sábado, 16 de abril de 2011

ENTRE ROBERT FISHMAN E DUQUES, CANTIGAS, CUNHAS E LEITES, QUEM ESCOLHER?


SALUS POPULI SUPREMA LEX

A guerra trava-se em várias frentes. Todas são importantes. O grande objectivo é garantir a salus populi, suprema lex em tempos de crise. Em que o individual deve ceder sem reticências ao colectivo. Não interessa desprezar certas frentes de luta apenas porque na aparência ou realmente elas podem assegurar alguma vantagem a quem politicamente se contesta, se essas mesmas frentes forem vantajosas para alcançar o objectivo supremo que é o de garantir a sobrevivência da comunidade com dignidade e auto-estima.

É por essa razão que não é assim tão importante sublinhar algumas imprecisões que o artigo de Fishman no NYT possa conter. Numa altura em que Portugal está sendo alvo de um ataque concertado do grande capital financeiro especulativo é muito mais importante defender Fichman e outros artigos entretanto publicados no jornal acima citado do que contestá-los em nome de uma pretensa falta de rigor analítico, deixando via aberta para as teses terroristas daqueles que cá dentro fazem o jogo do inimigo.

Não se trata de defender o Governo, do qual daqui a uns meses ou um ano já ninguém se lembrará, trata-se de fazer a nossa própria defesa, a defesa do povo que vai ter de pagar com o desemprego, com a miséria, com a redução dos rendimentos, com o desinvestimento na educação, na saúde e na segurança social a actuação prepotente e anti-democrática das instituições financeiras internacionais, a soldo do grande capital financeiro e especulativo.

Trata-se de fazer a defesa dos nossos interesses, das pessoas individualmente consideradas, das que vão pagar a crise, contra a acção criminosa das agências de rating, cuja actuação os lacaios do capital financeiro tanto têm enaltecido e subservientemente apoiado, mesmo quando colocados nos mais altos postos da política e da administração pública portuguesa.

É disso que se trata. De lutar contra os duques, cantigas, cunhas, leites, pinas, “adiantados mentais”, “reencarnações do padre malagrida” e outros que agora não ocorrem que diariamente nas TV e nos jornais massacram o povo com as suas profecias apocalípticas e preparam o caminho para a investida do inimigo estrangeiro.

Em poucos países se assistiria impunemente a este espectáculo. Não somente pelo que isso representa de ataque à própria sobrevivência da Pátria, mas também porque a canalha que assim diariamente se exprime beneficia de todas as regalias e mordomias que o sistema é capaz de proporcionar: reformas milionárias; múltiplas reformas por trabalho que não prestaram e por descontos que não fizeram; reformas de dez e quinze salários mínimos por quatro anos de trabalho; aulas a tempo inteiro com lugares nos conselhos de administração de empresas públicas ou que vivem à custa do Estado ou das mais-valias que o próprio Estado num processo de expropriação ou confisco do património público para elas transferiu.

Em qualquer Estado, como a recente crise económica eloquentemente demonstrou, o primeiro valor que se defende em tempo de grave crise não é o indivíduo; é a salus populi suprema lex; é a pátria, qualquer que seja o modo por que o conceito se exprime.

E há quem entre nós reiteradamente atente contra a salus populi, o mesmo é dizer, contra o destino de milhões de portugueses pobres ou remediados que de uma maneira ou de outra vão ter de pagar o resgate imposto nas piores condições possíveis com a colaboração da acção deletéria, traidora e criminosa dos que cá dentro fazem o jogo do inimigo.

De facto, melhor seria que Otelo, em vez do desabafo que proferiu e que tanta celeuma provocou por quem o quis levar à letra, tivesse antes lamentado não ter à agora à mão um bom conjunto de meios de que há trinta e tal anos teve ao seu dispor e nem sempre soube usar com a eficácia devida.

Estado de direito? Democracia? O estado de direito e a democracia estão agonizantes, em fase terminal, num qualquer gabinete do Ministério das Finanças onde, dias a fio, gente que ninguém conhece, com poderes que ninguém legitimamente lhe outorgou, decide, segundo as convicções ideológicas dos interesses que servem, o destino do povo português. Esse o estado actual do estado do estado de direito e da democracia. Melhor: ali jazem o estado de direito e a democracia!

4 comentários:

Anónimo disse...

Amigo Dr. Correia Pinto; Como ja me sinto so a protestar neste deserto penoso cheio de ser "pensantes" abracei-me ao ANTONIO ALEXO para sucegar meu pensamento.

"E tambem as jogadas habilidosas
Daqueles tais que foram dilatando
contas bancarias ignominiosas,
Do Minho ao Algarve tudo desvastando,
Guardando para si as coisas valiosas.
Desprezando quem de fome vai chorando!
Gritando levarei, se tiver arte,
Esta falta de vergonha a toda a parte!"

Um abraco. Parabens e um A=+

Anónimo disse...

Vamos para a rua! Os Juristas todos juntos devem apresentar um processo contra todos os governantes e acusa-los de crimes contra a humanidade:
1-Matar gente a fome
2-Desvio do nosso patrimonio nacional
3-Destruicao da saude
4-Destruicao da educacao
5-Destruicao da familia
6-Assalto e destruicao a damocracia
7-Por invasao do poder entrangeiro
Ou so nos resta sair para a rua!

life with art disse...

Excelente post!
País de pantomineiros, desavergonhados, já nada nos salva, porque não há políticos sérios.

jvcosta disse...

Quem acha que a nossa esquerda - nossa de/dos 60s e nossa porque independente e não arregimentada - é coisa de cassete, veja que estando nós os dois, caros amigos, quase sempre em consonância, neste caso divergimos.

Ou melhor, talvez não. provavelmente fizemos foi coisa sempre profícua, olhar de ângulos diferentes para uma certa posição, neste caso o artigo de Fishman. eu dei mais ênfase ao que não abordaste, e estás no teu direito: o artigo está a ser usado para desculpabilizar o(s) governo(s), atirando as culpas, exclusivamente (e é neste advérbio que discordo do artigo) para os especuladores dos mercados da dívida.