social – entendimento muito difícil de obter ou mesmo impossível – e consequentemente não afaste a necessidade de questionar os constrangimentos hoje existentes.

Qualquer uma destas duas alternativas precisa do PS. Do apoio passivo ou activo do Partido Socialista. Sem o PS nenhuma terá viabilidade.

Acontece que o PS está enredado nas contradições que são comuns à generalidade de uma larguíssima camada da população europeia a que por comodidade de expressão vamos chamar “pequeno-burguesa”. Como ao longo da história tem acontecido a pequena burguesia assenta a sua actuação em ilusões contraditórias insusceptíveis de concretização, acabando quase sempre por se encostar à parte cuja actuação e posicionamento não significa rompimento e simultaneamente garanta alguma estabilidade mesmo que alcançada à custa os seus próprios interesses.

Em Portugal, como na Grécia, como em outros países da Europa, este estrato social quer a moeda única, não apenas pelas desvantagens imediatas associadas à sua substituição por uma moeda nacional, mas também pelas vantagens directamente ligadas à sua existência no domínio das relações externas (não vantagens das empresas, mas das pessoas individualmente consideradas) e simultaneamente quer uma política económica distributiva e uma política social que garanta a saúde, a educação e a segurança social.

Ora isto não é possível. Não é possível não apenas pelo peso incomportável da dívida que manifestamente acaba por onerar as despesas sociais (reduzindo as suas receitas), como também pela inexistência de crescimento económico ou de fraquíssimo crescimento económico (ver o que se passou desde 1999 até hoje) e pelas tentativas que não deixarão de ser feitas de reduzir o custo das empresas (à custa do trabalho e das políticas sociais) para tornar o investimento (em princípio, estrangeiro) mais atractivo e assim fomentar o emprego.

Este é o nosso panorama. Quem disser o contrário está a enganar os portugueses e enganar-se a si próprio se porventura acredita no que diz.

Continuar com o que temos é agravar a situação destes últimos quatro anos permanentemente na busca de um equilíbrio impossível de alcançar. Mudar significa romper com todas as consequências que daí decorrem e com as incertezas necessariamente associadas a qualquer a qualquer processo de ruptura. Mas é a única via. A que acabará por impor-se. Melhor seria, nesta Europa que não vai mudar, que o rompimento se fosse fazendo gradualmente…


10 comentários:

Jaime Santos disse...

De facto, o rompimento deve ser gradual. Gradual e planeado. Porque, como o exemplo do Syriza bem mostrou, a ausência de estratégia para prosseguir esse rompimento pode levar a uma situação pior do que aquela que existia antes. Mas a Esquerda da Esquerda não entende isto porque não está habituada a negociar no âmbito da Democracia Parlamentar e no quadro das Instituições Europeias. Pode chamar-lhe, se quiser, uma posição pequeno-burguesa, mas os constrangimentos objetivos da nossa pertença à UEM são o que são. É que aquilo que parece às vezes querer ouvir-se do lado da Esquerda é que só saímos disto por via revolucionária, o que é inaceitável. Portanto, por favor apresentem um plano detalhado de como mitigar a nossa saída da UEM, ou terão contra vós todos os 'pequeno-burgueses', eu incluído.

O Puma disse...

Veremos uma vez mais

quem vai roer a corda

MANOJAS disse...

Insisto: O PS não está num labirinto, está numa corrida de obstáculos, que são quatro, se conjugam e tentarão derrubá-lo. Se o conseguirem, como há quatro anos, irmanados, o fizeram, verbalismos aparte, o que se segue?

João disse...

O Jaime Santos pode aquietar as suas preocupações com as perspectivas revolucionárias da esquerda radical, que tanto o incomodam, com a perspectiva de conservadores liberais como João Ferreira do Amaral que vem dizendo desde os anos noventa que não há qualquer viabilidade na nossa manutenção no espaço da zona euro, dadas as respectivas regras internas claramente desenhadas para promover o directório de potências indisfarçavelmente encabeçado pela Alemanha. Por isso, será bom que resolva - e porque assim coloca o problema - as suas contradições pessoais (que são também contradições de classe), partindo do postulado de que o seu estatuto pequeno-burguês (mais uma vez, palavras suas) o coloca ao nível de um parafuso de qualquer máquina industrial: útil primeiro, obsoleto depois, substituído no fim. Quanto a essa esquerda de que fala - os radicais que impedem a casta dirigente socialista de ser absolutamente feliz - talvez seja tempo de perceber (até pelos desenvolvimentos dos últimos dias) que não é ela que empurra o PS para a direita, porque ele vai para lá pelos seus próprios passos, incapaz de perceber que o seu papel de amortecedor social (bastava agitar o papão comunista e acreditar que haveria sempre novas compras a créito, alfa e ómega do "modus vivendi" pequeno-burguês) está esgotado e que não tem nada de novo para propor. Que o digam o PSOE, o PASOK, o PSF ou PSI. Não entender isto ou não atender a isto, já não preconceito: é cegueira.

jose manuel silva disse...

Diz Medina: os portugueses manifestaram, ontem, a sua vontade de continuar comprometidos com a Europa e com a moeda única; deixaram numa mensagem clara de que querem uma mudança da política económica e social; finalmente, exigem que os partidos se entendam na busca de uma solução governativa – nenhum partido tem o direito de deixar o país refém da instabilidade.
Esta quadratura do círculo transportou-a, o Costa, durante a pré-campanha e na campanha, com o resultado que se viu para o PS.
Medina rebobina a cassete e apresenta o mesmo silogismo, cujas premissas, por mais estudos macroeconómicos que o PS apresente nunca, num quadro lógico e racional, pode levar-nos a concluir, como o partido o fez nas conclusões a que chegou, este era um programa mobilizador e de confiança. Ele era o corte da TSU, ele era a não actualização das pensões, ele era o sistema de despedimento sem intervenção dos tribunais.
Governar segundo o programa do Costa era pôr os portugueses, quais funâmbulos, a andar num fino arame sobre a boca do inferno.
O PAF era muito pior, claro, e por isso o PAF perdeu, votos, deputados e e diminui substancialmente, a sua votação,
Vivemos, no seu pior, o que o 4.º poder pode fazer a um país.
Vimos o poder económico a cavalgar a comunicação social para impor a famigerada TINA, no caso os homens da Tina, Coelho e paulo..
O PS ainda não entendeu que, nestas circunstâncias, difíceis, a esquerda ganhou, mas o PS, como o gago no meio da ponte, não sabe se é de esquerda e não entende como perdeu com a politica que seguiu,
Enquanto o PS não aceder ao entendimento e resolução destas questões, bem como da aplicação do tratado orçamental, para além da, aproximação de Costa, da interpretação inteligente do tratado orçamental, o PS continuará a sonhar que perdeu as eleições, porque estas se realizaram a 4 de Outubro, porque choveu, porque era domingo, porque se realizaram jogos de futebol ou porque o mês era Outubro e não porque o seu programa de governo era um exercício da resolução da quadratura do círculo.
A questão primeira reside no facto de o PS não se ter apercebido. de facto, porque perdeu as eleições, ou melhor porque não ganhou as eleições,( ou fingir que não se a percebe.
O resultado do Costa foi, quanto a mim, o melhor resultado que o seu partido poderia ter face às confusas medidas apresentadas no seu programa, que partindo e dando como adquiridos todos os constrangimentos que resultam da UEM, pactua com a coligação a sua posição em relação à brutal dívida e com o tratado orçamental. Foi o resultado da fé partidária.
As propostas quanto à dívida e quanto ao estudo de alternativas ao euro,colocaram-se,há muito tempo, entre economistas e paulatinamente, entre os partidos mais à esquerda. Não é uma proposta que esteja fechada no seu como, nem no seu quando,mas.nacional e internacionalmente, vem sendo estudada e os resultados deverão ser explicitados aos eleitores.
Convém ponderar estas propostas com o resultado desastroso das politicas seguidas desde 2010 e quanto têm perdido os trabalhadores no montante dos seus salários e condições de trabalho, os pensionistas com as suas pensões e como vimos assistindo a uma transfusão do rendimento.
Concluindo:
Não compreender quem ganhou e quem perdeu num processo eleitoral, eivado de casos, as sondagens diárias, os comentadores, a criação atempada de um órgão de comunicação como o “O observador”, o qual tinha como missão minar todas as iniciativas da oposição e contribuir com os seus homens para comentarem, em caso de necessidade, as carências dos comentadores habituais, é problema do PS, mais grave é o de entender como querem certos dirigente do PS que foi uma terrível derrota para o PS. Certamente os partidos sociais-democratas perderam, já, o tempo das victórias. Ou se modificam ou estão condenados a entender-se com outras forças de esquerda e saber fazer o que fazer com uma vitória como esta.
A solução. por ora, está no bom senso dos senhores do PS.
A maioria da população não perdoará a quem desprezar o seu voto e deixar a direita governar como o vem fazendo.
PB

jose manuel silva disse...
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jose manuel silva disse...
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Anónimo disse...

Manojas é o hooligan cretino. É o adepto PS saído dos raciocínios de Heysel Park,

Manojas disse...

Volto a insistir: O comentário do anónimo das 13:57 é, intencionalmente, grosseiro e ofensivo, não merece resposta, e não devia ser aceite. É terceira vez que faço esta declaração. Será que vai ser de novo recusada?

JM Correia Pinto disse...

Eu nunca removi qualquer comentário feito pelos leitores. Acredito nos meus leitores. Eles são o meu remédio contra a censura