sábado, 3 de julho de 2010

VIVO: A DEFESA DO VETO SEM COMPLEXOS



UM PAÍS SINGULAR

Portugal é, de facto, um país singular. Acho que é difícil encontrar no mundo um país onde tanta gente apareça a fazer a defesa dos interesses de uma grande empresa estrangeira cuja prática e cuja estratégia até desconhecem contra os interesses de uma empresa nacional. Não se percebe bem se é por complexo anti-nacionalista ou se outra razão mais profunda os impele para a defesa de tal posição.
Para a maior parte das pessoas a questão não se põe em termos de defesa de interesses próprios directos, mas antes no plano daquilo a que poderíamos chamar a “weltanschauung” de cada um. Que o pequeno accionista que vê os seus títulos valorizados muito acima das suas expectativas mais optimistas queira vendê-los quando uma oportunidade irrepetível aparece, compreende-se e não é justo que se lhe esteja a pedir a defesa de interesses estratégicos da mesma forma que não é razoável pedir ao trabalhador que vê o seu salário onerado com mais impostos que concorde com essa oneração qualquer que seja o fim que ela visa prosseguir. Que o Salgado queira vender a sua participação na VIVO do mesmo modo que venderia aos árabes ou aos ingleses ou a quaisquer outros a ponte Vasco da Gama, a 25 de Abril ou um bocado do Algarve se fossem sua propriedade, para com o dinheiro recebido potenciar a sua capacidade de agiotagem, também é perfeitamente compreensível, pelo menos, enquanto o deixarem agiotar.
Agora, que uma legião infindável de verdadeiros “descamisados” apareça a fazer a defesa daqueles mesmos interesses, mais os de quem quer comprar, é que eu já tenho alguma dificuldade em compreender.
Que espécie de complexo será este que impele um tão grande número de portugueses a fazer, por exemplo, a defesa dos interesses alemães na condução político-económica da crise financeira ou a defesa da taxa de câmbio da moeda chinesa, ou a concentração capitalista ou a destruição dos sectores estratégicos nacionais, apesar de serem praticamente evidentes as consequência de tais políticas para os interesses da maioria de cada um de nós?
Esta é porventura a minha maior desadequação aos tempos modernos. Esta incapacidade de compreender como podem ser apoiadas internamente as medidas tomadas lá fora a partir de perspectivas estritamente nacionais. De perspectivas que se não atendessem exclusivamente à defesa de certos interesses nacionais poderiam contribuir para uma solução relativamente equilibrada que a todos servia.
Não se trata, portanto, de fazer a defesa de interesses nacionais, nem de ser nacionalista. Trata-se apenas, na minha modesta opinião, de não ser estúpido!

6 comentários:

Jorge Almeida disse...

1º) Dr. Correia Pinto, concordo consigo.

Mais acrescento: Esses "descamisados" não são mais que a voz do dono. Se formos a ver, quase todos eles passaram, ou ainda estão, em jornais cujos donos têm participações na PT e queriam vender, e que só entraram nesses jornais (resgatados do desemprego) porque são "yes men" (e "yes women"), sendo que nunca demonstraram capacidade intelectual para ocupar os cargos que ocupam. Para que muitos deles reverenciem VPV, veja lá ...

Acredito que muitos nem tenham capacidade intelectual suficiente para terem percebido a contradição em que Ricardo Salgado entrou em menos de 1 mês. Há 1 mês atrás, queria que o governo impusesse a "golden share". Agora, vocifera contra a "golden share". Não seria mais curial se dissesse, há 1 mês atrás, qual era o valor mínimo pelo qual consideraria vender? Escusava de ter feito a triste figura que fez.

2º) Ainda quanto a este assunto, finalmente Cavaco falou! Alegre fez o coelho sair da toca! Se tiver um tempo, dê uma olhada no que contem este link:

http://tv2.rtp.pt/noticias/?t=Cavaco-Silva-defende-actuacao-do-Governo-no-negocio-da-PT.rtp&headline=20&visual=9&article=357273&tm=9

3º) Outro assunto:

Sendo Sr. Dr. um especialista em assuntos de política internacional, será que me poderia esclarecer porque é que, ainda hoje, Grécia e Turquia gastam parcelas importantes do seu Orçamento de Estado em Defesa? Ainda estão em guerra? Porque é que o assunto de Chipre não é deixado para os cipriotas resolverem?

Se os Gregos deixassem de investir tanto em Defesa Nacional, acho que teriam maior margem de manobra para resolverem a sua situação de deficit orçamental (o que ajudaria a vida dos restantes países da UE), para além de que os Turcos ficariam mais próximos de entrar na UE ...

Jorge Almeida disse...

Quanto a Cavaco, só agora é que vi que já se pronunciou sobre o assunto.

Anónimo disse...

O autor mostra perplexidade, espero não interpretar erroneamente, por grande número de portugueses, segundo ele, apoiar os interesses alemães, espanhóis etc. Talvez porque sempre lhes foi vendido o interesse de nacionais como se de interesse nacional se tratasse. Poderia o autor, pessoa de larga experiência e conhecimento, ajudar ao esclarecimento mostrando o que, neste caso, são interesses nacionais!
Um negócio de penetração num mercado concorrencial noutro continente, portanto tipicamente empresarial, tratado como se negócio de Estado se tratasse? Que ganha a generalidade dos portugueses com isso?. Há quem diga que ganham a negociatas corruptas no Brasil donde, talvez, um certo apoio de sectores do actual poder político no Brasil(murmuram, eu não sei nada obviamente). Se queriam que a PT fosse um braço do Estado não a privatizavam, com o que eu não concordei na altura da fúria desnacionalizadora. Sinceramente, agora não sei se teríamos, nós o povão, ganho alguma coisa. Com isto não quero dizer que os outros governos sejam menos oportunistas no aproveitamento dos sentimentos nacionalistas/chauvinista (outros dirão patriotas), acho, até, que esses é um dos aspectos menos negativos do portugueses contra o "orgulho" espanhol, a sobranceria dos alemães etc. O nosso fica-se, ainda está, pelos antigos livros da escola primária. Ajude-nos lá, sinceramente, a decifrar os tais interesses do Estado português.
LG

Anónimo disse...

"A ideia de que se podem privatizar empresas e manter o controlo governamental sobre elas é insustentável a longo prazo. Se o Estado quer manter o controlo nacional sobre empresas que considera estratégicas só tem um caminho - manter uma participação accionista suficientemente importante para dissuadir tentações externas!"
Não será muito correto mas não resiti a copiar para aqui o que sobre o assunto escreveu, entre outras coisa, Vital Moreira (insuspeito acerca de Sócrates). Acho que sintetiza o que muita gente pensa sobre a atitude do governo socretino. Isto nada tem a ver com qualquer quinta coluna ou vaga de vende-pátrias, é o ódio à hipocrisia e à demagogia.

Graza disse...

Há ódios internos que nem se apercebem que são o alimento da "quinta coluna": quanto têm que optar é sempre para lhes abrir os flancos.

Mais um "Bravo!" para este post. Acho que vou perder a vergonha e fazer um link total dele.

Jorge Almeida disse...

Anónimo 3 de Julho de 2010 22:12,

o que é hipócrita neste caso é a posição do capital financeiro, que se dispôs a investir numa empresa onde sabia que havia estas "golden share".

Esperavam que o governo não as usasse, quando um dos maiores banqueiros nacionais ainda há menos de 1 mês apelava para o uso dessas "golden share"? Quando, se não as usasse, reduziria essa sua participada a uma dimensão nacional, desvalorizando-a, passando a estar sujeita a uma OPA? Expondo esse autêntico activo estratégico nacional que é a rede de comunicação por fios (que foi vendida por Manuela Ferreira Leite à PT por patacos) a ser comprada por empresas ligadas a governos estrangeiros?

O Estado, quanto a mim, fez bem em usar estas acções. Defendeu, claramente, o interesse nacional. Claro que ainda fica por fazer a outra parte: impedir as negociatas envolvendo PT (e outras empresas na esfera do Estado) e governo. Mas isso é outra conversa, mesmo no sector privado.