domingo, 18 de julho de 2010

PASSOS COELHO: O SENTIDO DE UMA PROPOSTA


O QUE TEM DE NOVO

Passos Coelho manteve-se até ontem no silêncio das frases feitas razoavelmente cantadas, embora desde há muito se percebesse que tinha muito pouco para dizer. Aliás, o que verdadeiramente tem para dizer não tem nada de novo e tem de ser silenciado, porque quanto mais o seu programa se expuser mais o eleitorado fugirá dele.
Como porém também não pode refugiar-se eternamente no silêncio das frases feitas, optou por falar sobre a revisão constitucional. Silenciou aquilo que verdadeiramente quer alterar, que é o papel do Estado e o regime dos direitos, liberdades e garantias, e deu voz a uma proposta que não é nova, em certos sectores do seu partido, sobre a distribuição de poderes entre os órgãos de soberania.
E o resultado, no seio da classe política stricto sensu entendida, não poderia ser pior. Com excepção de Machete, esse grande “soda”, sempre à espera que alguém o considere, mais agora que está politicamente desempregado, levou pancada de todo o lado. Até no interior seu próprio partido, dos que vêem na proposta um retrocesso e uma traição à própria história do PSD. Mas isso não significa que a proposta não tenha apoio, desde logo em largos sectores do partido que a apresentou.
Por isso será interessante tentar perceber as razões que terão ditado esta proposta de reforço dos poderes presidenciais. Aparentemente, ela não se enquadra na linha política de quem começou o seu mandato marcando uma certa distância em relação a Cavaco. Ainda está na memória de todos a entrevista que o então “tutor” de Passos Coelho, Ângelo Correia, concedeu à SIC N sobre as relações do partido com Cavaco e as ameaças veladas que lhe deixou.
A verdade é que de então para cá impôs-se no partido a linha que vem sendo defendida desde há mais de um ano pela nomenclatura do PSD ligada ao capital e ao mundo empresarial que aposta no reforço da intervenção de Cavaco como homem providencial para afrontar a crise. Se a nossa memória não for curta, depressa nos recordaremos de todos aqueles que no PSD, e a ele ligados, vêm fazendo a defesa desta tese nos jornais, nas rádios e nas televisões. A única novidade está em a proposta ser veiculada por Passos Coelho, o que significa, depois da bazófia com que se apresentou, que o convenceram, sem ele se ter apercebido, que o reforço dos poderes de Cavaco era a solução da qual dependeria a salvação do país.
De facto, não adianta estar a falar estar a falar do Presidente da República, como instituição, ou como órgão unipessoal de soberania, porque o que realmente está na cabeça de quem “pilotou” esta proposta é Cavaco. Ou seja, é uma proposta para os próximos seis, sete anos, se fosse levada à prática com a amplitude pretendida.
Verdadeiramente isto não tem nada de novo. Impossibilitada – até ver… - de fazer um golpe de Estado pelos métodos tradicionais, esta gente, incapaz de viver em democracia, deixa transparecer com muita facilidade, principalmente em tempo de crise, o modo como encara a governação país. Para eles desde há muito que o poder deveria estar entregue a quem o sabe exercer. E, na presente conjuntura, o competente para o fazer é Cavaco!
Portanto, muito mais do que um deslize, esta proposta de Passos Coelho é a proposta do capital empresarial para o actual momento político português.
O “rapaz do Ângelo”, pelos vistos, tem vários tutores, mas somente um é realmente o verdadeiro. E chama-se capital (que historicamente conta sempre com o apoio daqueles que veneram o “homem providencial”, entendendo-se por tal aquele que for politicamente capaz de concentrar o poder e impor politicamente a sua vontade; no fundo, alguém que diga e aja em conformidade de acordo com o lema: “O mal disto é haver muitos a mandar!”).
Este tema dos poderes presidenciais já aqui tinha sido abordado múltiplas vezes, inclusive nesta perspectiva, há cerca de um ano. Para quem quiser dar-se ao trabalho de ler, aqui fica a ligação: “A questão dos poderes presidenciais

3 comentários:

Carta a Garcia disse...

Caro Correia Pinto,

Fiz link para "A Carta a Garcia".
Obrigado,Abraço,

Osvaldo Castro

Bettencourt de Lima disse...

Lider da oposição também está sujeito ao chamado «estado de graça» ? Se sim já passou.

A partir de agora Passos Coelho será sujeito a pelo menos um ano de desgaste, e, então se verá, o custo para o PSD do abandono da matriz social-democrata e se este «líder» não é a mais perigosa aposta para o partido e para o país.

M.Horacio Lima disse...

Correia Pinto,
Estas entre o Eca de Queiroz e o Aquilino Ribeiro...Parabens e um Abraco
Horacio