quinta-feira, 7 de abril de 2011

A SITUAÇÃO A QUE SE CHEGOU


AS FALSAS SOLUÇÕES


Enquanto o PS e PSD continuam entretidos numa conversa que seria ridícula se não fosse trágica sobre qual dos dois tem mais capacidade para continuar a afundar o país na busca de falsas soluções, os portugueses assistem atónitos, mas ainda sem perceberem completamente o que se vai passar, a um pedido de “ajuda externa” à União Europeia.

De facto, a conversa com que os dois maiores partidos parlamentares têm alimentado a cena política portuguesa desde que as dificuldades resultantes de opções antigas se tornaram evidentes é muito difícil de ser acompanhada por quem vê nela uma forma de escamotear uma realidade que, nem um nem outro partido, querem encarar com frontalidade.

Como está sobejamente provado não será com as medidas que têm sido preconizadas e adoptadas por um e por outro que o problema se resolve, nem tão-pouco com o alheamento propositado ou não das verdadeiras causas da crise que se encontrará o caminho para a gradual solução das nossas dificuldades.

Nem sempre há certeza das causas de uma crise, nem sobre as medidas que poderiam ser tomadas para a combater e tentar abreviar. Todavia, no actual caso português, a situação é diferente. Sabe-se quais são as suas causas, bem como o que poderia ter sido feito para evitar chegar a esta situação. No entanto, enganar-se-á redondamente quem supuser que as causas são relativamente recentes e que muitas das medidas que por aí se apregoam poderiam ter evitado o que se está a passar e, principalmente, o que se vai passar.

Não adianta reflectir sobre as consequências recentes de certas políticas sem tentar compreender primeiro o incontornável ambiente económico-financeiro que as gerou. Só que para chegar aqui, para chegar a conclusões racionalmente aceitáveis e sustentáveis em juízos de ciência, seria necessário que os principais intervenientes na vida política, aqueles que realmente têm conduzido o país na era da democracia constitucional pós 25 de Abril, abandonassem os seus dogmas, as suas crenças irracionais, conhecessem a fundo a história deste país, e se prontificassem a fazer uma análise séria do “que levou a isto”.

Mas já se percebeu que isso não vai acontecer tão cedo, embora as provações extremas por vezes tragam surpresas e permitam em pouco tempo chegar a conclusões que em condições relativamente menos desfavoráveis levariam muito tempo a ser alcançadas.


Independentemente das medidas de curto prazo impostas pela situação, é politicamente inaceitável continuar a embarcar em aventuras sem futuro que mergulhem o país em longos períodos de estagnação e até de recessão, como agora está acontecendo, sem que deles resulte, como já está provado à saciedade, qualquer hipótese de uma via diferente.

Para compreender o que se está a passar é preciso remontar, pelo menos, a 1992, já que os seis anos que antecederam aquela data são de pura ilusão, fruto de um contexto político -económico único e irrepetível, que nada deve aos “méritos” de quem governava, mas antes consequência de uma conjugação de factores que não voltam a repetir-se e que, em qualquer caso, teriam sempre um efeito efémero.

Enquanto os portugueses não quiserem olhar de frente a situação criada, em consequência da adesão do escudo ao Sistema Monetário Europeu (SME) e, sete anos mais tarde, ao euro, nas condições em que este foi criado e que subsistem inalteradas até hoje, vão permanentemente andar à volta do problema, cada vez mais penosamente, com mais sacrifícios, sem nunca o resolverem.

Verdadeiramente, no plano estrutural só há duas hipóteses: ou a zona euro muda radicalmente as suas regras aproximando-as das vigentes nas grandes zonas económica de moeda única ou Portugal tem de preparar-se para sair do euro (da melhor maneira possível) e, consequentemente, da União Europeia.

Infelizmente, não há terceira via…

8 comentários:

jvcosta disse...

Não te enganaste num século, 1892 em vez de 1992? :-)

É que vale a pena ler Oliveira Martins sobre a sua fracassada aventura como ministro da Fazenda desse governo de "acalmação". Como sabes muito bem, tu estudioso de história política, num século não mudamos muito em algumas coisas muito fundas dos nossos costumes.

Rogério G.V. Pereira disse...

Bom texto, mas estou a pensar se há ou não terceira via...

Anónimo disse...

Baralhado e perplexo, sobre isto tudo, é o que há muito estou!

Os tremendistas tipo MC primeiro, depois o coro dos papagaios-economistas, afinal tinham razão: estávamos num plano inclinado e a lei da gravidade é uma lei universal logo... seria uma questão de tempo.

Mas os que entendem que isto, estas soluções, não levam a nada nem são remédio para os nossos problemas, talvez resolvam ou minorem os de alguns à custa do empobrecimento da esmagadora maioria, também estão carregados de razão; para além dos argumento de natureza técnica há já já as "evidências" grega e irlandesa para não falar doutras noutros contextos.
Mas não há alternativa? sair da CEE? Pode ser que sim , mas os portugueses teriam que reequacionar muitas ideias dadas como adquiridas. Lembro que nos anos 70/80 até para ir a Londres para trtamento médico era necessário e difícil obter autorização do Banco de Portugal!!!

Curiosidade: Aqui na minha terra foi feita uma auscultação às agências de viagens e, segundo as mesmas, estão esgotadas as vagas para a generalidade dos destinos mais caros e exóticos

NG

Anónimo disse...

Mas entao, como e ajudar...o banco central aumenta os juros, para que os ricos possam lucrar... e para que os irmaos pobres se possam endividar mais...Para nos levar ao desastre de todos os tempos...Mas nao ha um movimentto que se levante contra esta situacao? So ha um caminho...vamos voltar a viver com a nossa pobreza para chegar a um pais respeitado. Para que nos servir o dinheiro que nos emprestam..para comprar a producao deles?11

Anónimo disse...

Eu hoje sou um "Eurocéptico", que não era há pouco mais de 2 anos.
P.Rufino

Rogério G.V. Pereira disse...

Reflexões sobre a dita 3ª via

Anónimo disse...

A terceira via..sera criar um euro iberico? Somos muito perto de oitenta milhoes.Sera criar um euro so para os paises pobres?Para poder vender aos Paises ricos e assim poteger os empregos e o nivil de vida? Sera possivel um governo que nao dependa so do grande capital? Sera possivel um governo que faca a distribuicao da riqueza conforme o esforco de cada um?Teremos que ter uma esquerda mais forte para nos proteger das injusticas economicas? Teremos que ter mais liberdade para ter mais reponsabilidade?
Eu acredito que a terceira via tem que chegar!

JMCPinto disse...

Respondendo a Rogério Pereira

Não tenho andado tempo para escrever. Quando estiver mais disponível falaremos sobre essa terceira via e a Jangada de Pedra...Mas desde já lhe digo que as jangadas com muita pedra afundam-se