sábado, 3 de outubro de 2009

ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS



CONFIRMAM-SE OS PIORES RECEIOS

Os jornais vão alinhando os candidatos presidenciais do PS e do PSD dando conta dos respectivos apoios e probabilidades de vitória. Embora do lado do PSD a dúvida sobre se Cavaco se recandidata se não desvaneça tão cedo, nem por isso a direita tem, necessariamente, a sua tarefa dificultada. Tudo vai depender do candidato que contra ela se apresentar.
A declaração de Cavaco da passada semana e a sua famosa interpretação pessoal sobre o que se passou durante a campanha eleitoral, nomeadamente a investida contra aqueles que no PS o quiseram “colar” ao PSD, deixa subentendida a ideia de que Cavaco pretende manter intacta a sua base eleitoral mais para efeitos de recandidatura do que para o exercício da função presidencial.
Claro que a declaração teve o efeito exactamente contrário ao pretendido a ponto de com ela ter posto seriamente em risco a sua reeleição. Admitindo que Cavaco nesta coisa de eleições possa ser mais racional do que já demonstrou ser noutras vicissitudes da sua vida política, é provável que, lá mais para diante, ao fazer uma avaliação relativamente objectiva da situação tome uma decisão com alguma antecedência.
É que desta vez ele não poderá alimentar os seus famosos “tabus” para além do aceitável pelo PSD. Causticado pela não coincidência dos timings de Cavaco com os seus, o PSD desta vez não aceitará uma dúvida que se prolongue para além do razoável e exercerá seguramente uma pressão muito forte para que Cavaco se decida a tempo, tanto mais que tem um candidato de peso para apresentar, provavelmente com mais probabilidades de vitória.
É perante este cenário, que não será claro tão cedo, que o PS se terá de posicionar. Se o PS tivesse a certeza de que Cavaco se apresentaria, ainda poderia arriscar avançar com um candidato tipo Gama, um pouco na convicção de que a eleição seria decidida ao centro, depois de derrotados os candidatos das margens. Mas como o PS não vai saber isso tão cedo, qualquer das soluções apresentada nos jornais como hipotéticos candidatos do PS tem mais hipóteses de insucesso do que de sucesso, embora por razões diferentes, consoante os casos.
Antes de mais, por razões óbvias. Só numa situação excepcional um candidato do PS poderia ser eleito sem os votos da esquerda. Uma situação em que os candidatos concorrentes fossem respectivamente rejeitados à esquerda e à direita, sendo a eleição decidida ao centro. Ou numa hipótese em que um candidato de centro concorresse com um candidato de direita radical. Como qualquer destas hipóteses é muito pouco provável, embora não seja de pôr de parte a primeira num confronto Gama/Cavaco, o PS mal andará se fizer de conta que a esquerda não existe para efeito de eleições presidenciais. A eleição de Soares, em 1985, ocorreu num quadro excepcional, praticamente irrepetível na actual sociedade portuguesa.
Ora, nenhum dos candidatos apresentados como “trunfos” do PS pode ter como certa a vitória, seja contra Cavaco, seja contra Marcelo, neste caso, muito menos.
Não ganha Alegre porque não recolhe a totalidade os votos do PS - o voto do eleitor que vota PS na legislativas. Não se trata apenas da oposição, no plano do aparelho, dos Lelos ostensivos ou ocultos que por lá existem, trata-se dos milhares e milhares de “lelos” anónimos que regularmente votam PS e que não estariam na disposição de entregar o seu voto a Alegre. Além de não ser seguro Alegre ter capacidade para recolher a totalidade dos votos à esquerda do PS. É bom não esquecer – isto são factos – que nem todos os votos que Alegre alcançou em 2006 foram votos da esquerda: houve muita direita nacionalista, muita gente do CDS, que votou Alegre por detestar Cavaco
Também não ganham Gama nem Vitorino, não apenas por o centro preferir de longe Marcelo ou Cavaco a qualquer deles, mas também por nenhum deles poder sequer contar com o voto da esquerda, principalmente contra Marcelo.
Sampaio, finalmente, - uma hipótese que aqui, há mais de um ano, já havíamos admitido que pudesse surgir - está um pouco como Soares na última presidencial, talvez até em pior posição. A esquerda não tem nenhuma razão especial para se recordar da presidência de Sampaio e depois do exercício desta até já atacou o Serviço Nacional de Saúde, embora naquele estilo redondo e propositadamente ambíguo que é seu. Mas dizer, como ele disse, por mais de uma vez, que quem pudesse deveria pagar os cuidados de saúde, devendo a gratuitidade ficar exclusivamente reservada para quem não pode, corresponde na prática à passagem de uma certidão de óbito ao Serviço Nacional de Saúde…gratuito e universal (recorde-se que até MFL, nas últimas eleições legislativas, se viu na necessidade de mudar o discurso). Mal ou bem, Sampaio já fez o que tinha a fazer na política portuguesa. Os portugueses, como já se viu, em política não gostam de “remakes”.
Todos os cenários acima expostos se agravam se o candidato oponente for Marcelo. Com excepção daquele mês de relativa inimputabilidade por que Marcelo sempre passa quando há eleições legislativas, em que ele se vê na obrigação de apoiar o candidato do PSD, por mais absurdo que ele seja, Marcelo recolhe a simpatia dos portugueses e somente um fortíssimo candidato de esquerda o poderia derrotar.

3 comentários:

Anónimo disse...

Meu caro Correia Pinto:
Onde é que está, em sua opinião, esse tal "fortíssimo candidato de esquerda"?

JM Correia Pinto disse...

Respondendo ao comentário
Creio que num post anterior já tinha respondido a essa pergunta:
"Sem sectarismos e com todo o sentido da responsabilidade, com ou sem acordos prévios, terá de surgir muito rapidamente um candidato presidencial fiável, responsável e suficientemente equidistante das forças políticas de esquerda, que por todas elas possa, sem reservas, ser apoiado. Não tem necessariamente que ser uma figura apartidária, mas tem de ser uma figura desligada dos aparelhos partidários e suficientemente independente para ser credível. O Partido Socialista tem nesta matéria a principal e decisiva responsabilidade. Se tentar jogar a política do facto consumado sairá, mais uma vez, derrotado".
Mais importante do que ter um nome, é ter um processo de lançamento de uma candidatura que assente em pressupostos politicamente aceitáveis por aqueles que o vão votar.
É certo que o lançamento de uma candidatura presidencial tem de obedecer também a um impulso sincero e convicto de quem se apresenta e não o resultado de uma “fabricação” de um ou de vários aparelhos partidários.
Finalmente, estou convencido de que seria conveniente um candidato das novas gerações, alguém que tivesse feito o essencial da sua formação já em democracia. Portanto, alguém perto dos cinquenta anos…

Anónimo disse...

Caro Correia Pinto:
O seu post limita-se a exprimir um desejo ou uma exigência("terá de surgir").A questão que eu pus não pretendia saber que força política deve indicar o tal candidato fiável e credível para toda a esquerda:o que pergunto é se existe alguém com esse perfil.Não o vejo; vê-o o Correia Pinto?