sexta-feira, 21 de novembro de 2008

O REVIVALISMO DA DIREITA PORTUGUESA


COMO SE FALSEIA A HISTÓRIA


Confesso que não compreendi bem esta notícia, nem a encontrei transcrita na demais imprensa portuguesa. Não percebi muito bem quem organiza estes colóquios, nem o que se pretende com eles.
O que Rui Patrício, Ministro fascista da ditadura, possa ter dito, é de certa forma irrelevante. Os mais velhos ainda se lembram das ridículas intervenções do Ministro na televisão e da consideração em que era tido pela oposição democrática. Lembro-me inclusive de uma carta que Mário Soares lhe enviou e que depois circulou pelos meios oposicionista, bem elucidativa do desprezo em que o tinha. E lembro-me também da penosa situação em que saiu do quartel do Carmo e da forma como se comportou durante o cerco… Com a pide ao lado, um valente, como a maior parte deles; sem a pide, uma vergonha …
Agora, o que me causa alguma apreensão são as palavras de um Embaixador, ao que suponho ainda no activo, ou, não estando, alguém que fez a maior parte da sua carreira na democracia, que são um verdadeiro branqueamento da acção de Marcelo Caetano. Nem a filha de Marcelo Caetano, que sempre tenho ouvido com toda a atenção, diz do pai aquilo que outros dizem. E não o faz certamente por entender que a melhor forma de homenagear a memória do seu pai é retratá-lo tal qual ele foi.
Dizer que Marcelo Caetano "era favorável a uma autonomia progressiva e participada como caminho para as independências" das colónias é uma falsidade histórica. Não há um único texto de Marcelo anterior ou posterior ao 25 de Abril que comprove esta afirmação. E mesmo a pretensa federação que se dizia Marcelo apoiar não passava de uma ideia exposta num texto muito simples e vago (nunca publicado, porque não estava assinado), que não ocupava o espaço de uma folha A4, no qual Marcelo defendia uma federação não muito diferente daquela que uma vez, numa entrevista a um jornal brasileiro, Salazar propusera ao Brasil. Uma perfeita farsa.
O que Marcelo advogava nesse texto era maior descentralização, com mudança de nomes das colónias (“reforma” que ele em grande medida acabou por fazer), e alterações de natureza administrativa. Nada que se assemelhasse a um Estado federal e muito menos qualquer autonomia que passasse por autodeterminação das respectivas populações. Se maior autonomia houvesse, essa autonomia seria para os brancos e para os africanos que aceitassem a supremacia branca. Mais do que qualquer real mudança, o que Caetano pretendia com esse texto (se é que chegou a pretender alguma coisa) era através de uma ficção jurídica fazer passar internacionalmente, principalmente na ONU, uma imagem diferente das colónias portuguesas.
Tudo isto para dizer que a democracia portuguesa sempre se ressentiu muito de o Ministério dos Negócios Estrangeiros nunca ter sido saneado. Mesmo os que colaboraram abertamente com a pide e até os que tiveram um papel vergonhoso no caso Delgado foram poupados. Devem-no ao Dr. Mário Soares, que inclusive poupou aqueles que denegriram a sua imagem nas célebres manifestações de Londres aquando da visita de Caetano ao Reino Unido.

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